GUINEA-BISSAU: AVOIDING THE REPUTATION OF BEING A FAILED STATE

Autores

  • PAULO GONÇALVES
  • FRANCISCO JOSÉ LEANDRO https://orcid.org/0000-0002-1443-5828

DOI:

https://doi.org/10.26619/1647-7251.15.2.15

Palavras-chave:

Guiné-Bissau, Estado Falhado, Instabilidade Política, Desenvolvimento, Grupos Étnicos, desenvolvimento, Narcotráfico

Resumo

Este artigo coloca e responde à seguinte questão de investigação: Como poderá a Guiné Bissau ultrapassar a sua permanente instabilidade governativa e evitar tornar-se num “Estado falhado”? Esta questão é particularmente importante, não só no contexto de evitar a exposição aos interesses económicos de actores externos, mas também, para compreender as fraquezas internas do Estado. A Guiné-Bissau é um pequeno Estado parcialmente arquipelágico, com um interessante portefólio de recursos naturais, oportunidades de investimento e perspetivas de negócio. O país sofreu décadas de instabilidade institucional e fragilidade social, o que o associa à ideia de “Estado falhado”. Com efeito, O’ Regan & Thompson (2013, p. 3) referem se à Guiné-Bissau como “(…) o primeiro narco-Estado em África”. Existem diversas perspectivas para categorizar um Estado como um Estado falhado. Todavia, neste artigo adaptámos uma abordagem institucional para avaliar da possível falta de autoridade no exercício das funções públicas. Como tal, assumimos que “os Estados falham porque não possuem as capacidades políticas, económicas e sociais para sobreviver como Estados” (Hill, 2005; Gros, 1996, p. 456; Jackson, 2000, p. 296; Rotberg, 2004, p. 2; Zartman,1995, p. 5). Outrora berço ideológico da autodeterminação, a Guiné-Bissau lutou corajosamente para conquistar a independência (1963-1974), proclamando-a unilateralmente a 24 de setembro de 1973 (Té, 2015, p. 30). Lamentavelmente, depois de obter o reconhecimento como Estado soberano, a Guiné-Bissau assistiu a quatro golpes de Estado, 16 tentativas de golpe de Estado, uma guerra civil, diversas dissoluções do parlamento, assassinatos de políticos, interferência dos militares nas funções executivas e mudanças frequentes de executivos políticos. Várias razões contribuíram para esta instabilidade: (1) Os interesses dos países vizinhos, bem como uma intensa influência internacional; (2) A condição de ser um Estado pós-colonial, que se reflecte numa série de factores como a fraca literacia, débeis cuidados de saúde e insegurança (BTI, 2024); (3) Os confrontos étnico-religiosos internos e os acontecimentos de 1980, que levaram cidadãos qualificados de origem cabo-verdiana a abandonar o país (Duarte Silva, 2006); (4) O escasso controlo político das forças armadas associado a uma corrupção generalizada (BTI, 2024); (5) A cultura política de curto prazo dentro de um sistema semipresidencialista; (8) e, por último, mas certamente não menos importante, a fraca vigilância das fronteiras (U.S. Department of State, 2022, p. 5). Todos estes factores comprometeram a sua economia, esgotaram os seus recursos e expõem a sociedade ao tráfico de droga. O conflito institucional entre o Presidente Umaro Sissoco Embaló e o parlamento relativamente à alteração da Constituição (entre outras questões) reacendeu ainda mais a instabilidade política. Apesar da concorrência directa colocada pelo Senegal, a Guiné-Bissau tem potencial para se tornar uma economia de referência na região e uma porta de entrada para o mercado da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da União Monetária e Económica da África Ocidental (UEMOA). No entanto, dificilmente tal acontecerá, sem estabilidade política e sem a reforma dos sectores da defesa e da segurança. Uma transformação não só nas suas estruturas, mas, sobretudo, nas mentalidades, assente no papel dos militares numa democracia representativa – um sistema político semipresidencialista. Esta investigação adopta uma a metodologia qualitativa descritiva indutiva (Creswell & Creswell, 2018, p. 64) e baseia-se na análise de um conjunto de temas seleccionados, para avaliar como a Guiné-Bissau poderá evitar ser um estado falido? Os autores desejam reconhecer que, para mitigar a insuficiência de dados qualitativos oficiais e académicos, realizaram uma série de entrevistas e utilizaram fontes mediáticas devidamente trianguladas. A discussão crítica destes temas foi complementada com entrevistas a líderes de opinião da Guiné-Bissau e a representantes da sua diáspora, bem como a antigos agentes coloniais portugueses. As transcrições das entrevistas relevantes foram traduzidas livremente para a língua inglesa. Por último, esta investigação exclui os últimos dois anos (2022-2024) da actual liderança política, sob o Presidente Embaló. Durante este período, o Presidente Embaló dissolveu o parlamento por duas vezes, marcou eleições legislativas para novembro de 2024 e, à data em que escrevemos, as eleições presidenciais ainda não foram convocadas. Por isso, os autores consideram importante aguardar pelo desenvolvimento desta sequência de factos, antes de analisar os últimos dois anos da sua acção política.

Biografias Autor

PAULO GONÇALVES

Independent researcher and a retired senior officer (Colonel) of the Portuguese Air Force (Portugal). He has a large experience in research and advising international organizations, as he operated in a myriad of functions and tasks, including international engagements in European Union (EU), North Atlantic Treaty Organization (NATO) and the United Nations (UN). Throughout his career, he has operated in 25 different countries across the Americas, Europe, Asia, and Africa. Paulo worked as a strategic communicator, performed conflict observation and analysis functions for NATO, the EU, and the UN; operated as an electoral support staff member, and program implementer for the United Nations Development Program; and was an advisor at the United Nations political mission for Afghanistan (UNAMA), making analyses and assessments on Afghan regional and national governance. He is currently an independent researcher on international relations, with a particular interest in Portuguese-speaking countries. He collaborates with the University of Macau regularly on academic research.

FRANCISCO JOSÉ LEANDRO, https://orcid.org/0000-0002-1443-5828

Ph.D. in political science and international relations from the Catholic University of Portugal (2010). In 2014, 2017, and 2020, he was awarded the Institute of European Studies in Macau Academic Research Grant, which is a major component of the Asia-Europe Comparative Studies Research Project. From 2014 to 2018, he was the program coordinator at the Institute of Social and Legal Studies, Faculty of Humanities at the University of Saint Joseph in Macau, China. From 2018 to 2023 he was the associate dean of the Institute for Research on Portuguese-Speaking Countries at the City University of Macau. Since 2023, he is associate professor with habilitation in international relations at Faculty of Social Sciences and the Deputy Director of the Institute of Global and Public Affairs – University of Macau (China). Francisco is a member of OBSERVARE (Observatory of Foreign Relations), which was founded in 1996 as a center for studies in international relations at the Autonomous University of Lisbon, Portugal.

Publicado

2024-11-27