OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N1, TD1
Dossiê Temático Rede Lusófona de Educação Ambiental:
perspectivas de cooperação para construir respostas sociais
a uma crise socioambiental global
Setembro 2024
VOL15 N1, TD1
Dossiê Temático
Rede Lusófona de Educação Ambiental: perspectivas de cooperação para construir
respostas sociais a uma crise socioambiental global
DOI https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0224
Editorial. Rede Lusófona de Educação Ambiental: perspectivas de cooperação para
construir respostas sociais a uma crise socioambiental global Marília Andrade Torales
Campos; Pedro Martins pp. 2-5
ARTIGOS
Brazilian biomes and environmental education: potentials for the scientific and ecological
formation of high school students - Noemi Boer, Neusa Maria John Scheid, Cláudia Rigoli
Schneider pp. 6-23
Rede Lusófona de Educação Ambiental: da “cooperação” à construção de uma perspetiva
de “cocriação” a partir da análise de seis congressos internacionais (2007-2021) - Ana
Laranja, Filomena Martins, Marília Andrade Torales Campos pp. 24-44
Panorama das políticas públicas de Educação Ambiental nos Países Africanos de Língua
Portuguesa (PALOP) no período pós-independência - Ronualdo Marques, Marilia Andrade
Torales Campos pp. 45-64
Cultural Mapping as a Tool for Environmental Education in Coastal Areas - Daniel Oliveira,
Zara Teixeira, Mônica Mesquita pp. 65-80
Educação, Sustentabilidade e Conhecimento Ecológico Local - Marta Torres, João Mouro,
Mônica Mesquita pp. 81-103
Visões de gestores escolares sobre o desenvolvimento sustentável: reflexões à luz das
representações sociais - Elaine Angelina Colagrande, Luciana Aparecida Farias,
Luiz Omir
de Cerqueira Leite pp. 104-119
Contributo da educação ambiental na gestão de conflitos sócio-ambientais entre a
comunidade de Inguane e a Estação de Biologia Marítima na Reserva Marinha e Florestal
da ilha da Inhaca - Ercílio de Clarêncio Langa pp. 120-132
NOTAS E REFLEXÕES
Uso de geotecnologias (SIG) para mapeamento de áreas inundáveis em zonas urbanas:
estudo de caso bairro de Bunhiça - Ali José Santos Caetano, Elton Zefanias Simango,
Khen Luís Huo pp. 133-148
Análise da Construção das Linhas Orientadoras para Estratégias Nacionais de Educação
Ambiental nos Estados-Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - Maria
Henriqueta Raymundo, Pedro Martins, Joana Diniz, Clara Justino pp. 149-157
Clima Património da Humanidade. O padrão de funcionamento relativamente estável do
Sistema Terrestre que emergiu no Holoceno, como património comum intangível da
Humanidade - Paulo Magalhães pp. 158-166
O contributo do ensino de Geografia para a solução de problemas ambientais: caso Escola
Secundária Bedene, Machava, Bairro Bunhiça, Município da Matola - Adélia Jorge
Vianculos, Sabil Damião Mandala pp. 167-178
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Dossiê Temático Rede Lusófona de Educação Ambiental:
perspectivas de cooperação para construir respostas sociais
a uma crise socioambiental global
Setembro 2024
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EDITORIAL
REDE LUSÓFONA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL:
PERSPECTIVAS DE COOPERAÇÃO PARA CONSTRUIR RESPOSTAS SOCIAIS
A UMA CRISE SOCIOAMBIENTAL GLOBAL
MARÍLIA ANDRADE TORALES CAMPOS
mariliat.ufpr@gmail.com
Doutora em Ciências da Educação, professora associada da Universidade Federal do Paraná.
Mestre em Educação Ambiental, Pedagoga. Diretora do Centro de Educação Ambiental e
Preservação do Patrimônio (Brasil). Líder do Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental e Cultura
da Sustentabilidade. Coordenadora Adjunta da Rede Lusófona de Educação Ambiental. Bolsista
Produtividade em Pesquisa (CNPq/Brasil). https://orcid.org/0000-0002-4026-6239
PEDRO MARTINS
pedro.martins@aspea.org
Doutorando em Equidade e Inovação em Educação (Universidade de Santiago de Compostela).
Mestre em Educação pelo Instituto Politécnico do Porto. Mestre em Ecologia Aplicada pela
Universidade do Porto, em colaboração com a Universidade de Santiago de Compostela
(Espanha) e o Istituto Zooprofilattico Sperimentale della Lombardia e Dell’Emilia Romagna
(Itália). Licenciado em Biologia pela Universidade do Porto (Portugal). Professor no ensino
superior e no ensino secundário (Portugal). Investigador do inED Centro de Investigação e
Inovação em Educação (Instituto Politécnico do Porto). Autor de manuais escolares e livros
técnicos para professores (AREAL Editores). Ministrou formação de adultos na área da Educação
Ambiental e foi diretor escolar. É Secretário-Geral da Associação Portuguesa de Educação
Ambiental e Representante de Portugal no Conselho de Coordenação da RedeLuso.
Como citar este editorial
Campos, Marília Torales & Martins, Pedro (2024). Editorial, Rede Lusófona de Educação Ambiental:
Perspectivas de Cooperação para Construir Respostas Sociais a uma Crise Socioambiental Global.
Janus.net, e-journal of international relations. VOL 15 N1, TD1 Dossiê temático - Rede Lusófona
de Educação Ambiental:perspectivas de cooperação para construir respostas sociais a uma crise
socioambiental global, setembro de 2024. DOI https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0224ED.
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N1, TD1
Dossiê Temático
Rede Lusófona de Educação Ambiental: perspectivas de cooperação para construir respostas
sociais a uma crise socioambiental global
Setembro 2024, pp. 2-5
Editorial Marília Andrade Torales Campos, Pedro Martins
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EDITORIAL
REDE LUSÓFONA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PERSPECTIVAS
DE COOPERAÇÃO PARA CONSTRUIR RESPOSTAS SOCIAIS
A UMA CRISE SOCIOAMBIENTAL GLOBAL
MARÍLIA ANDRADE TORALES CAMPOS
PEDRO MARTINS
De forma bastante evidente, a humanidade vive num cenário de convergência de
diferentes crises, que se entrecruzam e afetam distintas dimensões da sociedade. Tal
cenário, complexo na sua natureza e dimensão, desafia-nos a repensar o processo
civilizatório humano, tendo em vista a forte correlação existente entre os modos de vida
e o modelo de desenvolvimento adotados pelas sociedades forjadas a partir de um padrão
de produção e consumo capitalista. O esforço para constituir uma governança global
capaz de enfrentar os problemas decorrentes de um desequilíbrio ecológico sistémico não
tem sido suficiente para reverter o quadro de crise climática, o aumento dos níveis de
poluição e a perda de biodiversidade, que cada vez mais evidenciam os limites
regenerativos do planeta.
Para enfrentar este cenário o complexo que desafia a sociedade mundial, é preciso
buscar alternativas sociais, políticas e económicas capazes de transformar
profundamente a relação entre as sociedades e a natureza, problematizando modelos de
desenvolvimento insustentáveis para repensar o próprio processo civilizatório que os
legitima. Assim, se há uma necessidade premente de reação da sociedade mundial para
responder a um cenário de múltiplas crises, como poderiam as sociedades
instrumentalizar-se para, de maneira individual e coletiva, criar alternativas capazes de
manter saudáveis as suas condições de vida no planeta, sem desconsiderar as demais
espécies e elementos que se interconectam na composição e existência dos
ecossistemas?
Certamente, a questão exige aprofundamento científico e capacidade de análise crítica
sobre uma realidade cada vez mais intrincada e multidimensional. Neste sentido, a
Educação Ambiental emerge como um campo teórico-prático potente para a formação
de pessoas, capaz de promover experiências que, com base no diálogo e na troca de
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sociais a uma crise socioambiental global
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saberes, possibilitem a tomada de consciência sobre a realidade ambiental do planeta e
sobre a sua relação com todas as formas de vida, considerando as suas dinâmicas de
interdependência. Portanto, a necessidade de reação das sociedades não se restringe
apenas a ações locais, mesmo que delas não se prescinda, mas é preciso lançar mão de
estratégias sociopolíticas mais robustas, com maior capacidade de impacto na tomada
de decisões que possam modificar o rumo dos problemas ambientais, que se têm
agravado e colocado em risco a sociedade mundial.
Assim, o presente dossiê temático resulta de um processo de cooperação internacional
iniciado no ano de 2005, que teve por objetivo integrar educadores ambientais que atuam
nos países e comunidades que compartilham a lusofonia, entre as características que
marcam a sua cultura e a sua história. A criação da Rede Lusófona de Educação Ambiental
(Redeluso) constitui-se como um processo de cooperação voltado para a criação de um
espaço de ação coletiva, comprometido com a construção de sociedades mais
sustentáveis, mais justas e democráticas a partir de processos participativos de formação
da cidadania. No seu escopo, a Redeluso busca fortalecer processos conjuntos de
pesquisa, formação e informação no campo da Educação Ambiental, contribuindo para
os debates sobre o presente e o futuro do planeta.
Dentre as suas ações, a Redeluso promove encontros presenciais periódicos entre os
participantes dos países e comunidades que a integram, nomeadamente, Angola, Brasil,
Cabo Verde, Galiza (Espanha), Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal,
São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Assim, este dossiê sistematiza reflexões a partir de
práticas de Educação Ambiental desenvolvidas e apresentadas no VII Congresso
Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa,
que decorreu em julho de 2023 na cidade de Maputo (Moçambique). Este congresso foi
precedido pelos congressos realizados em 2007 (Santiago de Compostela, Galiza), em
2013 (Cuiabá, MT, Brasil), em 2015 (Torreira, Murtosa, Portugal), em 2017 (Ilha do
Príncipe, São Tomé e Príncipe), em 2019 (Arquipélago de Bijagós, Guiné-Bissau) e, 2021
(Ilha de São Vicente, Cabo Verde).
Ao final de cada um destes congressos, foi elaborado um documento com as principais
conclusões dos debates, originando um registo de sugestões e de contributos ao fomento
de um processo participativo contínuo, desencadeado ao longo das diversas ações que
ocorrem nos diferentes países que integram a rede. Neste sentido, o programa do VII
Congresso Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua
Portuguesa buscou utilizar metodologias que atribuíssem relevo a diferentes
manifestações culturais integradas nas práticas de Educação Ambiental, reforçando a
potência de cada cultura para a formulação de políticas públicas que ajudem a fortalecer
as iniciativas que ocorrem nos países e comunidades lusófonos.
O VII Congresso da Redeluso teve como tema central de debate "A Educação Ambiental:
a chave para a Sustentabilidade". A escolha desta temática visou agregar as perspectivas
de diferentes grupos em relação à busca de soluções e à composição de estratégias
comuns. Como forma de melhor orientar os debates, o congresso estruturou-se com base
nos seguintes eixos: (1) Educação Ambiental nas Políticas de Desenvolvimento Humano;
(2) Educação Ambiental e Cidadania: na escola e na sociedade; (3) Educação Ambiental,
o Antropoceno e o enfrentamento à Crise Climática; (4) Educação Ambiental e
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sociais a uma crise socioambiental global
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Diversidades: Natureza e Cultura. Cada um destes eixos albergou um conjunto de
debates que deram origem aos artigos distribuídos e recomendados a quatro periódicos
científicos, entre eles a JANUS.NET, e-journal of International Relations.
Por outro lado, importa recordar que no bojo das discussões que decorrem da proposição
da Organização das Nações Unidas sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
(ODS), compreende-se que a Educação Ambiental se constitui como um elemento fulcral
para tratar de temas como o cuidado ético, a justiça socioambiental e a equidade nas
políticas, a partir do reconhecimento de que existem abismos sociais que precisam ser
enfrentados ao tratar das condições de vida no planeta. Neste contexto, a Educação
Ambiental escolarizada, comunitária ou social, tem a responsabilidade de contribuir para
a formação de uma cidadania mais consciente da sua realidade e capaz de responder às
demandas de enfrentamento de diversos problemas, como a necessidade de resistência
a políticas de desmonte ou de ameaça às iniciativas democráticas e participativas para a
proteção ambiental.
Neste cenário, em que as mudanças climáticas demandam ações de mitigação e
adaptação, colocando em tela o que as predições científicas já antecipavam, mas que se
concretizam a um ritmo acelerado, em meio a incertezas que dificultam a exatidão nas
previsões, tanto o campo científico como o campo político enfrentam um movimento
negacionista balizado por interesses económicos e por ideologias alinhadas a uma visão
de mundo pouco pautada na garantia de direitos humanos básicos e universais, em meio
à necessidade de prevenção e de enfrentamento contra as consequências dramáticas
provocadas pela mudança climática global.
Assim, os artigos que compõem os quatro dossiês que decorrem do último congresso
promovido pela Redeluso multiplicam-se e derivam em várias dimensões de um cenário
global que exige uma sociedade mais preparada para agir de maneira coletiva, crítica e
articulada. Nesta tessitura, importa realçar que a Educação Ambiental é política, exige
atuação democrática e participativa, requer iniciativas pautadas por princípios de justiça,
ética, sustentabilidade e inclusão da diversidade e das diferenças entre as identidades
dos grupos sociais, considerando marcadores de raça, etnia, sexo ou género. Portanto,
este conjunto de reflexões e análises ora oferecidos aos leitores, busca contribuir para
os debates no campo da Educação Ambiental, valorizando mecanismos de cooperação
internacional que reconheçam a importância das vidas e não vidas; dos humanos e não
humanos; e da possibilidade da sua coexistência frente aos desafios das violações de
Direitos Humanos e da Terra.
Boas leituras!
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Dossiê temático - Rede Lusófona de Educação Ambiental:
perspectivas de cooperação para construir respostas sociais
a uma crise socioambiental global.
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BRAZILIAN BIOMES AND ENVIRONMENTAL EDUCATION:
POTENTIALS FOR THE SCIENTIFIC AND ECOLOGICAL FORMATION
OF HIGH SCHOOL STUDENTS
NOEMI BOER
noemiboer@gmail.com
PhD in Scientific and Technological Education from the Universidade Federal de Santa Catarina
(2007), Master's in Brazilian Education from the Universidade Federal de Santa Maria, RS
(1993). Specialisation in Environmental Preservation from the Universidade de Passo
Fundo (UPF). Degree in Science, with a full degree in Biology; Degree in Pedagogy,
Qualification in School Supervision from the Universidade de Passo Fundo (UPF). She is
currently an adjunct professor III at the Universidade Franciscana (UNF) de Santa Maria,
RS (Brazil), carrying out teaching and research activities with the Master's in Teaching
Humanities and Languages (MEHL), a member of the Ethics Committee for Research with
Human Beings (CEP/UFN). She is a collaborating professor in the Postgraduate
Programme in Scientific and Technological Education at the Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), Santo Ângelo campus. She has
experience in Education and Research Methodology, working mainly on the following
subjects: environmental education, sustainability and socio-environmental issues. She is
a leading researcher in the Teacher Training and Teaching Group and a member of the
Teaching Humanities and Languages Group.
NEUSA MARIA JOHN SCHEID
scheid.neusa@gmail.com
PhD in Scientific and Technological Education from the Universidade Federal de Santa Catarina
(2006), with a post-doctoral internship in Education from the Instituto de Educação da
Universidade de Lisboa, Portugal (2014). She has an undergraduate degree in Science from the
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (1980), a bachelor's degree
in Biology from the Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (1983)
and a master's degree in Science Education from the Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul (2001). She is currently a professor at the Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões (Brazil), working as a permanent lecturer on the
Postgraduate Programme in Scientific and Technological Education and as a guest researcher on
the Postgraduate Programme in Science Education (UFFS). She has experience in the field of
Education, with an emphasis on Science and Technology Education, working mainly on the
following subjects: science education, teacher training, science teaching, history of science and
conception of science. She is a leading researcher in the Science, Technology and Health
Teaching Research Group (GPECTS) and Editor-in-Chief of the journal Vivências. Member of the
Coordination Team of the International Science Education Research Network - RIEC.
CLÁUDIA RIGOLI SCHNEIDER
claudiarschneider@gmail.com
Master's in Scientific and Technological Education from the Universidade Regional Integrada do
alto Uruguai e das Missões (URI). Postgraduate in Environmental Sanitation from the Faculdade
Integrada da Grande Fortaleza (FGF). Graduated in Biological Sciences from the Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí). Registered with the Regional
Council of Biology under No. 069261/03. She is currently Pedagogical Coordinator and High
School Teacher at Colégio Dom Hermeto, Três de Maio, RS (Brazil). High school teacher at the
Frederico Jorge Logemann Technological Centre, Horizontina, RS. She has experience in Science
and Technology Education, working mainly on the following subjects: science education, science
and biology teaching, scientific and research methodology, environmental licensing and
consultancy.
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Título Dossiê temático - Rede Lufona de Educação Ambiental:
perspectivas de cooperação para construir respostas sociais
a uma crise socioambiental global
Setembro 2024, pp. 6-23
Brazilian Biomes and Environmental Education: Potentials for the Scientific and Ecological
Formation of High School Students
Noemi Boer, Neusa Maria John Scheid, Cláudia Rigoli Schneider
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Abstract
The results of the study conducted by the authors indicate that the Brazilian biomes content
did not receive the proper attention, in the period from 2015 to 2019, in the “Natural Sciences
and their Technologies” section of the National High School Examination (ENEM), which might
suggest that these are considered secondary content in these exams. This can impact the
scientific education of students and the development of skills that enhance the idea of
belonging to a specific place in defined space and time. In educational, political, cultural, and
social discussions, biomes are in focus and are understood as essential for the conservation
of Earth's biodiversity. All of these aspects relate to environmental education and the
ecological formation of individuals. In this qualitative study, a pedagogical intervention activity
is reported, which was conducted with a group of high school students from a Brazilian Basic
Education school as part of a master's research project. The students' activity consisted of
creating six infographics, each covering one of the Brazilian biomes. These infographics,
developed based on bibliographic research, were printed in poster format and displayed in the
classroom as a didactic and motivational resource. The intention was to contribute to the
scientific and ecological education of the students, especially regarding their awareness that
knowledge about biomes is essential for their preservation. Emphasis was placed on the
maintenance of genetic heritage of species, the ongoing need for soil and water conservation,
as well as the preservation of forests, which are crucial for regulating rainfall and the planet's
climate. It is concluded that the appropriate approach to biomes could be useful for the
scientific and ecological education of students and should have a central place in basic
education, not as an option but as a responsibility that must be urgently taken on.
Keywords
Environmental, Biodiversity, Pampas, Amazon, Pantanal.
Resumo
Os resultados de estudo realizado pelas autoras indicam que o conteúdo biomas brasileiros
não recebeu a devida atenção, no período 2015-2019, na prova de Ciências da Natureza e
suas Tecnologias, no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), possibilitando inferir que esses
são considerados conteúdo secundário nessas avaliações. Isso pode impactar a formação
científica dos estudantes e o desenvolvimento de competências que potencializam a ideia de
pertencimento a um determinado local, em espaço e tempo definidos. Nas discussões
educacionais, políticas, culturais e sociais, os biomas estão em foco e são entendidos como
imprescindíveis à conservação da biodiversidade da Terra. Todos esses aspectos dizem
respeito à educação ambiental e à formação ecológica das pessoas. Nesse estudo, de
abordagem qualitativa, relata-se uma atividade de intervenção pedagógica realizada com uma
turma de estudantes do Ensino Médio, de uma escola de Educação Básica brasileira, ao abrigo
de uma pesquisa de mestrado. A atividade dos estudantes consistiu na elaboração de seis
infográficos contemplando cada um dos biomas brasileiros. Elaborados a partir de pesquisa
bibliográfica, os infográficos impressos em formato de poster ficaram expostos em sala de
aula como recurso didático e motivacional. Pretendeu-se contribuir com a formação científica
e ecológica dos estudantes, principalmente no que diz respeito à consciência de que o
conhecimento relativo aos biomas é fundamental à sua preservação. Procurou-se dar
destaque à manutenção do patrimônio genético das espécies, à necessidade permanente de
cuidados com o solo e com a água, assim como a conservação das florestas, imprescindíveis
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Brazilian Biomes and Environmental Education: Potentials for the Scientific and Ecological
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à regulação das chuvas e do clima do Planeta. Conclui-se que a abordagem apropriada dos
biomas poderá ser útil para a educação científica e ecológica dos estudantes, devendo ter um
lugar central na educação básica, não se constituindo uma opção, mas uma responsabilidade
que deve ser assumida com urgência.
Palavras-chave
Meio ambiente, Biodiversidade, Pampa, Amazônia, Pantanal.
How to cite this article
Boer, Noemi, Scheid, Neusa Maria John & Schneider, Cláudia Rigoli (2024). Brazilian Biomes and
Environmental Education: Potentials for the Scientific and Ecological Formation of High School
Students. Janus.net, e-journal of international relations. VOL15 N1, TD1 Dossiêr temático Rede
Lusófona de Educação Ambiental: perspectivas de cooperação para construir respostas sociais a
uma crise socioambiental global”. Setembro de 2024. DOI https://doi.org/10.26619/1647-
7251.DT0224.1.
Article received on june 30th, 2024 and accepted on july 20th, 2024.
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BRAZILIAN BIOMES AND ENVIRONMENTAL EDUCATION:
POTENTIALS FOR THE SCIENTIFIC AND ECOLOGICAL FORMATION
OF HIGH SCHOOL STUDENTS
NOEMI BOER
NEUSA MARIA JOHN SCHEID
CLÁUDIA RIGOLI SCHNEIDER
Introduction
The current global context we experience, in various and frequent moments and
situations, has shown that we are reaching the limits of planetary conditions. The
consequences of climate change, for instance, concern the vast majority of the
population, as they constitute the most vulnerable segment to environmental disasters.
Hence, it is likely that few people, when asked about the importance of scientific studies
on this topic, would deny its urgency and society's responsibility in the face of socio-
environmental, economic, and health-related conflicts. In addition to this, we have the
increasing social inequalities, the disrespect towards the space and knowledge produced
and cultivated by traditional communities, scientific denialism, and climate changes,
among many other situations. It is becoming increasingly urgent for humanity to assume,
with science and prudence, the role of being and existing in the world in a more balanced
and responsible manner, by adopting ecologically oriented attitudes and overcoming the
individual-nature dichotomy (Leff, 2003; Luzzi, 2012; Carvalho, 2013). In this context,
Environmental Education and the ecological formation of individuals have been identified
as crucial to the development of environmentally sustainable societies.
It is understood that the production of scientific knowledge to underpin educational
proposals largely originates from the field of Ecology, a promising area concerning the
formation of critical and socio-environmentally responsible citizens. In this article,
referencing the definition by Ab'Sáber (2009, p. 18), ecology is defined as follows:
Ecology is the science that studies habitats and the environment, examining the
relationships between living beings and the physical environment in which they live
(Ab'Sáber, 2009, p. 18). Thus, as a science with a broad approach, Ecology is related to
the organization of Brazilian biomes, which is the scope of this article.
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Brazilian Biomes and Environmental Education: Potentials for the Scientific and Ecological
Formation of High School Students
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Currently, the concept of a biome is associated with the idea of nature conservation, and
its visualization has been sought through the aggregation of ecosystems by proximity
and regionalization. According to the Brazilian Institute of Geography and Statistics
(IBGE), a biome comprises a set of life (plant and animal) constituted by the grouping
of contiguous and identifiable types of vegetation on a regional scale, with similar
geoclimatic conditions and a shared history of changes, which results in a unique
biological diversity(Brazilian Institute of Geography and Statistics - IBGE, 2004, p. 11).
This is a political definition of the concept of a biome, resulting in six groups large
landscape and macro-ecological domains in Brazil, named: Caatinga, Cerrado,
Pantanal, Amazon, Atlantic Forest, and Pampa (Ab’Sáber, 2003, 2009).
In his book, Ecossistemas do Brasil (Ecosystems of Brazil, in English), from 2009, the
author locates these six landscape domains as follows: (1) Amazon as lowland forested
domains of the Amazon; (2) Caating as semi-arid inter-plateau depression domains of
the Northeast; (3) Atlantic Forest as forested hill sea domains; (4) Cerrado as plateau
domains covered and penetrated by gallery forest; (5) Araucaria plateau domains as the
southern Brazilian plateau, stretching from o Paulo to Rio Grande do Sul; and (6)
Pampa as mixed prairie domains of the southeast of Rio Grande do Sul. The first four
domains are intertropical, while the latter two are referred to as Brazilian subtropical
domains.
It is worth noting that Brazilian high school Biology textbooks contain different definitions
and numbers of Brazilian biomes. However, in this study, the classification of biomes
according to the IBGE, also endorsed by Ab'Sáber (2009), is adopted as described in
previous paragraphs. Furthermore, it is important to consider that there are studies
indicating various weaknesses in the content approach of these textbooks. Specifically,
concerning the content related to Brazilian biomes, Raiol, Oliveira, and Lemos (2019)
identified in their research that there is an absence of maps that show aquatic
environments and that important and current aspects, such as potential threats to the
integrity of the biomes, are not addressed in these textbooks.
In addition to this, there is the evidence obtained in research carried out by the authors
of this article when analyzing the questions in the Science of Nature and its Technologies
test of the National High School Exam (ENEM) in the period 2015-2019 (Schneider, Boer
and Scheid, 2021). The results related to questions on Brazilian biomes in this test,
considering the time frame, showed that knowledge of Ecology was frequent in the
Science of Nature and its Technologies tests, however, questions related to Brazilian
biomes were practically non-existent. This suggests that the topic of Brazilian biomes is
considered secondary content in ENEM assessments, which could affect the teaching of
biology in Brazilian schools, given that the content chosen in the exam is generally a
reference for teachers' didactic-pedagogical planning.
Therefore, teachers and students need to employ additional resources beyond textbooks
through active methodologies to address the study of biomes in the face of current
challenges. To help the understanding of high school students regarding Brazilian biomes,
it is necessary to bring them closer to the reality of their life context and create learning
situations in which they become protagonists of their knowledge. For this to happen, the
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Brazilian Biomes and Environmental Education: Potentials for the Scientific and Ecological
Formation of High School Students
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methodology used needs to be active and engage with the everyday language of the
students.
One of these possibilities is the development of a Didactic Sequence (DS), so that
students engage in knowledge production through research. It is understood that this is
one way to provide a meaningful experience for both the teacher and the learner. In this
sense, digital Information and Communication Technologies (ICT) can expand the
possibilities for teaching and learning (Moran et al., 2000), as in today's world, those
who are not "connected and lack digital literacy lose important opportunities to inform
themselves, access rich materials available, communicate, become visible to others,
publish their ideas, and increase their future employability" (Moran et al., 2000, p. 26).
Further, according to Nascimento, Guimarães, and El-Hani (2009), a well-developed DS
can contribute to teaching knowledge by fostering the articulation between reflective
thinking, knowledge, and professional practice.
Given such a context and considering that all of these aspects can have an impact on
students' scientific education and the development of skills that enhance the idea of
belonging to a certain place, in a defined space and time, this article reports on a
pedagogical intervention activity carried out with a group of high school students from a
Brazilian elementary school, as part of a master's research project whose central theme
was the study of Brazilian biomes. This topic is justified because in educational, political,
cultural and social discussions, biomes are in the spotlight and are understood to be
essential for the conservation of the Earth's biodiversity. All of these aspects relate to
environmental education and people's ecological education, as stated in the article's title.
Considerations on the Ecological Education of Students in the Brazilian
Context
The United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Unesco), in its
recently released report "Learn for Our Planet: A Global Review of How Environmental
Issues are Integrated into Education" (Unesco, 2021), calls on society to intensify efforts
by 2030 to address environmental issues, considering that:
The world has long recognized the need to harness the power of
education to tackle the challenges of sustainable development, but there
is still not enough systematic information about countries' positions in
addressing climate change, biodiversity, and the environment more
broadly in educational systems. To make progress, we must understand
where the gaps lie (Unesco, 2021, p. 4).
In Brazil, although there is a strong understanding that Environmental Education should
be integrated into the development of all curriculum components, in most basic education
curricula, it is confined to one subject: Natural Sciences in Elementary School and Biology
in High School. Considering this article discusses issues related to Brazilian biomes and
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the content covered in Biology education, the following paragraphs provide information
about this curriculum component.
The study of Biology in High School aims to present and develop the main concepts
associated with living organisms for high school students, enabling their integration with
biological knowledge that will be necessary for daily life (contextualization) and used in
the assessment processes of the ENEM and university entrance exams (entrance exams
for higher education courses).
According to the National Common Curricular Base (BNCC), in High School, the Biology
curriculum is part of the area of Natural Sciences and their Technologies and is
characterized as the science that studies "life in its various aspects as well as the
transformation of living organisms over time" (Ministry of Education, 2018), with the
purpose of promoting improvement in the quality of life and the preservation of the
ecosystem as a whole. With the implementation of the BNCC throughout Brazil, High
School consists of Basic General Education and Formative Paths, which allow students to
deepen their knowledge in the desired area.
The current organization of the High School curriculum was developed to consolidate and
deepen the knowledge acquired in Elementary School, and as a result, the area of Natural
Sciences and their Technologies is characterized by the presence of themes such as
Matter and Energy, Life, Earth, and Cosmos, traversing through the ten general
competencies established by the BNCC. Regarding the methodological aspects of
teaching, this document encourages student protagonism and learning through research.
Therefore, it is advocated that active methodologies enhance the construction of
knowledge in Biology, making learning more meaningful and interesting for the student.
It is worth mention that, according to the BNCC and complementary guidelines, for the
area of Natural Sciences and their Technologies, three specific competencies have been
defined to be developed over the three years of High School:
Competence 1: Analyze natural phenomena and technological processes, based on
interactions and relationships between matter and energy, to propose individual and
collective actions that enhance productive processes, minimize socio-environmental
impacts, and improve living conditions at the local, regional, and global levels.
Competence 2: Analyze and use interpretations of the dynamics of Life, Earth, and the
Cosmos to develop arguments, make predictions about the functioning and evolution of
living beings and the Universe, and ground and defend ethical and responsible decisions.
Competence 3: Investigate problem situations and evaluate applications of scientific
and technological knowledge and their implications in the world, using procedures and
languages specific to the Natural Sciences, to propose solutions that consider local,
regional, and/or global demands, and communicate their findings and conclusions to
various audiences, in diverse contexts and through different media and digital ICTs.
It is observed that the Brazilian educational legislation, in its curriculum guiding
documents, is aligned with the challenges faced by society. However, the question that
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arises relates to the approach to these competencies and skills necessary for citizenship
education in basic education schools, which often is not adequate.
The Context of Pedagogical Intervention
The BNCC (Ministry of Education, 2018) determines that Brazilian biomes are part of the
content or objects of knowledge in Biology and Geography in High School. However, they
are generally addressed superficially in these curriculum components. To give meaning
to the theme and actively engage students, a DS was proposed, following the perspective
of Zabala (2010) and Oliveira (2013), using ICT resources as learning enhancers.
Therefore, the activities were planned to be developed using smartphones, tablets, or
notebooks with Internet access. The development of this DS occurred within the
framework of a research project that resulted in a Master's thesis and the proposal of an
Educational Product, developed in a Postgraduate Program in Scientific and Technological
Education at a Community University in southern Brazil.
The specifications of the stages of the DS are described in Table 1 below.
Table 1: Stages and Description of Procedures in the Didactic Sequence: Study of Brazilian
Biomes.
Stage
Description of Activities
Workload
1st Stage
Initial questions
- Which biome do we live in?
- What are the environmental conditions of this biome?
- Do you know of any measures to preserve this biome?
To answer the questions, the students researched
websites and books.
- Collective discussion of the answers.
2 hours/class
2nd Stage
Organization of
groups and
orientation of
research activities
- The class was divided into small groups;
- Each group was given a biome to research on websites
and books indicated by the teacher;
Group 1: Caatinga biome
Group 2: Cerrado Biome
Group 3: Pantanal Biome
Group 4: Amazon Biome
Group 5: Atlantic Forest Biome
Group 6: Pampa Biome
2 hours/class
3rd Stage
Extracurricular
Activity
- Research in the library and virtual environment with the
following items:
- Geographical location and climate;
- Main characteristics of the biome's fauna and flora;
- Identification of the main environmental problems of the
biome researched
- Organization of information in a PowerPoint
presentation.
4 hours/class
4th Stage
Presentation
Seminar
- Each group presented their researched biome to the
class;
- Discussion of the causes and consequences of human
impact on these biomes.
4 hours/class
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5th Stage
Infographic
Assembly
The activity took
place in the
computer lab or
remotely
- With the knowledge acquired from the research and
presentations, each group created an infographic to
display in the classroom;
- The infographics were created using the Canva tool,
available at https://www.canva.com/
3 hours/class
6th Stage
Infographics
Presentation
- Exhibition of the infographics in the classroom.
- Presentation of each infographic to the class.
- Discussion on the topic of Brazilian biomes.
2 hours/class
7th Stage
Ecological Trail
- For on-site knowledge of a fragment of the Atlantic
Forest biome, an ecological trail was conducted in an
environmental preservation area located 20 km from the
school.
- Observations and identification of plant species, mosses,
lichens, fungi, animals, and anthropogenic environmental
changes in the area were made.
- Students took photos and videos using their cell phones.
4 hours/class
8th Stage
Video
Extracurricular
Activity
After the trail, each group made a video with the photos
taken, reporting the main issues encountered and the
importance of the researched biome. The video was
shared on the school's social media platforms and served
as material for analysis.
3 hours/class
9th Stage
Presentation / Exhibition
4 hours/class
10th Stage
The students carried out an evaluative activity on Brazilian
biomes, answering 10 objective questions taken from
ENEM exams and entrance exams from different
universities.
1 hour/class
Source: The Authors (2020)
The implementation of the DS took place during the second semester of 2020, involving
a first-year class of High School at a private school located in a municipality in the
northwest of the state of Rio Grande do Sul, in southern Brazil. The study included 25
students aged between 15 and 16, which of the nine were females and were males.
Considering that in 2020 there were restrictions imposed by the Coronavirus pandemic,
all activities except the Ecological Trail were conducted remotely, using Google Meet and
Google Forms resources. The educational trail was conducted in person in 2021.
In accordance with the arguments of Oliveira (2013), that a DS can be considered both
a teaching technique and a research method, the research project was submitted for
review by the CEP/Conep system, as provided for in Resolution CNS/MS 510/2016, as
follows: "research in human and social sciences requires respect and guarantee of the
full exercise of the rights of the participants, and must be conceived, evaluated, and
conducted in such a way as to foresee and avoid possible harm to the participants"
(National Health Council, 2016). Such a resolution lays down norms applicable to
research in Human and Social Sciences in Brazil. Thus, all activities were ethically
designed and studied for the level of development of the participants, seeking benefits
in student learning. Parents signed a Free and Informed Consent Form (FICF) and
students consented to participate in the study through the Assent Form. The research
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protocol was approved by the Ethics Committee on Research with Human Beings of the
University (CEP/URI) on August 31, 2020.
Results
As this article focuses on the analysis of the six infographics produced by high school
students and the contributions of this activity to their scientific and ecological education,
we begin by presenting the analysis related to the application of the DS.
The activity that led to the creation of the infographics began with the students' inquiry
about their prior knowledge of Brazilian biomes. The responses were recorded in a Field
Diary by the teacher-researcher (one of the authors), allowing for an evaluation of the
knowledge production process by the students.
The students were divided into 6 (six) groups, each tasked with preparing a presentation
about the biome assigned to them through a previous draw, as well as organizing an
infographic containing the main information about the biome under study (biome name,
location, flora, fauna, climate, importance, and references). Theoretical concepts,
visualization, and presentation of the characteristics of each biome were considered
fundamental for understanding the species of fauna and flora that live in each biome, as
well as for arousing the students' awareness of the importance of environmental
preservation.
The Canva tool (https://www.canva.com/), freely accessible, was used by all groups to
create the infographics. The infographics were displayed on a clothesline in the classroom
and remained available for consultation throughout the semester. Figures 1 to 6 depict
the infographics of the six biomes produced by two groups.
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Figure 1: Infographic Amazon Biome Figure 2: Infographic Alantic Rainforest Biome
Source: Research Data
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Figure 3: Infographic Cerrado Biome Figure 4: Infographic Caatinga Biome
Source: Research Data
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Figure 5: Infographic Pampa Biome Figure 6: Infographic Pantanal Biome
Source: Research Data
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Aspects Highlighted by the Students in the Developed Activity
Regarding the Amazon Biome, as referenced in Favaretto (2015), they highlighted that
about 60% of the total area of this dense ombrophilous forest (which spans nine South
American countries) is located in Brazil, where it covers 40% of the territory. To a greater
or lesser extent, it covers the states of Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá,
Pará, Maranhão, Mato Grosso, and Tocantins. Rainfall and temperature are high, favoring
life development, which enables the flourishing of one of the greatest biodiversities on
Earth. In the Amazon rainforest, agricultural and livestock activities, as well as logging,
are progressively depleting the forest.
Similarly, they identified that this biome occupies the largest area of Brazilian territory
with great importance due to its rich biodiversity of flora and fauna, and in cloud
formation, modifying the climate globally. During the presentation, the group responsible
for the research mentioned the documentary "A River in the Sky" produced by National
Geographic (available at https://www.youtube.com/watch?v=8auUznr49pM), which
highlights the great importance of the Amazon rainforest for the maintenance of life on
our planet.
The main types of anthropization found were deforestation, wildfires, cattle ranching, and
grain cultivation. Additionally, the illegal trade of animals is another way of driving
various species to extinction.
Based on data from the Brazilian Ministry of the Environment (2020), the students
reported that the Atlantic Forest biome was the second-largest ombrophilous forest in
South America, covering the entire coast of Brazil (from Rio Grande do Sul to Rio Grande
do Norte). Currently, due to deforestation (mainly from the 20th century onwards), it is
greatly reduced, being one of the ten most threatened tropical forests on the planet, as
stated by Favaretto (2015). Originally, the biome covered more than 1.3 million km² in
17 states of Brazilian territory, extending across much of the country's coast. However,
due to human occupation and activities in the region, today only around 29% of its
original coverage remains (Ministry of the Environment, 2020).
In the context of the studied biomes, the Pampa biome is the most familiar to the
students because the pampas (also called mixed grasslands, southern grasslands, or
Gaúcho grasslands) constitute an herbaceous formation that occurs in Rio Grande do Sul,
extending into Argentina and Uruguay. Rainfall is not high; the predominant vegetation
consists of grasses, with remaining forests along the riverbanks. The pampas are subject
to erosion and desertification caused by intense grazing and common wildfires in the
region, as warned by Favaretto (2015). The natural landscapes of the Pampa vary from
hills to plains, rocky hills to hillocks. The biome exhibits an immense cultural heritage
associated with biodiversity, as highlighted by the Brazilian Ministry of the Environment
(Ministry of the Environment, 2020).
With an average altitude of 100m, the Pantanal biome is the largest flooded plain in the
Americas, with an estimated area of 150,000 km². It occupies a significant part of the
states of Mato Grosso and Mato Grosso do Sul, extending into Bolivia and Paraguay. In
the higher lands, various vegetation formations can be found, such as grasslands,
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savannas, scrublands, and forests (Favaretto, 2015). Despite being the smallest
continental biome in Brazil in terms of territorial extension, as stated by the Ministry of
the Environment (Ministry of the Environment, 2020), this fact does not detract from the
abundant richness that this biome harbors.
The capital of Brazil, Brasília, is located in the Cerrado biome. The students, based on
Favaretto (2015), highlighted that the cerrados, covering 25% of the national territory,
contain one-third of all Brazilian species. They are situated practically in the center of the
country, occupying parts of Rondônia, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Goiás, the Federal District, Bahia, among others. The cerrados have an annual rainfall of
around 1500 mm, with soil poor in nutrients and rich in aluminum. Considered one of the
world's biodiversity hotspots, the Cerrado exhibits an extremely high abundance of
endemic species and undergoes exceptional habitat loss. From a biological diversity
perspective, the Brazilian Cerrado is recognized as the richest savanna in the world,
harboring 11,627 species of native plants already cataloged (Ministry of the Environment
2020).
The students attributed great importance to the Cerrado biome because it is the only one
that connects with the other Brazilian biomes, except for the Pampa biome. They were
also surprised by its biodiversity and attributed its anthropization mainly to deforestation
for crop cultivation and pastureland.
The Caatinga biome is exclusively Brazilian and covers almost 10% of the national
territory (Castro et al., 2006), suffering anthropization in the form of wildfires,
deforestation, and hunting, leading to its fragmentation and habitat reduction. It can be
considered a particular type of savanna that occupies, to a greater or lesser extent, the
states of the Northeast, as well as some regions of northern Minas Gerais. Its
temperatures are high, and air humidity is low. Rainfall is scarce, and rains only occur in
the winter, occasionally leading to prolonged dry periods (Favaretto, 2015). The Ministry
of the Environment (Ministry of the Environment, 2020) states that despite its
importance, the biome has been rapidly deforested, mainly in recent years, due primarily
to the consumption of native wood, illegally and unsustainably exploited for domestic and
industrial purposes, overgrazing, and conversion to pastureland and agriculture.
In summary, the Brazilian biomes encompass all the diversity of fauna and flora that the
country possesses. However, their conservation is increasingly threatened by
anthropogenic activities, mainly those related to the conversion of natural landscapes
into areas for agricultural production and real estate development (Aleixo et al., 2010).
This is mainly due to population growth and the lack of public policies aimed at their
preservation.
Results Discussion
During the implementation of the DS, it was evident that the students engaged with the
content. The use of technological resources sparked an interest in the subject matter.
Theoretical concepts, visualization, and presentation of the characteristics of each biome
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were crucial for understanding the species of fauna and flora inhabiting each biome, as
well as for instilling in the students an awareness of the importance of preservation.
Specifically regarding the infographics, it was observed that the students understood the
concept of biomes and were able to accurately characterize the six Brazilian biomes. They
utilized information, text, and images as visual representation of the content studied,
thereby developing technological skills and text interpretation abilities. It highlights the
importance of providing the necessary encouragement for students to seek answers to
the challenges posed through research.
The use of active methodologies in the classroom helps students develop the skills
required by the BNCC. The organization of the study of Brazilian biomes in an DS proved
to be appropriate as an innovative and efficient methodology for school learning.
Similarly, it is observed that the activity of elaborating infographics is aligned with the
skills foreseen in the BNCC (Ministry of Education, 2018), especially the EM13CNT302
skill:
Communicate, to varied audiences, in diverse contexts, results of analyses,
research, and/or experiments, elaborating and/or interpreting texts, graphics,
tables, symbols, codes, classification systems, and equations, through different
languages, media, digital information, and communication technologies (TDIC),
in order to participate and/or promote debates around scientific and/or
technological topics of socio-cultural and environmental relevance (Ministry of
Education, 2018).
It was observed that during the discussions about the research conducted, students
realized that the main anthropogenic actions in some biomes are cattle ranching, grain
cultivation, and wildfires. All of this is causing a process of desertification in various
regions of the biomes, such as the Pampa and the Cerrado, highlighting the need to
preserve each ecosystem so that they maintain their own characteristics and biodiversity.
Final Considerations
Given the challenges humanity currently faces, particularly regarding the socio-
environmental issues affecting the entire planet, such as climate change and its global
ramifications, authors like Sauvé (2005), Leff (2003, 2007), and Luzzi (2012) argue that
societies need to adapt their way of life and organization so that humans can cope with
increasingly frequent and severe environmental problems. In this regard, it is
acknowledged that schools are not the sole solution to these socio-environmental issues.
However, it is precisely within this space that there are conditions and potential for the
collaborative and transformative production of new knowledge, enabling intervention at
the root causes of problems rather than merely addressing their effects.
In line with the points raised by Unesco, it is essential to adopt new directions and
perspectives for Environmental Education in the Brazilian school context.
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The results obtained in this developed project indicate that the appropriate approach to
biomes could be useful for the scientific and ecological education of students, should have
a central place in basic education, not constituting an option, but a responsibility that
must be assumed urgently.
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REDE LUSÓFONA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DA “COOPERAÇÃO”
À CONSTRUÇÃO DE UMA PERSPETIVA DE “COCRIAÇÃO” A PARTIR
DA ANÁLISE DE SEIS CONGRESSOS INTERNACIONAIS (2007-2021)
ANA LARANJA
analaranj@gmail.com
Doutora em Ensino e Divulgação das Ciências, mestre em Biologia e Gestão da Qualidade da
Água, Licenciada em Engenharia do Ambiente. Iniciou a aventura profissional na
República Checa, passou ainda por países como Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e
Príncipe e Cabo-Verde. Durante mais de uma década foi coordenadora no Centro de
Monitorização e Interpretação Ambiental (CMIA) de Vila do Conde, onde dinamizou
inúmeras formações, conteúdos e atividades nas temáticas da Comunicação de Ciência,
Educação Ambiental e Monitorização Ambiental. Neste momento colabora com o
Município de Vila do Conde (Portugal) na elaboração do Plano Municipal de Ação
Climática. Ciência ID- 4E1F-C663-E119.
FILOMENA MARTINS
filomena@ua.pt
Doutora em Ciências Aplicadas ao Ambiente, com frequência do Mestrado em Geomorfologia
Litoral e Especialização em Direito do Ordenamento, Urbanismo e Ambiente, Licenciada em
Geografia. Professora Associada da Universidade de Aveiro, Departamento de Ambiente e
Ordenamento (Portugal). Vice-Diretora do Mestrado em Ciências do Mar e da Atmosfera.
Investigadora Integrada da Unidade de Investigação em Governança, Competitividade e Políticas
Públicas (GOVCOPP), Coordenadora do Grupo de Gestão Integrada do Património Natural e
Cultural das Marinhas e Ecossistemas Associados da Universidade de Aveiro, Coordenadora do
Regional Training Centre Portugal da Ocean Teacher Global Academy (RTC-PT, OTGA) UNESCO-
COI. https://orcid.org/0000-0002-5785-6972.
MARÍLIA ANDRADE TORALES CAMPOS
mariliat.ufpr@gmail.com
Doutora em Ciências da Educação, professora associada da Universidade Federal do Paraná.
Mestre em Educação Ambiental, Pedagoga. Diretora do Centro de Educação Ambiental e
Preservação do Patrimônio (Brasil). Líder do Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental e Cultura
da Sustentabilidade. Coordenadora Adjunta da Rede Lusófona de Educação Ambiental. Bolsista
Produtividade em Pesquisa (CNPq/Brasil). https://orcid.org/0000-0002-4026-6239.
Resumo
O Congresso Internacional de Educação Ambiental (EA) dos Países de Língua Portuguesa e
Galiza surgiu em 2007, da vontade e da necessidade de articulação permanente entre Angola,
Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste
(países que à data compunham a CPLP) e a comunidade autónoma da Galiza (Espanha).
Promover a EA é um desafio ambicioso, e também necessário, aos que pretendem contribuir
para a construção de uma melhor relação entre a natureza e a sociedade. Sendo assim,
interessou-nos realizar uma análise dos resultados de um conjunto de congressos
internacionais de Educação Ambiental que foram realizados em diferentes países entre os
anos de 2007 e 2021 para compreender suas características e seu potencial de cooperação e
cocriação no âmbito da lusofonia. A metodologia usada nesta investigação baseou-se na
análise dos dados disponíveis sobre o perfil dos participantes nos congressos, as instituições
colaboradoras e as ações registradas em cada um eventos. Portanto, a análise documental
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Título Dossiê temático - Rede Lufona de Educação Ambiental:
perspectivas de cooperação para construir respostas sociais
a uma crise socioambiental global
Setembro 2024, pp. 24-44
Rede Lusófona de Educação Ambiental: da “Cooperação” à Construção de uma Perspetiva de
“Cocriação” a Partir da Análise de Seis Congressos Internacionais (2007-2021)
Ana Laranja, Filomena Martins, Marília Andrade Torales Campos
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fundamentou-se nas informações facultadas pela organização dos congressos em seus
relatórios finais, nos programas de cada edição disponíveis no site do congresso e outros
documentos disponibilizados pelos grupos responsáveis. Os resultados obtidos apontam que
os congressos denotam um amadurecimento das ações da Rede Lusófona de Educação
Ambiental, tanto no que se refere ao nível de participação individual e institucional, como no
avanço dos processos de cooperação internacional e na existência de um potencial de
cocriação para o enfrentamento de uma crise socioambiental global.
Palavras-Chave
Educação Ambiental, Rede Lusófona, Congressos, Cooperação, Cocriação.
Abstract
The International Congress on Environmental Education (EE) in Portuguese-speaking
Countries and Galicia came about in 2007 out of the desire and need for permanent
coordination between Angola, Brazil, Cape Verde, Guinea-Bissau, Mozambique, Portugal, São
Tomé and Príncipe, East Timor (the countries that made up the CPLP at the time) and the
autonomous community of Galicia (Spain). Promoting environmental education is an
ambitious and necessary challenge for those who want to help build a better relationship
between nature and society. We were therefore interested in analyzing the results of a series
of international environmental education congresses held in different countries between 2007
and 2021 in order to understand their characteristics and their potential for cooperation and
co-creation within the Lusophone context. The methodology used in this research was based
on analyzing the available data on the profile of the participants in the congresses, the
collaborating institutions and the actions recorded in each event. The documentary analysis
was based on the information provided by the congress organizers in their final reports and
in the programs of each edition available on the congress website and other documents made
available by the groups responsible. The results obtained indicate that the congresses show a
maturing of the actions of the Lusophone Network for Environmental Education, both in terms
of the level of individual and institutional participation, an advance in the processes of
international cooperation and the existence of a potential for co-creation in order to tackle a
global socio-environmental crisis.
Keywords
Environmental Education, Lusophone Network, Congresses, Cooperation; Co-creation.
Como citar este editorial
Laranja, Ana, Martins, Filomena & Campos, Marília Andrade Torales (2024). Rede Lusófona de
Educação Ambiental: da “Cooperação” à Construção de uma Perspetiva de “Cocriação” a Partir da
Análise de Seis Congressos Internacionais (2007-2021). Janus.net, e-journal of international
relations. VOL15 N1, TD1 Dossiêr temático Rede Lusófona de Educação Ambiental:
perspectivas de cooperação para construir respostas sociais a uma crise socioambiental global”.
Setembro de 2024. DOI https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0224.2.
Artigo recebido em 30 de junho de 2024 e aceite para publicação em 20 de julho de 2024.
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REDE LUSÓFONA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DA “COOPERAÇÃO”
À CONSTRUÇÃO DE UMA PERSPETIVA DE “COCRIAÇÃO” A PARTIR
DA ANÁLISE DE SEIS CONGRESSOS INTERNACIONAIS
(2007-2021)
ANA LARANJA
FILOMENA MARTINS
MARÍLIA TORALES CAMPOS
Introdução
Por certo que dissociar a complexidade da crise ambiental e civilizatória contemporânea
de um modelo de desenvolvimento econômico hegemônico, baseado na lógica capitalista
de produção, consumo e controle do poder político e financeiro denotaria o uso de uma
interpretação superficial ou mesmo ingênua da realidade. Tal modelo, que se impõe aos
campos científico, acadêmico, social, precisa ser repensado a partir de diferentes
perspectivas, mas principalmente, a partir do entendimento da relação que as sociedades
estabelecem com a natureza, mediada por sua cultura. Neste sentido, considerando a
existência de uma crise socioambiental planetária, interessou-nos compreender o
movimento de organização coletiva de um grupo de pessoas que atuam no campo da
Educação Ambiental em países e comunidades de Língua Portuguesa e comunidade
autónoma da Galiza (Espanha).
Este grupo de pessoas e instituições desenvolve ões articuladas, de maneira mais ou
menos constante, mas com evidências de continuidade. Dentre essas evidências, se
poderia ressaltar a realização, a cada dois anos (a partir de 2013), dos Congressos
Internacionais de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa.
Assim, mais especificamente, nos orientamos pela análise de dados colhidos em
documentos de referência obtidos no site oficial dos congressos, tais como: programas
detalhados das diferentes edições do evento, livros de resumo de comunicações orais e
outros trabalhos apresentados em painéis, oficinas ou minicursos, relatórios finais de
atividade das diferentes edições, documentos de conclusão do I Congresso (2007),
Declaração de Bubaque (2019), resultados diretos do IV Congresso (2017) e resultados
das conferências finais. Recolhemos ainda, dados de fontes secundárias resultantes da
consulta a pessoas fonte que nos facultaram documentos com o mero de inscritos das
edições IV, V e VI dos Congressos.
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Estes documentos são o resultado, a materialidade e a memória de seis congressos
internacionais de Educação Ambiental, realizados em diferentes países e continentes.
Estes eventos foram organizados pela Rede Lusófona de Educação (Redeluso) em
parceria com instituições locais e outras que atuam no âmbito internacional. A Redeluso
se caracteriza por ser um espaço de cooperação internacional que articula iniciativas de
pessoas e instituições que atuam no campo da Educação Ambiental e que, na perspectiva
de Orellana (2005), constituem uma comunidade de aprendizagem orientada pela
colaboração, pela comunicação e pelo diálogo em torno as questões que pululam o campo
da Educação Ambiental e orientam o quefazer de seus atores, visando a construção de
sentido e de uma identidade, sem desconsiderar aquilo que lhes é “communis” ou
mesmo, do “diversum”.
A cooperação entre os países lusófonos ocorre em torno a diferentes objetos de interesse
comum. Sua concretização se vale de vários instrumentos, sejam eles as plataformas ou
outros recursos virtuais de comunicação que favorecem a troca de informações de
interesse comum. A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) surge neste
contexto como um espaço político-institucional de formalização dessas ações, por meio
da promoção de reuniões ministeriais com representantes dos Estados membros para
definir iniciativas comuns e o estabelecimento de acordos bi ou multilaterais. Essa
colaboração visa fortalecer os laços históricos, culturais e linguísticos compartilhados,
respaldando os projetos nacionais de desenvolvimento estabelecidos nacionalmente, mas
que possuem potencial de integração com os objetivos e interesses dos demais países
lusófonos.
A partir dessa compreensão, tomamos como objeto desta análise os dados referentes
aos seis congressos que foram realizados no período compreendido entre os anos de
2007 a 2021, em seis países diferentes: Espanha (Comunidade Autônoma da Galiza),
Brasil, Portugal, o Tomé e Príncipe, Guiné Bissau e Cabo Verde. Por meio de uma
abordagem metodológica quantiqualitativa, com base na análise documental,
objetivamos compreender a construção da identidade que emerge dos debates e das
ações desenvolvidas em cada um dos congressos internacionais de Educação Ambiental
dos países e comunidades de Língua Portuguesa para identificar os potenciais e os limites
dos processos de cooperação como possíveis favorecedores para cocriação entre os
participantes no âmbito da lusofonia.
Para o alcance deste objetivo, estruturamos este artigo em duas parte. Na primeira,
contextualizamos o percurso histórico e o processo de composição da Rede Lusófona de
Educação Ambiental e dos seis congressos internacionais que foram realizados pela
mesma. Na segunda parte, apresentamos os resultados da análise dos dados, buscando
compreender os processos de cooperação que se efetivam a partir da realização dos
eventos, considerando as ações que foram realizadas em diferentes momentos de
estruturação e realização dos congressos, mas, sem perder de vista as características e
peculiaridades de cada um.
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A Rede Lusófona de Educação Ambiental e os congressos internacionais
de Educação Ambiental dos países e comunidades de Língua
Portuguesa
A Lusofonia poderia ser compreendida desde diferentes perspectivas, mas, no caso desta
análise, a compreendemos como condição daquele que se identifica lusófono, ou seja,
não atrelamos essa identidade a nacionalidades, mas sim, ao desejo de pertencimento e
ao diálogo que se estabelece com essa comunidade por interesses e afinidades diversas.
Neste sentido, vale lembrar que o uso da Língua Portuguesa como forma de comunicação
não é o único traço identitário a ser considerado, tendo em vista a existência de aspectos
sócio-históricos e culturais que não podem ser abstraídos do perfil de qualquer grupo
social ou comunidade. No caso da constituição da rede lusófona, a iniciativa de
articulação entre pessoas e instituições que atuam no campo da Educação Ambiental
tomou por base o envolvimento de países e regiões que compartilham a Língua
Portuguesa dentre seus idiomas, nomeadamente: Angola, Brasil, Cabo Verde, Gui-
Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Galiza (por identidade
linguística). No entanto, valeria destacar que essa delimitação não tem um sentido
limitante, pois esta comunidade se caracteriza pelo diálogo aberto com outras diferentes
comunidades que integram o campo da Educação Ambiental e compartem ideais do
campo ambientalista em diferentes territórios do planeta.
A Rede Lusófona de Educação Ambiental (Redeluso) teve início em princípios do ano de
2005. Em um encontro informal que ocorreu em Portugal (Município de Ericeira), durante
as XII Jornadas Pedagógicas da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA),
um grupo de pessoas atuantes no campo da Educação Ambiental identificaram a
necessidade de uma articulação das iniciativas que eram realizadas nos países de Língua
Portuguesa. Naquele momento, ainda que com pouco conhecimento sobre a forma como
cada um dos países desenvolvia suas ões, o grupo percebeu a necessidade de
estabelecer mecanismos de comunicação que possibilitassem maior integração e
reconhecimento mútuo.
Assim, para dar início ao processo de identificação das pessoas e das instituições
participantes, foi criado um grupo de troca de correios eletrônicos (comum naquele
momento para troca de informações em agrupações coletivas). Este primeiro esforço
permitiu a identificação de atores e instituições que atuavam nos países integrantes da
Redeluso e favoreceu o reconhecimento de traços identitários que permitiriam a
construção de um sentido de pertencimento a uma comunidade com objetivos e interesse
partilhados, orientado pela preocupação com as questões ambientais que demandam
ações educativas em seu enfrentamento.
A comunicação virtual foi o início de um processo que demandava a participação efetiva
dos membros da rede, mas que também punha em tela a diversidade sociocultural que
caracterizava aquele grupo que aos poucos, mas de forma contínua, ia se ampliando e
estabelecendo determinados contornos, mais ou menos definidos e de poucas simetrias.
Um exemplo do que logo se pôde identificar foram as condições de uso de tecnologias
em cada um dos países ou comunidades. Em regiões de escasso acesso aos
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computadores e a internet, havia dificuldade para identificar ações e promover a
participação dos membros da rede, tendo em vista que o acesso às informações era
muito limitado. Sobre essas assimetrias entre as características dos grupos em cada país,
Borges (2019) ao analisar a constituição da Redeluso aponta que, distribuidos em quatro
continentes, cada país apresenta uma realidade diversa e ambientes particulares que os
influenciam e os caraterizam em função da região na qual estão inseridos. Assim, para a
autora, a evolução da Educação Ambiental apresenta-se bastante disforme,
especialmente no espaço Sul / Oriental-africano (Moçambique), tendo em vista que no
continente o existe um marco referencial que norteie a política ambiental de forma
clara em todos os estados membros.
Também foi possível perceber a existência de condições diversas, ou mesmo adversas,
de trabalho em que atuavam as pessoas no campo da Educação Ambiental, tendo em
vista questões relacionadas ao nível de desenvolvimento socioeconomico de cada um dos
países. De acordo com os dados do relatório de Desenvolvimento Humano 21/2022, dos
países que integram a Redeluso, apenas Espanha (Comunidade Autônoma da Galiza) e
Portugal possuem um nível de desenvolvimento considerado como “muito alto”,
enquanto o Brasil possui um nível de desenvolvimento humano (IDH) “alto” e os demais
países apresentam um IDH médio ou baixo. Portanto, esta realidade precisa ser
considerada para a elaboração e para implementação de ações e de políticas públicas em
cada um dos países e nos espaços integrativos de cooperação. Sendo assim, depois desse
primeiro momento de diálogo entre os participantes da rede, foi identificada a
necessidade de ampliar as ações e estabelecer mecanismos que possibilitassem
encontros presenciais periódicos, orientados pela construção e execução de objetivos
comuns. Neste sentido, apresentamos uma cronologia dessas ações, considerando a
criação da Redeluso em 2005.
Tabela 1: Ações presenciais da Redeluso no período entre 2005 e 2021.
Ano
Local
Ações
2005
Ericeira,
Portugal
o Criação Redeluso
2006
Joinville Santa
Catarina, Brasil
o Simpósio Lusófono de Educação
Ambiental
o Necessidade de articulação
permanente entre Redeluso e
CPLP
o Lançamento do 1º Congresso
Internacional de Educação
Ambiental dos Países Lusófonos
e Galiza
2007
Santiago de
Compostela,
Galiza, Espanha
o Coordenação do Centro de
Extensión Universitaria e
Divulgación Ambiental de Galicia
(CEIDA)
o Cabo Verde reivindicou a
concretização do congresso
internacional de educação
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ambiental dos países lusófonos
para o ano de 2010
2013
Cuiabá/Mato
Grosso, Brasil
o Coordenação da Universidade
Federal Mato Grosso
2015
Murtosa,
Portugal
o Organização da Associação
Portuguesa de Educação
Ambiental (ASPEA).
2017
Ilha do Príncipe,
São Tomé e
Príncipe
o Coordenação do Governo
Regional do Príncipe em parceria
com instituições locais
2019
Ilha de Bubaque,
Bijagós, Guiné-
Bissau
o Coordenação da RedeLuso
Guiné-Bissau e do Instituto de
Biodiversidade e das Águas
Protegidas na Guiné Bissau
2021
Ilha de São
Vicente, Cabo
Verde
o Coordenação da Faculdade de
Educação e Desporto da
Universidade de Cabo Verde
Fonte: Autoria própria
De acordo com Borges (2019), a primeira experiência de debate sobre a Educação
Ambiental no espaço lusófono ocorreu durante realização do Simpósio Lusófono de
Educação Ambiental promovido pela Redeluso no ano de 2006 no Brasil. Essa foi a
oportunidade para a realização de um encontro presencial que possibilitou a partilha de
experiências mediadas pelo entrecruzamento real de olhares e por uma intensa interação
humana em momentos definidos por um planejamento prévio e por outros criados a
partir da chance de vivenciar um tempo/espaço comum. O evento ocorreu em paralelo à
realização do V Congresso Iberoamericano de Educação Ambiental que foi realizado na
cidade de Joinville, na região sul do Brasil. Nessa oportunidade foi possível fazer uma
análise das informações que circularam no grupo de troca de emails e promover uma
discussão sobre o primeiro ano de atividades da Redeluso, visando estabelecer
perspectivas de continuidade do trabalho. Ao final deste encontro, ficou definido que o
próximo evento seria realizado na Galiza (Região Autônoma de Espanha) no ano de 2007.
A transição de um simpósio de menor porte, caracterizado como um evento paralelo
dentro de um dos maiores congressos de Educação Ambiental realizados no âmbito da
comunidade iberoamericana, para um congresso no continente europeu constituiu-se em
um grande desafio. Dentre as demandas que emergiam naquele contexto, estava a
identificação de pessoas e instituições govenamentais e não-governamentais que
pudessem representar cada um dos países e apresentar um panorama do trabalho que
estava sendo desenvolvido no campo da Educação Ambiental. Segundo Vázquez (2019),
a organização de um congresso da envergadura que exigia o 1º Congresso Lusófono
organizado na Galícia, requeria amplos apoios institucionais e disponibilidade de recursos
humanos e orçamentários dos quais a Rede Lusófona o dispunha naquele momento.
Portanto, a concretização do primeiro congresso exigiu a articulação de muitas pessoas
e instituições para a composição de uma equipe de organização composta por pessoas
de diferentes nacionalidades, com experiências diversas, mas com um compromisso
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comum com o campo da Educação Ambiental. Esse esforço resultou na realização de um
evento que congregou um grande mero de participantes (379 participantes) e
consolidou a Redeluso como um espaço de integração que poderia promover ações de
cooperação entre os países.
A falta de recursos nacionais e internacionais, principalmente a indisponibilidade de
recursos financeiros e de apoio político-institucional permanente para a realização dos
congressos, foram elementos dificultadores para a continuidade das ações e para a
realização do congresso em 2010. Em 2007 havia ficado definido que Cabo Verde seria
o próximo país acolhedor, no entanto, isto não foi possível, tendo em vista que não
haviam condições materiais e logísticas para realizar um evento com as dimensões e a
complexidade antevistas pelos possíveis organizadores locais. Tal condição inviabilizou a
concretização do segundo congresso no ano previsto e criou um hiato de tempo que
seria interrompido no ano de 2013, com a realização do 2º Congresso no Brasil.
De acordo com Borges (2019), nos dois primeiros congressos (Galiza/Espanha e Brasil),
foi realizada uma revisão do tipo “Estado da Arte” da Educação Ambiental no contexto
dos países e das comunidades que compunham a Redeluso. Segundo a autora, este foi
o início do delineamento de algumas “propostas para a construção do pilar das
identidades nos mosaicos dos territórios lusófonos”, a partir da nese de diálogos entre
quatro continentes, constituindo um elo entre 9 territórios para o desenvolvimento da
Educação Ambiental, com a intenção de contribuir na construção de uma sociedade mais
justa e inclusiva socialmente e ecologicamente mais sustentável.
Na sequência, ainda segundo Borges (2019), os 3º e congressos (em Portugal e São
Tomé e Príncipe) enfocaram os princípios orientadores do Tratado de Educação Ambiental
para Sociedades Sustentáveis e de Responsabilidade Global e da Carta da Terra. Neste
sentido, foi possível perceber um esforço em ampliar o debate para além de um processo
inicial de reconhecimento dos membros da Redeluso para dar relevo ao surgimento de
eixos comuns para criar novas inciativas ou oportunidades para a concretização de uma
possível malha de cooperação, mais complexa e sistematizada no campo da Educação
Ambiental.
A experiência de realização do congresso na Guiné Bissau (2019), com forte
integração das comunidades locais denotou a existência de potencial de engajamento
comunitário a partir das ações realizadas nos congressos. Ao incluir na programação do
evento uma sequência de visitas a diferentes comunidades, a exemplo do que sido
feito na Ilha do Príncipe (2017), o congresso ampliou a sua perspetiva para além de um
evento científico ou acadêmico, superando um desafio apontado por Vázquez (2019) ao
dizer que seria preciso fuxir da tentación de converter os nosos congresos nun espazo
fundamentalmente académico e non nun instrumento de creación de intelixencia
colectiva e de apoio a intervención socioambiental (p. 32).
No ano de 2021, ao final de um período pandêmico, a Universidade de Cabo Verde foi
palco de mais um congresso internacional de Educação Ambiental dos países e
comunidades de Língua Portuguesa. Nesta ocasião, mesmo que o evento tivesse sido
realizado com algumas restrições sanitárias, foi possível dar continuidade aos processos
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de cooperação iniciados. Neste congresso, em resposta ao que foi apontado na VIII
Reunião de Ministros de Ambiente da CPLP, a Redeluso definiu que seriam elaboradas as
Linhas orientadoras para elaboração, implementação, avaliação e revisão de Estratégias
de Educação Ambiental para as políticas de Educação Ambiental em todos os países.
Esse processo envolveu a participação de muitos atores de todos os países na formação
de um Grupo de Trabalho (GTEA-CPLP), demandou a realização de diversas reuniões
virtuais e momentos de debates e revisão de textos e culminou em um documento que
foi apresentado e acolhido pela CPLP em uma reunião de ministros. Em 2023, por ocasião
da realização do VII Congresso da Redeluso em Maputo (Moçambique), o documento
1
foi
apresentado a todos os participantes presentes para amplo conhecimento.
Assim, de acordo com Prata, Guerra e Schmidt (2023), a partir do reconhecimento das
diversas ões que compunham o panorama da Educação Ambiental no contexto
lusófono, especialmente no que se refere à realização dos congressos, a CPLP reconheceu
a necessidade de apoio e cooperação multilateral, tendo em vista a existência de uma
forte dinâmica entre as políticas institucionais e a sociedade civil (representada pela
Redeluso). Neste processo, de acordo com os autores, não é possível desprezar que
persistem algumas desigualdades na sua sistematização (estratégias, medidas),
abrangência (temáticas, públicos), estabilidade (política, financeira) e governança
(participativa, transparente) entre os países e comunidades envolvidas. Portanto, essa
análise considera estes aspectos como elementos basilares para a análise das
informações que emergem dos registros e dados acessados ao longo do processo de
construção do material empírico.
Metodologia da investigação
Este estudo baseia-se em uma análise documental (Coutinho, 2023) feita a partir dos
documentos provenientes das seis primeiras edições dos congressos internacionais de
Educação Ambiental dos países e comunidades de Língua Portuguesa. Mais
especificamente, adotou-se uma metodologia quantiqualitativa (Coutinho, 2023) para a
compreensão do objeto de pesquisa. A análise de dados foi feita a partir da análise de
conteúdo (Bardin, 1977), ou seja, foram analisados aspectos quantiqualitativos
presentes nos documentos anteriormente citados neste texto. O período a que se refere
esta análise compreende os dados referentes aos congressos realizados entre os anos de
2007 a 2021, do 1º ao 6º congresso.
Numa primeira etapa de coleta dos dados foram lidos todos os documentos referidos na
introdução, sendo a origem de alguns relacionada a documentos disponíveis no site oficial
dos congressos e de outros, fornecidos pelas pessoas fonte que, de uma forma ou de
outra, atuaram na organização dos congressos. Numa segunda etapa, foram usados
critérios de exclusão, dentro os quais citamos: a coerência interna dos dados e a
organização do material. Após essas etapas se procedeu ao processo de análise e
discussão dos resultados, os quais apresentamos a partir daqui.
1
Disponível em: http://ealusofono.org/images/LO_PARA_O_APOIO_A_ELABORACAO.pdf.
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Resultados e Discussão
Esta análise busca responder ao objetivo de compreender a construção da identidade
que emerge dos debates e das ações desenvolvidas em cada um dos congressos
internacionais de Educação Ambiental dos países e comunidades de ngua Portuguesa
para identificar os potenciais e os limites dos processos de cooperação como possíveis
favorecedores para cocriação entre os participantes no âmbito da lusofonia.
Em um primeiro momento, por meio da análise dos dados quantitativos, buscou-se
identificar a quantidade de participantes inscritos em cada uma das edições dos
congressos. Ao comparar os dados de diferentes documentos, foi possível perceber
algumas discrepâncias numéricas, por isso decidimos nos centrar nos dados recebidos
pelas pessoas fonte, pois elas estiveram envolvidas nas diferentes fases da organização.
Os dados são apresentados a seguir na tabela 2.
Tabela 2: Número de inscritos nas diferentes edições dos congressos.
Edição
Ano
País Anfitrião
Nº de inscritos
Pessoas Fonte
Relatório final do
Congresso
I
2007
Espanha
374
Sem dados
II
2013
Brasil
Sem dados
Sem dados
III
2015
Portugal
713
Sem dados
IV
2017
São Tomé e Príncipe
279
274
V
2019
Guiné-Bissau
274
396
VI
2021
Cabo-Verde
341
419
Fonte: Autoria própria
A ausência de dados referentes ao número de inscritos na segunda edição dos congressos
dificultou uma análise completa em relação ao mero de inscrições recebidas em cada
evento. Nas demais edições foram encontradas discrepâncias de dados entre as fontes
de informação, o que não nos permite afirmativas específicas sobre o nível de
participação, pois poderia suscitar dúvida sobre o entendimento do indicador inscrito.
A disparidade poderia ser explicada pela não concretização de intenções de participação
manifestadas com a inscrição inicial, no entanto, essa eventual explicação só se aplica à
IV Conferência em que o mero de inscritos apresentados no relatório final do congresso
é inferior ao número registado nos dados cedidos pela pessoa fonte. Nos V e VI
congressos há um comportamento oposto, ou seja, o número de inscritos registados nos
respetivos relatórios finais é superior ao número de inscritos registados, o que pode ser
explicado pelo nº de inscritos de última hora e sem comunicações de trabalhos. Sendo
que a diferença é significativa, 122 no V e 78 no VI congressos. Outra explicação para
tal facto é o universo de instituições que estão a trabalhar em rede, para a organização
do Congresso, nem sempre conseguirem estar em diálogo, sucedendo por isso dados
distintos.
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Países da CPLP e Espanha presentes nos Congressos
Para além do número de participantes nos congressos e a identificação dos países de que
estes são originários é imprescindível realizar uma análise sobre o tipo de contribuições
que foram realizadas ao longo das seis edições do congresso. Quando falamos no número
e tipo de intervenções estamos a incluir conferências, painéis, comunicações orais,
pósteres e apresentações de recursos didáticos. Neste contexto, observamos que ao
longo dos seis congressos realizados, Portugal registrou um total de 310 intervenções,
seguido pelo Brasil com 208 intervenções. Em sequência, a Guiné-Bissau e a Espanha
apresentaram 75 e 74 intervenções, respetivamente. Cabo Verde, ao longo destes anos,
contribuiu com um total de 42 intervenções, enquanto São Tomé e Príncipe, Angola e
Moçambique registraram aproximadamente 20 intervenções cada. Timor-Leste fez 5
intervenções. Ressalta-se ainda o facto de a Guiné Equatorial, que se tornou membro da
CPLP em 2014, nunca se ter feito representar nos congressos, o que suscita reflexões
significativas sobre as futuras participações dos membros deste país. Na figura 1
apresentam-se os dados relativos ao número de intervenções por país.
Figura 1: de intervenções por país ao longo das seis edições do Congresso Internacional de
Educação Ambiental.
Fonte: Autoria própria
020 40 60 80 100 120
Angola
Brasil
Cabo Verde
Guiné-Bissau
Portugal
Moçambique
São Tomé e Príncipe
Espanha
Timor-Leste
Guiné Equatorial
nº de intervenções* por país em cada congresso
2021 | CV 2019 | GB 2017 | STP 2015 | PT 2013 | BR 2007 | ES
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Gostaríamos ainda de ressaltar que na realização do VI Congresso, realizado em 2021,
sediado em Cabo Verde, foi evidenciada a presença notável do projeto intitulado "ECO
YOUTH", uma iniciativa que reuniu colaborações entre Portugal, Espanha e Moçambique.
Além disso, foram estabelecidas parcerias estratégicas para a promoção de eventos
específicos, incluindo:
A organização de uma oficina denominada "Reciclagem do vidro", resultante da
colaboração entre duas organizações não governamentais: a EducÁfrica ONGD de
Portugal e a Cooperativa de Educação Ambiental Repensar de Moçambique.
A condução de uma mesa de diálogo intitulada "Escola Azul o mar que une", fruto
da interação entre a Direção Geral de Política do Mar de Portugal e a Universidade de
São Paulo, Brasil.
A realização de um minicurso intitulado "Visitas de campo: Baia Norte e Praia Grande",
resultado da colaboração entre a Universidade Lusófona de Lisboa e a Associação
Biosfera de Cabo Verde.
Estas parcerias representam um avanço significativo na promoção de diálogos
interculturais e na abordagem de questões ambientais, agregando conhecimentos e
práticas entre diversas entidades de diferentes países. No contexto deste congresso,
reconhecido pela partilha de comunicações através de apresentações em diferentes
formatos: comunicações em painel ou orais, oficinas, mini-cursos, painéis, mesas de
diálogo, culminando na produção de artigos científicos que abordam diversas temáticas
no âmbito da Educação Ambiental, revelou-se pertinente uma análise do público
participante.
Tipo de instituições presentes nos Congressos
Após a identificação dos países participantes no congresso internacional de educação
ambiental, torna-se imperativo caracterizar os diversos intervenientes nas seis edições
realizadas. Estes protagonistas, provenientes de diferentes países e instituições,
carregam consigo a responsabilidade de discutir, implementar e estabelecer medidas e
estratégias de ação. Ao retornarem aos seus países de origem, almeja-se que estejam
munidos de um conhecimento mais aprofundado e comprometidos em efetuar mudanças
significativas em prol do bem comum.
Ao observar a primeira edição do congresso realizada em Espanha, no ano de 2007,
identificamos que a maioria dos participantes eram representantes do governo ou de
instituições governamentais, membros de universidades e da sociedade civil, incluindo
organizações não governamentais e associações. Esta composição do blico
permaneceu notavelmente constante ao longo das edições subsequentes do congresso
até o ano de 2021, como demonstrado na figura 2.
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Figura 2: Tipo de representação institucional ao longo das diferentes edições do Congresso.
Fonte: Autoria própria
Outro elemento de notoriedade consiste no aumento da participação por parte do país
anfitrião. Em outras palavras, a presença de participantes de cada país torna-se mais
expressiva quando este assume a posição de anfitrião do congresso. Isto sugere a
presença de uma facilidade ampliada e custos de deslocamento reduzidos, contribuindo
assim para um aumento na adesão participativa.
Destaca-se a frequente participação de instituições governamentais ao longo das
distintas edições, fenómeno atribuível à importância conferida pela organização ao
realizar convites direcionados. A compreensão de que, sem o respaldo de governos e
entidades governamentais regionais e locais, as atividades da sociedade civil,
universidades e escolas encontram-se desprovidas de suporte, seja ele de natureza
financeira ou estrutural, reforça a relevância deste envolvimento. Este congresso detém
uma crescente notoriedade entre instituições governamentais, universidades e a
sociedade civil, cuja participação se estabeleceu como uma constante ao longo dos anos,
conforme evidenciado pela figura 2. Esta presença manifesta-se como um intercâmbio
de conhecimento, ideias e a criação de nculos, elementos que contribuem para a
perenidade da rede lusófona de educação ambiental até aos dias de hoje.
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Por outro lado, observa-se uma menor participação das escolas e das empresas, facto
que pode ser justificado pela escassa presença de iniciativas de Educação Ambiental em
âmbitos empresariais. Isto deve-se à natureza das atividades desempenhadas por estas
instituições, em que a implementação de ões educativas não figura como uma
prioridade. No contexto das escolas (1º, e ciclos), embora desempenhem um papel
crucial no âmbito da Educação Ambiental, não é comum a sua participação em
congressos com as características dos eventos atualmente em análise, motivada por
diversos fatores nomeadamente a ausência ou débil suporte financeiro para cobertura
dos custos de participação (inscrição, mobilidade e estadia); a indisponibilidade para
justificação de ausências durante os períodos letivos (restringindo a disponibilidade dos
professores aos intervalos letivos ou períodos de férias que nem sempre são coincidentes
no espaço da Redeluso).
A representação de algumas das instituições envolvidas neste congresso e na Redeluso
é apresentada na figura 3. Neste âmbito ressalva-se o facto de que a diversidade de
instituições representadas demonstram a existência de dissímeis condições de
desenvolvimento de trabalho e o da consistência de trabalho, realizada pelos diferentes
membros de cada país. Ou seja, uma perceptível assimetria de instituições que m
apoiado de forma sistemática os congressos, com presença maior de instituições
portuguesas, galegas e brasileiras. A figura 3 oferece uma perspetiva gráfica de algumas
das entidades e instituições que têm sido participantes ativas e contribuintes para o
desenvolvimento e continuidade dos congressos.
Figura 3: Instituições participantes nas diferentes edições dos congressos.
Fonte: Sistematização das autoras
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Nos períodos entre congressos, a Redeluso sentiu a necessidade premente de promover,
facilitar e democratizar a comunicação entre seus membros, tendo em vista que a lista
de e-mails criada em 2005 já não cumpria mais com seus objetivos de estabelecer uma
comunicação rápida e ágil. Sendo assim, foram criados grupos em diferentes aplicações,
como: o “WhatsApp” denominado "Redeluso" (conforme representado na figura 4) com
236 participantes; o Facebook “redeluso” com 2.9 mil gostos e 3.1 mil seguidores; o
Youtube “EALusófono”, que conta com 123 subscritores; e, o Instagram “Congressoea”,
que tem 213 seguidores.
Figura 4: Grupo Redeluso nas diferentes aplicações WhatsApp, Facebook, Instagram e Youtube.
Fonte: Sistematização das autoras
Estes grupos concentram-se na discussão de assuntos pertinentes à organização dos
congressos internacionais de Educação Ambiental, bem como na divulgação e articulação
de iniciativas de âmbito científico, social, educativo e político relacionadas à Educação
Ambiental. Adicionalmente, foram estabelecidos grupos de trabalho dedicados a diversas
temáticas específicas, nos quais os membros têm a oportunidade de se inscrever e
contribuir ativamente para estes debates e projetos. Estas iniciativas visam promover
uma troca contínua de ideias e ações colaborativas entre os integrantes da Redeluso,
fortalecendo assim a colaboração e o desenvolvimento contínuo no campo da Educação
Ambiental.
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Implicações para a Rede Lusófona de Educação Ambiental: da
“cooperação” a construção de uma perspetiva de “cocriação”
Explorando as implicações derivadas dos resultados alcançados para o futuro da
Educação Ambiental nos países e comunidades de Língua Portuguesa, é imperativo
identificar possíveis diretrizes que orientem políticas, práticas e investigações futuras. Os
seguintes apontamentos são delineados com vista a favorecer a cooperação visando a
cocriação de novas iniciativas:
(1) Padronizar os dados dos congressos da Rede Lusófona: Com o intuito de
aprimorar a consistência e a fiabilidade das informações sobre os congressos,
identifica-se a necessidade de padronização dos dados e registros produzidos para
avançar-se em relação ao controle, a qualidade e ao acesso às informações sobre os
resultados para superar possíveis lacunas identificadas em cada edição dos
congressos. Esta ponderação aponta para a necessidade de estabelecimento de
diretrizes claras para uniformizar as fichas de inscrição, os formatos de relatórios e
outros documentos. Em relação aos tipos de metodologias de investigação e atuação
utilizadas, que tradicionalmente se baseiam na divulgação escrita do conhecimento,
seria preciso considerar também a divulgação oral para a produção e difusão dos
resultados. Nesse sentido, é essencial encorajar a adoção de recursos audiovisuais
para preservar e compartilhar saberes e informações, salvaguardando o conhecimento
tradicional e o conhecimento produzido na contemporaneidade. Este esforço visa
contribuir para a evolução e a inclusão de dados dos congressos, para que as
informações sejam democratizadas e otimizadas para ampliar a comunicação a todas
as comunidades envolvidas. Desta forma, seria favorável a criação de um conjunto de
diretrizes para orientar a uniformização dos dados nos congressos, garantindo maior
precisão e acessibilidade nas informações compartilhadas pela Rede Lusófona de
Educação Ambiental.
(2) Utilização efetiva de Plataformas Digitais: O nascimento da Rede Lusófona se
com base nas ferramentas digitais de comunicação, tendo em vista que a rede
começou suas ações a partir da constituição de um grupo de troca de emails no
sistema Yahoo. Ou seja, vale o reconhecimento de que a rede teve sua proposta
impulsionada pela existência de tecnologias de comunicação que possibilitaram um
diálogo entre os diferentes atores para articular ações em comum. Esse processo
significou uma oportunidade de democratização e difusão de conhecimentos
construídos em cada país e comunidade, em coletividade, em parcerias ou em
cooperação, mais ou menos ampliadas. Neste sentido, os dados dos congressos
demonstram que potenciar o uso de plataformas digitais ou outros tipos de
ferramentas digitais é um elemento favorecedor para a gênese de novas ações e para
a divulgação das experiências que estão ocorrendo no contexto da Rede Lusófona.
(3) Incentivar projetos e ações de cooperação: Nos espaços de apresentação de
experiências proporcionados ao longo dos seis congressos analisados foi possível
identificar uma riqueza de projetos e ões de cooperação que precisam ser
reconhecidos, fortalecidos e incentivados. Estimular e apoiar projetos de investigação
e ões que adotem uma perspetiva colaborativa entre os países, visando a construção
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de um futuro mais sustentável e harmonioso para a comunidade global é coerente
com os objetivos da Rede Lusófona estabelecidos desde sua origem. Para isso, seria
necessário buscar formas de cooperação mais efetivas, com maior apoio político e
recursos provenientes de fundos nacionais e internacionais.
(4) Ampliar o alcance das redes e das parcerias: É importante reconhecer que desde
2005 a Rede Lusófona promoveu um processo de ampliação do diálogo e possibilidade
de cooperação entre diversos atores que atuam em diferentes territórios, no entanto,
seria preciso intensificar e ampliar a participação mais efetiva de todos nas redes, nas
organizações não governamentais, nas universidades e em outros espaços potenciais
que possam enriquecer o cenário com novas causas, projetos, iniciativas que sejam
relevantes e inovadoras para fomentar processos de cocriação.
(5) Integrar diferentes abordagens teóricas e componentes nas estratégias
educativas: As estratégias educativas apresentadas ao longo dos seis congressos
analisados denotam a necessidade de que sejam incluídas nos currículos escolares e
extraescolares a valorização e integração de diferentes abordagens teóricas para
edificação de estratégias educativas que levem em consideração temas como a
proteção do patrimônio natural e cultural, as tradições locais e os modos de vida das
comunidades, a partir de uma perspetiva crítica e inovadora, baseada em processos
de cooperação e integração de diferentes visões de mundo.
(6) Fomentar sinergias entre os diferentes países e comunidades: Apesar da
notável contribuição de Portugal, Brasil e Espanha, é essencial intensificar a
participação ativa dos países africanos e de Timor Leste na cocriação de parcerias,
sejam eles projetos de investigação, ou outro tipo de ações: seminários, mini-cursos,
oficinas, entre outros. As nações africanas dentro da Rede Lusófona têm demonstrado
um progresso notável, porém, é crucial que desempenhem um papel mais
proeminente na formação e execução dessas colaborações. Para isso, a cooperação é
um elemento fundamental para que se criem melhores condições de trabalho e
atuação dos diversos atores que atuam nesses países, muitas vezes em condições
bastante adversas.
Estas ponderações, que emergem da análise dos dados podem constituir uma estrutura
inicial para direcionar esforços e iniciativas futuras, visando o fortalecimento e
aprimoramento contínuo da Educação Ambiental nos países e comunidades de Língua
Portuguesa, promovendo uma abordagem mais inclusiva, colaborativa e holística de
forma a ampliar processos de cooperação e avançar em direção à cocriação de sociedades
mais sustentáveis. Ao longo do processo de análise dos dados foi possível perceber que
há uma lacuna substancial em termos de parcerias, de projetos comuns de investigação
e apoio técnico que envolvam a participação de ltiplos países para promover
colaborações mais robustas e abrangentes. Neste sentido, o melhor registo e tratamento
dos dados poderia apoiar iniciativas de cooperação multilaterais.
Por outro lado, a proposta de padronizar dados na Redeluso, incluindo a criação de um
banco de dados acessível, seria fundamental para preservar informações valiosas e para
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facilitar estudos futuros. Esta padronização poderia incluir o detalhamento de dados como
a afiliação dos partipantes a instituições e países, o tipo de comunicações e cooperações
que ocorrem entre os congressos, o tipo de participação dos inscritos nos congressos,
dentre outros registos que garantiriam um repositório organizado e acessível para fins
de pesquisa e referência futura.
Considerações finais
Após analisar os dados produzidos, ponderamos alguns aspetos que parecem relevantes
em relação à materialidade e à memória dos congressos de Educação Ambiental dos
países e comunidades de Língua Portuguesa. Vale destacar que estas conclusões se
referem aos dados e registos dos congressos, mas que reconhecemos que estes são
apenas uma parte das ações desencadeadas no contexto de uma rede de atores e
instituições de diferentes países que busca atuar de forma coletiva em torno a objetivos
comuns.
A rede foi num crescente de participação, ampliando a número de atores e diversificando
suas formas de partipação. Foi ganhando força para promover um maior nível de
institucionalização, de reconhecimento em relação ao seu papel político, sublinhando sua
função agregadora desde uma perspetiva de desenvolvimento de mais e melhores
processos de cooperação multilateral. Essa dinâmica apresenta características que
denotam a existência não apenas de processos que integram ões que ocorrem em
diferentes territórios, pois também aponta para a constituição de uma possível criação
de respostas às questões ambientais a partir de processos de cocriação. Ao abordarmos
este conceito, apontamos para a possível emergência de uma nova fase do processo de
diálogo entre países e comunidades de Língua Portuguesa, ou seja, compreendemos que
mais do que cooperar, seria preciso alavancar estratégias de criação conjunta, que não
desconsiderem as significativas diferenças culturais e socio-políticas que marcam essa
comunidade, mas que permitam, apesar da diversidade, criar novas alternativas para o
enfrentamento de uma crise socioambiental planetária que transforma o processo
civilizatório global.
Por outro lado, na medida em que os congressos ocorrem e aprimoram seus mecanismos
de organização, se reforça a possibilidade de emergência de um processo mais
intencional e sistematizado de cooperação. Neste sentido, se considera que a cooperação
é um estágio do processo de cocriação, pois é o momento que possibilita a construção
de confiança e reconhecimento dos limites e potenciais entre as partes, o alinhamento
de linguagens dentro de um mesmo idioma e reconhecimento de potencial para
aprendizagens comuns a partir de mecanismos horizontais e democráticos. Tal
compreensão refere ao reconhecimento de que a cooperação e a cocriação tratam de um
conhecimento tuo que está relacionado com a confiança pessoal e afinidade entre
pessoas.
A cocriação exige autonomia das partes para que não exista necessidade de que os
processos sejam induzidos ou limitados a níveis hierárquicos de controle. Neste sentido,
o diálogo de saberes dependerá da relação de confiança e autonomia que se estabelece
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entre os interlocutores. Portanto, cooperação e cocriação são processos imbricados que
pululam o universo de diferentes grupos, mas que no contexto da Redeluso, considerando
as características de sua trajetória, poderiam ser considerados com uma nova
perspectiva em relação ao seu devir, como um fluxo permanente em movimento
ininterrupto, com capacidade de criar e transformar realidades.
A sociedade humana é parte integrante do ecosistema natural e como tal, precisa
reconhecer-se como parte do sistema de vida global. Ao reconhecer-se como mais um
elemento da natureza precisa reconhecer sua condição de interdependêcia com os
elementos não-humanos que compoem o ecossistema planetário. Portanto, ao finalizar
estas reflexões, vale destacar que existe uma demanda significativa para intensificar a
cooperação entre os países membros da Rede Lusófona como forma de criar, de maneira
coletiva (cocriar), mecanismos de resistência às injustiças socioambientais.
Em suma, as conclusões apontam para a importância de uma abordagem colaborativa
mais ampla, padronização de dados para preservação do conhecimento e a necessidade
contínua de desenvolvimento e evolução da Educação Ambiental na CPLP, visando um
futuro mais sustentável e inclusivo.
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PANORAMA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
NOS PAÍSES AFRICANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA (PALOP)
NO PERÍODO PÓS-INDEPENDÊNCIA
RONUALDO MARQUES
ronualdo.marques@gmail.com
Doutor em Educação. Mestre em Ensino de Ciências. Graduação em Pedagogia e Ciências
Biológicas. Membro do Grupo de Pesquisa sobre Educação Ambiental e Cultura da
Sustentabilidade e do Centro de Educação Ambiental e Preservação do Patrimônio
(CEAPP-IPHAN-UFPR). Professor da Educação Básica do Município de Pinhais (Brasil).
https://orcid.org/0000-0001-6681-9914.
MARILIA ANDRADE TORALES CAMPOS
mariliat.ufpr@gmail.com
Doutora em Ciências da Educação. Professora Associada da Universidade Federal do Paraná
(Curitiba/Brasil). Mestre em Educação Ambiental, Pedagoga. Diretora do Centro de Educação
Ambiental e Preservação do Patrimônio (CEAPP). Lider do Grupo de Pesquisa em Educação
Ambiental e Cultura da Sustentabilidade. Coordenadora Adjunta da Rede Lusófona de Educação
Ambiental. Bolsista Produtividade em Pesquisa (CNPq/Brasil). https://orcid.org/0000-0002-4026-
6239.
Resumo
Esta pesquisa inscreve-se no âmbito e na intersecção entre os campos da Educação Ambiental
e das políticas blicas educacionais, a partir de um diálogo entre seus princípios e
fundamentos. O foco recai sobre o contexto dos PALOPs (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique e São Tomé e Príncipe). Este estudo objetiva apresentar um panorama da
construção do campo da Educação Ambiental como política pública, ou como um debate que
exige a formação de cidadãos mais críticos e atuantes sobre as questões ambientais.
Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa baseada em uma análise
documental de natureza interpretativa. A revisão analítica se deu mediante a consulta aos
documentos normativos, legislações, planos de ação e outros materiais relevantes à
construção das políticas públicas de Educação Ambiental. Com base nos resultados obtidos,
percebe-se que a Educação Ambiental está presente nas políticas dos PALOPs, porém de forma
desigual e, em alguns países, ainda em estágio inicial. Observa-se sua inclusão em leis que
tratam do direito ao meio ambiente, mas com pouca ênfase em ações que favoreçam políticas
públicas específicas e estratégias para sua efetiva implementação. A implementação de
políticas públicas robustas de Educação Ambiental é fundamental para fortalecer as
estratégias educativas nos PALOPs e reafirmar sua importância para o desenvolvimento social
e a construção de sociedades mais sustentáveis. As respostas à crise ambiental planetária
exigem ações equitativas de todas as sociedades. A análise evidencia a necessidade de
aprimorar e implementar políticas ambientais que promovam inovações nos sistemas
educativos, visando à formação cidadã para a construção de sociedades mais sustentáveis
nos PALOPs.
Palavras-Chave
PALOPs, Educação Ambiental, políticas públicas.
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N1, DT1
Título Dossiê temático - Rede Lufona de Educação Ambiental:
perspectivas de cooperação para construir respostas sociais
a uma crise socioambiental global
Setembro 2024, pp. 45-64
Panorama das Políticas Públicas de Educação Ambiental nos Países Africanos de Língua
Portuguesa (PALOP) no Período Pós-Independência
Ronualdo Marques, Marília Andrade Torales Campos
46
Abstract
This research falls within the scope and intersection between the fields of Environmental
Education and educational public policies, based on a dialog between their principles and
foundations. The focus is on the PALOP context (Angola, Cape Verde, Guinea-Bissau,
Mozambique and São Tomé and Príncipe). This study aims to present an overview of the
construction of the field of Environmental Education as a public policy, or as a debate that
demands the formation of more critical and active citizens on environmental issues.
Methodologically, this is a qualitative study based on an interpretive documentary analysis.
The analytical review was carried out by consulting normative documents, legislation, action
plans and other materials relevant to the construction of public environmental education
policies. Based on the results obtained, it can be seen that Environmental Education is present
in the policies of the PALOPs, albeit unevenly and, in some countries, still at an early stage.
It is included in laws that deal with the right to the environment, but with little emphasis on
actions that favor specific public policies and strategies for their effective implementation. The
implementation of robust public policies on Environmental Education is fundamental to
strengthening educational strategies in the PALOPs and reaffirming their importance for social
development and the construction of more sustainable societies. Responses to the planetary
environmental crisis require equitable action by all societies. The analysis highlights the need
to improve and implement environmental policies that promote innovations in education
systems, with a view to training citizens to build more sustainable societies in the PALOPs.
Keywords
PALOPs, Environmental Education, public policies.
Como citar este editorial
Marques, Ronualdo & Campos, Marília Andrade Torales (2024). Panorama das Políticas Públicas de
Educação Ambiental nos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP) no Período Pós-
Independência. Janus.net, e-journal of international relations. VOL15 N1, TD1 Dossiêr temático
Rede Lusófona de Educação Ambiental: perspectivas de cooperação para construir respostas
sociais a uma crise socioambiental global”. Setembro de 2024. DOI
https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0224.3.
Artigo recebido em 30 de junho de 2024 e aceite para publicação em 20 de julho de 2024.
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PANORAMA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL NOS PAÍSES AFRICANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA
(PALOP) NO PERÍODO PÓS-INDEPENDÊNCIA
RONUALDO MARQUES
MARÍLIA ANDRADE TORALES CAMPOS
Introdução
A África lusófona é constituída pelos países africanos de língua oficial portuguesa
(acrónimo PALOPs), nomeadamente, constitui-se por Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique e São Tomé e Príncipe. Mais recentemente, a partir de 2014, a Guiné
Equatorial também foi reconhecida como integrante deste grupo, mas, neste estudo, este
país não será considerado devido a sua integração recente e aos poucos dados sobre o
campo da Educação Ambiental a que tivemos acesso neste contexto. Os PALOPs formam
uma organização regional, baseada em suas identidades culturais, históricas e
económicas, fortemente marcada por um longo período colonial português e por
interesses comuns, relacionados ao seu desenvolvimento, principalmente no período que
decorre após a independência (década dos anos 1970). Embora encontrem-se
espalhados pelo continente africano, como marca de seu passado colonial, estes países
tem a língua portuguesa como idioma oficial, o que denota a existência de uma
possibilidade de comunicação favorecedora do diálogo e de processos de cooperação
multilaterais. Os PALOPs constituíram-se como uma organização geopolítica regional
desde 1979, logo após a independência da África portuguesa, com o objetivo de formar
um espaço de cooperação político-diplomática e de solidariedade entre os Estados
membros.
A partir destas ações, mais ou menos contínuas e sistematizadas, de cooperação política
e diplomática, os PALOPs iniciaram, com diferentes condições e contextos sociais
internos, um processo de reconstrução dos países a partir daquilo que havia restado da
cultura colonial e das tradições locais, numa amalgama repleta de disputas pelo poder e
fortes desigualdades sociais. Neste período, dentre os desafios que se colocavam a
população e aos governos, estava a reconstrução dos sistemas de ensino, que durante o
período colonial, foram de pouco acesso a população local, tendo em vista que a formação
era prioritariamente oferecida aos cidadãos portugueses. Em que pesem as muitas
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dificuldades existentes para que as ex-colônias pudessem se reestruturar política e
economicamente, a educação foi considerada como uma estratégia para a qualificação
da população, que até então, havia sido excluída do processo de escolarização.
Considerando este contexto histórico, direcionamos o olhar para o campo das políticas
públicas para compreender como a Educação Ambiental se configura neste contexto e de
que maneira vai se ampliando como estratégica para o desenvolvimento dos PALOPs.
Neste sentido, valeria sublinhar que partimos da compreensão de que a Educação
Ambiental é uma dimensão integrante da Educação, que exerce um papel fundamental
na para repensar a relação entre as sociedades e a natureza, atribuindo novos contornos
para a formação humana e a construção de novos padrões civilizatórios (Dias & Pinto,
2019).
Assim, ao abordar a Educação Ambiental como uma dimensão da educação, aponta-se
para a possibilidade de contribuir na construção de um processo axiológico em que novos
valores sejam capazes de pautar as relações entre os seres humanos e os não-humanos,
em relação ao seu ambiente de vida. Ao criar mecanismos de formação da cidadania e
de fortalecimento de ações coletivas, talvez fosse possível avançar na busca por
alternativas que sejam mitigadoras dos efeitos da crise ambiental local e global que
decorre, em boa parte, de dos impactos ambientais causados por um modelo
desenvolvimento econômico capitalista. Tal modelo, sobretudo e muitas vezes de forma
injusta, afeta as populações humanas mais vulneráveis, o que demanda o reforço da sua
capacidade de resiliência e de resistência para (re)agir coletivamente. Nesse contexto,
considera-se que “a educação é tanto um objetivo em si mesmo como um meio para
atingir outros indicadores que afetam diretamente o desenvolvimento social, intelectual,
cultural e econômico de um país” (Unesco, 2017: 1), pois suas ações estão para além
dos resultados dos sistemas educativos, que elas promovem um processo amplo de
formação humana, tão fundamental ao avanço e ao aprimoramento civilizatório.
Para compreender a evolução da Educação Ambiental nas políticas públicas dos PALOPs
se procedeu um trabalho de análise documental com base na consulta as leis, diretrizes,
planos de ação, decretos, dentre outros documentos que serviram de base para as
reflexões desenvolvidas nesta pesquisa. Os dados foram analisados com suporte em
Borges (2007), Deus e Madre (2021) e Schmidt, Guerra, Ramos-Pinto (2017). Para a
sistematização dos resultados da pesquisa, elaborou-se um panorama das políticas
públicas concernente a Educação Ambiental no período pós-independência dos PALOPs,
que ocorreu a partir dos anos de 1974 e 1975
1
. Esse esforço permitiu melhor
compreensão sobre os rumos que foram sendo tomados nos processos de construção e
de implementação de políticas públicas no campo do meio ambiente e da Educação
Ambiental no âmbito dos PALOPs.
1
A Guiné-Bissau teve sua independência declarada unilateralmente em 23 de setembro de 1973, porém
reconhecida em 10 de setembro de 1974, sob a denominação de República da Guiné-Bissau. Moçambique
conquistou a independência em 25 de junho de 1975, sob a denominação de República Popular de
Moçambique. Cabo Verde tornou-se independente em 5 de julho de 1975, como República de Cabo Verde.
São Tomé e Príncipe em 12 de julho de 1975, com a denominação de República Democrática de São Tomé
e Príncipe. Angola, em 11 de novembro de 1975, tornou-se independente sob a República Popular de Angola.
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Nesse sentido, compreendemos que as políticas públicas “são ações do Estado que visam
concretizar os direitos e garantias fundamentais e aqueles que estão previstos na ordem
social, visto que o meios para efetivação de direitos” (Raymundo, 2021: 57). Sendo
assim, as políticas públicas correspondem a um conjunto de estruturas coordenadas pelo
Estado (nas diversas escalas de atuação) para o enfrentamento de problemas públicos
(Souza, 2006). Esse conjunto de estruturas, pode ser interpretado a partir de seus
instrumentos, tais como são os documentos legais e normativos que balizam a atuação
das políticas públicas. Portanto, sobre eles nos debruçaremos para compor um panorama
do campo da Educação Ambiental desde a realidade social e histórica dos países africanos
de Língua Portuguesa.
Metodologia
O objetivo deste estudo é apresentar um panorama da construção do campo da Educação
Ambiental como política pública, ou como um debate que exige espaço nas agendas das
políticas públicas dos PALOPs para a formação de cidadãos mais críticos e atuantes sobre
as questões ambientais. Para isto, utilizou-se uma metodologia de corte qualitativo, com
o uso da análise documental de natureza interpretativa com base no levantamento
documental (Calado; Ferrera, 2015).
A análise documental se deu mediante a consulta as leis, diretrizes, planos de ação,
decretos entre outros documentos que apontassem a construção das políticas públicas
que colocam a Educação Ambiental no cerne do debate e que contribuem para o
desenvolvimento dos países nas questões culturais, econômicas, ambientais,
educacionais entre outras. Pela quantidade e diversidade de materiais encontrados,
recorremos a Ludke e André (2015), para reconhecer que o procedimento do pesquisador
na abordagem qualitativa é estar atento à multiplicidade de dimensões de uma
determinada situação ou problema para encontrar princípios subjacentes ao fenômeno
estudado e situar as suas descobertas num contexto mais amplo, dentro do qual o
fenômeno possa ser interpretado e compreendido.
A Educação Ambiental nas políticas públicas nacionais dos PALOPs
Nesta seção, apresentar-se o panorama da trajetória de construção das políticas
públicas de Educação Ambiental em cada país integrante dos PALOPs, buscando
descrever as políticas públicas que orientam o campo da Educação Ambiental e
fortalecem as ações dos educadores ambientais e demais atores que contribuem, de uma
maneira ou de outra, para a concretude dos objetivos do ideário ambientalista.
Num primeiro momento, realizou-se um levantamento das estratégias, políticas e
medidas em vigor nos países africanos de língua oficial portuguesa PALOPs. Esses dados
estão organizados nas seções a seguir.
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Angola
Angola não faz qualquer menção ao Ambiente em sua primeira Constituição da República
Popular da Angola (Diário da República, 1975) após a sua independência. O direito ao
ambiente e os mecanismos de proteção com responsabilidade do estado aparece após a
revisão da 2ª versão da Constituição da República de Angola (República da Angola, 1992)
e reafirmado na versão da Constituição da República da Angola CRA (República da
Angola, 2010) os aspectos ligados ao Direito do Ambiente tiveram um tratamento
constitucional, com a assunção por parte do Estado de que a proteção do ambiente e dos
recursos naturais constitui sua “tarefa fundamental”, por força da inscrição desta missão
no Art.º 21 da CRA na alínea m) Promover o desenvolvimento harmonioso e sustentado
em todo o território nacional, protegendo o ambiente, os recursos naturais e o patrimônio
histórico, cultural e artístico nacional (República da Angola, 2010).
Em 1998, com a aprovação da Lei de Bases do Ambiente (LBA), via Lei nº 5/1998 o
ambiente é reiterado no Art.º 20, em que “o ambiente constitui um direito de todos, um
bem de uso comum dos cidadãos, essencial para uma sadia qualidade de vida, razão pela
qual o poder público e a coletividade têm o dever de o defender o preservar
ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações” (Angola, 1998). Nesta
lei, a Educação Ambiental surge ao ser consagrada como um dos instrumentos de
proteção do ambiente.
A partir da LBA, a Educação Ambiental entrou na agenda das políticas públicas de Angola.
Nesse contexto o governo angolano buscou parceria com o Brasil por reconhecer a
experiência brasileira na estruturação e implementação de seu Sistema Nacional de
Educação Ambiental e de seu Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA).
Assim, Angola e Brasil assumiram um acordo de cooperação econômica, científica e
técnica entre o Ministério do Meio Ambiente do Brasil (MMA) com o Governo da República
Popular de Angola em 2006, através do Projeto de Fortalecimento da Educação Ambiental
em Angola, que tinha como proposição enfatizar ações de educação e revisão dos
currículos dos diferentes subsistemas de ensino. Tomaram em seu escopo o compromisso
de formar professores e de conscientizar a população sobre os diferentes aspectos que
compõem a problemática ambiental em escalas global e local.
Nesse cenário de preocupação com ações no campo da educação, que tinham como
estratégia a revisão dos currículos dos diferentes subsistemas de ensino, foi criado o
Ministério do Meio Ambiente (MINAMB) em 2009. A instituição deste novo espaço
institucional e ampliou as possibilidades relacionadas ao setor ambiental, tendo em vista
a existência de uma estrutura específica de apoio institucional, fundamental para
promover as estratégias ambientais do país.
Com a criação do Ministério do Meio Ambiente e dos programas de apoio as questões
relacionados ao ambiente, Angola aprovou em 2009, o Estatuto Orgânico do Ministério
do Ambiente pelo Decreto-Lei n4/09 de 18 de maio de 2009, que reafirmava o caráter
da Educação Ambiental no art.º 1 como natureza do Ministério do Ambiente, e na
sequência, no art.º 2 indicava as atribuições na alínea a) infere que nos domínios das
atividades em geral do Ministério do Ambiente cabe a este “a) coordenar, elaborar e
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fiscalizar a execução de estratégias e políticas de educação ambiental” (Angola, 2009:
2).
Nessa tessitura, é possível perceber que a Educação Ambiental em Angola se encontra
presente, mesmo que de forma pontual, em leis e dispositivos legais ligados ao Direito
ao Ambiente e inserida na 1ª, 2ª e na 3ª versão do Plano Nacional de Desenvolvimento
(PND) com vigência entre 2018 e 2022 (República da Angola, 2018). Neste documento
a Educação Ambiental aparece dentre as ações previstas na Política de Sustentabilidade
Ambiental, Prevenção de Riscos e Proteção Ambiental e Saneamento Básico.
Em 2022, Angola aprovou a Estratégia Nacional de Educação Ambiental (2022 2050)
sob o Decreto Presidencial 149/22 de 09 de junho de 2022 (Diário da República,
2022). Essa estratégia tem como objetivo promover o desenvolvimento de planos e ões
focados na criação de uma cidadania ambiental, caracterizada pela conscientização dos
cidadãos sobre a relevância do seu papel na proteção do ambiente e do desenvolvimento
sustentável, bem como pela mudança dos hábitos que se formam direta ou indiretamente
produzem efeitos nocivos para o ambiente.
Cabo Verde
Cabo Verde, assim que se tornou independente, aderiu ao Comitê interestados para a
Luta Contra a Seca no Sahel
2
(CILSS), que tinha por objetivo criar políticas e ações que
pudessem combater os efeitos e flagelos da seca e do deserto do Saara no oeste africano.
Em agosto de 1986, foi realizada a Conferência de Dakar com a participação de todos os
chefes de Estado dos países membros do CILSS, nesta oportunidade “os países membros
do CILSS lançam um Programa de Educação Ambiental, o Programa de Formação e
Informação para o Ambiente PFIE, que tinha como pretensão envolver os sistemas
educativos na luta contra a desertificação” (República de Cabo Verde, 2004a:161).
Neste mesmo período, foi realizada a Reforma do Sistema Educativo de Cabo Verde
(1990). Esta reforma foi balizada com a aprovação da Lei de
Bases do Sistema Educativo, em 29 de dezembro de 1990 pela Lei nº 103/III/90 (Cabo
Verde, 1990). Segundo Borges (2007), o Programa de Formação e Informação para o
Ambiente (PFIE), esteve presente nos sistemas de ensino saheliano e marca a introdução
plena da Educação Ambiental, de forma transversal e interdisciplinar, em Cabo Verde.
Em 1992, foi aprovada a nova Constituição da República, em que se estabelece no artigo
7º, alínea k, a tarefa do Estado de “proteger a natureza, os recursos naturais e o meio
ambiente...”, e no art.º 72 (artigo 73.º na revisão de 2010) o direito ao ambiente, que
“consagra a todos o direito a um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado e o dever
de o defender e o valorizar” (alínea 1). A Educação Ambiental é contemplada no art.º 73,
que regulamenta e garante o direito ao ambiente incumbindo aos poderes públicos o
2
O CILSS, foi criado em 1974, constituído por 9 países do Oeste africano (Burkina Faso, Cabo Verde, Gâmbia,
Guiné Bissau, Mali, Mauritânia, Níger, Senegal e Tchad) todos localizados na orla do deserto do Saara.
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direito de: “promover a Educação Ambiental, o respeito pelos valores do ambiente, a luta
contra a desertificação e os efeitos da seca” (República de Cabo Verde, 1990).
Nesse contexto, a Educação Ambiental se tornou um imperativo constitucional e
encontra-se consignada na Lei de Bases do Ambiente, Lei n.º 86/IV/93 de 26 de julho,
que definiu as Bases da Política do Ambiente, e foi então introduzido nos programas do
então governo, uma vertente ambiental de abordagem transversal na política ambiental,
numa aposta em que todos os cidadãos(ãs) tornassem responsáveis pelo seu ambiente
comunitário.
Em 1994 foi criado um instrumento nacional para a gestão do ambiente como gestão
estratégica (Plano de Ação Nacional para o Ambiente - PANA I), que espelhou a política
de meio ambiente e desenvolvimento sustentável de forma integrada, com a pretensão
de abranger a todos os níveis de formação e da sociedade civil num horizonte de dez
anos (1994-2004), com a disposição de despertar a consciência para as questões
ambientais dos cidadãos(ãs) de Cabo Verde, trazendo-os para o debate público sobre as
preocupações e as questões relativas ao meio ambiente.
Em 2003, foi elaborado o Plano de Ação Nacional para o Ambiente - PANA II, com suporte
institucional pela Direção Geral do Ambiente, estabelecendo projetos e identificando os
principais problemas ambientais, e lançando vários subplanos de ações, para serem
implementados durante o período que cobre um horizonte temporal de 2004 a 2014
(República de Cabo Verde, 2004b).
Dentre os vários subplanos que integram o PANA II, encontra-se o Plano Ambiental
Intersetorial Ambiente e Educação, Formação e Informação e Sensibilização (PAIS -
Educação), cujo propósito foi o de “integrar a educação ambiental em todos os níveis de
ensino e de formação, tanto no formal como no setor informal e no não-formal” (Borges,
2007: 18), visando constituir “uma população formada, informada e comprometida com
o desenvolvimento sustentável”, a fim de alcançar os compromissos orientadores da
Educação Ambiental adotados nas conferencias internacionais.
A partir de 2013, o Ministério do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território de
Cabo Verde concebeu o Plano Nacional de Educação Ambiental - PNEA (2013-2022), cujo
objetivo geral é: “dotar o país de um instrumento orientador da implementação das
políticas nacionais traçadas no domínio da Educação Ambiental como forma de promover
maior cidadania ecológica, assegurar a gestão e a utilização sustentável dos recursos
ambientais e de contribuir para uma melhor qualidade ambiental e para o
desenvolvimento sustentável e estratégico do país” (República de Cabo Verde, 2013:
303).
Segundo Martins (2016) o Plano Nacional de Educação Ambiental (PNEA) na sua gênese
tinha como grupos alvos de Educação Ambiental as instituições que comunicam e
trabalham diretamente com o público, a população e as comunidades, visto que estes
grupos têm “a função de educar, de formar ou simplesmente informar, ou ainda inerente
ao seu papel econômico e social, intervêm no meio ambiente, como valor de uso e/ou de
utilidade pública ou privada” (Martins, 2016: 67).
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Guiné Bissau
Na Guiné Bissau, após sua independência, as questões ambientais foram sendo
construídas por meio de diversos dispositivos legais relacionados as leis do direito ao
ambiente adentrando a década de 80. Estes primeiros instrumentos e dispositivos em
formas de leis não compreendiam o ambiente como direito de todos e o trazia
orientações específicas sobre a proteção do meio ambiente.
A pouca atenção dada pelo governo nos momentos inicias da reestruturação pós-
independência, os conflitos e as instabilidades políticas na Guiné-Bissau foram fatores-
chave para o desenvolvimento tardio das políticas ambientais e dos seus instrumentos
no país, visto que a época colonial foi marcada pela exploração dos recursos naturais,
resultando na degradação de ecossistemas e desaparecimento de florestas primárias. O
processo da luta de libertação teve um impacto profundo nas florestas guineenses, pois
degradou muitas zonas com as bombas utilizadas e as movimentações, e também fez
com que muitos animais fugissem para territórios de países vizinhos. E mesmo depois
da independência, “a área ambiental foi jogada em segundo plano, o que acabou
influenciando na atual situação das políticas ambientais e de seus instrumentos. Esses
instrumentos são extremamente necessários para a proteção ambiental no território
guineense” (Bathillon, 2018: 34).
Em 1984, a Guiné Bissau aprovou a nova Constituição da República da Guiné Bissau
(revisada em 1996). Este documento traz entre os seus princípios fundamentais,
natureza e fundamentos do Estado em que refere o meio ambiente como dever do
Estado. Esta afirmativa é ratificada no Art.º 15, ao dizer-se que cabe ao Estado
“promover o bem-estar físico e mental das populações e a sua equilibrada inserção no
meio socioecológico em que vivem” (República de Guiné Bissau, 1984).
Na Guiné-Bissau, a década dos anos 1990 foi marcada pela formulação e fixação de um
conjunto de leis voltadas ao regime econômico para regulamentar o processo de
exploração dos bens naturais, pois estes provocavam fortes impactos sobre os
ecossistemas. Assim, foram criadas as seguintes legislações: Lei das Florestas (Decreto-
Lei n.º 4-A/91, de 29 de outubro de 1991) de 1991; Código das Águas, de 1992; Regime
do Turismo, Gestão Hoteleira e Actividades Similares, de 1992; Código das Minas, de
1994; Lei Geral das Pescas, de 1994, e o seu Regulamento, de 1996; Lei Quadro das
Áreas Protegidas, de 1997; Lei da Terra, de 1998 (Cruz, 2000: 128).
De acordo com Falcão (2021), um dos primeiros atos de inserção da agenda ambiental
das políticas ambientais da GuiBissau foi à criação do Conselho Nacional do Ambiente,
instituído pelo Decreto n. 24/92, responsável pela adoção de medidas do sistema
nacional do meio ambiente. Este conselho era composto por representantes do governo
e das organizações da sociedade civil e adotou um modelo de funcionamento baseado
em colegiado. Seguindo a mesma perspectiva estruturante das políticas públicas
ambientais, em 1996, a Direção Geral do Ambiente foi criada com o objetivo de
conservar, proteger e melhorar o ambiente para as gerações presentes e vindouras.
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No ano seguinte, em 1997, surgiu o Ministério do Desenvolvimento Rural, dos Recursos
Naturais e do Ambiente, cuja atribuição é a coordenação das ações ambientais no país,
bem como a definição e execução de políticas públicas do Estado guineense em matéria
do meio ambiente. Em 1999, a questão ambiental voltou a estar presente na agenda das
políticas públicas, com a criação da Secretaria de Estado do Turismo, Ambiente e
Artesanato, que tinha por finalidade: planejar, coordenar e executar políticas públicas de
promoção e fomento ao turismo, formular diretrizes, programas e projetos relativo ao
turismo no âmbito nacional, regional e setorial.
Oliveira (2020), afirma que nas décadas de 70, 80, 90, 2000, as maiores contribuições
da Educação Ambiental se deram no âmbito de atuação das Organizações o
Governamentais (ONGs), que desenvolveram atividades, projetos e programas de
Educação Ambiental na educação o-formal ou informal, em áreas protegidas e
comunidades, com financiamento de parceiros internacionais. Estas ONGs foram, sem
dúvida, as responsáveis pela capacitação da maior parte da população acerca da
Educação Ambiental, pois foi por meio do “do planejamento e execução de uma extensa
lista de ações de Educação Ambiental não-formal e informal, usando ações inovadoras e
motivando as pessoas para serem cidadãos cada vez mais comprometidos com as
questões ambientais” (Oliveira, 2020: 40) que houve um avanço no campo da Educação
Ambiental no país.
Em 2010, com a aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE), a Educação
Ambiental foi inserida na educação escolar, como temática a ser desenvolvida como um
objetivo específico inserido na fase do Ensino Básico/primário, que compreende a
e 6ª classes (Art.º 15) da Educação Geral (República de Guiné-Bissau, 2010). No ano
seguinte, em 2010, a Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau aprovou no dia 14
de dezembro a Lei n.º 1/2011, a Lei de Bases do Ambiente. A Lei de Bases do Ambiente
- LBA (República de Guiné-Bissau, 2011) é considerada a Lei-mãe e Geral do Ambiente,
pois traz grandes linhas orientadoras da política do setor do ambiente no país.
A Lei de Bases do Ambiente estabeleceu as linhas orientadoras das políticas públicas e
as ações sobre o ambiente na Guiné Bissau, estando a Educação Ambiental contemplada
no art.º 5, que a estabelece nos seus princípios específicos, nas seguintes alíneas:
j) Acesso ao Sistema Educativo e Formativo todos devem ter à educação
e formação ambiental, instrumentos indispensáveis ao aumento da
capacidade dos cidadãos para concretizar as tarefas que lhes competem
na construção de um ambiente de qualidade e na garantia de um
desenvolvimento durável. Incumbe ao Estado assegurar a inclusão do
componente ambiental na educação sica e na formação profissional,
bem como os meios para sua divulgação e ainda na alínea j) A educação
e formação ambiental (República de Guiné-Bissau, 2011).
O Art 28, trata da Educação Ambiental como meio de: “i) Informação, Educação e
Comunicação Ambiental” dentro dos instrumentos da Política e Gestão Ambiental na Lei
de Bases do Ambiente de 2011. E, no art.º 41 está referenciada como direito à Educação
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na qual “todas as pessoas têm direito de acesso à educação ambiental com vista a
assegurar uma eficaz participação na gestão do ambiente” (República de Guiné-Bissau,
2011). Portanto, constata-se que a Educação Ambiental está presente em dispositivos
legais que relacionam o Direito ao Ambiente, porém ainda o se constituiu como uma
política específica, consolidada como uma política nacional na Gui-Bissau.
Moçambique
No caso de Moçambique, após a independência em 1975, houve uma Guerra Civil que
devastou o país no período compreendido entre os anos de 1977-1992, ou seja, durante
15 anos a população esteve submetida a uma violenta disputa entre as Forças Armadas
de Defesa de Moçambique (FADM) e a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO).
Nessa fase da recente história moçambicana, tanto a relação entre a sociedade e o
Ambiente, como direito da população ao sistema de ensino, sofreram muito com os
impactos geopolíticos do conflito armado. Por certo, o país também teve um atraso em
seu processo de desenvolvimento, com um consequente prejuízo socioeconômico, pois
Moçambique foi assolada por impactos de diferentes naturezas, especialmente em
relação à economia e ao meio ambiente, o que reforçou suas desigualdades sociais e
tornou ainda mais difícil o processo de reconstrução do país depois do período colonial
português.
Posteriormente, com o país arrasado pela miséria econômica e carente de políticas
públicas capazes de atender as necessidades mínimas da população e ainda, sob os
desmandos na exploração dos recursos naturais com o regresso das populações ao
campo, enfrentou “uma das mais severas secas e cheias do século 20, tornando a
população ainda mais vulnerável” (Maxlhaieie & Vieira, 2020: 129). Este período da
história moçambicana agravou diversos problemas sociais e afetou a garantia de direitos
mínimos, como acesso a educação e ao sistema de saúde.
Ao que pese todo esse contexto desfavorável, as políticas públicas na área ambiental
foram introduzidas no país a partir da Constituição da República de 1990, que traz leis
que faziam referência a vários aspectos, tais como o direito ao ambiente presente na
Constituição da República de 1990 (República de Moçambique, 1990), revisada em 2004.
O texto constitucional dispõe sobre o Direito ao Ambiente no art.º 90, ao afirmar que
“todo o cidadão tem direito de viver num ambiente equilibrado e o Estado tem o dever
de o defender”. Em consequência disso, no artigo 117, a Educação Ambiental é abordada
no trecho que define que “o Estado deve promover iniciativas para garantir o equilíbrio
ecológico e a conservação e preservação do meio ambiente visando a melhoria da
qualidade de vida dos cidadãos”. Nesse mesmo artigo, incumbe ao Estado o dever de
garantir o direito ao ambiente no quadro de um desenvolvimento sustentável, e que o
mesmo deve adotar políticas visando “promover a integração dos valores do ambiente
nas políticas e programas educacionais”, inciso c da alínea 2 do art.º 117 (Silveira, 2011).
Em 1995, Moçambique aprovou a Política Nacional do Ambiente (PNA) pela Lei n.º 5/95
(República de Moçambique, 1995), na qual o governo reconhece de forma clara e
inequívoca a interdependência entre o desenvolvimento e o ambiente. A PNA traz nos
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seus princípios a educação e divulgação ambiental como forma de “desempenhar um
papel fundamental na criação e elevação da sensibilidade dos cidadãos para o seu
crescente envolvimento na procura de soluções para os problemas ambientais” (princípio
2.3.5). Dessa forma, a estratégia de Educação Ambiental para o país passa por
“proporcionar uma educação ambiental extensiva a todos os níveis do sistema educativo
ou sistemas de ensino” (República de Moçambique, 1995).
Em 1997, foi aprovada a Lei do Ambiente a Lei n.º 20/97, de 1 de outubro, que definiu
as bases legais para a utilização e gestão corretas do ambiente e seus componentes,
com vista à materialização de um sistema de desenvolvimento sustentável no país. Esta
lei apresenta a Educação Ambiental no Art.º 20, que trata do Direito a Educação e
incumbe o Estado a “(...) assegurar uma correta gestão do ambiente e a necessária
participação das comunidades, o Governo deve criar, em colaboração com órgãos de
comunicação social, mecanismos e programas para a Educação Ambiental formal e
informal” (República de Moçambique, 1997).
Assim, desde 1983, com a criação do Sistema Nacional de Ensino (SNE) até os dias
atuais, o sistema educativo moçambicano, passou por importantes reformas. Uma delas
foi realizada em 1992 e a mais recente em 2018, que definiram e reafirmaram os
princípios fundamentais que regem a educação moçambicana. A partir dessas reformas
o país buscou instituir um conjunto de políticas, estratégias e ações com vista a operar
mudanças qualitativas no Sistema Educativo.
Contudo, desde a criação do SNE, que buscava consolidar uma nova fase na educação
em Moçambique, nenhuma das reformas definiu com clareza a questão da Educação
Ambiental, tal qual foi referido na Lei do Ambiente (Lei n.º 20/97), que determina que o
Estado crie mecanismos para a Educação Ambiental formal e informal. Essa situação
leva-nos a concluir que a Educação Ambiental não teve a devida atenção por parte das
políticas públicas e os efeitos, conforme poderia ser esperado, não foram positivos.
Tendo em vista a complexidade dos problemas enfrentados pelo país, o governo de
Moçambique buscou implementar um Plano de Ação para a redução da pobreza absoluta
(PARPA II 2006 a 2009), a partir da revisão do plano homônimo dos anos 2001-2005,
cujo objetivo era o de diminuir a incidência da pobreza de 54% em 2003 para 45% em
2009 (República de Moçambique, 2006). A execução desse plano foi comandada pela
Iniciativa Pobreza e Meio Ambiente (IPMA), na composição de uma iniciativa conjunta
desenvolvida pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo
Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA), com financiamento pelo Banco
Mundial.
Assim, a Educação Ambiental estava incluída no PARPA II dentre outros temas
transversais, sendo citada como umas das grandes prioridades ambientais em
Moçambique, o que atribuiu subsídio e amparo legal para a sua implementação. No
entanto, ainda hoje, o país carece de uma política ou estratégia de Educação Ambiental
capaz de clarificar e comprometer os governos e a população com a sua implementação
em todo território.
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Schmidt, Guerra e Pinto (2017), em um estudo realizado no contexto da Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), evidenciam que a Educação Ambiental em
Moçambique é reafirmada em outras leis ligadas ao direito do ambiente, tais como
documentos oficiais de regulação e da Direção de Avaliação de Impacto Ambiental (2004,
2006, 2015). Também aparece na Lei do Ordenamento do Território (1998), Lei da
Proteção, Conservação e Uso Sustentável da Diversidade Biológica (2011).
Outrossim, com base nos dados apresentados, seria possível dizer que a Educação
Ambiental está incorporada em alguns documentos orientadores das políticas públicas
moçambicanas, porém, não até o presente momento um quadro próprio que leve a
construção de uma política específica de Educação Ambiental estando essa muitas vezes
em segundo plano, o que, pouco favoreceria sua garantia e aplicabilidade.
São Tomé e Príncipe
São Tomé e Príncipe aprovou sua primeira constituição em 1975, ou seja, a Constituição
da República de São Tomé e Príncipe foi instituída no dia 5 de novembro, significando
um avanço social, político e institucional para o país recém independizado de Portugal.
Naquele momento, o país adotava um sistema político monopartidário, comandado pelo
Bureau Político do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP) (República
de São Tomé e Príncipe, 1975). Somente na revisão da Constituição da República
Democrática de o Tomé e Príncipe de 1990, o país elegeu o ambiente como um dos
objetivos primordiais do Estado. No art.º 10, se percebe essa posição na garantia do
direito de “d) preservar o equilíbrio harmonioso da natureza e do ambiente”. Por outro
lado, no art.º 40 e depois no art.º 49 da Constituição da República Democrática de São
Tomé e Príncipe (2003), que trata da habitação e do ambiente, na alínea 1, afirma que
“Todos têm direito à habitação e a um ambiente de vida humana e o dever de o defender”
(São Tomé e Príncipe, 2003). Nesse sentido, observa-se que a partir da revisão da
Constituição da República de São Tomé e Principe que as questões e problemas
ambientais foram pautados na agenda das políticas públicas, evidenciando-se uma
preocupação com a preservação e a proteção de ambiente
A partir de 1992, diante do reconhecimento, por parte das autoridades nacionais, dos
riscos associados aos problemas ambientais à escala mundial, foi priorizada a adoção de
ações locais, na tentativa de amenizar os impactos de uma crise socioambiental
anunciada em reuniões de líderes mundiais, como foi o caso da II Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que ficou conhecida como ECO-92
ou Cúpula da Terra. Neste evento, promovido pela ONU entre os dias 3 e 14 de junho de
1992, os 108 chefes de Estado presentes discutiram as questões ambientais que
desafiavam (e ainda desafiam) a sociedade global na busca de alternativas que garantam
o equilíbrio e a harmonia entre as sociedades e o meio ambiente.
Após a ECO-92, o Tomé e Príncipe buscou aprimorar sua legislação, com vista à
proteção do ambiente, bem como dos recursos naturais existentes nas ilhas, o que
significou um progresso notável na implementação da Agenda do Desenvolvimento
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Sustentável. Este esforço esteve estimulado pela dinâmica internacional de tentar, de
diferentes formas, diminuir o impacto ambiental da humanidade sobre o planeta.
Assim, a Lei de Bases de Ambiente (LBA, Lei n.º 10/99, de 15 de abril) foi formulada
como uma resposta local a demanda de proteção e de respeito ao ambiente. A LBA
(1999), ao definir as políticas sobre o ambiente, aponta no Art.º 2 a necessidade de
reforça-se o Direito ao Ambiente, no qual “Todos os cidadãos têm direito a um ambiente
humano e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender”. Por outro lado, no Art.º
9, em que trata do Princípio do acesso ao sistema educativo e formativo a lei orienta
que, Todos devem ter acesso à educação e formação ambientais, instrumentos
indispensáveis ao aumento da capacidade dos cidadãos para concretizar as tarefas que
lhes competem na construção de um ambiente de qualidade e na garantia de um
desenvolvimento sustentável (alínea 1) e ainda, “Incumbe ao Estado assegurar a inclusão
do componente ambiental na educação básica e na formação profissional (São Tomé e
Príncipe, 1999).
A LBA (1999) traz ainda, diretrizes sobre os instrumentos e mecanismos da política de
ambiente, nos quais a Educação Ambiental está disposta no Art.º 43 na alínea g,
apontando como responsabilidade do poder público a implementação da “A educação
ambiental em todos os níveis para assegurar a formação de uma consciência blica
sobre ambiente” (República de São Tomé e Príncipe, 1999).
Nos sistemas educativos de São Tomé e Príncipe destacam-se os avanços significativos
conseguidos no ensino básico com a introdução da disciplina de Educação Ambiental no
currículo escolar dos alunos da classe. De acordo com Pequeno (2017), “muito se
evoluiu em meados da década de 90, em termos de conscientização ambiental e de
processos formativos escolares. Neste período, registou-se também o surgimento de
algumas organizações não governamentais (ONG’s), como é o caso de MARAPA - Mar
Ambiente e Pesca Artesanal” (Pequeno, 2017: 51).
O Estado o-Tomense, tendo em consideração a importância da defesa do meio
ambiente, decidiu criar a Direção Geral do Ambiente (DGA) em 2007, através do Decreto
Presidencial n.º 2/2007, tutelada pelo Ministério dos Recursos Naturais e Ambiente
(MRNA). De acordo com o referido decreto, a DGA é o órgão responsável pela realização
e coordenação de todas as políticas e estratégias do governo de STP em matéria
ambiental e tem como missão a implementação de todas as convenções ambientais
assinadas. A DGA tem como atribuições, a coordenação das ações ambientais do país,
assim como a execução da política de Estado em matéria de ambiente.
O panorama da Educação Ambiental nos PALOPs:
discussão de resultados
Após apresentarmos um levantamento das políticas públicas nacionais que foram sendo
constituídas no período pós-independência dos PALOPs, se buscou identificar como cada
um dos países orienta suas políticas de Educação Ambiental na contemporaneidade. Para
isso, procuramos saber quais são os instrumentos das políticas públicas em que a
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Educação Ambiental está inserida neste momento, seja em fase de execução ou de
implementação. Esses dados estão organizados e sintetizados na tabela 1, que se
apresenta a seguir:
Tabela 1: Síntese das estratégias de Educação Ambiental vigentes nos PALOPs em 2022.
Angola
ENAC Estratégia Nacional de Alterações Climáticas 2018-2030 (2017)
Estratégia Nacional de Educação Ambiental 2022-2050 (2022)
Cabo Verde
Plano Nacional de Educação Ambiental PNEA (2013-2022)
Estratégia Nacional de Educação Ambiental (2020)
Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável PEDS (2017-2021)
Guiné Bissau
Política Nacional de Gestão Ambiental (2004)
Plano Estratégico Nacional de Desenvolvimento “Terra Ranca” 2025
(2015)
Moçambique
Plano Nacional de Educação Ambiental nas áreas de conservação 2021-
2025
Programa Quinquenal de Governo 2020-2024
São Tomé e
Príncipe
Carta de Política Educativa visão 2022 (2012)
Estratégia de Comunicação para uma Gestão Sustentável dos
Ecossistemas Florestais (2019)
Fonte: Adaptado de Prata et al., (2023)
Neste momento, apenas Angola e Cabo Verde possuem estratégias nacionais de
Educação Ambiental constituídas. No caso angolano, a estratégia é recente e está em
fase inicial de implementação. Por outro lado, com vigência a partir de 2020, a Estratégia
Nacional de Educação Ambiental caboverdiana continuidade ao previsto no Plano
Nacional de Educação Ambiental PNEA, aprovado em 2013. Ambas representam um
fator positivo para legitimar as ações de Educação Ambiental, fortalecendo sua
institucionalidade e ampliando os horizontes para inserção em outras pautas políticas.
No caso de Moçambique, o Plano Nacional de Educação Ambiental nas áreas de
conservação (2021-2025) representa um ponto de partida importante para a elaboração
da Estratégia Nacional de Educação Ambiental, uma demanda não dos educadores
ambientais moçambicanos, mas também da articulação internacional de ambientalistas.
Sobre isto, também caberia destacar que a realização do VII Congresso Internacional de
Educação Ambiental dos Países e Comunidades Lusófonas em Maputo (julho de 2023)
representou um fortalecimento do campo da Educação Ambiental no país, tendo em vista
o envolvimento do governo nacional, o apoio de outros países membros da Comunidade
de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a mobilização da sociedade civil.
Talvez de forma menos explícita, a Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe incluíram a
Educação Ambientais em alguns de seus documentos orientadores, no entanto, com a
acolhida das Linhas orientadoras para elaboração, implementação, avaliação e revisão
de Estratégias de Educação Ambiental”
3
, pelo Secretariado Executivo da CPLP, todos os
3
Este documento foi elaborado em resposta a reunião de ministros da CPLP realizada em 2020 e que
demandou a definição das diretrizes orientadoras da Educação Ambiental nos países membros desta
comunidade. Por meio da articulação feita pela Rede Lusófona de Educação Ambiental, formou-se um grupo
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Estados membros estão convidados a elaborar, avaliar ou revisar suas estratégias
nacionais de Educação Ambiental, considerando as orientações para a melhoria das
políticas públicas nacionais com base nos compromissos assumidos de forma coletiva.
Mais especificamente, no que tange aos sistemas de ensino, valeria destacar que a
inserção da Educação Ambiental nos currículos escolares foi constatada em Angola, por
meio de integração a uma disciplina específica em diferentes níveis de ensino ao tratar
de temas relacionados ao estudo do meio (Schmidt; Guerra; Pinto, 2017). Por outro lado,
na Estratégia Nacional de Educação Ambiental (20222050) há um direcionamento para
que a Educação Ambiental seja desenvolvida como prática educativa integrada, contínua
e permanente, associada aos programas educacionais em desenvolvimento, uma vez que
esta matéria integrará o Processo de Reforma Geral do Ensino a ser desenvolvido pelo
Executivo (Diário da República, 2022).
Em São Tomé e Príncipe a Educação Ambiental se configura com base em um modelo
disciplinar, o que garante tempo e espaço curricular na forma de uma disciplina
específica, alocada no ano de escolaridade. No entanto, apesar da existência desta
disciplina, não uma formação específica de professores para atuar com esse
componente curricular, o que poderia denotar certa contradição entre processos de
formação acadêmico-profissional e as competências profissionais exigidas pelos sistemas
de ensino.
Nos casos de Cabo Verde, da Guiné-Bissau e de Moçambique, o modelo de inserção
curricular adota a transversalidade como forma de incorporar novos temas as práticas
pedagógicas escolares. Assim, a Educação Ambiental seria desenvolvida por meio do
tema transversal “meio ambiente”. Nesta abordagem, a Educação Ambiental deveria ser
inserida de forma contínua e permanente no currículo de todas as disciplinas e em todos
os níveis e modalidades de ensino. Este modelo, adotado em outros países, pressupõe
uma sensibilização e compromisso dos professores para integrar as questões ambientais
em suas práticas pedagógicas para a formação de cidadãos mais críticos e preparados
para o enfrentamento da crise socioambiental que afeta a toda a humanidade.
Nessa tessitura, observa-se que desde o processo de independência dos PALOPs, a
Educação Ambiental vem sendo inserida na agenda das políticas públicas, seja
permeando políticas relacionadas ao direito ao ambiente ou por meio da construção de
políticas mais específicas, que atribuem maior centralidade aos processos relacionados
com a Educação Ambiental. Nesse cenário, é possível perceber a necessidade de que as
políticas públicas direcionadas as questões ambientais e educacionais possam ser
fortalecidas em regime de cooperação entre os PALOPs, como organização regional e
também com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), por haver
semelhanças identitárias entre os países, o que permitiria a constituição de um diálogo
que estimule a concretitude de processos de cooperação.
de 74 especialistas sobre o tema, provenientes de diversas instituições e países para a elaboração do
documento que foi acolhido pela CPLP em 2023.
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Considerações Finais
Com base nos resultados obtidos, percebe-se que a Educação Ambiental esteve pautada
de diferentes formas nas agendas das políticas públicas dos PALOPs. Os dados apontam
que a Educação Ambiental aparece disposta em documentos normativos específicos e,
de maneira transversal e na legislação que trata do direito ao ambiente de maneira mais
ampla. Entretanto, ainda se percebe a insuficiência de ações para a construção de
políticas públicas específicas de Educação Ambiental, que reverberem em planos de ação
e estratégias para que de fato ocorra a sua implementação.
Outrossim, cabe pontuar que a presença da Educação Ambiental, mesmo que de forma
tergiversa em diferentes instrumentos das políticas públicas, demonstra que um
reconhecimento sobre sua importância nos processos de enfrentamento da crise
socioambiental e como fator determinante para a formação de uma cidadania mais crítica
e capaz de reagir aos desafios que emergem em contextos locais e globais. Desse modo,
entende-se que a Educação Ambiental nos PALOPs ainda precisaria avançar em termos
institucionais para que haja melhores condições e garantias para sua implementação nas
políticas públicas nacionais e no âmbito das cooperações multilaterais.
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Título Dossiê temático - Rede Lufona de Educação Ambiental:
perspectivas de cooperação para construir respostas sociais
a uma crise socioambiental global
Setembro 2024, pp. 45-64
Panorama das Políticas Públicas de Educação Ambiental nos Países Africanos de Língua
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Ronualdo Marques, Marília Andrade Torales Campos
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perspectivas de cooperação para construir respostas sociais
a uma crise socioambiental global.
Setembro 2024
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CULTURAL MAPPING AS A TOOL FOR ENVIRONMENTAL EDUCATION
IN COASTAL AREAS
DANIEL OLIVEIRA
dgb.oliveira@campus.fct.unl.pt
Ph.D. candidate in Environment and Sustainability at the Faculty of Science and Technology,
NOVA University of Lisbon (Portugal), and a researcher at the Oceanic Literacy Observatory
(OLO) - Research Laboratory of the Marine and Environmental Sciences Center (MARE) and the
Aquatic Research Network Associate Laboratory (ARNET). With a background in Geography,
Sustainable Urbanism, and Spatial Planning, the author's research focuses on analyzing the
intricate spatial relationships within territories and adopting a comprehensive view of the global
ecological crisis. Collaborating closely with local communities, the author actively engages at the
socio-ecological interface, placing value on local and traditional knowledge while striving to
reorganize hierarchical social relations that contribute to environmental unsustainability. Through
their research, the author aims to contribute to developing sustainable pathways for the future.
ZARA TEIXEIRA
zara.teixeira@uc.pt
Researcher at MARE - Marine and Environmental Sciences Centre - Regional Research Unit of the
University of Coimbra (Portugal). Biologist with a PhD in Biosciences and a MSc in Geographic
Information Systems, her research interests include environmental assessment and
management; ecosystem services mapping and evaluation; governance and ocean literacy with
focus on estuarine, coastal and marine ecosystems. She has participated as a PI, project
manager, task leader, team member and/or collaborator in several international and national
projects; and has demonstrated success in grant writing and fundraising. She has also proven
experience in science communication to a wide variety of audiences, acquired while coordinating
and/or participating in more than 300 outreaching activities; as a member of the scientific
committee of Escola Azul, an educational program from the Ministry of the Sea; as a mentor of
school projects in Ocean Literacy; as a coordinator and trainer of several accredited training
courses for school teachers; while attending conferences and workshops as an invited speaker
and as a participant in work meetings with public and private entities. She is also one of the
coordinators of MARE's educational program for schools - MARE goes to school - and one of the
funding members of SERMARE, a highly successful educational program of the MAREFOZ
Laboratory. Presently, she is a member of MARE's Board of Directors, a multi-institutional RD&I
Centre (classification by FCT: EXCELLENT), being responsible for the Dissemination and Science
Communication Actions affairs; Chairman of IMAR's General Assembly and co-coordinator of
DivECO - Communication and Dissemination Network in Ecology.
MÔNICA MESQUITA
mmbm@fct.unl.pt
Ph.D. in Educational Sciences with specializations in Community Education (Pt) and
Socioanthropology of Space, and Post-Doctorates in Educational Sciences - Political Philosophy in
Education, and in Environmental Sciences - Oceanic Literacy and Resilient Communities. She is
an Ethnographer who is currently Invited Professor and Lead Researcher from Universidade
NOVA de Lisboa (Portugal) and member of the MARE Center since 2016, where she coordinates
the Ocean Literacy Observatory. With experience in project coordination, she has leaded, among
others, Portuguese researches as Urban Boundaries, founded by Fundação para a Ciência e a
Tecnologia (PTDC/CPE-CED/119695/2010), and Smart Fishing - safety and sustainability in
artisanal fisheries, supported by MAR2020 - MAR-01.03.01-FEAMP-0028, as well as international
researches as Partibridges - public participation of young fishermen in local decision-making, a
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Cultural Mapping as a Tool for Environmental Education in Coastal Areas
Daniel Oliveira, Zara Teixeira, Mônica Mesquita
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ERASMUS+ Project under inner ID 0302120. She is engaged as the local coordinator of two
international projects: Work practices in small communities in Brazil and Portugal: sustainability
in know-how for social and economic equity, awarded with resources from the National Council
for Scientific and Technological Development, founded by CNPq-Brasil, under process
404461/2021-2, and Marine Science, Technology, and Society, supported by EEA Grants -
Education, under inner number EEA.BG.CALL5.007.2020. With high national and international
experience in guidance and teaching, manly in the lines of communitarian education (indigenous
and urban education; transdisciplinary and transcultural approaches; pedagogy of autonomy),
new trends of scientific methodologies, and marine social sciences (ocean literacy, intellectual
and environmental justice), works with the participatory methodologies, as critical ethnography
and participatory action research, to stimulate the collaboration of all the actors involved in a
research, aiming at the full exercise of citizen science in pluriverse roots.
Abstract
This article investigates how cultural mapping can strengthen environmental education in
coastal areas of Portugal, highlighting its relevance for understanding the interactions
between local communities and coastal landscapes and the development of sustainable
conservation and environmental management strategies. The critical praxis developed in
research, activism, and even political stances has been trying to emphasize the importance
of collective constructions for a sustainable future. The cultural mapping approach presents a
critical theoretical and methodological perspective and significant transformative potential in
pursuing a socioecological-cultural turn toward local sustainability. To explain and debate
those assumptions, this essay analyzes the urban evolution along the Portuguese coast,
examining historical contexts and challenges in managing coastal territories. It emphasizes
cultural mapping as a valuable approach for integrating local knowledge and fostering
collaboration across diverse cultural backgrounds. The study suggests that cultural mapping
enhances the relevance and resonance of environmental education projects within
communities, thereby contributing to local sustainable development goals. The rationale for
adopting the term "cultural mapping" is discussed, highlighting the critical movement from
geographical science toward map production and its interpretation of culture within this
framework. The manuscript also presents and discusses research projects utilizing cultural
mapping as active and critical pedagogies and explores its potential for environmental
education. Finally, cultural mapping is portrayed as an interdisciplinary and transcultural
research approach employing critical methodological tools for Coastal Environmental
Education.
Keywords
Cultural Mapping, Environmental Education, Coastal Areas, Local Sustainability, Local Spatial
Knowledge.
Resumo
Este artigo investiga como a cartografia cultural pode fortalecer a educação ambiental nas
zonas costeiras de Portugal, destacando a sua relevância para a compreensão das interações
entre as comunidades locais e as paisagens costeiras e para o desenvolvimento de estratégias
sustentáveis de conservação e gestão ambiental. A praxis crítica desenvolvida na
investigação, no ativismo e até em posições políticas tem tentado enfatizar a importância das
construções coletivas para um futuro sustentável. A abordagem de mapeamento cultural
apresenta uma perspetiva teórica e metodológica crítica e um potencial transformador
significativo na busca de uma virada sócio-ecológica-cultural em direção à sustentabilidade
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Cultural Mapping as a Tool for Environmental Education in Coastal Areas
Daniel Oliveira, Zara Teixeira, Mônica Mesquita
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local. Para explicar e debater estes pressupostos, este ensaio analisa a evolução urbana ao
longo da costa portuguesa, examinando os contextos históricos e os desafios na gestão dos
territórios costeiros. Destaca a cartografia cultural como uma abordagem valiosa para integrar
o conhecimento local e promover a colaboração entre diferentes contextos culturais. O estudo
sugere que a cartografia cultural aumenta a relevância e a ressonância dos projetos de
educação ambiental nas comunidades, contribuindo assim para os objetivos locais de
desenvolvimento sustentável. Discute-se a justificação para a adoção do termo "cartografia
cultural", salientando o movimento crítico da ciência geográfica para a produção de mapas e
a sua interpretação da cultura neste contexto. O manuscrito também apresenta e discute
projetos de investigação que utilizam a cartografia cultural como pedagogia ativa e crítica e
explora o seu potencial para a educação ambiental. Finalmente, o mapeamento cultural é
retratado como uma abordagem de investigação interdisciplinar e transcultural que emprega
ferramentas metodológicas críticas para a Educação Ambiental Costeira.
Palavras-chave
Cartografia Cultural, Educação Ambiental, Zonas Costeiras, Sustentabilidade Local,
Conhecimento Espacial Local.
How to cited this article
Oliveira, Daniel, Teixeira, Zara & Mesquita, nica (2024). Cultural Mapping as a Tool for
Environmental Education in Coastal Areas. Janus.net, e-journal of international relations. VOL15
N1, TD1 Dossiêr temático Rede Lusófona de Educação Ambiental: perspectivas de cooperação
para construir respostas sociais a uma crise socioambiental global”. Setembro de 2024. DOI
https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0224.4.
Article received on june 30th, 2024 and accepted on july 20th, 2024.
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CULTURAL MAPPING AS A TOOL FOR ENVIRONMENTAL
EDUCATION IN COASTAL AREAS
DANIEL OLIVEIRA
ZARA TEIXEIRA
MÔNICA MESQUITA
Introduction
This manuscript adopts the idea of Cultural Mapping (CM) to discuss this practice as
having great potential for environmental education in coastal areas. Such coastal areas
have been experiencing uncontrolled urbanization processes that can contribute to
negative transformations. In this sense, CM is introduced as a possibility for
understanding local culture and creating collaborative processes that enable the
development of a community willing to contribute to local sustainability.
CM is a pedagogical tool encompassing place-based environmental education through
exploring and representing the place (Jagger, 2013). With a collaborative and action-
oriented approach, CM contributes to creating a database of local spatial knowledge,
enabling the visualization and analysis of community narratives and establishing
connections between these narratives and other landscape biophysical and cultural
elements. By analyzing community narratives alongside the biophysical and cultural
elements of the landscape, CM enables the identification of patterns, connections, and
interdependencies that may not be obvious in isolated analysis. This can lead to
important insights into local environmental, social, and economic issues and inform the
development of more appropriate and sustainable policies and practices.
Through a comprehensive literature review and following up on the work being developed
in collaboration with local coastal communities by the Ocean Literacy Observatory part
of the Marine and Environmental Sciences Centre, ARNET - Aquatic Research Network
Associate Laboratory, Portugal, this essay presents practical cases of CM inquiry that
contribute to environmental education practices in coastal areas.
For this purpose, an analysis of urban evolution on the Portuguese coast is conducted,
presenting a historical context and some challenges for managing these critical and
sensitive coastal territories. Thus, CM is highlighted as a valuable tool for integrating
local knowledge and fostering collaboration among diverse cultural backgrounds. It is
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suggested that with CM, environmental education projects can achieve greater relevance
and resonance within communities, ultimately contributing to local sustainable
development goals. Afterward, the reason for choosing the term cultural mapping, which
involves a critical movement from geographical science to map production, is discussed,
as well as how the idea of culture is apprehended in this context. Some research projects
that have utilized CM practices as active and critical pedagogies are presented and
discussed, as well as the possible use of these practices for environmental education. As
a final consideration, CM is underscored as interdisciplinary and transcultural research
that employs critical methodological tools for Coastal Environmental Education.
Coastal Areas in Portugal: context and challenges
Over the last decades, there has been a noticeable densification and increase in
geographic complexity along the coastal bands of mainland Portugal, ranging from Braga
to Setúbal and from Lagos to Olhão (Fernandes & Sexias, 2018). Since the 1970s,
economic expansion and urban development along the Portuguese coast have had a
notable surge. Approximately 75% of the Portuguese population resides in coastal
regions, roughly 14% living less than 2 km from the shoreline during high tide (APA,
2017). This figure continues to rise, significantly impacting estuarine and coastal waters
(Taveira-Pinto et al., 2022).
Urban development primarily impacted the southern coastal regions, particularly the
stretch from Portimão to Faro. It exhibited significant intensity around major
metropolitan hubs in the northwest and along the central coast, specifically Porto and
Lisbon (Tonini et al., 2018). Several case studies in coastal areas of Portugal have shown
how these areas have been under pressure and lack the necessary attention for positive
transformations. We can observe that Portimão remains a coastal area under significant
pressure from tourism and urbanization (Deus et al., 2023), while Lagoa de Óbidos and
Martinhal have been paying particular attention to their sedimentation processes
following extreme natural events (Costa et al., 2012). The contact and proximity to the
ocean enable extreme natural phenomena, including those driven by climate change,
which can negatively impact coastal societies. “Extreme events such as abrupt marine
invasions due, for example, to tsunamis, extreme storms, and co-seismic subsidence,
have an undoubtedly important significance for coastal evolution” (Costa et al., 2012, p.
1367).
In recent decades, the construction of buildings, promenades, and other structures along
waterfronts has often encroached upon beaches and dunes, altering morphological
conditions. This phenomenon has exacerbated coastal risks, at least in localized areas,
by contributing to changes in the landscape (Taveira-Pinto et al., 2022).
There is difficulty in implementing coastal management guidelines in Portugal due to a
lack of integration among the approximately 100 entities responsible for decisions
regarding the Portuguese coast “(6 ministries, 11 secretaries of state, 27 institutes and
general directors and 51 municipalities)” (Oliveira et al., 2020, p. 34).
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In Portugal, since the 1990s, the development of Integrated Coastal
Management (ICM) has stimulated a more integrative and participative
approach to coastal management, with the government developing
legislation for coastal zone protection, recovery, management, and
governance. […] Application of the national strategy has taken its first
steps, but clarity and communication are key aspects for the future
ICZM implementation (Oliveira et al., 2020: p. 44).
However, beyond that, there is a lack of knowledge (Oliveira et al., 2020) and a lack of
collaborative involvement with local communities regarding the necessary and desired
intervention plans for a particular territory. Collaborative practices such as CM contribute
to community engagement and involvement of other stakeholders, providing a space for
dialogue and inclusion of multiple forms of knowledge, contributing to a co-creation
process, valuing citizens' local spatial knowledge, and allowing them to be part of the
management of their place, thus contributing to local sustainability.
This discussion is part of a doctoral project in which a CM praxis is applied in Lagoa de
Albufeira, Portugal. This coastal lagoon in the municipality of Sesimbra has special
ecological significance, being a nesting area for birds and a Ramsar site in addition to its
scenic beauty and historical significance. However, it has been experiencing abrupt
changes in its landscape, mainly due to uncontrolled urbanization processes, which bring
not only people with some connection to the place but also citizens from other places
who do not have past ties to the location. Thus, applying CM to the local community aims
to contribute to the perception of local reality, conflicts, and individual and collective
desires. This practice is believed to contribute to a dialogical learning process and even
allow for the creation of affection and responsibility towards the place.
Cultural Mapping: co-construction, community involvement, and place-
based learning in research
Theoretical-methodological practices that contribute to the process of inclusion and
environmental education within local communities, such as CM, represent alternatives
with the potential to contribute to local sustainable development. Simultaneously, it
facilitates reciprocal knowledge exchange wherein older generations impart narratives
from the past, elucidating historical lifestyles and experiences. New inhabitants, including
those from different cultural backgrounds, can absorb these narratives while also
contributing their own stories and rationale for choosing the locality as their residence.
Such interactions serve as educational opportunities for younger individuals, instilling
aspirations for the future. This exchange mechanism nurtures a heightened communal
spirit and a sense of obligation toward advancing local sustainable development.
Additionally, given its collaborative nature, it engenders increased openness and
innovation, fostering the co-creation of agreements, initiatives, and resources aimed at
fortifying efforts for socio-ecological equilibrium within the community.
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In pursuing scientific progress and sustainable development, it is paramount to recognize
the value of co-construction and community involvement. This entails integrating local
knowledge into the scientific discourse and co-creating knowledge alongside
communities.
Indigenous wisdom, traditional practices, and community insights offer invaluable
perspectives that enrich scientific understanding and inform more holistic approaches to
sustainability. By acknowledging and incorporating these diverse knowledge domains,
environmental education projects can transcend conventional boundaries and achieve
greater relevance and resonance within local contexts.
Why Cultural Mapping?
Collaborative mapping approaches in research have been used in an interdisciplinary and
transcultural manner to promote social and environmental justice, allowing for the
sharing of knowledge, experiences, and desires about the place in the form of maps
(Pedregal, 2020).
This research methodology has its roots in a movement of critical cartographies (counter-
mappings) that shed light on the power of maps (Wood, 1993; Wood, 2010) and the
need to rethink for whom the production of these maps serves (Harley, 1990). This
critical cartographic movement stimulated a series of new mapping methodologies that,
although spread across different disciplinary areas, share the same premise of producing
maps collaboratively with local communities and seeking to reveal and valorize local
knowledge that can contribute to the sustainability of the place. Such critical cartographic
methodologies have been titled differently in science, ranging from social mapping (Silva
et al., 2019) or social cartography (Cruz-López et al., 2022) to participatory mapping
(Mere-Roncal et al., 2021) to public participation geographic information system (PPGIS)
or participatory GIS (PGIS) (Monteiro de Carvalho et al., 2021). This essay will use
Cultural Mapping (CM) to encompass all these terms.
A definition that contributed to the decision to use the term "cultural mapping" was
elaborated by the Amazon Conservation Team - ACT Brazil and provides the following
definition for Collaborative Cultural Mapping:
A cultural map is a cartographic tool aimed at demonstrating cultural,
historical, and customary aspects of a traditional territory of one or more
peoples. Cultural mapping can take on various forms, but the defining
aspects are clear: it must be carried out by the community itself,
combined with cartographic rules, so that the final result is precise and
orderly. It is part of a cultural and social diagnosis process that can lead
to strong political instruments and form the seed capable of creating
good policies for the involved communities, such as indigenous
education plans, environmental management, and territorial protection.
The map should not constitute an end goal but rather a tool within a
work of cultural and territorial strengthening of traditional communities.
(ACT Brasil, 2008: p. 7).
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Although the document will primarily address indigenous communities in the Amazon
region, we understand that this approach can be equally important for other non-
indigenous or native communities and other regions of particular socio-ecological
interest, such as coastal areas in Portugal and worldwide. Coastal areas undergo intense
transformation due to being the frontier and meeting point between oceanic waters and
the terrestrial spaces inhabited by human society. These dynamic zones are subject to
various environmental, social, and economic pressures, including coastal erosion, rising
sea levels, habitat loss, pollution, and urbanization (Crossland et al., 2005).
The term "Cultural Mapping" encapsulates the analytical process of unraveling cultural
nuances interwoven within the local landscape, encompassing a spectrum ranging from
discerning the catalysts behind landscape transformations to unraveling the rich tapestry
of stories and narratives that underpin local cultures. Recognizing the contemporary
epoch as the Anthropocene, or more aptly, the Capitalocene, underscores the profound
imprint of human activity on landscapes and the global ecological equilibrium. Hence,
discussing cultural mapping transcends mere cartographic delineation; it encapsulates a
holistic comprehension of the broader cultural fabric, dissecting a local culture across its
diverse systems and facets. Ultimately, it epitomizes the endeavor to decipher the
intricate cultural landscapes that shape our world.
Culture carries a series of meanings depending on the local context or even the
disciplinary area in which it is used. It has commonly been associated with artistic
expressions and cultural planning - aimed at the valorization of artistic and creative
expressions such as operas, symphonies, and theaters, which has contributed to the
marginalization of other cultural expressions that are usually already marginalized (Dick,
2015) stemming from the very constructive history of the place. Beyond the arts and the
creative sector, culture should be understood broadly, encompassing at least two other
categories: cultivation of the mind and way of life (Williams, 1976). Admitting the
analysis of a local culture under these categories allows for a more complete and complex
view of the place, in which all citizens and local communities become an intrinsic part of
this culture. It is necessary to value citizen narratives and stories and to go beyond just
mapping tangible assets and recognize the importance of intangible cultural resources
(Dick, 2015).
The cultures of each society are developed from their landscapes and, at the same time,
are responsible for the constant alterations in these landscapes. Such planetary
landscapes are, especially in an era of the Anthropocene, cultural landscapes shaped and
reshaped by a web of collaborations between physical resources and human activities
(Sauer, 1925).
Cultural Mapping as a Praxis for Environmental Education
CM can be understood as a praxis of environmental education since it involves citizens
and communities in dialogical learning and individual and collective empowerment. CM is
not just the creation of maps - final products, but the process itself is of immense
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importance, as it is a space for collaboration among community members. In this sense,
it becomes essential to understand the place, create intra-community bonds, form
identity, map conflicts, discuss dreams and desires, and even create social contracts.
In the context of CM as a tool for environmental education, we understand that the
process of CM itself operates within the spectrum of education for local sustainability.
The idea of mapping in collaboration with local communities can be seen as a process of
Participatory Action Research in which citizens and communities are integral parts of the
investigative process and bring forth questions, discussion topics, and their local
knowledge. Blending scientific knowledge with local knowledge through collaborative
mapping activities allows for exploring and discussing topics important to local culture,
creating an environment of empowerment and inclusion.
CM, through its geographic dimension, serves as a tool for uncovering local spatial
knowledge and illuminating intangible aspects that shape a community and its internal
dynamics (Gibson, 2010). CM can be an important inquiry that allows the identification
of local identities and socio-environmental conflicts experienced by the community by
sharing and recording citizen narratives and valuing local knowledge. In this sense, it
allows for a dialogic learning process of enormous value for environmental education
practices, shedding light on the intrinsic and inseparable relationships between nature
and culture (Silva et al., 2018).
The methods employed in CM encompass a range of techniques such as mind maps,
emotional maps, narrative cartography, visual analysis of media, drawings, and advanced
Geographic Information Systems (GIS). In the following sections, we will introduce
several projects that delved into CM from diverse perspectives, each with unique goals
and methodologies. It is worth noting that these projects not only offer valuable insights
into cultural diversity but also present a significant opportunity in the realm of
environmental education. By integrating cultural elements with socio-ecological insights,
these initiatives enhance our understanding of the interactions between communities and
their natural surroundings. They also foster a broader awareness of the importance of
environmental preservation and sustainability.
The importance of collaborative mapping approaches in environmental
education and policy development
A project conducted by the Environmental Education, Communication, and Arts Research
Group from the Federal University of Mato Grosso demonstrated the potential of
collaborative mapping practices, even in shaping public policies for the state (Sato et al.,
2014). As a methodology for environmental education, this project facilitated the
mapping of vulnerable social groups and the identification of socio-environmental
conflicts that expose these groups to risks, providing valuable insights for managers and
decision-makers dealing with local, territorial planning issues (Sato et al., 2014). This
collaborative approach informs policymakers and decision-makers about socio-
environmental conflicts and vulnerabilities and emphasizes the importance of
participatory approaches in environmental education and policy development. By
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Cultural Mapping as a Tool for Environmental Education in Coastal Areas
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involving local communities in the mapping process, the project fosters a sense of
ownership and empowerment while ensuring that the perspectives and needs of those
directly affected by environmental issues are considered (Sato et al., 2014). Such an
inclusive approach can lead to more effective and sustainable solutions that address the
root causes of environmental challenges while promoting social equity and resilience.
Moreover, the project's success in influencing public policy underscores the value of
interdisciplinary research and collaboration between academic institutions, governmental
bodies, and local communities in addressing complex environmental issues.
Walkscapes: Collaborative map of the micro-territory
CM can utilize various methods, which will depend on the contexts of each project and
the proponents' areas of training and research. Ortega Nuere e Bayon (2015) present
methods imbued in CM, based on Jane Jacobs and Francesco Careri, such as Walkscapes
- which are global movements where local citizens and other visitors walk together to
map the problems of the city as a community. These movements are rooted in the
principle that the collective, the networked community, has a greater capacity for critical
observation of their local spaces than the individual alone. These Walkscapes create
momentum for dialogical learning - between, for example, researchers and citizens,
about local culture and allow for the creation of a collaborative map for that micro-
territory. Walking collectively as a method of observation and intervention in territories
creates an environment of curiosity, communication, and affectivity, building a greater
sense of belonging and responsibility for common spaces (Ortega Nuere & Bayon, 2015).
Environmental education program for geography teachers, employing
CM practices, including Community Mapping and Photovoice
Through the implementation of an environmental education program for geography
teachers, utilizing CM practices, including Community Mapping and Photovoice, it was
deduced that such collaborative methods actively contribute to the development of
geographical knowledge and understanding of regional environmental conflicts (Cho &
Kim, 2022). Furthermore, this pedagogical tool significantly enhances community
competencies and active citizenship, as participating citizens collaboratively engage in
their communities to effect positive changes in their surroundings (Cho & Kim, 2022).
The photovoice method emerges as an intriguing tool for environmental education.
Equipping citizens with cameras to capture the conflicts and potentialities of their
surroundings, this technique empowers communities as investigators of their everyday
lives, facilitating the visualization of situations through the perspective of those who live
and experience the place (Cho & Kim, 2022; Goodchild, 2007). By documenting everyday
aspects of the environment through photos, videos, and narratives, this method
contributes to the cultivation of critical awareness. It enables the co-creation of a
democratic and inclusive space. Here, marginalized individuals can express their opinions
and knowledge, exerting pressure to ensure proper attention is given to local issues and
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advocating for territorial interventions to foster a more sustainable community (Cho &
Kim, 2022).
The activity of collecting media, photos, and videos not only holds intrinsic educational
potential but can also be enriched through the inclusion of prompts that encourage the
sharing of narratives among participants. By requesting each participant to describe their
own image or video, commenting on various aspects such as the content depicted in the
media, the reason why the situation was captured, the media's relationship with their
personal lives, and the opportunities that can be drawn from the presented situation, it
is possible to promote deeper reflection and meaningful exchange of experiences (Cho &
Kim, 2022).
This approach fosters individual expression and encourages empathy and interpersonal
understanding, as participants can share their unique perspectives and learn from one
another. Furthermore, by discussing the relationships between the media and their own
lives, participants can develop critical media analysis skills and increase their awareness
of how images and videos influence their perceptions and behaviors.
Simultaneously, the activity can also promote creativity, as participants are challenged
to find opportunities and meanings in everyday situations captured in the media. This
can lead to a greater appreciation of daily experiences and the development of a growth
mindset, where participants learn to extract valuable lessons and insights from their own
lived experiences.
Therefore, by incorporating these elements of reflection and narrative sharing into the
activity of collecting media, photos, and videos, educators can create a rich and engaging
learning experience that not only promotes the personal development of participants but
also strengthens connection and collaboration within the group.
Firsthand sensory exploration of the area and inspiration to students
In addition to facilitating firsthand sensory exploration of the area, CM initiatives can
inspire students to forge personal and emotive bonds with their place and surroundings
and its non-human inhabitants (Jagger, 2013). According to the "knowing nature
framework" proposed by Knapp (2005), CM functions can be seen as an environmental
education tool encompassing at least four significant pedagogical potentials: Observing,
Situated Knowing, Identifying, and Transforming (Knapp, 2005). Observing is directly
linked to questioning processes about the place, observations of seasonal changes,
listening, counting, and measuring environmental characteristics of the proposed study
area. Situated Knowing is related to the stories and narratives about the past and present
of the place, allowing for the reconstruction of local history and contemplation of the
current context. Identifying is connected to perceiving the relationships between
landscape elements, enabling understanding the cycles inherent in the local socio-
ecological system. Transforming relates to the action research character of the CM
methodology, in which participants' actions for positive changes in their local
environment also benefit them physically, intellectually, and emotionally (Knapp, 2005).
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Local water resource management
CM approaches have also been successful in local water resource management projects,
as with some riverside communities in Chapra, Bangladesh (Hossen, 2016). The
investigative process utilizing collaborative mapping techniques allowed for the inclusion
and empowerment of the community regarding local development and natural resource
conservation (Hossen, 2016).
In environmental education, this example is significant for several reasons. Firstly, it
demonstrates the importance of active participation by local communities in the
management and conservation of the natural resources surrounding them. By involving
residents in identifying and mapping water resources, they become aware of the
importance of these resources and active agents in their preservation (Hossen, 2016).
This example also highlights the effectiveness of collaborative approaches in
environmental education. The use of CM techniques not only provides valuable
information about local natural resources but also promotes hands-on learning and
knowledge exchange among community members. This educational approach is more
engaging and relevant for participants, thereby increasing the impact of environmental
education initiatives.
Engagement and critical stimulation in youth
CM practices can also contribute to reflection processes in urban youth about their
geographical space (Literat, 2013). Collaborative mapping practices are of great value
for engagement and critical stimulation in youth, which would hardly be achieved with
purely textual investigative methods (Literat, 2013). Collaborative mapping practices
offer an effective way to integrate environmental aspects into youth education. By
involving students in creating maps highlighting natural resources, green areas, and
pollution, among other aspects of the local environment, they are encouraged to reflect
on the relationship between their actions, the environment, and the community. This
promotes a deeper environmental awareness and a sense of responsibility towards
environmental preservation. Furthermore, by adopting a practical and visual approach,
collaborative mapping practices can be more engaging and meaningful for youth, thereby
increasing the impact of environmental education.
Cultural Mapping as Participatory Action Research: Learning by doing
CM brings the possibility of learning by doing and can design the investigative process as
participatory action research, as observed in planning practices in Italy. In different
contexts, stakeholders linked to territorial planning have pointed out that using CM allows
for greater knowledge of territories, collaboration between scientific, technical, and local
knowledge, and active leadership development that can promote positive change (Saija
et al., 2017).
CM's collaborative and action-oriented approach plays a fundamental role in creating a
database of local spatial knowledge, enabling the visualization and analysis of community
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narratives and mapping relationships between these narratives and other landscape
biophysical and cultural elements.
Moreover, visualizing the data collected through CM can facilitate communication and
dialogue among various stakeholders, promoting greater awareness and community
engagement regarding spatial and environmental issues. This can strengthen the
community's capacity to make informed decisions and actively participate in managing
and preserving their local environment.
Final considerations
CM plays a pivotal but often overlooked role in environmental education literature, as it
has been insufficiently theorized and developed. However, recent exploration has
highlighted its significance in facilitating learning, agency, and instigating change within
communities. This essay examines CM as interdisciplinary and transcultural research that
utilizes critical methodological tools for Environmental Education. We argue that CM has
excellent potential to address coastal sustainability issues and contribute to the learning
and critical empowerment of citizens and local communities in promoting equitable, local
sustainable transitions.
Through CM techniques, communities mobilize knowledge about biocultural diversity,
enabling the acquisition of essential information and fostering engagement in meaningful
activities that relate to their cultural landscape (Belay, 2012). This process also serves
as a platform for community members to renegotiate their identities within the broader
community context. Moreover, the utilization of CM has demonstrated its capacity to
catalyze learning and evoke a desire for change among participants. This newfound
knowledge and motivation can be harnessed to adapt to evolving socio-ecological
environments, ultimately contributing to the long-term resilience of social-ecological
systems. Thus, CM emerges as a tool for knowledge dissemination and as a catalyst for
transformative action, offering potential pathways toward sustainable change and
enhanced community resilience (Belay, 2012).
Coastal areas require special attention due to significant anthropogenic pressure. On the
other hand, they tend to be areas of urban expansion due to their scenic value, easy
accessibility, continuity of urban sprawl, opportunities for recreational activities, fishing,
and numerous other reasons that historically make coastal zone areas of great interest
for human occupation and use. Many of these areas represent significant environmental
importance, increasing the number of protected areas along coastal and oceanic zones
as an alternative to the degradation these areas have been experiencing. However,
protected areas may conflict with local communities, who are sometimes unwilling to
accept usage prohibitions in those areas. It is urgent for scientific research to pay more
attention to these areas and the conflicts that have been occurring.
Coastal regions are uniquely rich in cultural, tangible, and intangible heritage,
biodiversity, and intricate socio-ecological dynamics. Anthropogenic influences on the
Portuguese coastal zone have become increasingly significant in recent decades.
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Moreover, it is anticipated that the spatial and temporal scales of these impacts will
further escalate soon (Taveira-Pinto et al., 2022).
In coastal areas, where human activities and the impact of climate change are acutely
felt, CM offers a transformative approach to environmental education. It enables
communities to explore and articulate their unique connections to the coastal
environment, fostering a sense of ownership and responsibility toward its preservation.
CM fosters a sense of place and belonging, reinforcing the cultural identity of coastal
communities intertwined with their natural surroundings. By celebrating cultural diversity
and community perspectives, it promotes inclusivity and equity in environmental
decision-making processes, ensuring that the voices of marginalized communities are
heard and respected.
In conclusion, Cultural Mapping offers valuable tools for Environmental Education and
local sustainable development in coastal areas. Its collaborative, interdisciplinary, and
transcultural approach allows for a broader understanding of communities and local
socio-ecological systems, contributing to creating sustainable and equitable strategies.
Through its place-based learning format and creative methods that explore local spatial
knowledge, Cultural Mapping can make environmental education projects more
compelling, comprehensive, and engaging, helping protect and value coastal landscapes
for present and future generations.
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Funding details
This work was supported by FCT Foundation for Science and Technology, I.P., through the Ph.D.
Grant UI/BD/150953/2021; Foundation for Science and Technology (FCT, Portugal), through the
strategic projects UIDB/04292/2020 and UIDP/04292/2020 granted to MARE - Marine and
Environmental Sciences Centre and the project LA/P/0069/2020 granted to the Associate
Laboratory ARNET - Aquatic Research Network.
OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
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a uma crise socioambiental global.
Setembro 2024
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EDUCAÇÃO, SUSTENTABILIDADE E CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL
MARTA TORRES
martafradetorres65@gmail.com
Ph.D. MARE - Marine and Environmental Sciences Centre, ARNET - Aquatic Research Network
Associate Laboratory, NOVA School of Science and Technology, Universidade Nova de Lisboa,
Caparica (Portugali. Investigadora Integrada.
JOÃO MOURO
jmouro@gmail.com
NovaSBE ELO- Enhanced Learning Office, Lisbon
MÔNICA MESQUITA
mmbm@fct.unl.pt
Afiliação: MARE - Marine and Environmental Sciences Centre, ARNET - Aquatic Research Network
Associate Laboratory, NOVA School of Science and Technology, NOVA University Lisbon,
Caparica, Portugal. Investigadora Integrada
Caparica, Portugal.
Resumo
Inserido no Observatório de Literacia Oceânica OLO, inserido no Centro de Ciências do Mar
e do Ambiente MARE, na Unidade Regional da Universidade NOVA de Lisboa NOVA, a
investigação desenvolvida no Agrupamento de Escolas da Caparica, junto da comunidade
estudantil dos pescadores da cidade da Costa de Caparica - Portugal, pretende valorizar o
conhecimento informal destes alunos, fortemente arreigado a um Conhecimento Ecológico
Local (CEL) e a um Conhecimento Ecológico Tradicional (CET). Pretende-se discutir de que
modo os processos de pertença ecológica das ações dos estudantes estão comprometidos com
fatores de ordem social, cultural e económica. Assente na observação e análise de práticas
socioecológicas, recorrendo a metodologias mistas - Etnografia Crítica e Design based-
Research, pretende-se (1) implementação do Museu Virtual, coconstruído com estes mesmos
estudantes num estudo doutoral, dirigido para formação à comunidade; (2) criação de um
currículo local revelador de conhecimento ancestral e identitário, (3) disseminação, através
de ambientes digitais, da identificação de problemas relacionados com a sustentabilidade da
comunidade em questão. As competências tecnológicas trabalhadas ao nível do Museu serão
úteis em duas das dimensões do projeto: 1 - literacia digital promotora de empregabilidade,
cidadania digital, acesso à informação, identidade e socialização, particularmente dos atores
envolvidos nas diversas funções; 2 tecnologia como contributo para a sustentabilidade e o
ambiente - o Museu “Virtual” complementar à realidade das comunidades piscatórias um
gémeo digital desse mundo piscatório.
Palavras-chave
Educação Ambiental, Cidadania Ativa, Literacia Digital, Comunidade Piscatória, Conhecimento
Ecológico.
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Setembro 2024, pp. 81-103
Educação, Sustentabilidade e Conhecimento Ecológico Local
Marta Torres, João Mouro, Mônica Mesquita
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Abstract
As part of the Ocean Literacy Observatory - OLO, which is part of the Centre for Marine and
Environmental Sciences - MARE, at the NOVA University Lisbon Regional Unit - NOVA, the
research carried out at the Caparica School Group, with the student community of fishermen
from the town of Costa de Caparica - Portugal, aims to value the informal knowledge of these
students, which is strongly rooted in Local Ecological Knowledge (LEC) and Traditional
Ecological Knowledge (TEC). The aim is to discuss how the processes of ecological belonging
in the students' actions are compromised by social, cultural and economic factors. Based on
the observation and analysis of socio-ecological practices, using mixed methodologies -
Critical Ethnography and Design-based-Research, the aim is to (1) implement the Virtual
Museum, co-constructed with these same students in a doctoral study, aimed at training the
community; (2) create a local curriculum revealing ancestral and identity knowledge, (3)
disseminate, through digital environments, the identification of problems related to the
sustainability of the community in question. The technological skills developed at the Museum
will be useful in two of the project's dimensions: 1 - digital literacy to promote employability,
digital citizenship, access to information, identity and socialisation, particularly for those
involved in the various functions; 2 - technology as a contribution to sustainability and the
environment - the "Virtual" Museum complementary to the reality of the fishing communities
- a digital twin - of this fishing world.
Keywords
Environmental Education, Active Citizenship, Digital Literacy, Fishing Community, Ecological
Knowledge.
Como citar este editorial
Torres, Marta, Mouro, João & Mesquita, Mônica (2024). Educação, Sustentabilidade e
Conhecimento Ecológico Local. Janus.net, e-journal of international relations. VOL15 N1, TD1
Dossiêr temático Rede Lusófona de Educação Ambiental: perspectivas de cooperação para
construir respostas sociais a uma crise socioambiental global”. Setembro de 2024. DOI
https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0224.5.
Artigo recebido em 30 de junho de 2024 e aceite para publicação em 20 de julho de 2024.
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Educação, Sustentabilidade e Conhecimento Ecológico Local
Marta Torres, João Mouro, Mônica Mesquita
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EDUCAÇÃO, SUSTENTABILIDADE E CONHECIMENTO
ECOLÓGICO LOCAL
MARTA TORRES
JOÃO MOURO
MÔNICA MESQUITA
Introdução
Este estudo decorre da importância que as comunidades piscatórias têm na faixa litoral
da Costa da Caparica e da pouca visibilidade, e impacto, que têm na participação e
delineamento de políticas que lhes dizem respeito. O produto final um Museu Virtual
das Artes da Pesca, desenvolvido e implementado em coconstrução com os alunos da
comunidade piscatória, e como plano de comunicação e disseminação uma rede
identitária a nível local, regional, nacional e internacional, pretende dar a visibilidade que
lhes é devida.
O estudo pós-doutoral, pretende potenciar o Conhecimento Ecológico Local (doravante
designado por CEL) e o Conhecimento Ecológico Tradicional (doravante designado por
CET) desta comunidade tornando-os significativos na identificação e resolução de
problemas associados ao seu quotidiano, de forma a capacitar os alunos enquanto
agentes de mudança, na promoção do desenvolvimento sustentável. Como identificado
no trabalho doutoral, Torres (2021) valoriza o conhecimento informal e não formal que
estudantes das comunidades piscatórias aportam, o qual contribuem para que as suas
comunidades ganhem solidez social e política, identificando e contribuindo com soluções
sustentáveis, com pertença local e exequíveis. Conforme é preconizado em A Decade of
Progress in Education for Sustainable Development, Young people should be empowered
to participate more closely in the development of political strategies and their
implementation in the area of sustainable development(UNESCO, 2017, p.10). Estas
comunidades, em contacto direto e dependentes do meio ambiente que as rodeia,
contribuem para a resolução de problemas através da participação em políticas de
sustentabilidade a desenvolver localmente. Considera-se, aqui, a sustentabilidade de
longo prazo, da qual depende a própria existência dos pescadores e da sua atividade;
não comprometer o meio ambiente bem como os recursos naturais de que dependem é
não comprometer a sua existência. Ranger, Kenter, Bryce, Cumming, Dapling, Lawes, e
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Setembro 2024, pp. 81-103
Educação, Sustentabilidade e Conhecimento Ecológico Local
Marta Torres, João Mouro, Mônica Mesquita
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Richardson (2016) referem “(…) to protect wild species and habitats they are primarily
about spatially regulating human behaviour and inevitably have impacts on individuals
and communities, especially in busy, inshore sea areas” (p. 345). Deste modo, os jovens
estudantes das comunidades piscatórias têm um papel crucial na educação ambiental e
na participação sustentável do seu habitat local e global, podendo minorar o impacto das
ações humanas no meio ambiente, promovendo a solução e redução de conflitos, e
assegurando a conservação das suas comunidades e do meio que as rodeia e da qual
dependem, indo ao encontro do relatório da UNESCO (2017) “(…) the essence
sustainability-oriented learning lies in the ability to respond, reflect, rethink and
recalibrate-and not just once, but repeatedly, when changing circumstances demand it
us.”(p.18). Este estudante torna-se o elo mais importante na relação a estabelecer com
o meio ambiente e as comunidades que usufruem do mesmo.
Neste sentido, este estudo pretende objetivar de que modo a pertença ecológica das
ações dos alunos está comprometida com os fatores de ordem social, cultural e
económica, ou seja, com a ação humana. O conhecimento ancestral dos mesmos, que
se perpetua no tempo pela tradição de aquisição de conhecimento intergeracional como
é o caso da Arte Xávega (Santos, 2009; Stratoudakis, Gonçalves, Oliveira & Mesquita,
2022), interliga-se com o meio natural da comunidade. Valorizar a ancestralidade,
silenciosa no quotidiano da mesma, implica uma reflexão complexa e sistémica acerca
de cada um e do coletivo. Segundo Barata (2014), “a aceitação das ações de educação
comunitária e pessoal e do incitamento à criação de uma consciência cívica e
reivindicativa são o exemplo perfeito da capacidade de uma coletividade agir a partir do
seu interior, ainda que apoiada num conjunto de vontades e valências exteriores e
empenhadas” (p. 174).
Na busca de um caminho plural Khotari, Escobar, Demaria e Acosta (2019), considera-
se, neste estudo, a abordagem desenvolvida por D’Ambrosio (2008) assente na
diversidade de olhares para distintos ambientes culturais e sistemas de produção, que
proporciona a possibilidade de refletir sobre questões relacionadas com a
sustentabilidade de forma integral e holística, estimulando a pertença ecológica de cada
aluno e a sua contextualização social, cultural, económica. Segundo este autor, “justifica-
se inserir o aluno no processo de produção de seu grupo social e evidencia a diversidade
cultural e histórica em diferentes contextos” (2008, p. 8). Ao integrar os saberes
informais dos alunos da comunidade piscatória no processo de ensino aprendizagem, tal
possibilitará a produção de conhecimento e criação de políticas públicas que impliquem
a sustentabilidade das comunidades piscatórias, em particular, e de todos, em geral. A
valorização da transmissão do conhecimento intergeracional, é fundamental para a
recuperação e preservação da memória coletiva. No caso das comunidades piscatórias,
a valorização deste conhecimento implica um estreito laço com o meio ambiente que a
rodeia. A participação da minoria piscatória na construção de um currículo em contexto
escolar deve revestir-se de significado e relevância, na promoção da literacia ambiental
e digital.
A construção do currículo pressupõe a integração do conhecimento ancestral dos alunos
da comunidade piscatória. Este conhecimento informal é transmitido gerações através
de um conhecimento holístico do território no qual as comunidades se inserem, dos
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recursos naturais existentes e do meio ambiente. Assim, em contexto escolar, as
estratégias a desenvolver devem possibilitar de maneira sólida e eficaz, o acesso a uma
educação digital que promova a autonomia, a pertença e a responsabilidade dos alunos
na construção, divulgação e disseminação de conhecimento.
Partindo da análise a um conceito mais abrangente e relacionando-o, num primeiro
momento. com comunidades indígenas americanas, o CET estende-se para outras
comunidades que assim se vêm representadas:
Traditional Ecological Knowledge (TEK) is the on-going accumulation of
knowledge, practice and belief about relationships between living beings
in a specific ecosystem that is acquired by indigenous people over
hundreds or thousands of years through direct contact with the
environment, handed down through generations, and used for life-
sustaining ways. This knowledge includes the relationships between
people, plants, animals, natural phenomena, landscapes, and timing of
events for activities such as hunting, fishing, trapping, agriculture, and
forestry. It encompasses the world view of a people, which includes
ecology, spirituality, human and animal relationships, and more (U.S.
National Park Service:
https://www.nps.gov/subjects/tek/description.htm).
Berkes, Colding e Folke (2000) referem que
many Tradicional Ecological Knowledge systems shows that there is a
component of local observation knowledge of species and other
environmental phenomena, a component of practice in the way people
carry out their resource use activities, and further, a component of belief
regarding how people fit into or relate to ecosystems (p. 1252).
De forma a clarificar estes conceitos e a sua utilização, Aswani, Lemahieu e Sauer (2018)
esclarecem,
The value of local ecological knowledge (LEK) (also referred to as
indigenous and traditional ecological knowledge [IEK or TEK]) to
mainstream conservation, began in the early 1990s when various
researchers showed the cost-effectiveness and fairness to indigenous
peoples territorial rights of integrating LEK into development and
conservation projects (p.2).
Assim, uma abordagem a um CEL implica uma abordagem mais profunda a práticas,
valores e processos produzidos pelas comunidades que se pretendem estudar; e estamos
perante um conhecimento tradicional, historicamente enraizado nas atividades das
comunidades. Berkes et al (2000) evidenciam que “Tradicional Ecological Knowledge can
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be viewed as a “library of information” on how to cope with dynamic change in complex
systems” (pp. 1259-1260).
Numa perspetiva de inovação curricular o CEL, a par com o CET, pretende-se evidenciar
a necessidade de mudança de paradigma na educação com a adoção de pedagogias
transformadoras e direcionadas para uma aprendizagem ativa, promotora de sucesso,
que respondam às necessidades locais, de forma a gerar novo conhecimento e
intervenção cívica, por parte das comunidades. Como Nóvoa (2022) refere “o
fundamental é a criação de novos ambientes de aprendizagem” (p. 28), que permitam
que um Museu Virtual surja como espaço de reflexão crítica, gerador de novos
conhecimentos, partilhados e enriquecidos, valorizando-se o conhecimento
intergeracional que estas comunidades apresentam, resultante da organização familiar e
profissional imposta pela dinâmica económica. O Museu pressupõe, também, “um
enquadramento com o meio envolvente, de forma aberta e dialogante com as
comunidades locais em que se inserem.” (Silva, Mouro, Silva, 2023, p.120). O
conhecimento que se produz é um elemento-chave para a recuperação e preservação da
memória coletiva que pode possibilitar o estreitar de laços entre comunidades escolares,
culturais e comunidades políticas.
É fundamental criar pontes entre o conhecimento escolar ou currículo formal, e a cultura
que os diferentes grupos de estudantes adquirem nas suas comunidades, diminuindo a
descontinuidade que existe entre ambos. Esta descontinuidade, tal como mencionado em
Torres (2021), manifesta-se em contexto escolar numa quase total, ou mesmo total,
ausência de saberes relacionados com a pesca ou atividade piscatória no caso da
comunidade piscatória, na Costa da Caparica, e as aprendizagens realizadas nas
diferentes áreas científicas não se relacionam com a atividade piscatória da região, nem
integram o saber informal dos alunos desta comunidade piscatória, nem da sua referida
comunidade. Ainda da mesma obra é possível afirmar que, eventualmente, desenvolvem-
se projetos relacionados com a sua História, em eventos públicos ou outros, mas não
numa perspetiva de integração de saberes associados a um currículo que promova a
educação ambiental e a sustentabilidade, relacionadas com a atividade económica
ancestral e tradicional da região. Torres (2021) demonstra o quase total
desconhecimento da História da comunidade piscatória, apesar de estas comunidades,
inseridas na zona costeira entre a Trafaria e a Fonte da Telha, se encontrarem
documentadas desde há séculos na região e mostrarem-se intimamente ligadas tanto ao
trabalho sazonal (Souto, 2003; Stratoudakis et al., 2022), como às migrações de
comunidades piscatórias vindas da região sul e norte do país. Com a fixação das mesmas
na região, desenvolveu-se uma atividade económica que evidenciava uma economia de
subsistência, precária, relacionada com as Artes da Pesca locais.
Torres (2021) discutiu e verificou que a desvalorização de um conhecimento
intergeracional que estas comunidades apresentam, é resultante da organização familiar
e profissional imposta pela dinâmica económica. Este conhecimento é um elemento chave
dar continuidade a um conhecimento ancestral, visível nas práticas culturais, invisível no
discurso coletivo. No contexto do CEL, Davis & Wagner (2003) referem que,
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(…) one of its greatest strengths is that it is dynamically mutable in so
far as it has the capacity to incorporate each new generation’s
experiences, understandings, and needs, thereby remaining
current and vital. Certainly, political economic, and historical processes
may erode or even destroy the currency and extent to which LEK
systems continue to “live” within cultures, peoples, communities, and
localities. Debased as primitive knowledge and often pushed into the
most peripheral areas of social life, the residuals and remains of many
LEK systems are found only in the memories and worldviews of
communities’ elders and wise persons (p. 467).
A implementação de estratégias a desenvolver deve considerar o contexto cultural em
que estas se vão implementar, para que se possa atuar através de uma orientação
especializada e estruturada. Assim, as estratégias devem revelar-se inovadoras e
exequíveis, as quais fundamentam, de maneira sólida e eficaz, o acesso a uma educação
digital que promove a autonomia, a pertença e a responsabilidade dos alunos na própria
construção de conhecimento. Não é possível conceptualizar os contextos culturais para
explicitar o saber que o aluno aporta e os contextos em que está inserido, enquanto
elemento de um ou mais grupos, de modo a proceder à sua categorização, se não os
compreendermos (Torres, 2021).
Neste sentido, o sistema educativo em que estes alunos se integram, para além da
qualificação e habilitação que possibilita, deve promover uma educação digital que
implique um projeto cívico. Este projeto cívico deve considerar as preocupações com as
comunidades, com o outro, para uma compreensão holística do mundo, indo ao encontro
do que é definido para a Educação para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável,
definidos em Assembleia Geral da ONU a 25 de setembro de 2015. Como Nóvoa (2022)
refere, “O digital não é apenas mais uma “tecnologia”, instaura uma nova relação com o
conhecimento e, por isso mesmo, uma nova relação pedagógica (…)” (p. 50).
Produzir conhecimento, com base em diferentes saberes que se complementam e
valorizam a comunidade é responsabilidade de todos. Em contexto escolar, promover a
sustentabilidade com base na valorização do CEL e do CET é reconhecer a importância
do conhecimento produzido pelo ser humano nos mais variados contextos e situações. O
conhecimento formal e informal, ecológico ou outro, reflete as interações que o ser
humano realiza em diferentes contextos como forma de solucionar problemas que tanto
podem ser do seu quotidiano como base de sustentação ideológica nos processos de
construção científica. A Educação Ambiental e a Sustentabilidade de habitats não podem
ser dissociadas da atividade humana pois é esta que obriga a que o ser humano se
implique com o meio ambiente que o rodeia, de forma a proporcionar um equilíbrio e
sustentabilidade ambientais, e é nesta que o Homem constata que é parte indissociável
da natureza. Não pode existir educação, seja ambiental ou outra, sem envolver as ações
humanas. Deste modo, a abordagem ao CEL e CET revela-se-nos crucial. Reconhecer
que o conhecimento se nos apresenta sob diferentes formas e processos é reconhecer
toda a Herança Natural e Patrimonial das quais usufruímos.
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A integração de abordagens científicas com o CET implica uma formação virada para a
equidade entre parceiros locais e cientistas. É de referir a importância destas parceiras
no sentido em que muitos cientistas desconhecem por completo, ou não valorizam, as
perspetivas culturais que as comunidades apresentam. Esta interligação e partilha de
conhecimento num patamar de igualdade e equidade permite abordagens e construção
de políticas de intervenção com maior impacto, preservando as esferas sociais, culturais,
económicas das comunidades, e também do coletivo. Autores como Armstrong,
Kimmerer e Vergun (2007) referem que a ligação entre Conhecimento Ecológico
Científico e o Conhecimento Ecológico Tradicional é dificultada pela fundação/origem
epistemológica de cada um deles, que divergem e são diferentes. A sociedade atual, em
que a pressão sobre as alterações climáticas, a rapina de recursos, a estigmatização de
comunidades e grupos minoritários que, pela sua dimensão e participação na vida social
e económica das sociedades desenvolvidas é invisível, tem feito regressar as mesmas ao
centro das discussões e delineamento de políticas ambientais que se querem
sustentáveis. Neste sentido, a valorização que se está a dar às mesmas resulta não
de uma capacitação e empoderamento como também do reconhecimento que estas têm
a nível local, regional, nacional e global. Como Freire (1995) refere,
Antes de tornar-me um cidadão do mundo, fui e sou um cidadão do
Recife, a que cheguei a partir do meu quintal, no bairro da Casa
Amarela. Quanto mais enraizado na minha localidade, tanto mais
possibilidades tenho de me espraiar, me mundializar. Ninguém se torna
local a partir do universal. O caminho existencial é inverso (p.25).
Este olhar local possibilita uma atuação em uníssono com as reais necessidades, quer da
comunidade, como da restante. Permite a gestão ponderada e equilibrada de recursos,
potencialidades e, também, a melhoria de políticas, e adequação de estratégias, com
base na interligação entre o Conhecimento Ecológico Científico e o Conhecimento
Ecológico Tradicional. É fundamental estabelecer e potenciar esta relação pois a mais-
valia entre ambas fortalece as comunidades. Também a formação que se pretende
implementar, em contexto formal, com as comunidades, devem incluir este
Conhecimento Tradicional em que diferentes atores, com perspetivas, e conhecimentos
distintos, se completam.
Fundamental é, também, um olhar sobre as práticas culturais associadas às comunidades
em estudo, no presente caso, a comunidade piscatória da Costa da Caparica. O
conhecimento que estas comunidades possuem é o resultado da transmissão do mesmo
desde gerações, mas continuamente desvalorizado no seguimento do que Torres
(2021) refere a” desvalorização de saberes, ofícios e atividades económicas ligadas à
produção artesanal, circunscritos a minorias que a estes se dedicavam, foi-se verificando
lentamente, nos últimos três séculos (p. 1). Esta desvalorização de saberes resultou
numa dicotomia entre o conhecimento científico (formal) e o conhecimento tradicional
(informal). Compreende-se que as comunidades em que o conhecimento ecológico
tradicional e local é muito arreigado, e intrinsecamente associado às suas atividades
profissionais e económicas, reflitam uma desvalorização que compromete esse saber
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fundamental na preservação de recursos naturais bem como na sua utilização, de forma
sustentável. Como Kimmerer (2002) refere, “Traditional ecological knowledge refers to
the knowledge, practice, and belief concerning the relationship of living beings to one
another and to the physical environment” (p. 432). Na sua explicação Kimmerer (2002)
indica que “Traditional knowledge has much in common with scientific ecological
knowledge (SEK), which is not surprising since both traditions derive from the same
source: systematic observations of nature” (p. 433). A sua desvalorização por parte da
sociedade tornou-se endémica, e afastou a comunidade científica das comunidades onde
os conhecimentos tradicionais são a fonte para o desenvolvimento de atividades
artesanais, como a pesca, ou agricultura. Delicado, Schmidt, Guerreiro e Gomes (2012)
reforçam esta dicotomia referindo que “a desvalorização social da atividade parece ter
sido interiorizada pelos pescadores, refletindo-se numa autoavaliação negativa do seu
valor social” (p. 447). Mais do que a desvalorização de um conhecimento transmitido de
geração em geração é uma assume-se como discriminação intelectual. A importância que
as Ciências Sociais têm para a compreensão e valorização de uma Educação Ambiental
relaciona-se com as ações que o ser humano pratica sobre a o meio ambiente, e o
impacto das mesmas, quer na Sociedade como no meio ambiente. Trabalhar em
Educação Ambiental é relacionarmo-nos com os seres humanos que irão atuar no habitat
em que residem ou outros. Assim, tem de se dar voz aos atores locais que desde
gerações se relacionam com o meio ambiente que os envolve.
O paradigma que emerge, na atualidade, face ao anterior como Norden e Avery (2021)
indicam que a “Agenda 21 tereby placed sustaintable development within a paradigm of
global trade liberization as well as of “thecnocentrism” (p. 2). Atualmente, e num
contexto de inquietação de paradigma de desenvolvimento, é fundamental que a
alternativa de desenvolvimento habilite o CET pois a sua desvalorização implicou, e
implica, a rapina de recursos naturais, destruição de habitats e, consequentemente, o
desaparecimento de muitas comunidades ancestrais bem como o seu modo de vida, e o
seu conhecimento que estava intimamente ligado ao habitat de ocupação das mesmas.
Norden e Avery (2021) indicam que:
since the 1950s, activists and researchers had been pointing to the dangers
of environmental destruction. Powerful social movements were engaged in
combatting social and global injustices, as well as the threats of intolerance,
racism, militarization, and warfare. Numerous bodies, organizations, and
international agencies were working on issues such as eliminating poverty,
ensuring safe water supplies, developing renewable energy sources, reducing
pollution, fighting acid rains, conserving species, or reversing desertification
(p.2).
Compreende-se a emergência de todos os atores em desenvolver programas, atitudes e
comportamentos sustentáveis que possibilitem a erradicação da pobreza (um dos muitos
fatores que levam à destruição e depredação dos recursos naturais), radicalismos,
intolerância, racismo e militarização. Estes fatores estão todos intrincados e relacionados.
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A sustentabilidade ambiental, e a Educação Ambiental, passam pelo envolvimento, das
comunidades, tal como se pretende reconhecer neste estudo.
Segundo Norden e Avery (2021) o conceito de Educação Ambiental foi utilizado nas
décadas de 70, 80 e 90, do século passado, e o conceito de Educação para o
Desenvolvimento Sustentável surgiu pela primeira vez em documentos das Nações
Unidas em 1980, mas foi com o relatório Brundtland de 1987 que ganhou força.
Considerando que a globalização impactou na educação, e de que modo uma
aprendizagem global e sustentável se integra (Norden e Avery, 2021), a escolha dos
conceitos e palavras-chave qua surgem neste estudo consideram as comunidades
piscatórias, e a dinâmica e evolução desses mesmos conceitos. Uma das questões que
se levanta é de que modo o conhecimento pode ser incorporado em contextos locais,
bem como trabalhar de modo inter e transdisciplinar. O processo de ensino aprendizagem
deve desenvolver competências ao vel do espírito critico e da problematização de
questões. Pretende-se consciencializar o público em geral para a questão da
sustentabilidade (Norden e Avery, 2021). De novo, a relação entre conhecimento formal
e informal torna-se crucial. Prosseguindo a lógica da ponte que deve ser criada entre os
conhecimentos anteriormente mencionados, é necessário clarificar o que Dawson (2019)
defende que o conhecimento, que ao invés de representar uma verdade objetiva e quase
imutável (o que a transforma em dogma e não ciência), é de facto construído socialmente
enquanto criação de significado que emerge de um processo interativo contínuo, de
experimentação, questionamento e reflexão no seio da comunidade de aprendizagem (p.
271).
É necessário questionarmos e problematizarmos o mundo que nos rodeia considerando
que a linguagem que utilizamos não o representa objetivamente, mas é produzida em
função de relações de poder estrutural que, se não for questionado e contestado, tende
a perpetuar-se indefinidamente (Dawson, 2019), assumido não a objetividade requerida
no mundo da ciência, mas um dogma que se petrifica e não possibilita relações inter ou
transdisciplinares.
Os alunos interagem em espaços em que, por norma, não se movimentam, como a
Instituição Universitária, mas que se passam a apropriar da mesma pela razão válida do
conhecimento que aportam. Esta pertença espacial capacita-os e implica-os num
processo que se pretende de cidadania participativa. Envolverem-se critica e
criativamente com o conhecimento, competências, atitudes e valores necessários para
os desafios relacionados com as questões de sustentabilidade que enfrentamos (Dawson,
2019) é o desejável. Esta experiência pode possibilitar ao aluno o reconhecimento das
inúmeras relações que se estabelecem entre o mundo humano e não humano,
permitindo-lhes estimular a produção de conhecimento. Neste sentido, o aluno, é o
elemento questionador, critico e construtor do conhecimento que pretende partilhar e
divulgar, em função do seu habitat e das relações que estabeleceu ao longo da sua
existência no espaço que partilha com um mundo mais vasto que o humano. A descrição
que possa realizar dos espaços em que se movimenta e a apropriação visual e física dos
mesmos irão representar uma realidade individual sobre o mundo que o rodeia. Esta
perceção de mundos pode permitir-nos compreender de que forma cada um de nós se
apropria e cria imagens e mundos, reproduzindo-os através de códigos que, se não forem
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questionados se podem tornar uma verdade absoluta. Ou seja, através dos olhares sobre
os espaços partilhados poderemos compreender o que cada um de nós experiência, e o
modo como o transmite. É a partir destas realidades individuais que, partilhadas e postas
em questão, se pode produzir um conhecimento com base na multiperspectiva. Como
Ingold (2011) refere,
Why do we acknowledge only our textual sources but not the ground we walk,
the ever-changing skies, mountains and rivers, rocks and trees, the houses
we inhabit and the tools we use, not to mention the innumerable companions,
both non-human animals and fellow humans, with which and with whom we
share our lives? They are constantly inspiring us, challenging us, telling us
things. If our aim is to read the world, as I believe it ought to be, then the
purpose of written texts should be to enrich our reading so that we might be
better advised by, and responsive to, what the world is telling us (p.XII).
Ingold (2011) refere, ainda, que para descrever o mundo é necessário observá-lo e
imergir no mesmo. Observar é estar vivo. O que se pretende que estes alunos da
comunidade piscatória desenvolvam é a competência da vida. De serem um Ser no
espaço que ocupam e partilham. De se manterem fiéis ao conhecimento que pretendem
produzir, que questionem sem a intenção de ter uma resposta predefinida e
estandardizada no (Boaventura, 2010 p. 110). Que se questionem na procura de
respostas a questões das quais não tenham resposta imediata e sejam problematizadoras
e inquietantes. Boaventura (2010) considera que, na atualidade, e em função do
monopólio epistemológico, assistimos a um tempo caracterizado pela discrepância entre
“strong questions and weak answers” (p. 110).
É neste sentido que a Educação Ambiental deve trabalhar. Procurar no seio das
comunidades locais, e no seio da comunidade científica, pontes que produzam soluções
eficazes para o planeta. No caso, para políticas oceânicas que respeitem todos os habitats
e todos os seres que habitam no mesmo, e dele usufruem enquanto comunidades
humanas e não humanas.
Requer-se uma chamada de atenção para o conhecimento se pretende produzir. A
obtenção de dados deve ser complementada entre o conhecimento científico e o
conhecimento dos habitantes, pois como Ingold (2011) refere,
For the things the inhabitant knows are not facts. A fact simply exists. But for
inhabitants, things do not so much exist as occur. Lying at the confluence of
actions and responses, they are identified not by their intrinsic attributes but
by the memories they call up. Thus, things are not classified like facts, or
tabulated like data, but narrated like stories. And every place, as a gathering
of things, is a knot of stories (p. 154).
Os pescadores, sabem para onde ir e o seu dia a dia faz-se através do mundo em que se
movimentam. O movimento, a deslocação, o ato produzido e reproduzido de geração em
geração, através da observação é, em si mesmo, o conhecimento (Ingold, 2011). Nesta
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lógica e segundo o mesmo autor, o Conhecimento Local traduz-se em Conhecimento
Tradicional ao considerar que tal como os lugares são interpretados como contentores,
circunscrito geograficamente, as pessoas - ou melhor, as suas mentes - passam a ser
vistas como contentores dos elementos da tradição que lhes são transmitidos pelos seus
antepassados e que eles, por sua vez, transmitirão aos seus descendentes.
Também Grzybowski (2019) nos implica num outro paradigma, fundamental para a
Educação Ambiental, o da Biocivilização. Os estudantes devem contactar com conceitos
que lhes permitam aceder a níveis de reflexão que desenvolva o pensamento crítico e
criativo, para a produção do seu próprio conhecimento. Os alunos das comunidades
piscatórias que participam nas atividades relacionadas com as Artes da Pesca, podem
assim repensar o modelo de mundo em que se inserem. Estes mais do que outros, estão
interligados com as suas perceções culturais, com o habitat e meio ambiente em que se
movem. Neste sentido, Grzybowski (2019) propõe reintegrar os ecossistemas que
refletem as suas dinâmicas e ritmos, enfatizando que
the core guiding principle should be caring for the ethics of both collective and
individual responsability, with regard to all relations and processes, in the
economy and in terms of power, in science and technology. The following are
the pillars of biocivilization: doing the best that is possible locally, following
the principle of subsidiarity in relation to other levels: keeping the commons
at the centre; creating decente work shared among men and women;
ensuring human rights, equality, freedom, happiness, and the fulfilment of
people`s potentialities, in all their diversity and according to their will (p.
102).
A estreita relação que o Ambiente revela com as atividades humanas, e a própria
humanidade, exige que o trabalho na área da Educação Ambiental se centre, entre
outros, nas ações dos seres humanos sobre o meio ambiente. É neste sentido que o
trabalho nas escolas se revela fundamental. Este trabalho deve ser realizado em paralelo,
e sempre que possível, com as comunidades locais (económicas, profissionais, culturais,
religiosas, entre outras). As mudanças que se verificam emergem, particularmente, de
um contexto político, social, ambiental e económico que necessita, urgentemente de
mudanças estruturais. Refletem-se no plano ideológico, na procura de alternativas a um
desenvolvimento capitalista, de cunho de individualista e autocentrado. Os modelos
interiorizados desde seculos, contextualizados temporal e cronologicamente, têm-se
traduzido nas políticas económicas neoliberais. Neste sentido a urgência de alternativas
de desenvolvimento começam a refletir a necessidade de nos voltarmos para o local. De
voltarmos para “casa”. Considerarmos que o conhecimento informal que adquirimos, em
espaços e contextos que o o escolar ou formal, é fundamental para a compreensão do
mundo e do espaço que nos rodeia. Os modelos aloucados ao conhecimento científico
(observação, experimentação, e resolução de problema) não são mais do que a
continuidade de um processo de sobrevivência que desde milhões de anos
(repostando-nos a um período de hominização Paleolítico Inferior) se tem verificado e
se foi aperfeiçoando, de acordo com as necessidades dos indivíduos, comunidades e
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sociedades. Hoje, sem deixar de considerar esta evolução, deve-se reintegrar os
conhecimentos informais que têm permitido a sobrevivência e subsistência de milhões
de indivíduos. A vasta experiência dos seres humanos trará, com certeza, mais benefícios
em prol do Planeta. Para tal devemos repensar o conceito de desenvolvimento.
Grzybowski (2019) propõe:
Faced whit the crisis of the dominant capitalist civilization, an issue that
emerges as a sine qua non condition is the need to restructure and rebuild
our relationship with nature. (…) To interact with nature is, by definition, to
be living. From a biocivilization perspective, it is in this relationship with
nature that we define the sustainability of life and the planet (p. 102).
Numa lógica de defesa dos Direitos Humanos em que a igualdade e equidade o dois
dos princípios a defender, Grzybowski (2019) considera que a destruição ambiental deve
se vista como uma ameaça a estes valores: “All life forms, as well as the complex inter-
related ecological systems that regulate planet Earth, have the fundamental right to exist
(p. 103). A importância dos Direitos Humanos na Ecologia, e no desenvolvimento das
sociedades, relaciona-se com os conflitos associados à exploração de recursos naturais,
marginalização e eliminação de pequenas comunidades que se dedicam às atividades
artesanais ou primárias (agricultura, pesca, etc.), poluição e outros. Existem várias
propostas para repensar a sustentabilidade a partir das condições ecológicas e culturais
dos territórios das populações (Leff, 2019).
Também é crucial que os alunos desenvolvam a capacidade de responder
adequadamente, através de meios que lhes permitam penalizar os excessos que o poder
instituído exerce sobre populações e comunidades humanas e não humanas, e que
providenciem support for humans and to entire life community” (Ávila-Santamaria,
2019, p. 322).
Outras áreas da Educação Ambiental se podem projetar. Evocando Grzybowski (2019)
“There are no human rights without human responsibilities” (p. 103). Enfatiza-se a
corresponsabilização pois os direitos humanos implicam também a salvaguarda dos
direitos dos “outros”. Para tal, a responsabilidade das sociedades passa pela
responsabilidade na preservação e interdependência do local, do global, e do planeta.
Neste sentido, também cabe aqui referir a importância que a Ecologia Social representa
para alicerçar e consolidar a importância que os seres humanos, a sociedade e as
comunidades têm para a preservação do meio ambiente. A relação entre as comunidades
e o mundo natural está intrinsecamente ligada à Ecologia Social, compreendendo que os
problemas ambientais são, na sua essência de natureza social e política, e as suas raízes
relacionam-se um longo processo histórico de domínio, e hierarquização social (Tokar,
2019).
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Metodologia
A base teórico-metodológica do estudo objetiva a implementação de estratégias para
a promoção de uma Literacia Ambiental, Histórica e Digital, a partir de Ambientes
Tecnologicamente Enriquecidos ATE, sendo o público alvo os estudantes desta
comunidade.
Os objetivos subjacentes a esta investigação identificam-se com:
Coconstruir e implementar um Museu Digital das Artes da Pesca fundamentado nas
seguintes premissas:
Preservação do património material e imaterial
Permitir um acesso global, sem restrições físicas nem temporais ao património
do museu
Promover através da própria plataforma do museu, um espaço de discussão,
cultural e científica permitindo assim um canal alternativo de aprendizagem
não formal/informal/formal.
Desenvolver competências digitais, quer pela curadoria do museu através da
coconstrução, quer através da sua exploração. Promoção de interações entre o
conhecimento formal e informal (conhecimento ancestral da pesca tradicional
local) dos estudantes desta comunidade;
Valorização do CEL e do CET enquanto fatores determinantes para a
sustentabilidade das comunidades piscatórias;
Estratégias a desenvolver:
Formação acreditada para os docentes do Agrupamento da Caparica;
Criação de um currículo no Agrupamento de Escolas da Caparica relacionado
com a especificidade e características locais para a promoção da
sustentabilidade local;
Capacitação dos jovens estudantes ao nível da literacia ambiental, científica e
digital;
Intervenção da comunidade estudantil na resolução de problemas relacionados
com a comunidade piscatória.
Neste estudo considerou-se a coconstrução de saberes por parte dos estudantes,
identificando, estes, as áreas onde pretendem atuar. Dos questionários aplicados (Torres
2021) evidenciam-se, a implementação do Museu Virtual, a implementação do currículo
associado à Comunidade Piscatória e as propostas de Formação para docentes
(acreditada) e alunos na área da Educação Ambiental, a desenvolver no Agrupamento de
Escolas da Caparica, e Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de
Lisboa.
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Sendo este estudo desenvolvido em contexto e espaço escolar, pretende-se alcançar os
objetivos subjacentes ao mesmo, de acordo com “uma matriz cultural e científica,
afirmando a importância do conhecimento, sem ceder à ideologia do “back to basics”
(…), nem a uma escola folclórica afogada numa infinidade de projetos que, tantas vezes,
apenas revelam a dificuldade para renovar práticas pedagógicas. (…) Mas vale a pena
trabalhar para a construção de um espaço público de educação, a cidade educadora”,
no qual a escola se articula com outras instituições, grupos e associações” (Nóvoa, 2022,
p. 59).
Consequentemente, e fundamentado nos estudos de Torres (2021) no que se refere a
conceção de um Museu Virtual desenvolvida junto da mesma comunidade proposta para
esta investigação, o produto final que se pretende é a construção coletiva e
implementação de um Museu Virtual e a criação de um currículo local, revelador de um
conhecimento ancestral e identitário, a procura e escolha, quer de conteúdos, como de
meios de disseminação através de ambientes digitais, objetivando a identificação do que
é essencial, a identificação de blicos-alvo e de problemas relacionados com a
sustentabilidade da comunidade, assentes na observação e análise de “social-ecological
practices and mechanisms in traditional knowledge and practice” (Berkes et al, 2000, p.
XX), com base na tabela proposta pelos autores, recorrendo a metodologias mistas -
Etnografia Crítica (Creswell, 2011) e Design- based- Research, (Wang & Hannafin, 2005)
- e instrumentos variados para aferir acerca das questões chave e objetivos propostos.
A simbiose desta metodologia mista possibilitou a co construção do Museu Virtual,
através da identificação de problemas da comunidade por parte dos alunos, evidenciando
o que a UNESCO preconizou no documento Guidelines on Sustainability Science in
Research and Education (2017) na procura de soluções em que um novo paradigma
“Sustainability Science research and education that result in new knowledge, technology,
innovation and holistic understanding which will allow societies to better address global
and local sustainability challenges” (p.1).
O desenvolvimento do Museu Virtual teve em linha de conta os princípios estabelecidos
pela Sustentabilidade Científica,
Sustainability Science is crosscutting science by nature, having as major goal
to seek complementary cooperation between natural and social sciences, the
humanities, the arts and, in particular, to ensure the participation on diverse
non-academic stakeholders, through a collaborative process of co design, co-
production and co management (Guidelines on Sustainability Science in
Research and Education, UNESCO, 2017, p. 3).
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Quanto ao Museu, e tal como tinha sido delineado no estudo doutoral de Torres (2021),
os temas a incluir apresentam-se tal como na tabela que se segue:
Tabela 1: Conteúdos do Museu Virtual.
Fonte: Autores, 2023
Para tal foi-se construindo o Museu, estando-se a trabalhar os resultados das pesquisas
realizadas e os conteúdos que se pretendem divulgar.
Numa primeira fase foi proposta a criação de uma plataforma online, onde se acede a
diversos espaços ligados entre si, onde através da interação nos diferentes elementos de
cada tema os participantes teriam informação sobre os mesmos, fazendo analogia a
exploração “real” de navegação e observação de artefactos num museu “físico”.
Parâmetros
Temas e conteúdos evidenciados no processo
metodológico
Tipo de museu virtual
Educação/ Património Cultural
Proposta
Disseminação do património cultural das comunidades
piscatórias
Público-alvo
Alunos pertencentes a comunidades piscatórias
Tipos de representação de objetos
significativos do património cultural
CH objects: fotografia, desenho
Tema
Pesca Tradicional
Sub temas
Literacia histórica e Artes da Pesca; Histórias da
comunidade da Costa Caparicana; Atividade de Arte
Xávega; Tipos de embarcação; Sustentabilidade;
personagens; Histórias de vida; Histórias locais;
Artefactos; Trabalho; Origem da pesca; Arte
comunitária; Aventuras em alto mar; Espécies de
peixes; Fauna e flora da Costa da Caparica.
Geografia
Costa da Caparica/ Fonte da Telha
Período de tempo
sem limite
Relação com as Ciências Sociais e
Humanas, Ciências da Natureza
Interdisciplinaridade com ênfase em
Educação/História/Património Local
Meta dados
Dados descritivos que contextualizem o Tema.
Presença de legendas
Interação entre conhecimento Local e conhecimento
Global.
Presença de visitas virtuais e outros
espaços museológicos reais
Links direcionados a espaços museológicos
relacionados com o tema do Museu
Disponibilidade de meios de interação
Com o património cultural digital, associado às
comunidades piscatórias
Guias e recomendações para o uso de
fontes virtuais do museu
Idade, conteúdos do museu, acessibilidade para
utilização no espaço do Museu
Disponibilidade e possibilidade de uma
conta pessoal
Criação de suas próprias coleções com base em
recursos do Museu Virtual
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Figura 1: Exemplo de imagem e elementos interativos.
Fonte: Smart Fishing, 2019
Nesta fase de coconstrução e delineamento de estratégias tem-se verificado um
reajustamento quanto à abordagem a ter sobre as temáticas, evidenciando-se as que
estão relacionadas com questões do quotidiano e que implicam a gestão da atividade da
pesca, formação dos elementos da comunidade piscatória, participação e intervenção no
delineamento de políticas que impliquem diretamente a vida das comunidades, como as
políticas económicas que impactam a gestão de recursos marinhos, piscícolas, de
Ambiente particularmente as relacionadas com o turismo, por a zona da Costa da
Caparica ser área balnear, e neste momento um ponto de confluência para atividades
desportivas.
Figura 2: Exemplo de imagem e elementos interativos.
Fonte: Smart Fishing, 2019
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Figura 3: Exemplo de imagem e elementos interativos.
Fonte: Smart Fishing, 2019
Figura 4: Exemplo de imagem e elementos interativos.
Fonte: Smart Fishing, 2019
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Figura 5: Exemplo de imagem e elementos interativos.
Fonte: Smart Fishing, 2019
Figura 6: Exemplo de imagem e elementos interativos.
Fonte: Smart Fishing, 2019
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O currículo a implementar evidencia temáticas como: O Oceano e a sua relação com a
Paisagem Protegida da Arriba Fóssil; História da Comunidade Piscatória da Costa da
Caparica; Personagens de relevo; A comunidade (entrevistas, histórias); Ancestralidade
e permanência de práticas culturais e económicas; Desafios para o século XXI (políticas
de intervenção: educação ambiental; atividades económicas e profissões, turismo).
Relativamente às propostas de formação, no seu delineamento os estudantes
consideraram:
Integração da multiperspetiva, nos currículos;
Integração de estudantes das comunidades na divulgação e disseminação dos
conteúdos, enquanto formadores;
Integração das histórias orais e contadas intergeracionalmente.
O delineamento de Formação com experts e alunos da comunidade de Pescadores
resultará na aplicação de três sessões a terem lugar em espaço escolar de Ensino Básico
e Universitário, em que ambos os atores (experts e alunos) darão as sessões
conjuntamente para um público-alvo de docentes e alunos. As sessões têm como
temáticas:
Artes da Pesca e a sua importância a vel local, nacional e global
O oceano e as comunidades piscatórias. O habitat de comunidades naturais e
humanas.
Podemos desconstruir conceitos? Conhecimento Científico Ecológico e
Conhecimento Ecológico Local e Tradicional.
Direitos do Oceano: o Parlamento Oceânico. Propostas e expectativas.
Resultados e conclusão
O estudo em processo de desenvolvimento pretende que os estudantes da comunidade
piscatória da Costa da Caparica desenvolvam competências no âmbito da Educação
Ambiental e Digital, promovendo-se para tal, atividades em que os mesmos estejam
diretamente implicados na sua construção. Desde o estudo doutoral (Torres, 2021) até
à presente data, em que se desenvolve um estudo pós doutoral, os estudantes têm
mantido contacto com a investigadora e desenvolvido atividades com a mesma, das quais
resultou a construção de um artigo publicado com uma das estudantes da comunidade
(Interfaces Educativas e Cotidianas Pescadores, 2023), dando assim corpo ao tão
desejado envolvimento destes jovens na identificação e problematização de questões
relacionadas com a sua comunidade. No entanto, muito dificilmente se encontram nas
instituições universitárias currículos de áreas do saber como Antropologia, Biologia,
História, Sociologia entre outros, que incluam o Conhecimento Ecológico Tradicional.
Estas pontes devem ser realizadas, para uma compreensão holística e integradora do
conhecimento. Deve, também, potenciar-se formação que exija a presença de membros
das comunidades locais que partilhem o seu conhecimento para uma melhor gestão de
recursos. Os jovens estudantes destas comunidades, ao participarem em estudos,
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formação e delineamento de estratégias ao nível da Educação Ambiental, da Política e da
Economia, desenvolvem competências que lhes permitem estar atentos e alertas para a
preservação das comunidades tradicionais e a preservação do seu Conhecimento
Ecológico Tradicional. Esta relação entre Conhecimento Científico e Conhecimento
Tradicional pode, também, permitir a identificação de práticas pouco ecológicas, por
parte das comunidades, servindo assim para a melhoria das mesmas. Também as
competências tecnológicas trabalhadas ao nível do Museu permitiram desenvolver a
literacia digital promotora de empregabilidade, cidadania digital, acesso à informação,
identidade e socialização, particularmente dos atores envolvidos nas diversas funções; a
divulgação e disseminação de informação através da tecnologia como contributo para a
sustentabilidade e o ambiente. A promoção da literacia digital e ambiental no caso,
oceânica, promove uma cidadania ativa, onde se reforça o conceito de Escola enquanto
espaço democrático e equitativo dos saberes tradicionais, locais, técnicos e científicos.
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Agradecimentos/financiamento:
Este trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT, Portugal), através
dos projetos estratégicos UIDB/04292/2020 e UIDP/04292/2020 concedidos ao MARE - Centro de
Ciências do Mar e do Ambiente, e do projeto LA/P/0069/2020 concedido ao Laboratório Associado
ARNET - Aquatic Research Network.
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VISÕES DE GESTORES ESCOLARES SOBRE O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL: REFLEXÕES À LUZ DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
ELAINE ANGELINA COLAGRANDE
elaine.colagrande@unifal-mg.edu.br
Licenciada e Bacharel em Química pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, especialização em
Química pelas Faculdades Oswaldo Cruz, mestrado em Ensino de Ciências (área de concentração:
ensino de Química) pela Universidade de São Paulo (2008) e doutorado em Ciências (área de
concentração: ensino de Química) pela Universidade de São Paulo (2016). Possui experiência
docente no ensino de Ciências e Química, em nível básico e superior. Docente no Instituto de
Química da Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL/MG (Brasil), no Programa de Pós-
Graduação em Química (Educação em Química) e no Programa de Pós-Graduação em Educação
(Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias). Desenvolve pesquisas com os temas: formação
de professores de Química/ Ciências, educação ambiental e ensino de Química/Ciências.
LUCIANA APARECIDA FARIAS
luciana.farias@unifesp.br
Possui graduação Química pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (1998), mestrado (2002)
e doutorado (2006) em Ciências pela Universidade de São Paulo. Pós-doutorado em Educação
Ambiental pelo Programa de Interunidades da USP (2015), especialização em Psicologia
Transpessoal (2017) e Pintura Espontânea (2019). Tem experiência na área de Química
Ambiental, Educação Ambiental e Psicologia Ambiental, atuando principalmente nos seguintes
temas: representações sociais, percepção ambiental, percepção de risco, educação ambiental,
educação socioemocional e questões étnico-raciais. Investiga também a relação entre as práticas
religiosas Umbanda e Candomblé e a Educação Ambiental, a partir da interpretação da Lei
Federal 11.645/08, a qual determina a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e
afro-brasileira nas escolas. Possui curso de produção de documentários na Academia
Internacional de Cinema. Coordena dois projetos de ensino, pesquisa e extensão: Educação
ambiental transpessoal e o papel das religiões afro-brasileiras na educação antirracista e na
formação de professores. Atualmente é professora Associada III da Universidade Federal de São
Paulo (Brasil), campus Diadema, do Departamento de Ciências Ambientais e credenciada no
Programa de Pós-graduação Análise Ambiental Integrada.
LUIZ OMIR DE CERQUEIRA LEITE
luizomir@pucsp.br
Possui graduação em Estatística pela Universidade Estadual de Campinas (1976). Atualmente
professor do Departamento de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Brasil)
e analista sênior da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. Tem experiência em
Ciências de Dados, Probabilidade e Estatística, com ênfase em Análise de Dados, atuando
principalmente nos seguintes temas: emprego e mercado de trabalho.
Resumo
Na perspectiva de que a escola é um importante espaço de construção de conhecimento,
responsável pela formação de cidadãos que sejam críticos e atuantes na sociedade em que
vivem, o presente texto, que apresenta parte de uma pesquisa quantitativa-qualitativa, tem
como objetivo refletir, por meio da identificação de representações sociais, sobre o
entendimento que gestores escolares de escolas municipais, que atendem a educação infantil
e ensino fundamental, do município de Diadema, no estado de São Paulo, Brasil, apresentam
sobre o termo “desenvolvimento sustentável”, considerando a hipótese de que tais
profissionais exercem influência sobre as ações escolares. Como referencial teórico foi
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Setembro 2024, pp. 104-119
Visões de Gestores Escolares sobre o Desenvolvimento Sustentável: Reflexões à Luz
das Representações Sociais
Elaine Angelina Colagrande, Luciana Aparecida Farias, Luiz Omir de Cerqueira Leite
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utilizada a Teoria das Representações Sociais e a Teoria do Núcleo Central. A coleta desses
dados ocorreu por meio da técnica de evocação livre de palavras. Em um questionário
aplicado, os respondentes indicaram palavras que lhe vinham à mente para o tema indutor
“desenvolvimento sustentável” e, posteriormente, construíram uma frase na qual utilizaram
as palavras evocadas para o tema em questão. O tratamento dos dados foi realizado por meio
da análise prototípica e de conteúdo. Os resultados sugerem tendência ao entendimento de
uma visão mais conservacionista no que concerne à relação sociedade/ambiente, com citações
voltadas à preservação da natureza e a ações para resolução dos problemas ambientais. A
partir desses dados, buscou-se refletir como a educação ambiental no ambiente escolar pode
contribuir no debate sobre a construção de uma sociedade que seja sustentável.
Palavras-chave
Desenvolvimento sustentável, educação ambiental, representações sociais, espaços
escolares, educação.
Abstract
From the perspective that the school is an important space for the construction of knowledge,
responsible for the formation of citizens who are critical and active in the society in which they
live, this text, which presents part of a quantitative-qualitative research, aims to reflect,
through the identification of social representations, on the understanding that school
managers of municipal schools, which serve early childhood and elementary education, in the
municipality of Diadema, in the state of São Paulo, Brazil, present about the term “sustainable
development” , considering the hypothesis that such professionals exert influence on school
actions. The Theory of Social Representations and the Central Nucleus Theory were used as
theoretical references. These data were collected using the free word recall technique. In a
questionnaire administered, respondents indicated words that came to mind for the inducing
theme “sustainable development”, and subsequently constructed a sentence in which they
used the words evoked for the theme in question. Data processing was carried out through
prototypical and content analysis. The results suggest a tendency towards understanding a
more conservationist vision regarding the society/environment relationship, with citations
focused on nature preservation and actions to resolve environmental problems. Based on
these data, we sought to reflect on how environmental education in the school environment
can contribute to debate about the construction of a sustainable society.
Keywords
Sustainable development, environmental education, social representations, school spaces,
education.
Como citar este editorial
Colagrande, Elaine Angelina, Farias, Luciana Aparecida & Leite, Luiz Omir de Cerqueira (2024).
Visões de Gestores Escolares sobre o Desenvolvimento Sustentável: Reflexões à Luz das
Representações Sociais. Janus.net, e-journal of international relations. VOL15 N1, TD1 Dossiêr
temático Rede Lusófona de Educação Ambiental: perspectivas de cooperação para construir
respostas sociais a uma crise socioambiental global”. Setembro de 2024. DOI
https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0224.6.
Artigo recebido em 30 de junho de 2024 e aceite para publicação em 20 de julho de 2024.
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VISÕES DE GESTORES ESCOLARES SOBRE O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL: REFLEXÕES À LUZ DAS REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS
ELAINE ANGELINA COLAGRANDE
LUCIANA APARECIDA FARIAS
LUIZ OMIR DE CERQUEIRA LEITE
Introdução
O interesse do presente artigo se volta à discussão sobre o termo “desenvolvimento
sustentável” e possíveis impactos de seu entendimento sobre o contexto educacional.
Esse termo foi consolidado em 1987, a partir da divulgação do relatório Brundtland e há
diversas discussões envolvendo seu sentido. No âmbito da América Latina
controvérsias em torno de seu significado, com posicionamentos favoráveis e outros
críticos (Meira e Sato, 2005; Loureiro, 2014; Henning e Ferraro, 2022). Nascimento
(2012: 51) ressalta que o desenvolvimento sustentável se transformou em um campo
de disputa, apresentando discursos complementares, por um lado, de oposição, por
outro, e o domínio da polissemia é a expressão maior desse campo de forças, que passa
a condicionar posições e medidas de governos, empresários, políticos, movimentos
sociais e organismos multilaterais.”
Em 2002 ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento em Johanesburgo, África do Sul. Nesse encontro, por meio da resolução
57/254, a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou a Década da Educação para
o Desenvolvimento Sustentável, no período de 2005-2014 (United Nations, 2002),
proposta que causou reflexões e críticas, dado o conhecimento constituído e embates
sociais propostos no campo da Educação Ambiental.
Posteriormente, no ano de 2015, a ONU elaborou a Agenda 2030, que expressa um
conjunto de objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) globais e metas que visam
garantir o desenvolvimento sustentável, apesar de, como apresentado, tal termo gerar
algumas discussões favoráveis e outras contrárias, dado o atual modelo social de
desenvolvimento capitalista, que de nenhuma forma favorece a sustentabilidade do
planeta. Alguns trabalhos evidenciam e promovem importantes debates para se refletir
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sobre os sentidos e objetivos da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, da
Educação Ambiental e da Educação para Sociedades Sustentáveis (Novick, 2009; Barbieri
e Silva,2011; Meira e Sato,2005).
Nessa discussão, Loureiro (2014) propõe importante reflexão em torno do uso do termo
“desenvolvimentoseguido do termo “sustentável” e apresenta um resgate histórico que
buscou evidenciar e auxiliar a compreensão sobre o contexto no qual esses termos
surgiram e como os diferentes paradigmas se sobrepõem a outros, fato que pode gerar
entendimentos contraditórios. Assim, nasce a pergunta: em um modelo social voltado ao
enfoque econômico, o entendimento sobre crescimento, desenvolvimento e progresso
econômico, palavras que possuem imensa diversidade de significados e de
intencionalidades, seria compatível com os princípios da sustentabilidade
socioambiental?
Trovarelli et al. (2021) ressaltam que atualmente, no campo ambientalista, se entende
a necessidade de mudança para outro modelo de sociedade. Tal trabalho discute a
transição para sociedades sustentáveis com base no Tratado de Educação Ambiental para
Sociedades Sustentáveis, constituído em 1992. No âmbito dessa discussão também é
possível encontrar na literatura outros estudos que versam sobre a construção de
sociedades sustentáveis, entre eles os de Pedrini e Brito (2006), Carvalho (2008) e
Novick (2009). Loureiro (2014: 61) destaca que sociedades sustentáveis
refere-se à negação da possibilidade de existir um único modelo ideal
de felicidade e bem-estar a ser alcançado por meio do desenvolvimento
(claramente entendido por seus adeptos como algo linear, evolucionista
e universal). Nesta perspectiva, há necessidade de se pensar em várias
vias e organizações sociais, constituindo legítimas formações
socioeconômicas firmadas sobre modos particulares, econômicos e
culturais, de relações com os ecossistemas existentes na biosfera. Tem
como premissa a diversidade biológica, cultural e social e a negação de
qualquer homogeneização imposta pelo mercado capitalista ou pela
industrialização.
Ainda sobre sociedades sustentáveis, apoiamos nossa reflexão em Carvalho (2008: 47)
ao destacar que a ideia de sociedade sustentável está vinculada a um meio ambiente que
“não é reduzido a um conjunto de recursos naturais escassos ameaçados pela sociedade,
mas um bem social comum, constitutivo da esfera blica, portanto, campo de excelência
da ação cidadã.”
Diante deste contexto histórico e reflexões posteriores, entende-se que a educação
exerce importante influência na construção de uma sociedade que seja sustentável, no
sentido indicado por Meira e Sato (2005: 6), que “reivindica uma diminuição entre as
linhas que separam o excesso de consumo e a privação.”
A Educação Ambiental pode contribuir para o despertar de novas atitudes e valores, que
visem uma sustentabilidade (no sentido de capacidade de manutenção da vida no
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planeta) baseada no respeito a todas as formas de vida, como bem destaca o Tratado de
Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. A
Educação Ambiental, conforme ressalta Novick (2009), deve possuir o pensamento crítico
e inovador como fundamento para a transformação e construção social, e tal objetivo
deve contemplar tanto a educação formal como a não-formal. Leff (2015: 250) também
ressalta que a Educação Ambiental, na busca de uma articulação entre os educandos e a
construção de conhecimentos, anseia “fomentar o pensamento crítico, reflexivo e
propositivo face às condutas automatizadas, próprias do pragmatismo e do utilitarismo
da sociedade atual.” É necessário e importante voltar o olhar para a escola, entendendo-
a como espaço de formação individual e coletiva.
No que diz respeito aos espaços escolares, um dos importantes atores são os gestores
escolares, profissionais responsáveis pela organização administrativa e estrutural das
escolas, e que atuam também na dimensão pedagógica, como por exemplo na mediação
para construção dos projetos político-pedagógicos das escolas.
Nesse sentido, o presente artigo relata parte de uma pesquisa realizada em Diadema,
município da região metropolitana da cidade de o Paulo, Brasil, e tem como objetivo
refletir, por meio da identificação de representações sociais, sobre o entendimento que
gestores escolares de escolas municipais, que atendem a educação infantil e ensino
fundamental do referido município, apresentam sobre o termo “desenvolvimento
sustentável”, considerando a hipótese de que tais profissionais exercem influência sobre
as ações escolares. Para apresentar e refletir sobre os resultados desse artigo, utilizamos
como referencial teórico a Teoria das Representações Sociais (TRS) e a Teoria do Núcleo
Central (TNC).
Teoria das Representações Sociais e Teoria do Núcleo Central
Em um breve relato, a TRS advém do campo da Psicologia Social e foi apresentada por
Serge Moscovici, em 1961, em seu trabalho intitulado La psychanalyse, son image et son
public. Moscovici (1981, apud Sá, 1996:1) advoga que uma das formas de entendimento
das representações sociais seria “um conjunto de conceitos, proposições e explicações
originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais”. Para Moscovici
(2003: 40), “todas as interações humanas, surjam elas entre duas pessoas ou entre dois
grupos, pressupõem representações”, e destaca que são as interações humanas que as
caracterizam.
Denise Jodelet (2001: 22) propõe caracterizar as representações sociais como “uma
forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático e
que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social.” Velloso
(2009: 84) indica que “A teoria proposta por Moscovici se distingue por sugerir a
existência de um pensamento social que leva o indivíduo a agir de uma forma ou de
outra, resultante das experiências, das crenças e das trocas de informações presentes
na vida cotidiana”.
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A partir dessas considerações sobre a TRS, optamos, neste trabalho, por utilizar a
abordagem estrutural das representações sociais - Teoria do cleo Central - proposta
em 1976 pelo psicólogo social Jean Claude Abric, no âmbito de sua tese de doutorado.
Abric (1998: 28) argumenta que “a representação funciona como um sistema de
interpretação da realidade que rege as relações dos indivíduos com o seu meio físico e
social, ela vai determinar seus comportamentos e práticas”. Velloso (2009) destaca que,
de acordo com essa teoria, saber o conteúdo das representações não é suficiente, é
necessário entender e conhecer sua representação interna.
Abric (1998) propõe que as representações sociais se organizam em dois sistemas,
conforme ilustrado na Figura 1.
Figura 1: Ilustração sobre a organização das RS proposta por Abric (1998).
Fonte: dos autores
O Núcleo Central, conforme Abric (1998), é composto pelos elementos mais estáveis das
representações e são caracterizados por serem resistentes a mudanças. o
Sistema/Elementos periféricos, organizados em torno do Núcleo Central, são mais
acessíveis, mais vivos e concretos. Nele podem ocorrer mudanças, que podem ser
superficiais, considerando as experiências do cotidiano. Para que haja uma mudança no
Núcleo Central das RS é preciso que ocorra um confronto com situações que favoreçam
tal mudança (Abric, 1998).
Optamos por usar os pressupostos da TRS e da TNC como referenciais teóricos da
presente pesquisa, por entendermos que as visões dos gestores escolares sobre o termo
“desenvolvimento sustentável” foram influenciadas por suas experiências e vivências ao
longo de sua trajetória profissional e pessoal. Para a obtenção dos dados que evidenciam
as visões dos participantes, foi utilizado um instrumento de coleta, que será detalhado
nos próximos tópicos.
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O percurso metodológico
A pesquisa descrita nesse artigo, de abordagem quanti-qualitativa, foi desenvolvida,
como dito anteriormente, em Diadema e envolveu 61 escolas públicas municipais de
ensino básico. De acordo com Creswell (2014), pesquisas com essa abordagem utilizam
elementos provenientes tanto da abordagem quantitativa como da qualitativa,
associando-as em determinado estudo e combinando tais elementos de modo a buscar
maior compreensão no que tange ao problema objeto da investigação.
As escolas participantes foram representadas por seus gestores escolares (diretores e/ou
coordenadores pedagógicos). Os participantes responderam a um questionário que
buscou captar aspectos demográficos e sociais das escolas (que correspondeu a parte
quantitativa da pesquisa) como também sobre as representações sociais de seus
gestores com relação à algumas temáticas (parte qualitativa). No caso desse trabalho, a
temática envolvida foi “desenvolvimento sustentável”.
A coleta dos dados ocorreu em 2018 no âmbito de um projeto maior denominado “Atlas
Ambiental”, desenvolvido em parceria pela Universidade Federal de São Paulo campus
Diadema e a prefeitura do município de Diadema. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê
de ética em Pesquisa da referida universidade e os participantes aceitaram e assinaram
o termo de consentimento livre e esclarecido. O anonimato dos respondentes foi
preservado conforme consta no referido termo.
O relato da investigação
No contexto do projeto Atlas Ambiental Diadema uma das equipes participantes,
encarregada do desenvolvimento da parte relacionada ao campo da Educação Ambiental
e composta pelos autores desse artigo, visitou as escolas municipais (população),
esclarecendo aos gestores sobre os objetivos do projeto e a importância do
preenchimento do questionário. Todas as escolas, representadas por seus gestores,
responderam ao questionário composto de 24 perguntas, elaboradas com o propósito de
conhecer os espaços escolares e, principalmente, compreender o desenvolvimento, em
seu âmbito, dos projetos relacionados ao meio ambiente e a Educação Ambiental.
O presente estudo focalizou a pergunta 10 do questionário, que tratou especificamente
do entendimento dos gestores sobre o termo “desenvolvimento sustentável”.
Destacamos que as respostas coletadas se referem apenas às representações de um
grupo específico de profissionais das escolas por entendermos que, de alguma forma,
esses profissionais exercem influência sobre as ações planejadas e conduzidas nos
espaços escolares que gerenciam.
O enunciado da questão solicitou ao respondente que, observando a ordem, elencasse
espontaneamente as cinco primeiras palavras que naturalmente lhe ocorressem ao
pensar sobre o termo indutor “desenvolvimento sustentável”. Além disso, foi solicitado
aos respondentes que construíssem uma frase utilizando as cinco palavras evocadas.
Essa ação teve como objetivo identificar não somente as concepções com relação ao
tema, mas também o sentido atribuído às palavras.
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O tratamento e análise dos dados
Os dados relativos à pergunta10 dos questionários foram tratados usando a técnica de
evocação livre de palavras que, como indica Jean Claude Abric, permite a identificação
de representações sociais, as quais nem sempre aparecem em descrições e relatos das
pessoas (Abric, 1994 apud SÁ, 1996: 116). Vergès (1992 apud Sá, 1996: 117) propôs
uma técnica para analisar essas representações a partir da combinação estatística entre
a frequência de evocações das palavras (quantidade de vezes que a palavra foi citada) e
a ordem de citação dessas palavras. Essa combinação é conhecida como análise
prototípica.
Wachelke e Wolter (2011: 522) argumentam que a análise prototípica "[...] parte do
pressuposto que os elementos da representação social com importância em sua estrutura
são mais prototípicos, isto é, mais acessíveis à consciência". Quando se faz o cruzamento
das frequências das palavras evocadas com sua ordem de evocação, é possível construir
um diagrama formado por quatro quadrantes, conforme apresentado na Figura 2.
Figura 2: Representação do diagrama de quatro quadrantes.
Fonte: adaptado de Oliveira et al. (2005).
O eixo horizontal, representado na Figura 2, se refere a ordem média de evocação das
palavras (OME) e o eixo vertical à frequência com que tais palavras foram evocadas (FE).
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A origem dos quadrantes ocorre no ponto [OEMed, FEMed], onde OEMed corresponde à média
das ordens médias de evocação das palavras e FEMed corresponde à média das
frequências de evocação das palavras. O diagrama produzido contém quatro quadrantes,
cada um com características específicas, a saber: (i) no quadrante 1 identifica-se o núcleo
central (NC), região na qual aparecem as palavras consideradas mais importantes para
os respondentes. Elas possuem alta frequência e ordem de citação mais baixa (evocação
nas primeiras posições); (ii) no quadrante 2 está a primeira periferia, do que as palavras
do NC; (iii) zona de contraste (ZC), que se refere ao quadrante 3, é a região em que as
palavras possuem baixa frequência de citação, mas foram lembradas mais prontamente,
fato que pode revelar representações com características diferenciadas; e, finalmente,
(iv) a segunda periferia (SP), no quadrante 4, que corresponde à região com baixas
frequências de evocação e palavras citadas mais tardiamente.
Oliveira et al. (2005: 575) destacam que "[...] a técnica de evocação livre de palavras
tem por objetivo apreender a percepção da realidade de um grupo social a partir de uma
composição semântica preexistente". A partir da análise prototípica sobre o tema indutor
“desenvolvimento sustentável”, foi possível construir o diagrama das representações dos
participantes das instituições escolares.
Para o tratamento das frases construídas pelos gestores, utilizou-se a metodologia
inspirada na análise de conteúdo, com base em Bardin (2016). As frases foram lidas
diversas vezes, caracterizando a etapa de “leitura flutuante”. Posteriormente, foram
organizadas para a composição das unidades de contexto. A partir da identificação do
conteúdo das mensagens implícitas em tais frases, determinou-se as unidades de registro
em cada uma. Com as unidades de sentido construídas (unidades de contexto e de
registro), realizou-se o processo de categorização, cujas categorias emergiram dos
resultados, ou seja, a posteriori. O diagrama de quatro quadrantes e a categorização das
frases estão apresentados no tópico de resultados e discussão.
Resultados e discussão
Análise prototípica
A partir das respostas coletadas, foram analisadas as evocações dos 59 gestores que
responderam à pergunta 10 (duas escolas apresentaram as palavras, mas não indicaram
as frases solicitadas), que tratou especificamente sobre o termo indutor
“desenvolvimento sustentável”. A partir do tratamento de dados com as palavras
evocadas sobre o termo indutor, foi gerado o diagrama representado na Figura 3:
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Figura 3: Diagrama de representações dos gestores tema indutor: desenvolvimento sustentável.
Fonte: dados da pesquisa.
Na construção do diagrama representado na Figura 3, observou-se na base de dados a
presença de 140 palavras diferentes, do total de 293 evocações apresentadas. Com a
intenção de que o diagrama fique mais objetivo, arbitrou-se em seis a frequência mínima
para uma palavra evocada ser considerada em sua construção (evocada no mínimo por
10% dos respondentes). Foram encontradas 11 palavras nessas condições.
No quadrante que representa o NC, é possível observar que as palavras evocadas
primeiramente foram “reciclagem” (n=25) e “preservação” (n=11). A primeira obteve
maior número de evocações e a segunda, apesar de menor frequência, foi mais evocada
nas primeiras posições, fato que nos leva a inferir a possibilidade de os respondentes se
aterem a uma representação com maior proximidade a uma visão mais conservacionista.
No caso da palavra reciclagem, que aparece com maior frequência em todo o diagrama,
é possível inferir uma representação com maior proximidade a uma visão mais
pragmática, no sentido de resolução de problemas. Para as referidas visões
conservacionista e pragmática, nos apoiamos no estudo de Layrargues e Lima (2014),
que as discutem no campo da Educação Ambiental. A palavra educação”, que possui
vínculo direto com o contexto do público-alvo, aparece na ZC, evocada em uma
frequência baixa, mas, para aqueles que a citaram, foi apresentada nas primeiras
posições.
Análise do conteúdo das frases sobre “desenvolvimento sustentável”
As frases construídas foram lidas e analisadas atentamente, com o objetivo de entender
o sentido das representações. A partir da metodologia de análise de conteúdo, em um
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processo baseado nas indicações de Bardin (2016), realizou-se a codificação desse
material, conforme descrito na metodologia. Foram consideradas 57 frases, visto que
dois gestores não registraram suas mensagens.
O conjunto de categorias, que emergiram do tratamento dos dados, está representado
na Tabela 1, na qual consta sua descrição e a frequência de respostas:
Tabela 1: Categorias das frases sobre desenvolvimento sustentável.
Categoria
Descrição da categoria
Frequência (n)
Ações para
conservação/preservação
do meio ambiente
Respostas que indicam ações práticas
relacionadas à conservação/preservação do
meio ambiente ou ainda expressam de modo
explícito o contexto de preservação
ambiental.
21 (37%)
Consciência ambiental e
participação social
Respostas que indicam a importância de
desenvolver uma consciência ambiental para
resolver problemas relacionados ao meio
ambiente, além do necessário envolvimento
social em tais questões.
16 (28%)
Ações para melhoria/
manutenção da qualidade
de vida
Respostas que relacionam o
desenvolvimento sustentável a ações que
visam a melhoria ou a manutenção da
qualidade de vida do ser humano.
8 (14%)
Modelo
econômico
de
produção e
consumo
Adequação
ao modelo
econômico
vigente
Respostas que indicam ações para resolução
de problemas adequando-as ao modelo de
produção e consumo vigente.
10 (18%)
Crítica ao
modelo
econômico
vigente
Respostas que confrontam o modelo
econômico vigente e o esgotamento dos
recursos naturais.
2 (4%)
Fonte: dados da pesquisa
A partir da Tabela 1 é possível notar que a maior frequência se deu para a categoria
“ações para conservação/preservação do meio ambiente”. Conforme a descrição da
categoria, as frases que a compuseram tendem à uma perspectiva de desenvolvimento
sustentável vinculado a preservação ambiental, como expressam algumas frases
elencadas a seguir, nas quais estão codificadas pela letra G seguido de um número (1 a
57), que representa os gestores das escolas, garantindo assim o anonimato.
“Devemos cuidar do meio ambiente preservando, reciclando e reutilizando”. (G15,
grifo nosso)
“Para um bom desenvolvimento sustentável é preciso que a sociedade se aproprie do
espaço em que vive, participando da coleta seletiva e reciclagem de materiais
como garrafas PET”. (G39, grifo nosso).
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As mensagens expressas nas frases coadunam com as palavras presentes no Núcleo
Central do diagrama elaborado por meio da análise prototípica que correspondem à
reciclagem e preservação.
A categoria denominada “consciência ambiental e participação social” foi a segunda mais
frequente. Um dado interessante ocorre para o termo consciência ambiental”. Foi
possível identificar uma frequência alta (n=16) nas frases formadas, entretanto no
diagrama esse termo localiza-se na segunda periferia (baixa frequência de evocação e
tal palavra foi citada nas últimas posições 6 evocações), o que sugere que a
representação principal se aproxima de ões de preservação. O termo “consciência
ambiental” é consideravelmente citado quando o assunto se relaciona a preservação do
meio ambiente, mas entende-se que não há muita clareza sobre seu real significado. As
frases a seguir expressam essa reflexão:
“Através da educação pode-se desenvolver a consciência para a reutilização de
materiais, valendo-se da inovação e principalmente criatividade. (G33, grifo nosso).
“Um mundo melhor será construído se for trabalhado através da educação a consciência
de um consumo sustentável, buscando a preservação dos bens naturais”. (G20, grifo
nosso).
No que tange ao uso do termo “consciência”, é preciso refletir sobre sua abrangência,
bem como o campo teórico que o fundamenta, conforme mostra o estudo de Santos et
al. (2013), pois conscientizar não se limita a uma ação voltada para a reprodução de
informações ambientalmente “corretas”, situação que se aproxima de uma visão
comportamentalista. O que se deseja é uma conscientização que visa a formação de
cidadãos capazes de pensar criticamente e tomar decisões diante dos contextos sociais,
nesse caso, contextos que dizem respeito ao campo ambiental.
A categoria “ações para melhoria/manutenção da qualidade de vida” apresentou uma
frequência de oito respostas e sua descrição se relaciona à manutenção da qualidade
de vida do ser humano. Respostas que exemplificam a categoria são:
“A educação com perspectiva de conservação, mudança de atitude e crescimento
racional pode garantir a qualidade de vida para a futura geração. (G 43, grifo
nosso)
“Desenvolvimento sustentável, por meio da reciclagem pensamos preservar o
ambiente e melhorar a qualidade de vida com os alimentos da horta. (G 59, grifo
nosso).
Novamente destaca-se a ideia de melhoria da qualidade de vida vinculada
essencialmente a preservação ambiental, não havendo, de modo explícito no conteúdo
das frases, elementos que evidenciam uma reflexão ou citação sobre os modos de vida,
considerando aspectos culturais e políticos, e os problemas sociais envolvidos na vida
cotidiana.
A categoria “modelo econômico de produção e consumo” apresentou respostas que de
alguma forma relacionaram o desenvolvimento sustentável a aspectos econômicos. Das
12 respostas classificadas nessa categoria, 10 se referiram a ações para resolução de
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das Representações Sociais
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problemas, adequando-as ao modelo de produção e consumo vigente, e duas colocaram
em discussão o modelo econômico vigente e o esgotamento dos recursos naturais. Em
uma comparação com o diagrama das representações sociais, é possível verificar que a
única palavra relacionada a aspectos econômicos foi “economia”, que apareceu no
quadrante correspondente a segunda periferia, ou seja, a palavra foi evocada poucas
vezes e em posições mais tardias.
Como exemplos de respostas dessa categoria, tem-se:
“O desenvolvimento sustentável depende da parceria e conscientização das pessoas
levando em conta a economia, dinheiro, reciclagem e reduzir o lixo produzido
pelo ser humano”. (G25, grifo nosso).
“Reaproveitamento de alimentos ajuda na preservação do ambiente e economia”.
(G31, grifo nosso)
Essas respostas evidenciam adequações ao modelo de economia vigente sem propor ou
apresentar reflexões sobre nossas formas de vida e os contextos sociais e culturais
envolvidos nessa questão. Nesse ponto nos reportamos a preocupação questionada em
nossa introdução: o necessário debate sobre a ideia de progresso e desenvolvimento e a
desejada sustentabilidade socioambiental, no sentido de capacidade de manutenção da
vida e dos recursos do planeta. Duas respostas classificadas nessa categoria
apresentaram indicativos dessa reflexão, mesmo que de modo superficial:
“As empresas investem muito em propaganda para aumentar suas vendas e
produção, pensando apenas no consumo e não na proteção de nossas riquezas
naturais.” (G18, grifo nosso)
“Não podemos deixar que nem o progresso ou o desenvolvimento econômico
interfiram na qualidade de vida nem esgotem os recursos naturais do futuro da
humanidade.” (G 51, grifo nosso)
A respeito do contexto dessa categoria, Sorrentino (2011) apresenta uma importante
reflexão quando destaca que, no que diz respeito ao desenvolvimento sustentável,
parece haver duas tendências: uma que busca propor soluções que se relacionam com
necessidades e problemáticas ambientais gerais, mas tais propostas são produzidas
considerando a lógica de mercado vigente, e outra que tem as mesmas finalidades com
a inclusão social e participação na tomada de decisões, mas que se restringem a ações
regionais. Segundo esse autor, as limitações presentes nessas duas tendências precisam
ser superadas. Nas palavras de Sorrentino (2011: 23), “se desejamos a construção de
sociedades sustentáveis que beneficiem a todos os habitantes e elementos com os quais
compartilhamos este planeta, precisamos superar as limitações dessas duas tendências,
o que exige políticas públicas voltadas para a inclusão e participação”. Certamente, um
desafio a ser superado.
Ao término da análise das mensagens, é possível inferir que as representações e as frases
construídas têm aproximação com ações voltadas à preservação ambiental e à
necessidade de mudanças comportamentais. Os resultados sugerem a importância de
um aprofundamento no que tange ao entendimento do termo desenvolvimento
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sustentável” e de outros vinculados a ele, como práticas sustentáveis, sustentabilidade
e suas dimensões, sociedades sustentáveis. Loureiro (2014: 56) reflete que:
sustentável não é o processo que apenas se preocupa com uma das
duas dimensões [econômica e cultural], mas que precisa contemplar
ambas, o que é um enorme desafio diante de uma sociedade que prima
pelos interesses econômicos acima dos demais.
Debates que envolvam esses temas são essenciais para favorecer maior compreensão,
o que poderá implicar no planejamento de ações e deveampliar a abrangência de
projetos nos espaços escolares. Nesse contexto, a educação ambiental exerce um
importante papel, considerando o processo formativo na construção de atitudes e
valores, a compreensão sobre as relações sociedade-natureza e nosso papel social (como
indivíduo e como grupo), e o corpo de conhecimentos já construídos e estabelecidos
nesse campo, o que pode favorecer a mudança de representações sobre esses termos.
Na busca da transição para uma sociedade que seja sustentável, com respeito a
diversidade cultural e ambiental, o entendimento sobre os diferentes discursos e
interesses vinculados ao desenvolvimento sustentável (Nascimento, 2012), pode
influenciar tomadas de decisão e participação social, considerando que a escola é um
espaço de formação cidadã e construção de conhecimentos.
Considerações finais
O presente texto buscou relatar, a luz das representações sociais, a visão que gestores
das escolas públicas de ensino básico municipais de Diadema possuem sobre o termo
“desenvolvimento sustentável”. Os resultados apresentados refletem apenas as
concepções desses gestores escolares, que são parte integrante da comunidade escolar.
Para um levantamento mais profundo sobre o tema, seria necessária a utilização de
outros instrumentos e a participação dos demais atores do universo escolar. Entretanto,
os dados discutidos evidenciam importantes considerações.
De modo mais geral, os resultados apurados apontam que as representações sociais dos
gestores participantes, no que tange ao referido termo, estão voltadas a ões que
buscam a preservação do meio ambiente, o que, no campo da educação ambiental,
caracterizam visões mais conservacionistas e pragmáticas.
O termo “consciência ambiental” foi citado nas respostas dissertativas de parte dos
gestores, fato que evidencia essa preocupação no conteúdo manifesto. Ao comparar esse
dado com a análise prototípica, que apresenta o quadro das representações sociais, foi
possível perceber que esse termo foi evocado poucas vezes e em posições mais tardias.
Na busca da construção de sociedades que sejam sustentáveis, considerando os
referenciais apresentados na introdução desse artigo, entendemos a necessidade de
ações que auxiliem a dar um novo significado ao conteúdo que foi manifesto (nas frases
construídas), para que isso não fique apenas nas frases, mas também promova
mudanças na representação social.
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Nesse sentido, salientamos a importância de ações vinculadas ao campo da educação
ambiental, da formação continuada de professores e profissionais da educação e
consideramos que a universidade pode construir relevantes contribuições nesse aspecto,
tais como o estabelecimento de parcerias universidade-escola para o desenvolvimento
de espaços de debates e atividades sobre temáticas e questões socioambientais, entre
elas, o desenvolvimento sustentável.
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Agradecimentos:
Aos gestores das escolas participantes, pela disponibilidade em participar da pesquisa.
OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
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CONTRIBUTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA GESTÃO DE CONFLITOS SÓCIO-
AMBIENTAIS ENTRE A COMUNIDADE DE INGUANE E A ESTAÇÃO DE BIOLOGIA
MARÍTIMA NA RESERVA MARINHA E FLORESTAL DA ILHA DA INHACA
ERCÍLIO DE CLARÊNCIO LANGA
ercilio.langa@uem.mz
Assistente Universitário em Educação Ambiental e Estatísticas, Universidade Eduardo Mondlane
(Moçambique). Engenheiro Florestal
https://orcid.org/0009-0005-8139-245X.
Resumo
A gestão de áreas de conservação são suscetíveis de gerar conflitos sócio-ambientais como
resultado dos interesses dos diversos grupos quanto ao acesso e conservação. Este estudo
tem como objetivo analisar o contributo da educação ambiental na gestão de conflitos sócio-
ambientais entre a comunidade de Inguane e a Estação de Biologia Marítima na Reserva
Marinha e Florestal da ilha da Inhaca. O método usado foi qualitativo, que permitiu estabelecer
uma relação entre as causas e as formas de gestão de conflitos sócio-ambientais, e o respetivo
papel das estratégias de Educação Ambiental. Como instrumentos de recolha de dados usou-
se a entrevista semiestruturada e a observação sistemática. As respostas foram analisadas
com base na analise de conteúdo. O estudo constatou que os conflitos são resultados das
atividades de subsistência das comunidades embora haja atividades de sensibilização para a
preservação dos recursos naturais da ilha de Inhaca.
Palavras-chave
Conflitos sócio-ambientais, Gestão de conflitos, Educação Ambiental.
Abstract
The management of conservation areas is likely to generate socio-environmental conflicts as
a result of the interests of different groups regarding access and conservation. This study
aims to analyse the contribution of environmental education to the management of socio-
environmental conflicts between the community of Inguane and the Marine Biology Station in
the Marine and Forestry Reserve on the island of Inhaca. The method used was qualitative,
which made it possible to establish a relationship between the causes and forms of socio-
environmental conflict management and the respective role of environmental education
strategies. Semi-structured interviews and systematic observation were used as data
collection tools. The responses were analysed using content analysis. The study found that
the conflicts are the result of the communities' subsistence activities, although there are
activities to raise awareness of the preservation of the natural resources of Inhaca Island.
Keywords
Socio-environmental conflicts, Conflict management, Environmental education.
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Contributo da Educação Ambiental na Gestão de Conflitos Sócio-Ambientais entre a
Comunidade de Inguane e a Estação de Biologia Marítima na Reserva Marinha e Florestal da
Ilha da Inhaca
Ercílio de Clarêncio Langa
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Como citar este editorial
Langa, Ercílio de Clarêncio (2024). Contributo da Educação Ambiental na Gestão de Conflitos Sócio-
Ambientais entre a Comunidade de Inguane e a Estação de Biologia Marítima na Reserva Marinha
e Florestal da Ilha da Inhaca. Janus.net, e-journal of international relations. VOL15 N1, TD1
Dossiêr temático Rede Lusófona de Educação Ambiental: perspectivas de cooperação para
construir respostas sociais a uma crise socioambiental global”. Setembro de 2024. DOI
https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0224.7.
Artigo recebido em 30 de junho de 2024 e aceite para publicação em 20 de julho de 2024.
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CONTRIBUTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA GESTÃO DE
CONFLITOS SÓCIO-AMBIENTAIS ENTRE A COMUNIDADE DE
INGUANE E A ESTAÇÃO DE BIOLOGIA MARÍTIMA NA RESERVA
MARINHA E FLORESTAL DA ILHA DA INHACA
ERCÍLIO DE CLARÊNCIO LANGA
Introdução
A preocupação com o meio ambiente tem dominado as atenções desde os
meados do século XX, com vista a sua conservação e preservação, tendo como
uma das estratégias a criação de áreas de conservação por forma a conservar os
ecossistemas. Portanto, a conservação, como tentativa de manutenção e
preservação sustentável do meio ambiente, requer a participação da
comunidade. Dado que o principal fator de transformação do meio ambiente
natural é a ocupação humana, a qual contribui para a redução da qualidade do
ambiente.
Segundo Brito (2008), a gestão das áreas de conservação envolve, além de
problemas ambientais, dificuldades de ordem económica, social e,
principalmente, política, o que em geral ocasiona conflitos entre as populações
locais e as ações dos responsáveis por gestão destas áreas. Vivacqua e Vieira
(2005) apontam que, os tais conflitos se constituem sócio-ambientais e resultam
das relações sociais de disputa ou tensão entre diferentes grupos sociais pela
apropriação e gestão do património natural e cultural, com origens nas bases
com as quais as primeiras áreas de conservação foram instituídas.
A ilha da Inhaca é um dos pontos mais ricos e representativos de quase todos os
recursos marinhos que Moçambique possui, e é considerada uma Reserva
Marinha e Florestal e, por isso, categorizada uma Unidade de Proteção Integral,
que está sob a responsabilidade da Estação de Biologia Marítima da Ilha de
Inhaca (EBMI), um órgão da Universidade Eduardo Mondlane (UEM). Todavia, a
sua gestão não tem sido eficiente devido a ação das comunidades residentes na
Ilha de Inhaca.
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Ilha da Inhaca
Ercílio de Clarêncio Langa
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As comunidades habitantes na ilha da Inhaca vivem e dependem da pesca,
exploração de recursos florestais, agricultura de subsistência, atividade turística
e comércio. Entretanto, a população mostra-se dependente dos recursos que a
ilha dispõe o que pode ocasionar uma maior procura pelos recursos marinhos e
florestais e gerar conflitos sócio-ambientais à concretização dos objetivos
preservacionistas e objetivos da EBMI.
Tendo em conta que a ilha da Inhaca é uma reserva rica em recursos marinhos
e florestais que, por um lado, a EBMI se responsabiliza em sua gestão, proteção
e preservação; e por outro, a comunidade de Inguane vive e depende dos
mesmos recursos, tornou-se importante desenvolver uma pesquisa em torno do
contributo da Educação Ambiental na gestão de conflitos sócio-ambientais com
vista a contribuir na mediação dos interesses e perceções diferentes e
contraditórias sobre os recursos naturais.
A deficiente gestão dos recursos leva às perspetivas distintas e aos conflitos
sócio-ambientais, inviabilizando a abordagem dos ganhos mútuos entre as partes
envolvidas, pois a construção de entendimentos depende de uma gestão
adequada e participativa das partes envolvidas, expondo pontos de convergência
com as suas próprias necessidades sobre os recursos naturais em disputa
(Cunha, 2006).
Sendo a educação ambiental um processo educativo eminentemente político, que
visa ao desenvolvimento nos educandos de uma consciência critica acerca das
instituições, atores e fatores sociais geradores de riscos e respectivos conflitos
cio-ambientais (Dias, Leal & Carpi júnior, 2016, p. 22).
No presente estudo investigamos o contributo da educação ambiental na gestão
de conflitos sócio-ambientais entre a comunidade de Inguane e a EBMI na
Reserva Marinha e Florestal da ilha de Inhaca. Assim, a pesquisa buscou
identificar as causas dos conflitos existentes, suas formas de gestão usadas e o
papel da educação ambiental na gestão de conflitos sócio-ambientais entre a
comunidade de Inguane e a EBMI.
No entanto, espera-se que esta pesquisa possa contribuir em Educação
Ambiental na promoção de percepções e conhecimentos sobre a proteção dos
recursos da reserva florestal e marinha da ilha da Inhaca, de modo que o seu
uso constitua uma fonte de sustento da comunidade sem que seja necessária a
retirada directa dos recursos naturais, mas sim o uso indirecto através de
atividades de promoção do turismo ecológico e pesquisas científicas no campo
da Educação Ambiental.
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Conflitos sócio-ambientais e educação ambiental
em áreas de conservação
Os conflitos sócio-ambientais surgem juntamente com o desenvolvimento social
e económico da comunidade, que leva a uma crescente necessidade de uso dos
recursos ambientais, causando a sua escassez (Cuco, 2011). Araújo (2015)
acrescenta que estes conflitos podem levar a opressão e gerar impactos
adversos, alterando as praticas sociais e o modo de uso do território e dos
recursos naturais no seio da comunidade e unidades de conservação.
A gestão de conflitos sócio-ambientais de forma política e jurídica tem sido menos
eficazes dado tempo que leva para a sua elaboração, discussão e efetivação bem
como, em muitos casos, não vão de acordo com a realidade da comunidade que
soa impostas as comunidades sem espaço para uma percepção ou negociação
(Brito, Bastos, Faria, Brito & Dias, 2011). Deste modo, um gerenciamento
criativo que garanta a integridade dos ecossistemas e das áreas de conservação
em relação aos meios de subsistência das comunidades é de fundamental
importância para a resolução de conflitos relacionados ao meio ambiente, como
o maneio comunitário de recursos naturais e a educação ambiental (Henle, Alard,
Clitherow, Cobb, Firbank, Kull, McCracken, Moritz, Niemela, Rebane, Wascher,
Watt & Young, 2008).
Uma vez que a educação ambiental nas áreas de conservação é vista como uma
ferramenta essencial na gestão de conflitos sócio-ambientais dado que contribui
para o aumento da consciência ambiental de todas partes envolvidas e faz com
que todos tenham compromisso com a proteção ambiental e desenho de
estratégias de sobrevivência que garantam a sustentabilidade dos recursos
naturais.
Metodologia
A presente pesquisa baseou-se no método qualitativo do tipo exploratório-
descritivo, que segundo Gil (2008) tem a finalidade de poder proporcionar uma
visão geral, buscando descrever as características de um determinado fenómeno
ou estabelecimento de relações entre variáveis. Deste modo, buscou-se trazer a
relação entre as causas e formas de conflito sócio-ambientais na reserva florestal
e marinha da ilha de inhaca e o papel das estratégias de educação ambiental.
A pesquisa foi realizada na ilha de Inhaca, que se situa a 32km da cidade de
Maputo, capital da Republica de Moçambique. Participaram da pesquisa 13
pessoas, das quais 12 são responsáveis de famílias residentes na comunidade de
Inguane e um representante da EBMI do sector de educação ambiental e
desenvolvimento comunitário.
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Ercílio de Clarêncio Langa
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Os responsáveis de família foram selecionados pelo método não probabilístico de
conveniência, tendo em conta os responsáveis de família que se mostraram
disponíveis a participar da pesquisa e se encontravam em suas residências a
quando do trabalho de campo, uma vez que a maioria dos residentes muitas das
vezes não se encontram em suas residências devido a sua rotina de busca de
meios de sobrevivência. Este método de recolha de dados é sustentado por
Prodanov e Freitas (2013) que refere que o pesquisador pode selecionar os
participantes por meio da informação disponível.
O representante da EBMI foi selecionado intencionalmente por acreditar se que
este é a melhor fonte de informação das diferentes atividades da EBMI no que
concerne a relação recursos naturais-comunidade bem como a gestão de
conflitos sócio-ambientais. Na amostragem por intencionalidade, o pesquisador
usa seu julgamento para selecionar os membros que devem constituir fontes de
informação da pesquisa (Oliveira, 2001).
A coleta de dados foi feita a partir da entrevista semiestruturada e observação.
Marconi e Lakatos (2003) referem que a entrevista semiestruturada é aquela em
que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido. Este método
mostrou-se mais adaptado a pesquisa por ser flexível a comunidade e permitir
fazer perguntas de seguimento e/ou de insistência nas respostas não percebidas.
A técnica de observação permitiu coletar elementos de conservação e/ou
degradação dos recursos naturais em disputa entre a comunidade de Inguane e
a EBMI. Pois, Marconi e Lakatos (2003) afirmam que a observação constitui uma
técnica que usa os órgãos de sentidos na coleta de dados para se conseguir
informações e obter determinados aspetos da realidade do local do estudo.
As respostas foram avaliadas com base em técnicas de análise de conteúdo
descritas por Bardin (2011), que utilizam procedimentos sistemáticos e objetivos
para descrever o conteúdo das mensagens. Segundo Gil (2008), a análise de
conteúdos tem como objetivo organizar e sumariar os dados com vista a
fornecerem respostas ao problema, e a interpretação objetiva a procura de
sentido mais amplo das respostas, que é diante da sua ligação a outros
conhecimentos.
Resultados e discussão
Em relação às causas dos conflitos sócio-ambientais na Reserva Marinha e
Florestal da ilha da Inhaca entre a comunidade de Inguane e a EBMI, a priori,
perguntou-se aos responsáveis de famílias (RP) entrevistados sobre as atividades
desenvolvidas pela comunidade para a sua subsistência, e todos responderam
de forma unânime que desenvolvem a pesca para o consumo e para a venda aos
turistas; a agricultura rudimentar; produção de lenha para o uso doméstico; e o
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Comunidade de Inguane e a Estação de Biologia Marítima na Reserva Marinha e Florestal da
Ilha da Inhaca
Ercílio de Clarêncio Langa
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RF9 acrescentou que também extraem estacas e lacalacas (ripas de madeira)
para a construção de casas e produzem esculturas a base de madeira local para
a venda. Tendo os RF1, RF6 e RF9 afirmados, respectivamente:
Aqui para nos sustentar praticamos pesca, onde outra parte de peixe
comemos e outra vendemos para a vista, também desenvolvemos
agricultura e lenha tiramos das nossas matas que tem de mais…;
nós temos pescado e outros alimentos produzimos nas nossas
machambas;
aqui dependemos da pesca, agricultura, e nós homens também
produzimos lenha e carvão, esculturas com paus de mangal e mafureira
e apanhamos biscates de construir casas de estacas e arrames.
Entrevistado o ReEBMI sobre as atividades desenvolvidas na ilha de Inhaca pela
comunidade para a sua subsistência, apontou, igualmente, que a comunidade se
dedica à pesca, à agricultura rudimentar, ao comércio e ao desenvolvimento do
ecoturismo, porém este frisou que a EBMI desenvolve trabalhos de sensibilização
e negociação com a comunidade de modo a optar apenas pelas atividades que
garantam a preservação dos recursos naturais e que o seu uso seja feita de
forma indireta, não permitindo a exploração directa de quaisquer recursos
naturais da ilha. Percebe-se que os conflitos sócio-ambientais na Reserva
Marinha e Florestal da ilha da Inhaca são causados pela exploração dos recursos
naturais preservados para a subsistência da comunidade. Como advoga Cuco
(2011), os conflitos sócio-ambientais nas áreas de proteção se intensificam com
a crescente necessidade de utilização dos recursos ambientais cruzada com a
competição entre diferentes interesses das pessoas envolvidas.
No entanto, a pesquisa discute e se posiciona com os fundamentos do ReEBMI,
enfatizando que nas reservas de proteção, principalmente integral, os recursos
naturais devem ser preservados de modo que seus ativos não sejam explorados
diretamente, devendo preconizar apenas o uso indirecto, que pode ser feito
através do desenvolvimento do turismo ecológico, estudos científicos e através
de serviços ecossistémicos naturais, como a proteção da erosão com
ecossistemas de mangal nas áreas costeiras, beleza cénica para a contemplação
da natureza, serviços de fotossíntese e purificação de água, suporte de habitats
naturais e nichos ecológicos de diversas espécies terrestres e marinhos. Mattos,
Ferretti-Filho e Mattos (2000) sustentam que a preservação de recursos naturais
garanta serviços do meio ambiente, entendidos, também, no desempenho das
funções de provisão de matérias-primas, capacidade de assimilação de resíduos,
estética e recreação, biodiversidade e capacidade de suporte às diversas formas
de vida no planeta.
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Título Dossiê temático - Rede Lusófona de Educação Ambiental:
perspectivas de cooperação para construir respostas sociais
a uma crise socioambiental global
Setembro 2024, pp. 120-132
Contributo da Educação Ambiental na Gestão de Conflitos Sócio-Ambientais entre a
Comunidade de Inguane e a Estação de Biologia Marítima na Reserva Marinha e Florestal da
Ilha da Inhaca
Ercílio de Clarêncio Langa
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Quanto aos conflitos sócio-ambientais que acontecem na Reserva Marinha e
Florestal da ilha de Inhaca, a maioria dos responsáveis de famílias entrevistados
(RF1, RE2, RF4, RF5, RF7, RF8, RF9, RF11 e RF12) apontaram a disputa e falta
de entendimento pelo uso dos recursos naturais com a EBMI, enfatizando que
eles vivem e dependem da pesca, da agricultura e da extração de lenha, e a
EBMI proíbe o desenvolvimento dessas atividades para a sua subsistência. Tendo
os RF1, RF4 e RF11 afirmado o seguinte:
Nós aqui vivemos e dependemos da pesca e agricultura, mas esses da
estação biológica sempre nos causam conflitos, andam nos vigiar para
nos proibir de pescar, mesmo abrir machamba para eles é problema… e
agora pergunto a te como é para vivermos? (RF1).
(...) O que acontece aqui é que nós como comunidade também o
aceitamos essas coisas de andarem nos proibirem a pescar à vontade,
cortar lenha, abrir machambas, e sempre vamos discutir (RF4).
O que está em causa é a estação de biologia querer nos proibir
aproveitar daquilo que a natureza nos dá, e sem fazer nada por s…
andam nos prometer de nos dar 20% dos turistas, mas nada…
(RF11).
Ao passo que o ReEBMI apontou a comunidade como a principal causadora dos
conflitos sócio-ambientais na Reserva Marinha e Florestal da ilha de Inhaca
devido à sua disputa e discórdia na preservação dos recursos naturais
preconizada pela EBMI, explicando que a EBMI promove para a preservação dos
recursos naturais pelo facto de a ilha ser uma reserva de proteção ambiental com
interesse de estudos científicos e desenvolvimento do turismo, acrescentando
ainda que a comunidade deverá usufruir dos recursos naturais de forma indireta.
ReEBMI:
na nossa reserva temos conflitos da disputa pela forma de uso dos
recursos naturais causada pela comunidade, s apostamos na
mobilização da comunidade para usar os recursos de maneira indireta
para manter a preservação dos mesmos, mas hiiii…, a comunidade é
renitente, discorda e explora diretamente, e aí surgem conflitos porque
nós a EBMI, como responsáveis pelo controle, sensibilização da
comunidade e promoção de pesquisas, desencorajamos os desejos da
comunidade, porque isto é uma reserva e está instituída no Decreto
Ministerial pelo Conselho de Ministros.
Nota-se, no entanto, uma divergência: o ReEBMI contrariou a maioria dos
responsáveis de famílias entrevistados, afirmando que a comunidade é a
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Ilha da Inhaca
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causadora dos conflitos, e a EBMI não proíbe o uso dos recursos naturais, mas
desenvolve ações de sensibilização para o uso de forma indireta de modo a se
preservar os mesmos, visto que se trata de uma reserva de proteção. Constatado
com realidade, a comunidade se faz à pesca com redes de pesca mais finas e
explora diversas espécies de árvores e de vegetação do mangal para a extração
da lenha, causando aspeto de degradação dos ecossistemas de mangal.
Contudo, a pesquisa discute que é preciso uma transparência e efetivação da
canalização dos 20% da receita do desenvolvimento do turismo como forma de
garantia da subsistência da comunidade, e é preciso melhorias contínuas nos
trabalhos de sensibilização e EA comunitária sobre a importância da preservação
e uso indireto dos recursos naturais na reserva de proteção ambiental da Ilha da
Inhaca. Sitoe, Guedes e Sitoe (2007) sustentam que a canalização das receitas
dos 20% oriundos das atividades turísticas às comunidades locais, gera
motivação da sua participação na gestão dos recursos naturais, reduzindo,
assim, os conflitos sócio-ambientais.
Em resposta a esta categoria, o ReEBMI afirmou que para a gestão dos conflitos
pelo uso dos recursos naturais, a EBMI aposta na sensibilização e educação sobre
meio ambiente ao nível dos bairros, com o envolvimento da comunidade, líderes
comunitários e secretários de bairros, e aposta também na negociação entre a
comunidade e o Governo Distrital para a canalização dos 20% da receita do eco-
turismo, tendo salientado o seguinte:
a gestão dos conflitos é feita através da sensibilização e educação da
comunidade e negociação com a comunidade para o uso indireto dos
recursos naturais e canalização dos 20% das receitas do turismo.
Depoimentos, igualmente, feitos pela maioria dos responsáveis de famílias
entrevistados (RF1, RF3, RF4, RF6, RF7, RF8, RF9, RF11 e RF12), é divergente
da minoria (RF2, RF5 e RF10) que respondeu meramente que na Reserva da Ilha
da Inhaca não se faz nada para resolver disputas e conflitos sociais e ambientais,
além da proibição da comunidade pela EBMI no uso dos recursos naturais, onde
RF10 afirmou: "não se resolve nada, apenas esses da estacão de biologia
andam nos proibir a usar os recursos naturais".
Percebe-se, aqui, uma divergência nas respostas dos entrevistados, porém a
postura da EBMI e depoimentos da maioria dos responsáveis de famílias mostra-
se mais aceite na gestão destas áreas, pois, para a gestão de conflitos sócio-
ambientais nas reservas de proteção é importante se apostar em acções de
sensibilização e EA e o envolvimento de todos nas negociações sobre os
benefícios dos recursos naturais e das alternativas de subsistência das
comunidades. Como sustentam Henle et al (2008), a EA nas reservas de proteção
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constitui uma forma duradoura na gestão de conflitos sócio-ambientais, pois ela
desenvolve uma consciência ambiental da comunidade e de todos envolvidos na
gestão de recursos naturais, bem como desenvolve o espírito de compromisso
para com a proteção ambiental e dos recursos preservados.
Em seguida, a maioria dos responsáveis de famílias entrevistados (RF1, RF2,
RF5, RF6, RF7, RF8, RF11 e RF12), sugeriu para que o Governo Distrital da Ilha
da Inhaca com a EBMI honrassem com a canalização dos 20% das receitas do
turismo à comunidade e que criasse alternativas concretas de subsistência da
comunidade sem o uso direto dos recursos naturais, e os RF6 e RF11 afirmaram,
respectivamente:
o governo distrital e a estação de biologia marítima devem saber
cumprir com as promessas das negociações dos 20% do turismo para a
comunidade e criarem meios de sustento da comunidade, sem essa
exploração directa da natureza; e, aqui deve haver alternativas
concretas dadas à comunidade para subsistência e transparência das
receitas do turismo.
Diferentemente da maioria dos responsáveis de famílias (RF3, RF4, RF9 e RF10),
que sugeriu para que a EBMI não proibisse a comunidade a usar os recursos
naturais para a sua subsistência, e os RF3 e RF4 afirmaram, respectivamente:
"eles não podem nos proibir a usar os recursos naturais"; "a estação de biologia
e o governo devem parar de andar nos proibir usar os recursos a vontade para
o nosso sustento".
Uma das formas importantes de gestão de conflitos sócio-ambientais nas
reservas de proteção é, mesmo, o cumprimento das decisões tomadas nas
negociações entre a comunidade que vive e depende dos recursos naturais e as
entidades responsáveis pela sua gestão e canalização das receitas do turismo à
comunidade. Como sustentam Sitoe, Guedes e Sitoe (2007) a comunidade se
sente motivada e engrena aos objetivos propostos da reserva proteção quando
se sentir beneficiada e proprietária dos recursos naturais em preservação.
Em relação à informação recolhida sobre o papel da EA e estratégias de
implementação na gestão de conflitos sócio-ambientais na Reserva Marinha e
Florestal da ilha da Inhaca, considera-se, primeiro, a afirmação do ReEBMI:
(…) nós aqui temos programas e planos de intervenção em educação
ambiental. A intervenção objectiva consciencializar as comunidades
sobre a proteção e a importância do uso indirecto dos recursos da
reserva, e é feita com base à realidade das comunidades e
especificidade dos moradores entre eles, através de palestras, reuniões
de discussão em pequenos grupos de deres comunitários e
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comunidade, campanhas de sensibilização casa a casa e negociação com
a comunidade.
Uma afirmação corroborada pela maioria dos responsáveis de famílias (RF1, RF3,
RF5, RF6, RF7, RF8, RF9, RF11 e RF12), onde RF9 e RF11 afirmaram,
respectivamente: "a estação de biologia marítima sempre faz campanhas de
sensibilização, palestras e convocam reuniões para falarem de preservação do
meio ambiente e dos recursos da nossa reserva"; "… fazem sempre palestras,
campanhas de mobilização para a proteção dos recursos da reserva para a
resolução dos conflitos". Diferente dos restantes, a minoria (RF2, RF4 e RF10),
que foram convergentes ao afirmar "não sei…, aqui nunca ouvi falar dessa
educação do ambiente, …".
Percebe-se, com as afirmações acima dos entrevistados, que a EBMI possui e
implementa programas de EA na Reserva Marinha e Florestal da ilha da Inhaca
na proteção e preservação dos recursos da reserva, por meio de palestras,
campanhas de sensibilização casa a casa, discussão em pequenos grupos e
negociação com a comunidade. Não obstante, a postura da EBMI e o aval da
comunidade na implementação de programas de EA para a assunção de
princípios básicos de proteção e preservação dos recursos naturais da ilha da
Inhaca, pois a EA sintoniza os objetivos educacionais para a preservação dos
recursos naturais com a cultura e realidade da comunidade da Reserva Marinha
e Florestal da ilha da Inhaca, essa sintonia motiva para a mudança do
comportamento e atitudes da comunidade através da comunicação das
mensagens educativo-ambientais.
Quanto às outras estratégias de implementação da EA na ilha da Inhaca na
gestão dos conflitos sócio-ambientais e sua importância, o ReEBMI acrescentou
oficinas de educação, demostração e observação da realidade local, tendo
enfatizando que estas estratégias também são importantes na medida em que
promovam a aprendizagem para com respeito à natureza e recursos naturais,
porém a maioria dos responsáveis de famílias entrevistados, 10, contrariou-o,
respondendo que não existem outras estratégias de EA usadas para além das
palestras na comunidade, campanhas de sensibilização, reuniões de discussão e
negociação do uso dos recursos naturais da ilha, e a minoria, dois, respondeu
que não sabem se existem ou não outras estratégias de EA desenvolvidas.
No entanto, a pesquisa discute que em acções de gestão de conflitos sócio-
ambientais na Reserva Marinha e Florestal da ilha da Inhaca pode haver a
necessidade de se usar diversas estratégias de EA, adequando aos objetivos a
atingir e, para a escolha de uma ou mais, é importante, primeiro, se considerar
as características do grupo-alvo na EA desenhada, pois, como sustentam Souza
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e Romualdo (2008) cada grupo tem suas características, anseios, expectativas,
hábitos e experiências diante do meio ambiente e seus recursos. As estratégias
de EA devem considerar também a perspectiva histórica da criação da unidade
de proteção, os costumes da comunidade na busca de subsistência, o nível
instrução e a situação sócio-económico-cultural.
Considerações finais
Relativamente às causas dos conflitos sócio-ambientais entre a comunidade de
Inguane e a EBM na Reserva Marinha e Florestal da ilha da Inhaca, o estudo
conclui que os conflitos sócio-ambientais na ilha são causados pela exploração
dos recursos naturais na subsistência da comunidade, centrada na pesca para o
consumo e para a venda, agricultura de subsistência, produção de lenha para o
uso doméstico e extração de estacas e lacalacas, levando, assim, à disputa e
falta de entendimento entre a comunidade e a EBM. Porém, é importante que
nas reservas de proteção os recursos naturais sejam preservados, preconizando
o uso indirecto através do ecocturismo com benefícios às comunidades, estudos
científicos e serviços ecossistémicos e ativos ambientais, visado eliminar as
disputas e se alinhar nos objetivos de preservação.
No que se refere às formas de gestão de conflitos sócio-ambientais na Reserva
Marinha e Florestal da ilha da Inhaca, conclui-se que a EBMI para além das
acções de sensibilização e EA comunitária aposta na negociação com a
comunidade e o Governo Distrital para a canalização dos 20% das receitas do
turismo à comunidade. A comunidade pode se sentir motivada para a
preservação e uso indireto dos recursos naturais da reserva se se beneficiar
destas formas e garantia de alternativas concretas de subsistência.
Quanto ao papel da EA na gestão de conflito sócio-ambiental, os resultados do
estudo indicaram que a EBMI possui e implementa programas de EA na Reserva
Marinha e Florestal da ilha da Inhaca, com enfoque às palestras, campanhas de
sensibilização, discussão em grupos e negociação com a comunidade para a
proteção e preservação dos recursos naturais. Porém, é importante o uso de
diversas estratégias de EA tendo em conta o grupo-alvo e os objetivos
educacionais a atingir, pois o sucesso da EA depende das estratégias
educacionais a usar.
Referências
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OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
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Setembro 2024
133
NOTAS E REFLEXÕES
USO DE GEOTECNOLOGIAS (SIG) PARA MAPEAMENTO DE ÁREAS
INUNDÁVEIS EM ZONAS URBANAS: ESTUDO DE CASO BAIRRO
DE BUNHIÇA
ALI JOSÉ SANTOS CAETANO
alijosesantoscaetano@gmail.com
Estudante de graduação na Faculdade de Ciências da Terra. Licenciatura em Planeamento e
Ordenamento Territorial - Universidade Pedagógica de Maputo (Moçambique).
ELTON ZEFANIAS SIMANGO
eltonsimango28@gmail.com
Estudante de graduação na Faculdade de Ciências da Terra. Curso. Licenciatura em Planeamento
e Ordenamento Territorial - Universidade Pedagógica de Maputo (Moçambique).
KHEN LUÍS HUO
khenluishuo7@gmail.com
Estudante de graduação na Faculdade de Ciências da Terra. Curso. Licenciatura em Planeamento
e Ordenamento Territorial - Universidade Pedagógica de Maputo (Moçambique).
Resumo:
As inundações podem danificar a economia com elevados prejuízos financeiros e sociais. Essa
é a problemática do Bairro de Bunhiça, especificamente em Mulumate, Célula “C”, Munícipio
da Matola. O desenvolvimento de tecnologias espaciais modernas possibilita a visualização da
Terra através de dados coletados e imagens da superfície (Santos, 2012 citado por Freitas,
2018). O Objectivo Geral é mapear áreas susceptíveis a ocorrência de inundações.
Especificamente os objectivos consistem em: Identificar áreas propensas a inundações;
Analisar os factores que contribuem na ocorrência de inundações; Avaliar os impactos
socioambientais derivados de inundações. Os procedimentos metodológicos envolveram:
levantamento de dados, organização e processamento, análise, síntese e integração das
informações cartográficas. Utilizou-se imagens de satélite (SASPlanet), cartas topográficas e
bibliografia. A cartografia foi gerada por geoprocessamento em SIG. Os resultados indicam
susceptibilidade à ocorrência de inundações, devendo-se tomar medidas de Ordenamento
Territorial, com finalidade de minimizar os seus impactos. O uso destas informações pode
contribuir na tomada de decisões ligadas aos planos de prevenção de desastres,
direcionamento de Políticas de Planeamento e Ordenamento Territorial na gestão de riscos de
inundações.
Palavras-chave
Inundações, Mapeamento, Susceptibilidade, Vulnerabilidades, Uso e Ocupação da terra.
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Uso de Geotecnologias (Sig) para Mapeamento de Áreas Inundáveis em Zonas Urbanas:
Estudo de Caso Bairro de Bunhiça
Ali José Caetano, Elton Zefanias Simango, Khen Luís Huo
134
Abstract
Floods can damage the economy with high financial and social losses. This is the problem in
the Bunhiça neighborhood, specifically in Mulumate, Cell "C", Municipality of Matola. The
development of modern space technologies makes it possible to visualize the Earth through
collected data and surface images (Santos, 2012 cited by Freitas, 2018). Ο General objective
is to map areas susceptible to flooding. Specifically, the objectives consist of: Identifying areas
prone to flooding; Analyze the factors that contribute to the occurrence of floods; Assess the
socio-environmental impacts arising from floods. The methodological procedures involved:
data collection, organization and processing, analysis, synthesis and integration of
cartographic information. Satellite images (SASPlanet), topographic maps and bibliography
were used. The cartography was generated by GIS geoprocessing. The results indicate
susceptibility to the occurrence of floods, and Territorial Planning measures must be taken in
order to minimize their impacts. The use of this information can contribute to decision-making
related to disaster prevention plans, guidance of Planning Policies and Territorial Ordering in
the management of flood risks.
Keywords
Floods, Mapping, Susceptibility, Vulnerabilities, Land use and occupation.
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Uso de Geotecnologias (Sig) para Mapeamento de Áreas Inundáveis em Zonas Urbanas:
Estudo de Caso Bairro de Bunhiça
Ali José Caetano, Elton Zefanias Simango, Khen Luís Huo
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USO DE GEOTECNOLOGIAS (SIG) PARA MAPEAMENTO DE ÁREAS
INUNDÁVEIS EM ZONAS URBANAS: ESTUDO DE CASO BAIRRO
DE BUNHIÇA
ALI JOSÉ SANTOS CAETANO
ELTON ZEFANIAS SIMANGO
KHEN LUÍS HUO
Introdução
A ocorrência de inundações é originalmente um problema que preocupa a todos, e
principalmente a quem é, frequentemente, afectado pelo fenómeno. O Bairro de Bunhiça
está localizado em uma zona baixa, o que propicia a frequência da ocorrência de
inundações, particularmente na zona vulgarmente conhecida como Malumati”, onde
pode se verificar que existem habitações dentro de uma bacia e que estas ficam por
muito tempo enfrentando enchentes. Foi devido a estes problemas que surge a ideia do
estudo desta área, que, pelo menos, aparentemente possui potencialidades para a
prática da agricultura.
O uso de geotecnologias torna-se muito útil para estudo de áreas inundáveis, para um
melhor planeamento e ordenamento territoria do território, resultando numa boa gestão
do uso do solo.
O desenvolvimento de tecnologias espaciais modernas possibilita a visualização da Terra
através de dados coletados e imagens da superfície (Santos, 2012 citado por Freitas,
2018). O SIG permite confrontar várias informações e projetar resultados. Além disso,
temos em conta que, o ordenamento territorial enquadra-se no processo de urbanização.
O processo de urbanização diminui a capacidade de infiltração e aumenta o escoamento
superficial: a erosão do solo (Morgan, 2016).
Olhando para o caso particular de como os solos são tratados no âmbito da urbanização
e com as comunidades locais, podem-se constatar vários casos de erosão, sobretudo
enchentes e outros fenómenos que advêm da conservação dos mesmos, em
determinadas áreas. Assim, passaremos a apresentar a situação realística que se vive no
Bairro de Bunhiça muito tempo (segundo os residentes do bairro), em mapas e
imagens fotográficas, bem como propostas de melhoramento.
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Uso de Geotecnologias (Sig) para Mapeamento de Áreas Inundáveis em Zonas Urbanas:
Estudo de Caso Bairro de Bunhiça
Ali José Caetano, Elton Zefanias Simango, Khen Luís Huo
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Objectivos
Objectivo Geral
Mapear áreas sensíveis a ocorrência de inundações por meio de geotecnologias.
Objectivos específicos
Identificar os factores que condicionam na susceptibilidade de ocorrências de
inundações;
Descrever estapas no mapeamento para elaboracao do mapa de susceptibilidade.
Justificativa
A agenda 2030 do desenvolvimento sustentável propõe, no seu Objectivo 11 (ODS11),
cidades e comunidades sustentáveis. Por meio disso, pretendemos através do uso das
geotecnologias, propor a melhoria das condições de vida dos munícipes de Bunhiça. Além
disso, temos em consideração que a legislação que diz respeito a gestão de terras no
nosso país deve ser devidamente interpretada e aplicada, como é o caso da Lei do
Ordenamento territorial, Lei 19/2007 de 18 de Julho, que prevê o equilíbrio entre o
homem, meio físico e os recursos naturais, com vista à promoção do desenvolvimento
sustentável.
Partindo desses pressupostos, vimo-nos na necessidade de abordar um estudo sobre as
condições realísticas no bairro de Bunhiça, confrontando-as com as leis que prevê a
gestão de terras em Moçambique, aplicando o uso de geotecnologias para a sua melhor
interpretação.
Metodologia
Para o efeito da pesquisa foi necessária a utilização de rios procedimentos
metodológicos que de um modo geral, permitiram o término do presente trabalho.
Este estudo baseou-se numa pesquisa de natureza aplicada. Quanto ao objeto, o estudo
é descritivo. A pesquisa deve-se na geração de conhecimento para solução de problemas
específicos, e é dirigido à busca da verdade para determinada aplicação prática em
situação particular (Do Nascimento, 2016).
Trata-se de uma pesquisa descritiva porque descreve as características de determinadas
populações ou fenômenos (Gil, 2008).
No que concerne a abordagem metodológica do presente trabalho, apoiou-se no uso de
um específico método, sendo assim, crucial para a persecução do trabalho. Esse método
é: método de abordagem qualitativa, pois, é baseado na interpretação dos fenómenos
observados e no significado que carregam, ou no significado atribuído pelo pesquisador,
dada a realidade em que os fenómenos estão inseridos. Considera a realidade e a
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particularidade de cada sujeito objeto da pesquisa (Menga & Marlin, 1999 citado por Do
Nascimento, 2016).
No ponto qualitativo, olhou-se nas fazes de coleta de dados, interpretação e análise dos
dados, e por fim Generalização de resultado.
Método de Recolha de dados
No método de recolha de dados, o trabalho baseou-se nos fundamentos bibliográficos
encontrando informações nos livros, artigos, dissertações, como o caso da obra de
Magalhães (2011), Braga (2016), Garcia (2016), Carneiro & Miguez (2011), Valoi (2021)
e no estudo de campo utilizando o método de observação direta que nos permitiu aferir
com exatidão os reais problemas existentes no local em estudo.
Para uma visão mais panorâmica da área de estudo e para o seu manuseamento, naquilo
que diz respeito as características geográficas da mesma área, as imagens satélites
desempenham um papel importante e crucial para esse estudo, fornecendo informações
naturais que podem influenciar na ocorrência de desastres naturais no bairro Bunhiça.
Para o estudo do terreno da área de estudo e a sua compreensão, desde as suas
variações de elevação, sua declividade, hipsometria, o trabalho se fundamentou nos
dados representativos digitais da superfície MDE (Modelo digital da Elevação). A aquisição
desses dados, foi efetuado no site https://asf.alaska.edu, esses dados apresentam uma
imagem de alta resolução espacial com 12,5 metros de distancia.
Para a informação Referente a Uso e Cobertura do Solo, usou-se imagens Sentinela 2
ESA WorldCover 10m 2023 v200 S27E030 Map, fornecidos pelo Site da ESRI. Essas
imagens são de alta resolução espacial e com 10 metros de altitude. Elas geralmente
vêm em quadrantes divididas pela superfície e dependendo da área de estudo pode ou
não fazer o mosaico delas.
Método de processamento e análise de dados
O trabalho usou o Sistemas de Informação Geográfica (SIG), para a avaliação da
informação apresentada. Para a especialização e efetuar todo o processamento dos
dados, e a produção de mapas temáticos cujo Datum: WGS 1984 Zone 36S recorreu-se
aos programas computacionais no caso de Software ArcGis 10.4, e para a Confrontação
da realidade, e informações detalhadas da área de estudo, usou-se o Softwares Google
Hearth Pro e SASplanet que nos permitiu a obtenção da imagem satélite de alta resolução
e com 8 bits e Microssoft Excel para os cálculos das variáveis para a obtenção de pesos
(cf. Figura 1).
Elaboração de Camadas
Primeiramente fez-se a delimitação da área de estudo, recortando-o usando a ferramenta
Clip do Bairro, e ativou-se as extensões Geoprocessing>Evironment Setings >Processing
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Extend>Extetion (Colocar a área de estudo) e Juntamente no Rster Analisy>Mask. Para
que todo o procedimento e os mapas caiam nesta demarcação.
Feito Isso, Criou-se o Mapa de Declividade usando o MDE baixado anteriormente. Para a
criação deste Mapa, primeiramente teve que se fazer o processo de extração das
características do MDE pra a área definida. Uma vez que esta Informação vem em Raster
usou-se o Arctoolbox>Spatian Analyts Tools>Extrations>Extract by masc, onde foi
extraído todas informações do MDE para a área desejada. Feito isto, Procedeu-se com o
processo de criação do Mapa de Declividade e Hipsometria. Para isso, recorreu-se ao
Arctoolbox>Spatian Analyts Tools>Sulface>Slope Para Declividade (Percent Rise) e
Hillshad Para Hipsometria.
Para o Mapa de Uso e cobertura do Solo. O Mapa fornecido pela ESRI, foi novamente
recortada para a área de estudo, usado os mesmos procedimentos usados com o MDE,
Arctoolbox >Spatian Analyts Tools>Extrations>Extract by masc. Feito isso. A imagem
desta natureza apresenta-se em Raster, em que cada cor diz respeito a uma feição sobre
área de estudo, e para a sua caracterização usou-se o livro da ESRI, que caracteriza cada
cor das feições na imagem e a sua legenda, WORLDCVER_PUM_V1.1.Pdf.
Após a criação das camadas elaboradas foram classificadas de acordo com as
características e o objetivo dos trabalhos. Com isto, foi definida uma escala de 5 números
em que quanto mais próximo de 5, maior é a suscetibilidade a inundações, e quanto
menos for o número menor também serão a chances desse advento.
Para a reclassificação destas camadas, usou-se a ferramenta Reclassificação do
dorctoolbox. Arctoolbox >Spatian Analyts Tools>Reclass>Reclassfy.
Figura 1: Reclassificação das Camadas.
Fonte: Autores (2024).
A reclassificação das Camada de Declividade, Hipsometria e Uso e cobertura do Solo
foram fundamentadas de acordo com Magalhães (2011). Adequando a pesquisa do autor
para a área de estudo presente.
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Integração das Camadas e análise da Potencialidade
A Integração das camadas geradas foi feita no Software em uso o ArcGIS 10.4. usando
a ferramenta Arctoolbox>Spatian Analyst tools>Overlay> Weighted Overlay. Para a
criação do mapa final referente a suscetibilidades a ocorrência de Inundações, usou-se a
análise multicritério AHP para a definição de pesos das variáveis usadas que vão de 0 a
100%. Para cada variável de modo a identificar o grau de pertinência em relação ao
objetivo da pesquisa. Foram também definidas 4 classes de suscetibilidade para cada
componente de legenda, de maneira que quanto maior a classe, maior a suscetibilidade
a ocorrência desse desastre (1: sem risco; 2: Baixo risco; 3: Médio risco e 4: Alto risco).
Figura 2: Integração temática das camadas.
Fonte: Autores (2024).
Feito o mapa Final, procedeu-se com os cálculos das áreas referentes ao grau de
suscetibilidade na área de estudo. os dados fornecidos na tabela de atributos do mapa
final, foram convertidos para um formato Texto para a leitura no Microsoft Excel (cf.
figura 3). Com esses dados foi possível fazer o balanço da área total e específicas de
cada grau de suscetibilidade e as áreas em Km² que o mesmo ocupa na área de estudo.
Figura 3: Balanco de Área das suscetibilidades.
Fonte: Autores (2023).
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Localização Geográfica da Área de Estudo
De acordo com o Conselho Municipal da Matola, o Bairro de Bunhiça pertence ao Posto
administrativo da Machava, na Cidade da Matola. Segundo o Correio da Matola, este
bairro faz fronteira com os bairros: Machava Sede, São Damanso, Socimol 15 e Tsalala
O bairro de Bunhiça está localizado na província de Maputo, no distrito da Matola entre
as coordenadas astronómicas 32o 28’ e 46.1’’S de Longitude e 25o 53e 23.6’’ S Latitude,
faz limites a Norte com o bairro KM 15, a Este com o bairro de Singathela, a Sul com os
bairros de Machava Central e Liberdade e a Oeste com o bairro de Tsalala.
Figura 4: Enquadramento geográfico do bairro de bunhiça 2023.
Fonte: Autores (2022).
Revisão Bibliográfica
Geotecnologias
De acordo com Santos (2012) citado por Freitas (2018) o desenvolvimento de tecnologias
espaciais modernas possibilita a visualização da Terra através de dados coletados e
imagens da superfície. O geoprocessamento ou as geotecnologias envolvem técnicas
matemáticas e computacionais para efetuar o tratamento da informação geográfica.
Portanto, essa área do conhecimento engloba um conjunto de tecnologias para coleta,
processamento, análise e disponibilização de informação com referência geográfica. As
geotecnologias abrangem a Cartografia Digital, o Sensoriamento Remoto, o Sistema de
Informação Geográfica (SIG), o Sistema de Posicionamento Global (GPS), a
Aerofotogrametria, a Geodésia e a Topografia. A diferença entre Geoprocessamento e
SIG consiste no fato de que o primeiro é mais abrangente e representa qualquer tipo de
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dados georeferenciados, já o segundo processa dados gráficos e não gráficos
(alfanuméricos) com ênfase em análises espaciais e modelagem de superfícies (Câmara;
Davis; Monteiro, 2004, citado por Giometti e Pancher, 2011).
Inundações
As inundações são fenómenos hidrológicos extremos, de frequência variável, naturais ou
induzidos pela ação humana, que consistem na submersão de uma área usualmente
emersa e que podem ser potencialmente perigosos, dependendo da magnitude atingida
(altura da água, caudais), da velocidade com que progridem e da frequência com que
ocorrem. Contudo, só provocam situações de risco se houver elementos a elas expostos
(população, 13 propriedades, estruturas, infraestruturas, atividades económicas), ou
seja, localizados em áreas inundáveis, que possam ser destruídos ou gravemente
danificados (Chow, 1956 citado por Ramos, 2009).
Figura 5: Mapa de susceptibilidade à inundações.
Fonte: Autores (2024).
Factores e justificativas
Altitude
Quanto maior a altitude, menor a probabilidade de inundação para uma determinada
região devido à ação da lei da gravidade que direciona a água para as regiões mais
baixas.
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Figura 6: Mapa hipsométrico.
Fonte: autores (2024).
Figura 7: Mapa de declividade.
Fonte: os autores (2024)
Declividade
A declividade do terreno influencia diretamente no acúmulo de água no terreno. Áreas
planas apresentam maiores probabilidades de sofrer inundação do que áreas escarpadas.
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Tipos de Solo Predominante
Os tipos de solo predominantes no Bairro Bunhiça são arenoso alaranjado,
principalmente na área de estudo. O solo presente na região reflete também na
capacidade de infiltração e escoamento superficial da água.
Figura 8: Mapa de distribuição dos solos.
Fonte: Autores (2023).
Além disso o tipo de solo predominante na região apresenta características particulares,
sobretudo na estação seca (abril setembro), que perde a capacidade de infiltração da
água.
Figura 9: Mapa de curvas de nivel.
Fonte: Autores (2022).
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Figura 10: Mapa de simulação de enchentes.
Fonte: Autores (2023).
Zona Baixa
Klien (2007) citado por (Cunha 2015) utiliza o termo para qualquer extensão de terra
que possui relevo relativamente baixo, extenso e plano, sendo ainda reconhecidas por
serem planas, baixas e extensas.
Para Ives (2001) as terras baixas se contrapõem ás altas elevações (montanhas) e são
influenciadas por processos advindos destas áreas (água, sedimentos, energia, etc.), as
terras baixas (lowlands) são consideradas áreas influenciadas por processos físicos e
humanos iniciados em terras altas (highlands).
Impactos sociais advindos das inundações
A primeira visita ao campo foi feita em 2022. Foi constatado que existem habitações que
são totalmente inundadas, mesmo em tempos secos, o que revela que as inundações
verificam-se até em estações secas.
Figura 11: Inundações assola moradores da parcela “c”.
Fonte: autores (2022).
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A realidade da área de estudo (bairro de Bunhiça) é que a falta de uma vala de drenagem,
condiciona a qualidade de vida dos residentes e estes esperam a época da estiagem para
a solução temporária do problema, visto que o facto é constante e ocorre também na
época seca. Entretanto, os residentes desta área optaram em construir uma valeta
informal com o objetivo de minimizar a situação, como podemos verificar.
Figura 12: Valas de drenagem precárias são construídas pelos munícipes
para mitigação do problema.
Fonte: Autores (2022).
Figura 13: passagem da agua pela vala abertura pelos munícipes.
Fonte: Autores (2022)
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Durante o trabalho de campo, foi possível saber que as águas que inundam o bairro são
advindas de outros bairros como Nkobe, Kilometro 15, Liberdade, desaguando no Oceano
Índico. Foi possível também notar que estas águas não apresentam-se em bom estado
(como ilustra a imagem a seguir), contribuindo assim negativamente em termos
ambientais, sociais e outros.
De acordo com alguns residentes do bairro, com quem a equipa teve a oportunidade de
interagir, existia, pelo menos até 2022, um projecto de construção de uma vala de
drenagem (como iniciativa do Governo de Moçambique), que vai partir do bairro Nkobe,
Kilometro 15, Bunhiça, Liberdade, Fomento a o Oceano Índico. Este projecto foi
anunciado em 2012, entretanto, 10 anos depois do anunciado a situação prevalece.
Resultados Esperados e Propostas
Apresentar significado do uso das geotecnologias no estudo e abordagem de áreas
inundáveis.
Contribuir na tomada de decisões ligadas aos planos de prevenção de desastres,
direcionamento de Políticas de Planeamento e Ordenamento Territorial na gestão
de riscos de inundações.
A aplicação das geotecnologias deve ser, cada vez mais, considerada para uma melhor
forma de gestão de terras no país.
A lei do Ordenamento Territorial prevê o planeamento territorial como antecedente do
Ordenamento Territorial. Assim, espera-se associar esta ideia de com a Lei do
Ordenamento Territorial (Lei 17/2007 de 18 de julho), a Lei de Terras (Lei 19/91
de 1 de outubro), a Lei do ambiente (Lei nº 20/97 de 1 de outubro) e as outas políticas
que regem as formas de uso de terra no país, de forma a validá-las cada vez mais a e
melhorar a situação do bairro.
Rever as formas de uso do solo no bairro (pelas entidades responsáveis).
Foi possível notar um défice de planeamento e ordenamento territorial no bairro, o que
nos leva a considerar que é necessária requalificação da bacia de Mulumati bem como as
formas de uso de solo no bairro.
Concentrar técnicos e comunidade local na avaliação sobre as melhores formas
de uso e aproveitamento (gestão) da bacia hidrográfica.
Esta proposta vem no sentido de contribuir na requalificação da bacia segundo suas
características físicas, químicas e biológicas.
Avaliar a possibilidade de produção agrícola;
Despertar a capacidade de desenvolvimento da piscicultura para o consumo local;
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Conclusão
O uso de geotecnologias contribui para compreensão e interpretação de várias
informações da superficie terrestre, as geotecnologias no país pode ainda contribuir para
o mapeamento de condições de muitos bairros, não os que estão propensos a
inundações. No processo de planeamento territorial, é importante tomar em consideração
a sustentabilidade de uso do solo, ou seja, planificar olhando para o futuro.
O uso de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) é fundamental para a mitigação de
inundações e a implementação de políticas blicas relacionadas a esse fenômeno. Os
dados geoespaciais fornecidos pelos SIG permitem visualizar e analisar as áreas
propensas a enchentes, identificar vulnerabilidades e planificar medidas de prevenção e
resposta.
Com o uso de SIG, é possível mapear as áreas de risco, calcular o potencial de inundação,
prever a magnitude do evento e avaliar os impactos socioeconômicos. Essas informações
são essenciais para o planeamento urbano, a gestão de recursos hídricos e a elaboração
de planos de emergência.
Além disso, os SIG facilitam a integração de dados de diferentes fontes, permitindo uma
visão holística e integrada da situação. Isso é crucial para a elaboração de políticas
públicas eficazes e a coordenação de ações entre diferentes órgãos e instituições.
Portanto, o uso de SIG é uma ferramenta poderosa para a gestão de inundações e a
implementação de políticas públicas voltadas para a redução dos impactos desse
fenômeno. A sua aplicação contribui para a tomada de decisões mais informadas, a
redução de danos e a proteção da população e do meio ambiente.
O modelo AHP apresentou-se de forma útil e satisfatória no mapeamento e posterior
determinação de risco de inundação. O Modelo AHP tem grande aplicabilidade,
fornecendo em geral bons resultados, especialmente em locais de difícil acesso e distante
de análise de campo. Por ser uma pesquisa qualitativa, o método sofre influência direta
do pesquisado no momento de atribuir notas e pesos aos factores.
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de Pedagógico, Faculdade de Ciências da Terra e Ambiente, Universidade Pedagógica de
Maputo para a obtenção do grau académico de Licenciatura em Planeamento e
Ordenamento Territorial, Maputo.
Como citar esta nota
Caetano, Ali José, Simango, Elton Zefanias & Huo, Khen Luís (2024). Uso de Geotecnologias (Sig)
para Mapeamento de Áreas Inundáveis em Zonas Urbanas: Estudo de Caso Bairro de Bunhiça.
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de Educação Ambiental: perspectivas de cooperação para construir respostas sociais a uma crise
socioambiental global”. Setembro de 2024. DOI https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0224.01.
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NOTAS E REFLEXÕES
ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO DAS LINHAS ORIENTADORAS PARA
ESTRATÉGIAS NACIONAIS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS
ESTADOS-MEMBROS DA COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA
PORTUGUESA
MARIA HENRIQUETA RAYMUNDO
henriquetasss@gmail.com
Doutoranda em Políticas Públicas pela Universidade Federal do ABC (Brasil). Mestra em Ciências
Florestais pela Universidade de São Paulo (USP). Coordenadora da ANPPEA - Articulação
Nacional de Políticas Públicas de Educação Ambiental e do MonitoraEA - Sistema
Brasileiro de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas de Educação Ambiental.
Pesquisadora-colaboradora do LADIS - Laboratório de Análises e Desenvolvimento de
Indicadores para Sustentabilidade do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Representante do Brasil no Conselho de Coordenação da RedeLuso.
PEDRO MARTINS
pedro.martins@aspea.org
Doutorando em Equidade e Inovação em Educação (Universidade de Santiago de Compostela).
Mestre em Educação pelo Instituto Politécnico do Porto. Mestre em Ecologia Aplicada pela
Universidade do Porto, em colaboração com a Universidade de Santiago de Compostela
(Espanha) e o Istituto Zooprofilattico Sperimentale della Lombardia e Dell’Emilia Romagna
(Itália). Licenciado em Biologia pela Universidade do Porto (Portugal). Professor no ensino
superior e no ensino secundário (Portugal). Investigador do inED Centro de Investigação e
Inovação em Educação (Instituto Politécnico do Porto). Autor de manuais escolares e livros
técnicos para professores (AREAL Editores). Ministrou formação de adultos na área da Educação
Ambiental e foi diretor escolar. É Secretário-Geral da Associação Portuguesa de Educação
Ambiental e Representante de Portugal no Conselho de Coordenação da RedeLuso.
JOANA DINIZ
joanadiniz1997@gmail.com
Mestre em Antropologia Social pelo ISCTE-IUL, e com licenciatura em Antropologia pela
Universidade de Coimbra. Colaboradora da Associação Portuguesa de Educação Ambiental
(Portugal) e gestora de projetos. Colaboradora na Redeluso.
CLARA JUSTINO
cjustino@cplp.org
Pós-Graduada em Regeneração Urbana e Ambiental pelo Instituto Superior Técnico (Lisboa).
Licenciada em Engenharia Ambiental pela Universidade Nova de Lisboa. Presentemente trabalha
na Direção de Cooperação do Secretariado Executivo da Comunidade de Países de Língua
Portuguesa (CPLP, Portugal).
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Análise da Construção das Linhas Orientadoras para Estratégias Nacionais de Educação
Ambiental nos Estados-Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
Maria Henriqueta Raymundo, Pedro Martins, Joana Diniz, Clara Justino
150
Resumo:
As políticas públicas de Educação Ambiental constituem um instrumento importante para fazer
face aos desafios ambientais atuais. Respondendo a um desafio dos Ministros do Ambiente da
Comunidade de Países de Língua Portuguesa, no sentido do desenvolvimento de Estratégias
Nacionais de Educação Ambiental nos diversos Estados-Membros, a Rede de Educação
Ambiental dos Países Lusófonos e Galiza constituiu um grupo de trabalho para elaborar um
documento com as Linhas Orientadoras para o apoio à Elaboração, Implementação, Avaliação
e Revisão de Estratégias Nacionais de Educação Ambiental. A elaboração do documento foi
precedida de um levantamento das estratégias e políticas de Educação Ambiental
elaboradas e implementadas em cada um dos países, bem como de outras politicas relevantes
e programas relacionados. O processo de criação do documento desenrolou-se ao longo de
catorze meses e culminou com a apresentação do mesmo em reunião de Ministros do
Ambiente da CPLP, tendo contribuído para incentivar o desenvolvimento de políticas públicas
que reforcem a elaboração, implementação e/ou prorrogação de Estratégias Nacionais de
Educação Ambiental.
Palavras-chave
Estratégia Nacional de Educação Ambiental, Políticas Públicas, CPLP.
Abstract
Public Environmental Education policies constitute an important instrument to face current
environmental challenges. Responding to a challenge from the Ministers of the Environment
of the Community of Portuguese-Speaking Countries (CPLP), towards the development of
National Environmental Education Strategies in the various Member States, the Environmental
Education Network of the Lusophone Countries and Galicia set up a working group to prepare
a document with the Guidelines to support the Preparation, Implementation, Evaluation and
Review of National Environmental Education Strategies. The preparation of the document was
preceded by a survey of Environmental Education strategies and policies already developed
and implemented in each of the countries, as well as other relevant policies and related
programs. The process of creating the document took place over fourteen months and
culminated in its presentation at a meeting of CPLP Ministers of the Environment, having
contributed to encouraging the development of public policies that reinforce the elaboration,
implementation and/or extension of National Environmental Education Strategies.
Keywords
National Environmental Education Strategies, Public Policies, CPLP.
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Ambiental nos Estados-Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
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ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO DAS LINHAS ORIENTADORAS PARA
ESTRATÉGIAS NACIONAIS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS ESTADOS-
MEMBROS DA COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA
MARIA HENRIQUETA RAYMUNDO
PEDRO MARTINS
JOANA DINIZ
CLARA JUSTINO
Introdução
Os últimos relatórios apresentados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) alertam sobre os limites do
Planeta, o qual vem passando por alterações drásticas a nível climático, as quais estão a
afetar a biodiversidade e as populações humanas a nível global, sendo por isso necessário
atuar urgentemente para criar capacidade adaptativa nos diversos territórios. Neste
sentido, as políticas públicas de Educação Ambiental (EA) representam um dos caminhos
fundamentais para o aumento dessa capacidade.
Em meados de 2022, o Conselho da União Europeia destacou a EA ao colocá-la no centro
da transição para sociedades sustentáveis a partir da recomendação denominada
Learning for environmental sustainability (European Commission, 2022). Da mesma
forma, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU trazem nas suas
metas e indicadores a necessidade de ampliar a consciência ambiental e a capacidade
humana sobre a mudança do clima, o que nos direciona novamente para a EA em
contexto local e global (United Nations, 2015).
Reconhecendo-se a importância da atuação em redes e da governança democrática no
ciclo das políticas públicas socioambientais de âmbito local, nacional e internacional que
possam contribuir para a legitimação e efetividade dos processos políticos, foi criada em
2005 a Rede de Educação Ambiental dos Países Lusófonos e Galiza (RedeLuso).
Trata-se de uma articulação permanente da comunidade lusófona que atua no campo da
EA, promovendo a cooperação internacional, ampliando a capacidade institucional da
diversidade de atores da rede, propiciando a visibilidade da produção científica em língua
portuguesa, bem como fortalecendo as ações, projetos e políticas públicas de EA
realizadas nestes países e territórios para colaborar no combate às crises ambiental e
climática.
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A RedeLuso é reconhecida e apoiada pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP), organização intergovernamental fundada em 1996, que tem como principal
objetivo fortalecer a cooperação económica, política e diplomática dos seus nove Estados-
Membros permanentes: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial,
Moçambique, Portugal, o Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Os Estados-Membros da CPLP
partilham uma herança histórica, um idioma comum e uma visão comum de
desenvolvimento, constituindo-se num rico e diverso património.
Os Congressos Internacionais de Educação Ambiental, organizados pela RedeLuso, vêm
sendo, desde 2007, os fóruns por excelência desta partilha. E foi assim que, em 2021,
durante o VI Congresso Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades
de Língua Portuguesa e Galiza, realizado em Cabo Verde, se materializou a vontade
expressa pelos Ministros do Ambiente da CPLP (Redeluso, 2021), na Declaração final da
VIII Reunião dos Ministros do Ambiente da CPLP (CPLP, 2020):
(…) Reafirmando, ainda, a importância da Educação Ambiental,
enquanto elemento essencial de transmissão de conhecimento e
princípios de sustentabilidade, de construção da resiliência social e de
salvaguarda do bem comum e, tomando boa nota do contributo dos
Congressos de Educação Ambiental dos Países de Língua Portuguesa e
Galiza na construção de espaços para um diálogo e construção de
pensamento Comunitário para a salvaguarda do ambiente (…) Decidem:
(…) Reforçar a cooperação no eixo da educação ambiental, tornando-a
mais efetiva e inclusiva, apoiando os Congressos de Língua Portuguesa
para a Educação Ambiental e sustentando uma participação regular dos
Pontos Focais de Ambiente nos mesmos, para a definição de prioridades
para a elaboração e implementação de uma Estratégia de Educação
Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa (…).
Constituiu-se, assim, um Grupo de Trabalho de Educação Ambiental na CPLP (GTEA-
CPLP) composto por representantes governamentais, peritos da academia e técnicos da
sociedade civil dos Estados-Membros e Galiza, com objetivo de identificar princípios, e
construir recomendações e diretrizes para apoiar os diversos países no ciclo de suas
respetivas políticas públicas de EA.
Desta forma, sob a coordenação da RedeLuso, e por meio de um processo participativo,
o GTEA-CPLP elaborou um documento intitulado de “Linhas Orientadoras para o apoio à
Elaboração, Implementação, Avaliação e Revisão de Estratégias Nacionais de Educação
Ambiental” visando responder aos desafios da crise climática e socioambiental global
(RedeLuso, 2023).
O presente artigo aborda, assim, o processo político empírico articulado em rede para
incidir nas políticas públicas de EA dos países e comunidades lusófonas. O processo
desenvolvido orienta para uma ação política que responda aos desafios que surgem do
quadro de emergência climática e de crise socioambiental, incentivando a participação
cidadã e a colaboração entre diferentes países para o reconhecimento, a construção e a
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adoção de opções políticas que sustentem e promovam a melhoria das condições em
cada país.
1. Desenvolvimento do processo
O processo de construção do documento contendo as linhas orientadoras para a
construção, implementação, avaliação e revisão de Estratégias Nacionais de Educação
Ambiental (ENEA) na CPLP iniciou-se com a constituição do já citado GTEA-CPLP,
constituído por 74 pessoas de 10 países, de 4 continentes, e desenrolou-se ao longo de
catorze meses (de janeiro de 2022 a abril de 2023). A elaboração do documento foi
precedida de um levantamento das estratégias e políticas de EA elaboradas e
implementadas em cada um dos países, bem como de políticas e programas relacionados
relevantes, para depois se avançar com a apresentação das linhas orientadoras e a
discussão sobre o seu conteúdo.
1.1. Estado de referência nos Estados-Membros da CPLP
O levantamento do estado da arte político-institucional da EA nos diversos Estados-
Membros da CPLP foi realizado através de inquéritos por questionário dirigidos a atores
envolvidos nas políticas públicas de EA. As treze questões que o compõem incluem,
entre outros, tópicos relacionados com a existência e o estado de ENEA nos diversos
países; a existência de sistemas de indicadores que orientem as políticas públicas em
EA; os principais documentos orientadores das políticas públicas de EA; os principais
organismos/instituições governamentais e não governamentais envolvidos nas políticas
públicas de EA; os compromissos políticos em relação a políticas públicas de EA e
principais dificuldades na sua implementação; os ODS (Agenda 2030) prioritários para
orientações de eixos temáticos da ENEA.
Da análise dos questionários, constata-se que o estado de referência das políticas
públicas de EA é bastante distinto nos diversos Estados-Membros, desde países que
ainda não têm previsto a formulação de uma política nacional de EA (Guiné-Bissau, São
Tomé e Príncipe, Timor Leste), até países que realizam processos de implementação,
avaliação ou revisão de ENEA (Brasil, Portugal), passando por países que se encontram
atualmente na fase de construção da agenda e formulação da política, ou de elaboração
das suas estratégias (Angola, Cabo Verde, e Moçambique). Não se obtiveram
correspondentes na Guiné Equatorial.
Apenas Portugal possui, desde 2017, uma Estratégia Nacional de Educação Ambiental
(APA, 2017), sendo que o Brasil possui, desde 1994, um Programa Nacional de Educação
Ambiental, o qual foi modificado em 1999 (RFB, 2003). Das respostas obtidas pelos
inquiridos, não resulta claro o motivo para os restantes países se encontrarem em
estados mais incipientes em termos de instrumentos políticos relacionados com EA, para
além de algumas questões circunstanciais.
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Assim mesmo, este trabalho prévio foi fundamental para o restante processo, pois, ao
gerar um entendimento global das políticas de EA na CPLP permitiu lançar bases para
um trabalho plural e devidamente contextualizado de construção de linhas orientadoras
que possam ser úteis a todos os Estados-Membros.
1.2. Construção do documento contendo as linhas orientadoras
O primeiro rascunho do documento contendo as linhas orientadoras para o apoio à
Elaboração, Implementação, Avaliação e Revisão de Estratégias Nacionais de Educação
Ambiental resultou de diversos debates e foi organizado em sete linhas orientadoras
(LO), a saber:
LO1 - Prinpios para a elaboração das Estratégias Nacionais de Educação Ambiental;
LO2 - Quadro institucional dos compromissos políticos de Educação Ambiental;
LO3 - Conhecer e Envolver: caminho para uma Estratégia Nacional de Educação
Ambiental;
LO4 - Educação Ambiental em tempos de crise;
LO5 - Os agentes e promotores da Educação Ambiental;
LO6 - Cooperação Internacional em Educação Ambiental: o espaço CPLP;
LO7 - Modelos de participação, gestão e financiamento.
As LO têm como objetivos gerais: i) contribuir na melhoria do arcabouço institucional e
regulador das políticas de educação ambiental em direção às sociedades ambientalmente
responsáveis e socialmente justas; ii) fortalecer a participação da diversidade de atores
no ciclo das políticas blicas; iii) orientar compromissos estratégicos e colaborativos que
visem a sistematização e o fortalecimento da EA na CPLP.
As LO apontam os princípios universais assumidos pela CPLP, sem deixar de atender às
idiossincrasias e aos contextos únicos de cada país e declaram a necessidade de uma
robustez político-institucional para assegurar os compromissos estabelecidos pelos
arranjos institucionais e instrumentos das políticas públicas de EA. É destacada a
importância da criação de um sistema de monitorização e avaliação, com base em
indicadores de desempenho, resultados e impactos das políticas de EA como forma de
aprimorá-las permanentemente, mas, também para comprovar que essas políticas
representam um dos caminhos prioritários para a resolução de problemas
socioambientais. Salienta-se, ainda, que o documento evidencia que a EA se caracteriza
como um elo de fortalecimento da cooperação e união entre os países, agregando os
diversos segmentos sociais, reconhecendo a CPLP como um espaço privilegiado de apoio
e intercâmbio entre os Estados-Membros.
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Uma vez estabelecidas as sete linhas orientadoras, definiram-se grupos que trabalharam
na construção da proposta de cada uma delas. As propostas foram posteriormente
apresentadas, debatidas, aprimoradas e aprovadas em reuniões plenárias.
Após a construção da primeira versão integral, o documento foi revisto por um painel de
peritos em EA de vários pses da CPLP e Galiza e, na sequência dessa revisão, foi
realizada uma apresentação pública e um debate alargado, de modo a dar conhecimento
da proposta à comunidade lusófona. Esta fase final permitiu ampliar a participação, trazer
novos contributos e chegar à versão atual do documento.
2. Resultados e perspetivas
O processo democrático, colaborativo e participativo que resultou no documento das LO
é, por si só, um resultado positivo e abre caminho para futuras colaborações
semelhantes. Saliente-se, ainda, a singularidade do processo pelas diversidades de
visões que acolheu.
Importa referir que o documento resultante não é fechado e pretende ser a um tempo
uma referência e um estímulo para os atores políticos em EA na CPLP desenvolverem o
seu trabalho. Por esse motivo, foi apresentado na IX Reunião Ordinária dos Ministros do
Ambiente da Comunidade dos Países da ngua Portuguesa (CPLP), realizada em
Lubango, Angola, a 28 de Abril de 2023.
Na Declaração de Lubango, documento final do encontro (CPLP, 2023) pode encontrar-
se o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido, que abre caminho para o reforço das
políticas de EA na CPLP:
(…) Reforçando a importância da Educação Ambiental na construção de
sociedades ambientalmente responsáveis e socialmente justas, através
da promoção de uma cidadania ativa e participativa que contribua para
a melhoria dos processos de tomada de decisão com impacto na
qualidade de vida das comunidades e do ambiente, e saudando a
realização, em Maputo, de 4 a 7 de Julho, do VII Congresso
Internacional de Educação Ambiental da CPLP; (…) Reconhecendo e
agradecendo o contributo prestado por várias entidades parceiras da
CPLP, nomeadamente a REDELUSO (…) Decidem: (…) Tornar mais
efetiva a cooperação entre os Estados-Membros no que se refere a
capacidades nacionais para o desenvolvimento de estratégias nacionais
(…) E (…) Acolher, com apreço, o documento técnico “Linhas
Orientadoras para a elaboração e implementação de Estratégias
Nacionais de Educação Ambiental na CPLP”, preparado pelo Grupo de
Trabalho multiactores dinamizado pela REDELUSO; (…) Incentivar o
desenvolvimento de políticas blicas que reforcem a elaboração,
implementação e/ou prorrogação de Estratégias Nacionais de Educação
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Ambiental e a participação, dos pontos focais da educação ambiental da
CPLP, nos Congressos Internacionais de Educação Ambiental da CPLP
(…).
Cumprido o propósito inicial do documento, é importante reforçar a divulgação do
mesmo. Neste sentido, aproveitando o mediatismo proporcionado pelo VII Congresso
Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa e
Galiza, realizado em Maputo, Moçambique, de 4 a 7 de julho de 2023, os autores do
presente artigo dinamizaram uma Oficina intitulada “Espaço de partilha para a construção
e implementação de Estratégias Nacionais de Educação Ambiental na CPLP”.
No decorrer da mesma, divulgou-se a metodologia e os resultados obtidos até então e
promoveu-se o dlogo entre diferentes pessoas, países e comunidades, numa
contribuição para a melhoria dos vínculos entre entidades nacionais e internacionais que
atuam no campo da Educação Ambiental. Salientou-se, igualmente, a necessidade de
construir estratégias de curto e de médio prazo, de forma a elaborar propostas de
divulgação e de formão capazes de promover novas ões em cada um dos países,
bem como apoiar a continuidade das ações já implementadas.
Finalmente, parece seguro afirmar que a dinâmica proporcionada por este processo não
resultou apenas num fortalecimento da Educação Ambiental no seio da CPLP, mas
também abriu novas perspetivas de desenvolvimento das políticas públicas de Educação
Ambiental no mundo lusófono, doravante apoiadas por um instrumento orientador
supranacional. Tal instrumento parece estar a contribuir para alavancar estas políticas,
como se pode constatar pela notícia avançada pelo Ministério da Terra e Ambiente de
Moçambique, na sequência do VII Congresso Internacional de Educação Ambiental, o
qual anunciou que o país já se encontra a desenvolver a sua primeira Estratégia Nacional
de Educação Ambiental.
Referências
APA- Agência Portuguesa do Ambiente (2017). Estratégia Nacional de Educação
Ambiental.https://enea.apambiente.pt/sites/default/files/documentos/AF_Relatorio%20
ENEA%202020_A4%20102017%20elctronico.pdf
CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa. (26 de novembro de 2020). Reforçar
a Cooperação para reduzir a perda da biodiversidade e enfrentar as alterações climáticas.
VIII Reunião dos Ministros do Ambiente da CPLP. https://www.cplp.org/id-
4447.aspx?Action=1&NewsId=8994&M=NewsV2&PID=10872.
CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa (28 de abril de 2023). Emergência
Ambiental no Contexto Actual de Múltiplas Crises. IX Reunião dos Ministros do Ambiente
da CPLP. Lugango, Angola.
European Commission, D.-G. f. (2022). Proposal for a COUNCIL RECOMMENDATION on
learning for environmental sustainability. 2022/0004/NLE.
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RedeLuso - Rede Lusófona de Educação Ambiental. (2021). Carta de Mindelo. novembro
de 2021, Cabo Verde: VI Congresso Internacional de Educação Ambiental dos Países e
Comunidades de Línguas Portuguesa.
RedeLuso - Rede Lusófona de Educação Ambiental. (2023). Linhas Orientadoras para o
Apoio à Elaboração, Implementação, Avaliação e Revisão de Estratégias Nacionais de
Educação Ambiental nos Estados-Membros da CPLP.
RFB - República Federativa do Brasil. (2003). Programa Nacional de Educação Ambiental.
http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/pronea.pdf
United Nations. (2015). Transforming our World: the 2030 Agenda for Sustainable
Development.
https://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/21252030%20Agenda%20f
or%20Sustainable%20Development%20web.pdf
How to cite this note
Raymundo, Maria Henriqueta, Martins, Pedro, Diniz, Joana & Justino, Clara (2024). Análise da
Construção das Linhas Orientadoras para Estratégias Nacionais de Educação Ambiental nos
Estados-Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Janus.net, e-journal of
international relations. VOL15 N1, TD1 Dossiêr temático “Rede Lusófona de Educação
Ambiental: perspectivas de cooperação para construir respostas sociais a uma crise socioambiental
global”. Setembro de 2024. DOI https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0224.02.
OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
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Setembro 2024
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NOTAS E REFLEXÕES
CLIMA PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE
O PADRÃO DE FUNCIONAMENTO RELATIVAMENTE ESTÁVEL
DO SISTEMA TERRESTRE QUE EMERGIU NO HOLOCENO, COMO
PATRIMÓNIO COMUM INTANGÍVEL DA HUMANIDADE
PAULO MAGALHÃES
paulo.magalhaes@commonhomeofhumanity.org
Investigador Principal CIJ Centro de Investigação Interdisciplinar em Justiça da Faculdade de
Direito da Universidade do Porto (Portugal). Casa Comum da Humanidade.
Resumo:
Em 1971 de Arvid Pardo tentou atribuir um estatuto jurídico Património Comum da
Humanidade ao “ambiente marinho” sem no entanto ter distinguido o sistema
funcional/qualitativo o ambiente - relativamente ao espaço territorial por onde os oceanos
circulam. A Convenção da UNFCCC Rio 1992, definiu o Sistema Climático, sem no entanto lhe
ter definido uma titularidade e um estatuto jurídico. “Como pode um bem que não pertence
a ninguém estar sujeito a um regime jurídico e bem tratado?”. Isto requer o reconhecimento
do Clima Estável como Património Comum da Humanidade (res communis). Em 2021, a CDI
identificou este aspeto funcional, e a necessidade de o distinguir da “instituição territorial
estática da soberania”. continua como coisa de ninguém, uma Res Nullius, o que transformou
“os oceanos e atmosfera, na Lixeira da Humanidade”. Hoje possível definir, delimitar e
representar de um ponto de vista jurídico, este aspeto funcional do planeta, como um objeto
intangível de direito com o estatuto de património comum da Humanidade, poderão emergir
direitos e deveres, internalizando as externalidades e tornando possível construir uma
economia regenerativa, capaz de limpar a atmosfera e futuramente assegurar a manutenção.
A sobreposição de dois regimes legais distintos, sobre o mesmo espaço, é possível, através
da distinção entre o aspeto funcional, e o aspeto territorial estático. O Condomínio da Terra.
Palavras-chave
Clima Património, Lei Portuguesa do Clima, Condomínio da Terra, Aspeto funcional, Caracter
estático da soberania.
Abstract
In 1971, Arvid Pardo attempted to give the "marine environment" the legal status of a
Common Heritage of Humanity, without however distinguishing the functional/qualitative
system - the environment - from the territorial space through which the oceans circulate. The
UNFCCC Rio 1992 Convention defined the Climate System, but without defining its ownership
and legal status. "How can an asset that belongs to no-one be subject to a legal regime and
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Clima Património da Humanidade o Padrão de Funcionamento Relativamente Estável do
Sistema Terrestre que Emergiu no Holoceno, como Património Comum Intangível da
Humanidade
Paulo Magalhães
159
treated well?". This requires recognising the Stable Climate as a Common Heritage of
Humanity (res communis). In 2021, the ICD identified this functional aspect, and the need to
distinguish it from the "static territorial institution of sovereignty." It remains a nobody thing,
a Res Nullius, which has transformed "the oceans and atmosphere into the Garbage Dump of
Humanity". Now that this functional aspect of the planet can be defined, delimited and
represented from a legal point of view as an intangible legal object with the status of common
heritage of humanity, rights and duties can emerge, internalising externalities and making it
possible to build a regenerative economy capable of cleaning up the atmosphere and ensuring
its maintenance in the future. The overlapping of two different legal regimes over the same
space is possible by distinguishing between the functional aspect and the static territorial
aspect. The Condominium of the Earth.
Keywords
Climate Heritage, Portuguese Climate Law, Land Condominium, Functional aspect, Static
character of sovereignty.
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CLIMA PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE
O PADRÃO DE FUNCIONAMENTO RELATIVAMENTE ESTÁVEL
DO SISTEMA TERRESTRE QUE EMERGIU NO HOLOCENO, COMO
PATRIMÓNIO COMUM INTANGÍVEL DA HUMANIDADE
PEDRO MAGALHÃES
Enquadramento
Em 2021, a Lei do Clima Portuguesa consagrou no seu Art.º 15, f), o objetivo de
reconhecer junto das Nações Unidas o Clima Estável como Património Comum da
Humanidade. Este objetivo inovador fez com que Portugal fosse o primeiro país do mundo
a ir de encontro a consolidadas evidências científicas, e a reconhecer que o Planeta Terra
não é apenas um território de 510 milhões de Km2, mas é essencialmente dotado de um
sistema funcional capaz de proporcionar um clima relativamente estável, permitindo
reunir as condições biofísicas favoráveis ao florescimento das civilizações humanas, como
tem ocorrido nos 11 700 anos da época do Holoceno.
A necessidade de distinguir o “Território Estático” relativamente ao “Sistema Funcional”,
veio posteriormente a ser identificada no último relatório da Comissão de Direito
Internacional das Nações Unidas (CDI) para o período 2021-2029, onde que se afirma:
A atmosfera e o espaço aéreo são dois conceitos diferentes, que devem
ser distinguidos. (...) A atmosfera, enquanto "envelope de gases" que
envolve a Terra, é dinâmica e flutuante, com gases em constante
movimento, sem ter em conta as fronteiras territoriais. (...) A atmosfera
é invisível, intangível e não separável”, assumindo a distinção entre o
“aspeto funcional” e a “instituição estática e espacial sobre a qual o
Estado, no seu território, tem soberania total e exclusiva.
Por raciocínio análogo, a mesma distinção deverá ser feita entre, por um lado, a
composição bioquímica da água do mar e a circulação global dos oceanos e, por outro,
os espaços marítimos sob a soberania ou jurisdição dos Estados. Esta distinção, entre o
“sistema funcional comum” e o território estático soberano, tem profundas implicações
na forma como combatemos as alterações climáticas, garantimos a preservação da
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Clima Património da Humanidade o Padrão de Funcionamento Relativamente Estável do
Sistema Terrestre que Emergiu no Holoceno, como Património Comum Intangível da
Humanidade
Paulo Magalhães
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biodiversidade e organizamos as sociedades humanas na sua relação com o planeta que
habitamos e de que dependemos.
1. O que é o Sistema Terrestre como Património da Humanidade?
O Sistema Terra é o “ambiente global integrado como único todo”, um conjunto de ciclos
e fluxos físicos de energia, químicos e biológicos, que interagem numa escala global, que
suportam e são regulados pela própria vida no planeta. Operando no interior e exterior
dos territórios de todos países, estes ciclos globais são partilhados por todos os seres
vivos do planeta, incluindo os humanos. Mantidos ou danificados pelas nossas atividades,
eles constituem o verdadeiro “Bem Comum Global” que une toda humanidade. Se o
funcionamento do Sistema Terrestre sofrer mudanças significativas, a vida como a
conhecemos será, e está já a ser, severamente, afetada.
A composição química da atmosfera que esteve na base do surgimento do período de
estabilidade climática após a última glaciação, cerca de 11.700 anos o período do
Holoceno, foi resultado de vários processos naturais, entre os quais se destacam as
profundas trocas de gases que a vida realizou com a atmosfera e os oceanos, as quais
deram origem a uma composição química da atmosfera altamente complexa. A alteração
da estrutura química da atmosfera resultante das atividades humanas, sobretudo a partir
dos anos 50 do século passado, contribuiu de forma determinante para o aumento da
temperatura global, o que, por sua vez, deu origem a uma alteração dos padrões do
comportamento termodinâmico entre os polos e os trópicos, levando à desestabilização
dos padrões de circulação atmosférica e à desaceleração da circulação oceânica”
(Magalhães, 2021). Estas transformações têm provocado alterações climáticas com efeito
cascata em todos os ecossistemas e, consequentemente, na organização das sociedades
humanas. Hoje, as Ciências do Sistema Terrestre identificam os “core drivers” que
condicionam e determinam o bom funcionamento do Sistema Terrestre: os chamados
“Limites do Planeta(Rockstrom, 2009: pp. 472-475), que caraterizaram o Holoceno, o
único período que comprovadamente foi capaz de suportar as civilizações humanas.
Se este “Aspeto Funcional”, não-territorial e intangível do nosso planeta, for reconhecido
como um património, será possível construir um sistema de governança com base neste
património, através de uma contabilidade de benefícios e danos e respetivas
compensações. Reconhecer o sistema terrestre como património comum, serviria em
última análise, para internalizar aquilo que hoje o consideradas “externalidades
económicas” - positivas e negativas - e com isso construir uma economia capaz de
restaurar e futuramente manter um bom estado de funcionamento do Sistema Terrestre.
2. O que é o «Condomínio da Terra»?
O projeto de reconhecimento jurídico do “aspeto funcional” da Terra como um bem
comum, implica uma solução capaz de permitir que esta representação não entre em
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confronto, com a dimensão “territorial estática da soberania” - o interesse privado de
cada Estado.
O problema de conciliar interesses aparentemente opostos privados e comuns - não é
novo nas ciências jurídicas, e foi estruturado através de uma figura de direito privado
que define a situação em que uma coisa materialmente indivisível, ou uma coisa com
estrutura unitária, pertence a rios coproprietários, cada um dos quais tem direitos
privados ou exclusivos de propriedade sobre determinadas frações e, ao mesmo tempo,
é coproprietário das partes do edifício que constituem a sua estrutura e funções comuns.
Essa figura jurídica é conhecida como condomínio. É precisamente através da distinção
entre diferentes tipos de propriedade sobre o mesmo bem materialmente indiviso que
esta forma de “propriedade complexa” pode harmonizar os diferentes interesses privados
e comuns, tornando esta sobreposição de propriedades perfeitamente simbiótica. A
operação jurídica não é apenas uma mera divisão de espaços, mas existe previamente
uma divisão baseada em critérios qualitativos e funcionais, que identifica estruturas e
sistemas comuns (sistemas de eletricidade, água, escadas, telhado, etc...) que são
imprescindíveis ao bom funcionamento do prédio e ao uso pleno das propriedades
privadas. Depois desta operação “funcional”, é realizada a divisão dos espaços, e o
resultado é uma sobreposição entre propriedade privada e comum, perfeitamente
simbiótica. A analogia com a Terra é perfeita O Condomínio da Terra (Magalhães,
2007). O sistema terrestre é indivisível, e por isso necessariamente comum, e o seu bom
estado de funcionamento é condição para cada Estado poder exercer a sua soberania
territorial de forma plena. Deve ser criado um sistema de contributos, para o restauro e
manutenção do sistema comum. Por possuírem caracteres distintos um territorial
estático, e outro funcional intangível serão compatíveis. Como Kant nos ensina, “só na
prossecução do interesse comum, é possível cada um exercer o seu direito”.
3. Qual a relevância deste conceito para as “Conferências do Clima
(COP)?
Quando nos encontramos numa situação em que a concentração de CO2 (Stock)
ultrapassou o limite de segurança dos 350 ppm de CO2 (424 ppm em maio de 2023),
uma abordagem exclusivamente baseada na redução das emissões correntes (Fluxos)
é claramente insuficiente.
Os dados indicam que “para além da dramática descarbonização para atingir o objetivo
climático de 1,5°C, seja necessário um volume significativo de remoções de dióxido
de carbono” (Energy Transitions Commission, 2022: p. 8). Atualmente, os
ecossistemas remanescentes removem cerca de 2Gt de CO2 por ano, e as atividades
humanas emitem cerca de 37Gt. Segundo os cenários da Energy Transitions
Commission (Energy Transitions Commission, 2022: p. 8), para compensar o impacto
do incumprimento das reduções de CO2 previstas em vários cenários, será necessária
uma remoção em massa de gases com efeito de estufa, isto é, passar das atuais 2Gt
de remoções anuais de CO2 para 70 a 225 Gt CO2 de remoções cumulativas (ou
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emissões negativas) entre hoje e 2050, dependendo da evolução das emissões. Para
além de 2050, num cenário de manter constantes os veis de CO2 na atmosfera,
serão necessárias “emissões negativas contínuas de ~3-5 Gt CO2 por ano para
neutralizar pequenas emissões residuais dos setores de mais difícil redução e efeitos
mitigadores de outros gases de efeito estufa, como N2O” (Energy Transitions
Commission, 2022: p. 8). Ou seja, mesmo num cenário de sucesso na
descarbonização até 2050, para a posterior manutenção do objetivo da neutralidade
carbónica, é necessário mais do dobro da atual capacidade de remoção, isto é, será
absolutamente necessário restaurar ecossistemas.
Atualmente, no Acordo de Paris e respetivas COPs, não existe qualquer
enquadramento jurídico, ou mecanismo económico destinados a pagar as emissões
negativas (Energy & Climate Intelligence Unit, 2018), isto é, a remover CO2 da
atmosfera sem existir uma ligação direta à compensação/neutralização de uma
emissão atual ou geração de novos direitos de emissão. Atualmente, quem paga por
uma remoção, é sempre alguém que faz uma emissão corrente ou futura, mas não
existe um sistema para compensar/pagar remoções do CO2, anteriormente,
acumuladas nos grandes reservatórios do sistema climático - a atmosfera e oceanos.
Para criar um projeto de restauro, e voltar ao “Espaço de operação segura para a
Humanidade”, é necessário que o Sistema Terrestre tenha um titular (neste caso, toda
a Humanidade), é necessário que não seja considerado uma res nullius, uma “lixeira”
que não é de ninguém. através da definição da sua titularidade, é possível fazer
emergir direitos resultantes de benefícios (remoções ou outros serviços de
ecossistema), bem como deveres resultantes do uso/danos realizados num bem que
pertence a todos.
4. Qual a relação entre o Acordo de Paris e o conceito do Sistema
Terrestre como Património da Humanidade?
A relevância vital que a estabilidade do clima possui para a Humanidade, levou à proposta
de Malta de 12 setembro de 1988 que sugeria o reconhecimento do Clima como
“Património Comum da Humanidade” (A/43/241 UNGA, 1988). O facto do clima “não se
restringir aos bens comuns globais, mas também abranger áreas sujeitas a jurisdições
nacionais" (Borg, 2007), foi determinante para a opção de reconhecer as Alterações
Climáticas como Preocupação Comum da Humanidade” (A/43/905 UNGA, 1988), que
continua ainda hoje a ser o enquadramento jurídico do Acordo de Paris.
Ao reconhecerem-se as “Alterões climáticas como uma Preocupação”, e não o Sistema
Climático como um bem jurídico que devia pertencer a toda Humanidade, o “Sistema
Climático” ficou numa situação de vazio jurídico, carente de definição. Não não se
reconheceu a existência do “aspeto funcional” do planeta, como a atribuição da sua
titularidade a toda a Humanidade foi negada. O “Bem Clima/Sistema Climáticocontinuou
a ser de ninguém. Ora, o direito internacional trata os domínios que não pertencem a
ninguém como res nullius - “O ‘estado de natureza’ para os bens comuns globais é res
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nullius (Vogler, 1995). Ao não pertencer a ninguém, está criada a primeira condição
estrutural para a que tragédia dos comuns aconteça. E esta é uma questão jurídica
fundamental, como salienta Alexander Kiss: Como pode um bem que não pertence a
ninguém estar sujeito a um regime jurídico?” (Kiss, 1982: pp. 103-256).
As consequências desta questão fundamental foram identificadas logo em 1991, por um
dos principais mentores do conceito de Preocupação Comum da Humanidade, Mostafa
Tolba: “É muito importante que o conceito de preocupação comum da humanidade seja
mais elaborado para tornar o seu conteúdo e alcance compreensíveis e claros; também
é importante verificar como este conceito pode ser interpretado em termos de direitos e
obrigações dos Estados no processo da sua implementação” (Tolba, 1991: pp. 237-246).
Para todos os efeitos, quando o Acordo de Paris define no seu preâmbulo que as
Alterações Climáticas são uma preocupação definiu também que a estratégia de atuação
se deve centrar numa mitigação geral das emissões globais para manter o aumento da
temperatura claramente abaixo dos 2ºC, e não num projeto de restauro do passivo, que
hoje é apontado como inevitável para não ultrapassar o 1,5ºC.
5. Qual o papel do Oceano no Sistema Terrestre como Património da
Humanidade?
Nas últimas décadas, as Ciências do Sistema Terrestre exponenciaram a compreensão
do funcionamento do sistema terrestre como um único todo, que não pode ser entendido
pela análise isolada de cada um dos seus componentes. Tal abordagem reducionista
perderia, por exemplo, as “propriedades emergentes” (como o clima) que só podem ser
compreendidas considerando a unidade do Sistema Terrestre como um único sistema
profundamente interconectado. Esta unidade funcional torna todas as estratégias de
intervenção ambiental interdependentes, nas quais os oceanos possuem um papel
central. O objetivo da Convenção Quadro do Clima das Nações Unidas 1992, é a
estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera num nível que
evite interferências antrópicas perigosas no sistema climático”. O Sistema Climático é
definido, nesta Convenção, como um conjunto de vários componentes
(Atmosfera/Hidrosfera/Biosfera/Geosfera) e as suas relações (aspeto funcional), sendo
que cada um destes componentes, ou a soma deles, são considerados como o
“reservatório” onde os gases de efeito estufa se acumulam. No Artº 2 desta Convenção
define-se que o objetivo da própria convenção é a estabilização da concentração de gases
de efeito estufa na atmosfera, entendida como o “Reservatório” onde, primeiramente, o
CO2 se acumula, produzindo efeitos cascata por todo o Sistema Terrestre (alterações
climáticas, acidificação oceanos, destruição da biodiversidade...). O princípio da unidade
funcional do sistema terrestre, num planeta que é coberto em 71% da sua área pelos
oceanos, implica reconhecê-los como elemento central de qualquer estratégia de
intervenção uma vez que, tal como a atmosfera, os oceanos também possuem uma
dimensão funcional/qualitativa. Por raciocínio análogo, a distinção entre “aspeto
funcional” e “caráter territorial estático da soberania”, deverá ser feita entre, por um
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lado, a composição bioquímica da água do mar e a circulação global dos oceanos e, por
outro lado, os espaços marítimos sob a soberania ou jurisdição dos Estados.
6. Como reconhece e integra Portugal o conceito de Sistema Terrestre
como Património da Humanidade?
Um clima estável é uma manifestação visível de um Sistema Terrestre a funcionar de
uma forma favorável à vida em geral, e à civilização humana em particular, no quadro
de uma biosfera resiliente e funcional. Esta estabilidade baseia-se em padrões bem
definidos de circulação atmosférica e oceânica. Um padrão de dinâmica estável de
funcionamento do Sistema Terrestre pode ser entendido como o ‘Software’ do planeta.
Desta forma, podemos considerar o Clima, como um proxydo estado de funcionamento
de todo o Sistema Terrestre. Neste sentido, o objetivo do Art.º 15, f) da Lei do Clima, de
reconhecer junto das Nações Unidas o Clima Estável como Património Comum da
Humanidade, representa precisamente a introdução do “aspeto funcional” do Planeta no
Direito, não apenas como uma menção ou referência, mas como um novo objeto de
direito, não-territorial, de caráter funcional e intangível. No Direito Espacial existem
diversos objetos jurídicos naturais intangíveis, que são alvo de um estatuto jurídico que
regulamenta o seu uso com vista à sua conservação, como é o caso da órbita
geoestacionária, a órbita da Lua ou as frequências de rádio. Se o Direito já reconheceu
no Espaço que a natureza não é apenas tangível, porque não o pode fazer na Terra?
Reconhecer o clima relativamente estável como Património Comum da Humanidade, é
precisamente reconhecer o modo de funcionamento do Sistema Terrestre que permitiu o
desenvolvimento das sociedades humanas como as conhecemos hoje. Isto é, significa
reconhecer o padrão de funcionamento que emergiu após a última glaciação, o chamado
período do Holoceno, que as sociedades humanas estão a alterar dramaticamente, em
vez de contribuírem de forma ativa para seu restauro e manutenção.
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https://digitallibrary.un.org/record/46039.
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Borg, S. (2007). Climate Change as a Common Concern of Humankind, Twenty Years
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Kiss, A. (1982). La notion de patrimoine commun de l'humanité, Académie de droit
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Magalhães, P. (2007). Earth Condominium From the Climate Change to a New Juridic
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Vogler, J. (1995). The Global Commons: A Regime Analysis. Wiley.
How to cite this note
Magalhães, Paulo (2024). Clima Património da Humanidade o Padrão de Funcionamento
Relativamente Estável do Sistema Terrestre que Emergiu no Holoceno, como Património Comum
Intangível da Humanidade. Janus.net, e-journal of international relations. VOL15 N1, TD1 Dossiêr
temático “Rede Lusófona de Educação Ambiental: perspectivas de cooperação para construir
respostas sociais a uma crise socioambiental global”. Setembro de 2024. DOI
https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0224.03.
OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
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NOTAS E REFLEXÕES
O CONTRIBUTO DO ENSINO DE GEOGRAFIA PARA A SOLUÇÃO DE
PROBLEMAS AMBIENTAIS: CASO ESCOLA SECUNDÁRIA BEDENE
MACHAVA, BAIRRO BUNHIÇA, MUNICÍPIO DA MATOLA
ADÉLIA JORGE VIANCULOS
adeliavilanculos0@gamail.com
Técnica média em Cartografia pelo Instituto de Formação em Administração de Terras e
Cartografia no ano de 2015, Licenciada em Geografia pela Universidade Pedagógica de
Maputo UPM no ano de 2022, Professora Assistente nas Disciplinas de Fundamentos de
Cartografia e Técnicas de Conclusão de Curso desde 2023 (Moçambique), Participou no
seminário anual de pesquisa e inovação na Universidade Pedagógica de Maputo no ano de
2022, Participou no V curso sobre Direito a Cidade, ministrado pela CEDAB, Faculdade de
Direito na Universidade Eduardo Mondlane no ano de 2024, participou no III encontro de
Jovens e Investigadores da CPLP, que decorreu em Angola - via Zoom no ano de 2024.
SABIL DAMIÃO MANDALA
sabildamiao@hotmail.com
Licenciado em Ensino de História e Geografia pela Universidade Pedagógica de Maputo em 2002,
Mestrado em Geomática e Avaliação de Recursos Naturais pela Universidade de
Florença/IAO, Itália em 2009 e Doutorado em Geografia e Organização do Espaço pela
Universidade Estadual Paulista/Campus de Rio Claro, São Paulo, Brasil em 2016. É
Professor Universitário desde 2003, actualmente com categoria de Professor Auxiliar na
Faculdade de Ciências da Terra e Ambiente da Universidade Pedagógica de Maputo
(Moçambique). Foi Director do Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia de 2010 à
2013 e Director - Adjunto para Pesquisa e Pós graduação de 2017 à 2024. Lecciona as
disciplinas de Cartografia, Sistema de Informação Geográfica, Detecção Remota,
Cartografia, Pedogeografia, Metodologia de Investigação Cientifica. Lecciona nos cursos
de Graduação e Pós graduação da Faculdade de Ciências da Terra e Ambiente e da
Faculdade de Ciências Naturais e Matemáticas da Universidade Pedagógica de Maputo.
Lecciona também nos Cursos de Pós graduação das outras Universidades como a
Universidade Rovuma, Universidade Licungo, Universidade Púnguè, Universidade Save e
alguns Instituto Politécnico. Pesquisa na área de riscos ambientais, gestão de recursos
naturais em bacias hidrográficas e geografia física. Tem publicado 3 livros e mais de 10
artigos a nível nacional e internacional.
Resumo:
A geografia estuda, analisa, interpreta os fenómenos naturais e humanizados na superfície
da terra. O estudo teve como objectivo principal: avaliar o contributo do ensino de Geografia
na resolução dos problemas ambientais. Os métodos usados foram: bibliográfico;
documental; observação directa; cartográfico e qualitativo; e a entrevista como técnica de
recolha de dados. Na área de estudo, verificou se a deficiência na gestão de resíduos sólidos
que propiciam a poluição atmosférica, poluição dos solos e a erosão provocada pela água da
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O Contributo do Ensino de Geografia para a Solução de Problemas Ambientais: Caso Escola
Secundária Bedene Machava, Bairro Bunhiça, Município da Matola
Adélia Jorge Vianculos, Sabil Damião Mandala
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chuva. Concluiu-se que na disciplina de geografia os conteúdos relacionados com a educação
ambiental são abordados com menor frequência.
Palavras-chave
Ensino de Geografia, Problemas Ambientais, Resíduos Sólidos, Erosão, Educação Ambiental.
Abstract
Geography that studies, analyses, interprets the natural phenomena and humanizes surface
of the earth. The objective of this work is to value the teaching contribution of Geography in
the resolution of environment problems. The research was realized second the following
methods: Biographic; documental, direct observation; cartographic; and qualitative; and the
used technique to collect the data was the interview. the area of study, there was verified the
deficiency in area of solid waste management that contribute the atmospherically pollution,
soil pollution and erosion provocated by water of rain. It was conclude that in geography
subject the related content which environmental education are approached minor frequency.
Keywords
Geography Teaching, Environment Problems, Solid Waste, Erosion, Environmental Education.
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O CONTRIBUTO DO ENSINO DE GEOGRAFIA PARA A SOLUÇÃO DE
PROBLEMAS AMBIENTAIS: CASO ESCOLA SECUNDÁRIA BEDENE
MACHAVA, BAIRRO BUNHIÇA, MUNICÍPIO DA MATOLA
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SABIL DAMIÃO MANDALA
Introdução
Na Perspetiva de Silva e da Silva (2012), a geografia se ocupa dos estudos da
transformação do espaço, das relações dialéticas e das mudanças que ocorrem no
mundo. Deste modo refletir sobre o ensino de Geografia na atualidade implica pensar
num processo amplo e complexo, sobre tudo pelas rápidas transformações que ocorrem
nas várias dimensões, a saber: politica, económica, social, ambiental e cultural. Assim
cabe ao professor de Geografia acompanhar e evidenciar tais transformações no âmbito
escolar.
De acordo com Mec (2008), a geografia é uma disciplina que permite a ligação entre a
teoria e a prática, tendo como objetivo de estudo a superfície terrestre; onde ocorrem
fenómenos físicos e humanizados. O seu objeto principal é a localização, distribuição dos
fenómenos na superfície terrestre, suas causas, correlações e feitos.
Problemas ambientais
Segundo Bottomore (1982), as questões ambientais, como o efeito estufa, a destruição
florestal, a perda da diversidade biológica, a poluição dos rios e mares e a desertificação
crescente, resultam de processos que afetam toda a biosfera e as sociedades que nela
vivem, constituem um dos temas considerados globais, assim como a paz, o
desenvolvendo, a qualidade de vida. Há uma consciência planetária crescente de que, se
esses problemas não forem resolvidos, poderão ameaçar a própria existência da vida do
homem sobre a terra. A solução para esses problemas, para alguns, por uma mudança
radical das formas agressivas e conquistadoras pelas quais o homem moderno se
relaciona o mundo natural.
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Ensino de geografia e problemas ambientais
Conforme Dias (2004), Cabe á Geografia desenvolver nos educandos a capacidade de
observar, analisar, interpretar e pensar criticamente a realidade, tendo em vista sua
assimilação e transformação, possibilitando à técnica de resolução de problemas. A
proposta da Geografia para o estudo das questões ambientais favorece uma visão clara
dos problemas de ordem local, regional e/ou global. Destacando o estudo voltado para a
relação homem -meio. Ao se retratar a questão ambiental na escola, se faz necessário o
uso da interdisciplinaridade, pôs o Meio Ambiente não está relacionado somente a
parques, árvores ou ao verde. A noção de meio ambiente está relacionada à qualidade
de vida do homem, e por isto mesmo não deve ser estudado apenas na ótica do meio
ambiente natural. A análise de problemas ambientais envolve questões políticas,
históricas, económicas, ecológicas, geográficas, enfim, envolve processos variados,
portanto, o seria possível compreendê-los e explicá-los pelo olhar de uma única
ciência.
De acordo com Tannus e Garcia (2008), a educação ambiental é um processo de
aprendizagem permanente que deve desenvolver conhecimentos, habilidades e
motivações para adquirir valores e atitudes para lidar com questões e problemas
ambientais, e encontrar soluções sustentáveis.
Educação Ambiental na Escola
Na perspetiva de Cortezão (2017), a escola dentro da Educação Ambiental deve,
sensibiliza o aluno a procurar valores que conduzam a uma convivência harmoniosa com
o ambiente e as demais espécies que habitam no planeta, auxiliando-o a analisar
criticamente os princípios que tem levado a destruição inconsequente dos recursos
naturais e de várias espécies. Tendo a noção de que a natureza não é uma fonte
inesgotável de recursos, as suas reservas devem ser finitas e devem ser utilizadas de
maneira racional, evitando o desperdício e considerando a reciclagem como processo
vital. A escola ao sensibilizar os alunos para as questões ambientais pode proporcionar
iniciativas que neles transcendam a comunidade escolar e alarguem as suas
aprendizagens para o meio onde vivem.
A escola é o espaço social e o local onde o aluno dará sequência o seu processo de
socialização. O que nela se faz, se diz e se valoriza representam um exemplo daquilo que
a sociedade deseja e aprova. Comportamentos ambientais corretos devem ser
aprendidos na prática, no quotidiano da vida escolar, contribuindo para os cidadãos
responsáveis.
Educação ambiental e problemas ambientais
De acordo com Leff (2001), a educação ambiental como componente essencial no
processo de formação e educação permanente, com abordagem direcionada para a
resolução de problemas ambientais, contribui para o envolvimento ativo do público,
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O Contributo do Ensino de Geografia para a Solução de Problemas Ambientais: Caso Escola
Secundária Bedene Machava, Bairro Bunhiça, Município da Matola
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tornando o sistema educativo mais relevante e mais realista e estabelecendo uma maior
interdependência entre estes sistemas e o ambiente natural e social, com objetivo de
crescente bem-estar das comunidades humanas.
Conforme Tannus e Garcia (2008), destacam que, a consciência sobre problemas
ambientais e a aplicação de educação ambiental deve ser contínua, multidisciplinar e
integrada, ressaltando assim a importância do desenvolvimento crítico da realidade
frente á complexidade dos problemas ambientais. As ões não - formais geralmente
possuem carácter pioneiro, atuando diretamente sobre a sociedade e abrindo espaço
para uma educação formal.
Por isso, objetivou-se com este estudo avaliar o contributo do ensino de Geografia para
a solução de problemas ambientais aplicando a educação ambiental.
Material e métodos
A Escola Secundária Bedene Machava, localiza-se no Quarteirão20, no bairro Bunhiça, no
Posto Administrativo da Machava, no Município da Matola na província de Maputo, entre
a Latitude 25˚53’ 15” Sul e Longitude 32˚ 29’ 25” Este, é limitada a Sul pela estrada que
vai até o círculo de Bunhiça a Este com residências do bairro Bunhiça, a Norte pela rua
da mesquita e a Oeste pela rua das bombas que vai até a Escola Secundária da Machava,
vide (figura 1).
Figura 1: Mapa da localização geográfica da Escola Secundária Bedene Machava.
Fonte: Adaptado pela Google Earth, 2022.
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O Contributo do Ensino de Geografia para a Solução de Problemas Ambientais: Caso Escola
Secundária Bedene Machava, Bairro Bunhiça, Município da Matola
Adélia Jorge Vianculos, Sabil Damião Mandala
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A Escola foi aberta no ano de 2001 no bairro Bunhiça, com as seguintes características:
1 (piso único) com 3 blocos, tem 18 salas, 2 casas de banho, 1 secretaria, 1 sala de
professores, 1 papelaria, um campo polivalente, 1 sala de informática, 1 gabinete em
conjunto (Diretor da Escola e Diretores Pedagógicos de todos os ciclos e turnos).
Na escola as classes se distribuem da seguinte forma: 8 turmas da 8 classe, das quais,
5 das 8 turmas o lecionadas nas escolas anexas (Escola Primária Completa de Bunhiça
e Escola Primária Carlos Filipe Tembe) num universo de 18 professores, dos quais 8
professores e 10 professoras.
A classe é lecionada por 16 professores dos quais 10 o professores e 6 professoras,
e é composta por 7 turmas.
A 10ª classe é lecionada por 26 professores, dos quais 21 são professores e 5 o
professoras, são 8 turmas e 563 alunos.
As classes de 11ª e 12ª o lecionadas por 21 professores, dos quais 15 professores e 6
professoras, num total de 18 turmas, das quais 10 são da 11ª classe e 8 são da 12ª
classe.
De modo a colher informações dos problemas ambientais vivenciados e seus impactos,
na escola e ao redor, foi privilegiado o método qualitativo um dos métodos utilizados,
pôs este não se preocupa em representar meros, mas sim, com a descrição e
compreensão de um problema. A entrevista semiestruturada, decorreu obedecendo os
apêndices (1, 2, 3 e 4) no anexo, pôs esta técnica permitiu a coleta de dados de forma
individual aos 2 professores de geografia (PG1 e PG2), á 8 alunos (A1 a A8) afetos na
Escola Secundária Bedene Machava (no intervalo maior), á 8 encarregados de educação
(ED1 a ED8) e á 6 munícipes (M1 a M6) nas suas respetivas casas, na língua oficial
(português) de maneira a proporcionar em forma de conversa aberta ideias, opiniões e
informações necessárias para a realização da pesquisa.
Resultados e discussão
Nesse estudo, obtiveram-se resultados dos alunos (8), professores (2), encarregados de
educação (8) e munícipes (6).
Análise das entrevistas dos alunos
Foram entrevistados alunos (A) que viviam ao redor da escola (um aluno por cada
turma), numa faixa etária que varia de 15 a 17 anos de idade.
Problemas ambientais
A maior parte dos alunos conseguiu identificar problemas ambientais como a quilo que
prejudica o ambiente (abate de árvores, queimadas descontroladas, má gestão do lixo,
e poluição das águas) e a menor parte conseguiu identificar a desorganização do lixo e a
poluição do solo como problemas ambientais.
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e-ISSN: 1647-7251
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Título Dossiê temático - Rede Lusófona de Educação Ambiental:
perspectivas de cooperação para construir respostas sociais
a uma crise socioambiental global
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A1 “São queimadas descontroladas, poluição das águas (através de lixo
que deitamos nas aguas das praias) ”;
A3 “São a desorganização do lixo, poluição do solo”;
A4 “É aquilo que prejudica o ambiente como: o abate de árvores,
queimadas do lixo na hora imprópria (prejudica também a camada do
ozono), a má gestão do lixo”.
Problemas ambientais que observas no recinto escolar e a volta da
escola
Em relação aos problemas ambientais que os alunos observam no recinto escolar e a
volta da escola, maior parte identificaram o lixo no chão, a erosão pluvial, capim no pátio
da escola, falta de água nas casas de banho e a menor parte identificaram papéis no
chão e erosão pluvial.
A1 “Lixo no chão, erosão pluvial, capim no pátio da escola, falta de água
nas casas de banho”;
A5 “Papeis no chão, erosão pluvial”;
A7 “Falta de saneamento nas casas de banho, erosão pluvial, lixo no
chão”.
Figura 2: Problemas ambientais que ocorrem no recinto escolar e ao redor, papeis no chão e
capim, erosão e água estagnada, capim e lixo.
Fonte: Autora (2022)
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Análise das entrevistas dos professores
Foram entrevistados 2 professores de Geografia (PG) da 10ª classe, uma do sexo
feminino e outro do sexo masculino, a professora é Licenciada em Ensino de Geografia e
o professor é Licenciado em Ensino de Historia com Habilitações em Geografia. Com
experiências na docência que variam de 24 a 37 anos.
Conteúdos do plano analítico da disciplina de Geografia que abordam
problemas ambientais
Os dois professores foram unânimes em afirmar que no plano analítico da disciplina de
Geografia há conteúdos que abordam problemas ambientais pôs identificaram o turismo,
transportes, indústria e comércio (vide apêndice 2).
PG1 “ turismo, transportes (que criam problemas ambientais) ”;
PG2 industria, comércio que gera a (poluição atmosférica, poluição dos
rios e dos solos) ”.
Aliança entre a geografia e educação ambiental
Os professores foram unânimes em afirmar que existe uma aliança entre a geografia e a
educação ambiental, partindo do pressuposto que os problemas ambientais ocorrem no
espaço geográfico, o professor tem a responsabilidade de educar os alunos de que as
suas atitudes podem criar graves problemas no ambiente. Por exemplo, no caso de abate
de árvores, essa atividade deve ser feita de forma sustentável para que os recursos
naturais não se esgotem e acabem prejudicando as gerações vindouras.
PG1 “sim, caso de a poluição atmosférica consciencializar os alunos que
algumas actividades, sobre tudo as industriais emitem gases que podem
reduzir a camada do ozono e ate podem produzir chuvas acidas”;
PG2 “Sim, no caso do abate das árvores, temos que educar os alunos
para que esses fenómenos não ocorram com maior frequência, isto é,
pode se explorar, mas desde que seja de forma sustentável garantindo
que os mesmos sejam usados pelas gerações vindouras”.
Análise das entrevistas dos encarregados de educação
Foram entrevistados 8 encarregados de educação (ED) de acordo com os alunos
selecionados, obedeceu-se a igualdade do género, numa faixa etária que varia de 37 a
48 anos de idade.
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Problemas ambientais que ocorrem em casa e no bairro
A maior parte dos encarregados de educação identificaram lixo, erosão, deficiência de
limpeza no bairro (o que propicia o surgimento e a prevalência do capim), águas
estagnadas e mau cheiro como os problemas ambientais que ocorrem nas suas casas e
no bairro e a menor parte dos encarregados de educação identificaram o capim, o lixo e
a erosão.
ED4 “Lixo, erosão, deficiência de limpeza no bairro (o que propicia o
surgimento e prevalência do capim), águas estagnadas”;
ED6 “Erosão, capim e lixo”;
ED8 “Lixo e mau cheiro, e águas nas ruas”.
Responsável por resolver problemas ambientais que ocorrem em casa
A maior parte dos encarregados de educação afirmaram que cabe a toda família resolver
problemas ambientais que ocorrem nas suas casas e a menor parte responderam que
cabe os encarregados de educação.
ED3 “Todos de casa”;
ED5 “Encarregado de educação”;
ED8 “Toda família”.
De acordo com Segura (2001), os fatores interessantes que expressam grande
importância na execução da educação ambiental são os responsáveis ou país, sua
participação no processo pode se estender até o âmbito familiar e no quotidiano,
solidificando tudo que os alunos aprendem na escola e ambos o se fazendo atuantes
na preservação ambiental, mesmo que de forma passiva. Nesse cenário, o processo
educativo pode conduzir uma transição em direção á sustentabilidade sócio ambiental.
Análise das entrevistas dos Munícipe
Foram entrevistados alguns munícipes que vivem ao redor do foco de lixo (numa área
que varia de 20 a 80 m), que constituem metade dos munícipes entrevistados,
obedecendo a igualdade do género e outra metade foi constituída por Chefe de
quarteirão, Adjunta do chefe de quarteirão e Pastor da igreja local.
O que tem feito para reduzir os problemas ambientais que ocorrem no
seu bairro
Em relação aos problemas ambientais que ocorrem no bairro, a maior parte dos
munícipes responderam que consciencializam as pessoas para não depositarem lixo fora
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do contentor, evacuam o lixo enfrente a igreja e colocam dentro do contentor, apelam
as estruturas para tomarem as devidas providências em relação aos problemas
vivenciados onde mandam carta ao círculo, contribuem para o melhoramento e a
construção de vias de acesso e a menor parte responderam que abrem valetas para
permitir passagem da água da chuva e abrem covas nos quintais para enterrarem o lixo
orgânico.
Uma das formas de diminuir resíduos sólidos produzidos a nível domiciliário é a pratica
da reciclagem e reutilização dos objectos, pós esta prática além de diminuir a quantidade
de resíduos sólidos, auxiliam na diminuição da procura de nova matéria-prima, na
utilização de água e energia, e serve como fonte de emprego.
M2 “Abro valeta para água da chuva passar e abro cova para enterrar o
lixo que não demora apodrecer”;
M5 “Incentivo as pessoas a gerir o lixo que produzem, abro valetas no
bairro para permitir a passagem da água”.
M6 “Consciencializo as pessoas a não depositarem o lixo fora do
contentor, evacuo o lixo enfrente a igreja e coloco dentro do contentor,
apelo as estruturas para que tomem as devidas providências em relação
aos problemas vivenciados (mando carta para o circulo), transmito a
moral de como devemos minimizar os problemas que vivenciamos,
contribuo com valores monetários para o melhoramento e construção
das vias de acesso”.
Figura 3: Problemas ambientais que ocorrem no bairro Machava Bunhiça. Ruas alagadas, Erosão
e capim na estrada.
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Conclusão
No plano temático de Geografia conteúdos que abordam problemas ambientais, mas
os mesmos são explorados de forma superficial e, em alguns casos não chegam a ser
abordados por se tratar de temáticas transversais.
Os professores de Geografia, pouco partilham os conhecimentos ligados ao ambiente,
porque maior parte se dedica a aulas teóricas, viradas a sistematização de conteúdos,
apesar de, a escola oferecer condições físicas favoráveis para aprofundarem na prática
temas ligados ao ambiente.
Os alunos, possuem conhecimentos dos problemas ambientais que ocorrem na escola e
no bairro, mas pouco fazem para minimiza-los, deixando na responsabilidade do
município.
Por se tratar de uma zona baixa, (local propicio para a água da chuva escorrer), a Escola
Secundária Bedene Machava é assolada por problemas ambientais como erosão e
alagamento provocado pelas águas da chuva, na época chuvosa.
Agradecimentos
Ao meu supervisor, Prof. Doutor Sabil Damião Mandala, meus sinceros e infinitos
agradecimentos pelo apoio, dedicação e orientação em todos momentos da realização do
trabalho.
Ao Conselho Municipal da Matola (CMM) e o Posto Administrativo da Machava, pela
autorização e colaboração na recolha de dados.
A direcção da Escola Secundária Bedene Machava, em especial ao Director da Escola
(Ismael Margude), a todos os professores e em especial os de geografia da 10 classe
(Rabeca Firmino e António Arnaldo), por terem me recebido de forma incondicional e
colaborado na minha pesquisa cientifica.
A todos alunos da 10 classe e em especial os que participaram na entrevista e os seus
respectivos encarregados de educação.
Referências
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humanas. Paris: Techos/ Unesco.
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geografia secretaria da educação fundamental. s.e.: Brasília: MEC/SEF,.
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Coimbra.
Da Silva, M. & Silva, E. da (2012). Ensino da geografia e construção dos conceitos
científicos geográficos. s.e.: Brasil.
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Leff, E. (2001). Saber ambiental. Sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder.
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Ministério da Educação e Cultura (2008). Plano Curricular de Ensino Secundário Geral.
Maputo, INDE.
Segura, B. D. S. (2001). Educação ambiental na escola pública: da curiosidade ingénua
a consciência crítica. s.e.: São Paulo.
Tannus, S. & Garcia, A. (2008). Historia e evolução da educação ambiental, através de
tratados internacionais sobre o meio ambiente. s.e.
How to cite this note
Vianculos, Adélia Jorge & Mandala, Sabil Damião (2024). O Contributo do Ensino de Geografia para
a Solução de Problemas Ambientais: Caso Escola Secundária Bedene Machava, Bairro Bunhiça,
Município da Matola. Janus.net, e-journal of international relations. VOL15 N1, TD1 Dossiêr
temático “Rede Lusófona de Educação Ambiental: perspectivas de cooperação para construir
respostas sociais a uma crise socioambiental global”. Setembro de 2024. DOI
https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0224.04.