ACORDOS PRÉ-ABRAÃO
DOI:
https://doi.org/10.26619/1647-7251.15.2.5Palavras-chave:
Acordos de Abraão, Tratados de Paz, Israel, Jordânia, Egito, Médio OrienteResumo
Em setembro de 2020 o mundo ficou surpreso ao ser anunciado na Casa Branca um tratado de normalização de relações entre duas monarquias do Golfo Pérsico, mais especificamente entre o Bahrain e os Emirados Árabes Unidos, e o Estado de Israel. Ainda mais surpresa ficou a humanidade ao compreender o silêncio que emanou dos restantes países professantes do Islamismo. Todavia, não se deve considerar os Acordos de Abraão como um momento de normalização isolado no panorama das relações entre Israel e os estados árabes e muçulmanos. É de se relembrar que ocorreram tratados de paz com Israel no passado, sendo de se nomear o Tratado de Paz com o Egito em 1979 e o Tratado de Paz com a Jordânia em 1994. Tendo em conta que estes acordos já existiam, coloca-se em causa a inovação dos próprios Acordos de Abraão em termos de Relações Internacionais e regionais. Portanto, a questão de partida que guiará este artigo é a seguinte: Como é que os Acordos de Abraão de 2020 são considerados inovadores em comparação com os Tratados de Paz celebrados entre Israel e o Egito em 1979 e com a Jordânia em 1994? O objetivo principal deste artigo científico será distinguir as diferenças a vários níveis, nomeadamente ao nível socio-histórico e em termos de impacto nas Relações Internacionais, entre os Acordos de Abraão e os Tratados de Paz anteriormente celebrados entre Israel e, em primeiro lugar, o Egito, e de seguida, a Jordânia. O principal argumento deste artigo é que os Acordos de Abraão são de uma natureza diferente do Tratado de Paz entre o Egito e Israel de 1979 e o Tratado de Paz entre Israel e a Jordânia de 1994, dado que os contextos sociohistóricos, geopolíticos e geoestratégicos eram essencialmente distintos, como é percecionado ao se aplicar a Teoria da Balança da Amaça e a Teoria da Aliança, ambas de Stephen Walt. Assim, o impacto de cada tratado nas relações regionais e internacionais era distintivamente diferente. Para atingir estes objetivos, este estudo seguirá esta metodologia: primeiramente, é considerado um estudo positivista. De igual forma, dado que vai ocorrer validação por quadros teóricos utilizados, é um estudo dedutivo. Aglomerará em si dois tipos de investigações, descritiva e explicativa. É maioritariamente um estudo comparativo, dado que os Tratados de Paz de 1979 e 1994 vão ser comparados com os Acordos de Abraão. Este estudo utilizará o método histórico processual diacrónico para analisar o antes e depois dos Tratados de Paz e dos Acordos. Todos os dados vão ser submetidos a análise de discurso. Uma das principais conclusões deste artigo é que os Tratados de Paz de 1979 e 1994 foram celebrados após terem perdido guerras contra Israel, o que conduziu a uma necessidade de paz com o estado judaico de forma a haver recuperação financeira. Consequentemente, estes Tratados de Pa foram vistos como uma aliança, nomeadamente, um positive balancing com Israel. Por outro lado, os Acordos de Abraão não sugiram de um contexto de guerra, tendo em vista que os Emirados Árabes Unidos e o Bahrain nunca lutaram Israel, mas num contexto de perceção de uma ameaça comum, o Irão. Consequentemente, a aliança com Israel foi tanto um hard e soft balancing.