OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N1, DT1
Dossiê temático - Rede Lusófona de Educação Ambiental:
perspectivas de cooperação para construir respostas sociais
a uma crise socioambiental global.
Setembro 2024
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REDE LUSÓFONA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DA “COOPERAÇÃO”
À CONSTRUÇÃO DE UMA PERSPETIVA DE “COCRIAÇÃO” A PARTIR
DA ANÁLISE DE SEIS CONGRESSOS INTERNACIONAIS (2007-2021)
ANA LARANJA
analaranj@gmail.com
Doutora em Ensino e Divulgação das Ciências, mestre em Biologia e Gestão da Qualidade da
Água, Licenciada em Engenharia do Ambiente. Iniciou a aventura profissional na
República Checa, passou ainda por países como Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e
Príncipe e Cabo-Verde. Durante mais de uma década foi coordenadora no Centro de
Monitorização e Interpretação Ambiental (CMIA) de Vila do Conde, onde dinamizou
inúmeras formações, conteúdos e atividades nas temáticas da Comunicação de Ciência,
Educação Ambiental e Monitorização Ambiental. Neste momento colabora com o
Município de Vila do Conde (Portugal) na elaboração do Plano Municipal de Ação
Climática. Ciência ID- 4E1F-C663-E119.
FILOMENA MARTINS
filomena@ua.pt
Doutora em Ciências Aplicadas ao Ambiente, com frequência do Mestrado em Geomorfologia
Litoral e Especialização em Direito do Ordenamento, Urbanismo e Ambiente, Licenciada em
Geografia. Professora Associada da Universidade de Aveiro, Departamento de Ambiente e
Ordenamento (Portugal). Vice-Diretora do Mestrado em Ciências do Mar e da Atmosfera.
Investigadora Integrada da Unidade de Investigação em Governança, Competitividade e Políticas
Públicas (GOVCOPP), Coordenadora do Grupo de Gestão Integrada do Património Natural e
Cultural das Marinhas e Ecossistemas Associados da Universidade de Aveiro, Coordenadora do
Regional Training Centre Portugal da Ocean Teacher Global Academy (RTC-PT, OTGA) UNESCO-
COI. https://orcid.org/0000-0002-5785-6972.
MARÍLIA ANDRADE TORALES CAMPOS
mariliat.ufpr@gmail.com
Doutora em Ciências da Educação, professora associada da Universidade Federal do Paraná.
Mestre em Educação Ambiental, Pedagoga. Diretora do Centro de Educação Ambiental e
Preservação do Patrimônio (Brasil). Líder do Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental e Cultura
da Sustentabilidade. Coordenadora Adjunta da Rede Lusófona de Educação Ambiental. Bolsista
Produtividade em Pesquisa (CNPq/Brasil). https://orcid.org/0000-0002-4026-6239.
Resumo
O Congresso Internacional de Educação Ambiental (EA) dos Países de Língua Portuguesa e
Galiza surgiu em 2007, da vontade e da necessidade de articulação permanente entre Angola,
Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste
(países que à data compunham a CPLP) e a comunidade autónoma da Galiza (Espanha).
Promover a EA é um desafio ambicioso, e também necessário, aos que pretendem contribuir
para a construção de uma melhor relação entre a natureza e a sociedade. Sendo assim,
interessou-nos realizar uma análise dos resultados de um conjunto de congressos
internacionais de Educação Ambiental que foram realizados em diferentes países entre os
anos de 2007 e 2021 para compreender suas características e seu potencial de cooperação e
cocriação no âmbito da lusofonia. A metodologia usada nesta investigação baseou-se na
análise dos dados disponíveis sobre o perfil dos participantes nos congressos, as instituições
colaboradoras e as ações registradas em cada um eventos. Portanto, a análise documental
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Título Dossiê temático - Rede Lusófona de Educação Ambiental:
perspectivas de cooperação para construir respostas sociais
a uma crise socioambiental global
Setembro 2024, pp. 24-44
Rede Lusófona de Educação Ambiental: da “Cooperação” à Construção de uma Perspetiva de
“Cocriação” a Partir da Análise de Seis Congressos Internacionais (2007-2021)
Ana Laranja, Filomena Martins, Marília Andrade Torales Campos
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fundamentou-se nas informações facultadas pela organização dos congressos em seus
relatórios finais, nos programas de cada edição disponíveis no site do congresso e outros
documentos disponibilizados pelos grupos responsáveis. Os resultados obtidos apontam que
os congressos denotam um amadurecimento das ações da Rede Lusófona de Educação
Ambiental, tanto no que se refere ao nível de participação individual e institucional, como no
avanço dos processos de cooperação internacional e na existência de um potencial de
cocriação para o enfrentamento de uma crise socioambiental global.
Palavras-Chave
Educação Ambiental, Rede Lusófona, Congressos, Cooperação, Cocriação.
Abstract
The International Congress on Environmental Education (EE) in Portuguese-speaking
Countries and Galicia came about in 2007 out of the desire and need for permanent
coordination between Angola, Brazil, Cape Verde, Guinea-Bissau, Mozambique, Portugal, São
Tomé and Príncipe, East Timor (the countries that made up the CPLP at the time) and the
autonomous community of Galicia (Spain). Promoting environmental education is an
ambitious and necessary challenge for those who want to help build a better relationship
between nature and society. We were therefore interested in analyzing the results of a series
of international environmental education congresses held in different countries between 2007
and 2021 in order to understand their characteristics and their potential for cooperation and
co-creation within the Lusophone context. The methodology used in this research was based
on analyzing the available data on the profile of the participants in the congresses, the
collaborating institutions and the actions recorded in each event. The documentary analysis
was based on the information provided by the congress organizers in their final reports and
in the programs of each edition available on the congress website and other documents made
available by the groups responsible. The results obtained indicate that the congresses show a
maturing of the actions of the Lusophone Network for Environmental Education, both in terms
of the level of individual and institutional participation, an advance in the processes of
international cooperation and the existence of a potential for co-creation in order to tackle a
global socio-environmental crisis.
Keywords
Environmental Education, Lusophone Network, Congresses, Cooperation; Co-creation.
Como citar este editorial
Laranja, Ana, Martins, Filomena & Campos, Marília Andrade Torales (2024). Rede Lusófona de
Educação Ambiental: da “Cooperação” à Construção de uma Perspetiva de “Cocriação” a Partir da
Análise de Seis Congressos Internacionais (2007-2021). Janus.net, e-journal of international
relations. VOL15 N1, TD1 Dossiêr temático Rede Lusófona de Educação Ambiental:
perspectivas de cooperação para construir respostas sociais a uma crise socioambiental global”.
Setembro de 2024. DOI https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0224.2.
Artigo recebido em 30 de junho de 2024 e aceite para publicação em 20 de julho de 2024.
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DA ANÁLISE DE SEIS CONGRESSOS INTERNACIONAIS
(2007-2021)
ANA LARANJA
FILOMENA MARTINS
MARÍLIA TORALES CAMPOS
Introdução
Por certo que dissociar a complexidade da crise ambiental e civilizatória contemporânea
de um modelo de desenvolvimento econômico hegemônico, baseado na lógica capitalista
de produção, consumo e controle do poder político e financeiro denotaria o uso de uma
interpretação superficial ou mesmo ingênua da realidade. Tal modelo, que se impõe aos
campos científico, acadêmico, social, precisa ser repensado a partir de diferentes
perspectivas, mas principalmente, a partir do entendimento da relação que as sociedades
estabelecem com a natureza, mediada por sua cultura. Neste sentido, considerando a
existência de uma crise socioambiental planetária, interessou-nos compreender o
movimento de organização coletiva de um grupo de pessoas que atuam no campo da
Educação Ambiental em países e comunidades de Língua Portuguesa e comunidade
autónoma da Galiza (Espanha).
Este grupo de pessoas e instituições desenvolve ões articuladas, de maneira mais ou
menos constante, mas com evidências de continuidade. Dentre essas evidências, se
poderia ressaltar a realização, a cada dois anos (a partir de 2013), dos Congressos
Internacionais de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa.
Assim, mais especificamente, nos orientamos pela análise de dados colhidos em
documentos de referência obtidos no site oficial dos congressos, tais como: programas
detalhados das diferentes edições do evento, livros de resumo de comunicações orais e
outros trabalhos apresentados em painéis, oficinas ou minicursos, relatórios finais de
atividade das diferentes edições, documentos de conclusão do I Congresso (2007),
Declaração de Bubaque (2019), resultados diretos do IV Congresso (2017) e resultados
das conferências finais. Recolhemos ainda, dados de fontes secundárias resultantes da
consulta a pessoas fonte que nos facultaram documentos com o número de inscritos das
edições IV, V e VI dos Congressos.
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Estes documentos são o resultado, a materialidade e a memória de seis congressos
internacionais de Educação Ambiental, realizados em diferentes países e continentes.
Estes eventos foram organizados pela Rede Lusófona de Educação (Redeluso) em
parceria com instituições locais e outras que atuam no âmbito internacional. A Redeluso
se caracteriza por ser um espaço de cooperação internacional que articula iniciativas de
pessoas e instituições que atuam no campo da Educação Ambiental e que, na perspectiva
de Orellana (2005), constituem uma comunidade de aprendizagem orientada pela
colaboração, pela comunicação e pelo diálogo em torno as questões que pululam o campo
da Educação Ambiental e orientam o quefazer de seus atores, visando a construção de
sentido e de uma identidade, sem desconsiderar aquilo que lhes é “communis” ou
mesmo, do “diversum”.
A cooperação entre os países lusófonos ocorre em torno a diferentes objetos de interesse
comum. Sua concretização se vale de rios instrumentos, sejam eles as plataformas ou
outros recursos virtuais de comunicação que favorecem a troca de informações de
interesse comum. A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) surge neste
contexto como um espaço político-institucional de formalização dessas ações, por meio
da promoção de reuniões ministeriais com representantes dos Estados membros para
definir iniciativas comuns e o estabelecimento de acordos bi ou multilaterais. Essa
colaboração visa fortalecer os laços históricos, culturais e linguísticos compartilhados,
respaldando os projetos nacionais de desenvolvimento estabelecidos nacionalmente, mas
que possuem potencial de integração com os objetivos e interesses dos demais países
lusófonos.
A partir dessa compreensão, tomamos como objeto desta análise os dados referentes
aos seis congressos que foram realizados no período compreendido entre os anos de
2007 a 2021, em seis países diferentes: Espanha (Comunidade Autônoma da Galiza),
Brasil, Portugal, São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau e Cabo Verde. Por meio de uma
abordagem metodológica quantiqualitativa, com base na análise documental,
objetivamos compreender a construção da identidade que emerge dos debates e das
ações desenvolvidas em cada um dos congressos internacionais de Educação Ambiental
dos países e comunidades de Língua Portuguesa para identificar os potenciais e os limites
dos processos de cooperação como possíveis favorecedores para cocriação entre os
participantes no âmbito da lusofonia.
Para o alcance deste objetivo, estruturamos este artigo em duas parte. Na primeira,
contextualizamos o percurso histórico e o processo de composição da Rede Lusófona de
Educação Ambiental e dos seis congressos internacionais que foram realizados pela
mesma. Na segunda parte, apresentamos os resultados da análise dos dados, buscando
compreender os processos de cooperação que se efetivam a partir da realização dos
eventos, considerando as ações que foram realizadas em diferentes momentos de
estruturação e realização dos congressos, mas, sem perder de vista as características e
peculiaridades de cada um.
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A Rede Lusófona de Educação Ambiental e os congressos internacionais
de Educação Ambiental dos países e comunidades de Língua
Portuguesa
A Lusofonia poderia ser compreendida desde diferentes perspectivas, mas, no caso desta
análise, a compreendemos como condição daquele que se identifica lusófono, ou seja,
não atrelamos essa identidade a nacionalidades, mas sim, ao desejo de pertencimento e
ao diálogo que se estabelece com essa comunidade por interesses e afinidades diversas.
Neste sentido, vale lembrar que o uso da Língua Portuguesa como forma de comunicação
não é o único traço identitário a ser considerado, tendo em vista a existência de aspectos
sócio-históricos e culturais que o podem ser abstraídos do perfil de qualquer grupo
social ou comunidade. No caso da constituição da rede lusófona, a iniciativa de
articulação entre pessoas e instituições que atuam no campo da Educação Ambiental
tomou por base o envolvimento de países e regiões que compartilham a ngua
Portuguesa dentre seus idiomas, nomeadamente: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-
Bissau, Moçambique, Portugal, o Tomé e Príncipe, Timor Leste e Galiza (por identidade
linguística). No entanto, valeria destacar que essa delimitação não tem um sentido
limitante, pois esta comunidade se caracteriza pelo diálogo aberto com outras diferentes
comunidades que integram o campo da Educação Ambiental e compartem ideais do
campo ambientalista em diferentes territórios do planeta.
A Rede Lusófona de Educação Ambiental (Redeluso) teve início em princípios do ano de
2005. Em um encontro informal que ocorreu em Portugal (Município de Ericeira), durante
as XII Jornadas Pedagógicas da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA),
um grupo de pessoas atuantes no campo da Educação Ambiental identificaram a
necessidade de uma articulação das iniciativas que eram realizadas nos países de Língua
Portuguesa. Naquele momento, ainda que com pouco conhecimento sobre a forma como
cada um dos países desenvolvia suas ações, o grupo percebeu a necessidade de
estabelecer mecanismos de comunicação que possibilitassem maior integração e
reconhecimento mútuo.
Assim, para dar início ao processo de identificação das pessoas e das instituições
participantes, foi criado um grupo de troca de correios eletrônicos (comum naquele
momento para troca de informações em agrupações coletivas). Este primeiro esforço
permitiu a identificação de atores e instituições que atuavam nos países integrantes da
Redeluso e favoreceu o reconhecimento de traços identitários que permitiriam a
construção de um sentido de pertencimento a uma comunidade com objetivos e interesse
partilhados, orientado pela preocupação com as questões ambientais que demandam
ações educativas em seu enfrentamento.
A comunicação virtual foi o início de um processo que demandava a participação efetiva
dos membros da rede, mas que também punha em tela a diversidade sociocultural que
caracterizava aquele grupo que aos poucos, mas de forma contínua, ia se ampliando e
estabelecendo determinados contornos, mais ou menos definidos e de poucas simetrias.
Um exemplo do que logo se pôde identificar foram as condições de uso de tecnologias
em cada um dos países ou comunidades. Em regiões de escasso acesso aos
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computadores e a internet, havia dificuldade para identificar ações e promover a
participação dos membros da rede, tendo em vista que o acesso às informações era
muito limitado. Sobre essas assimetrias entre as características dos grupos em cada país,
Borges (2019) ao analisar a constituição da Redeluso aponta que, distribuidos em quatro
continentes, cada país apresenta uma realidade diversa e ambientes particulares que os
influenciam e os caraterizam em função da região na qual estão inseridos. Assim, para a
autora, a evolução da Educação Ambiental apresenta-se bastante disforme,
especialmente no espaço Sul / Oriental-africano (Moçambique), tendo em vista que no
continente não existe um marco referencial que norteie a política ambiental de forma
clara em todos os estados membros.
Também foi possível perceber a existência de condições diversas, ou mesmo adversas,
de trabalho em que atuavam as pessoas no campo da Educação Ambiental, tendo em
vista questões relacionadas ao nível de desenvolvimento socioeconomico de cada um dos
países. De acordo com os dados do relatório de Desenvolvimento Humano 21/2022, dos
países que integram a Redeluso, apenas Espanha (Comunidade Autônoma da Galiza) e
Portugal possuem um nível de desenvolvimento considerado como “muito alto”,
enquanto o Brasil possui um nível de desenvolvimento humano (IDH) “alto” e os demais
países apresentam um IDH médio ou baixo. Portanto, esta realidade precisa ser
considerada para a elaboração e para implementação de ações e de políticas públicas em
cada um dos países e nos espaços integrativos de cooperação. Sendo assim, depois desse
primeiro momento de diálogo entre os participantes da rede, foi identificada a
necessidade de ampliar as ações e estabelecer mecanismos que possibilitassem
encontros presenciais periódicos, orientados pela construção e execução de objetivos
comuns. Neste sentido, apresentamos uma cronologia dessas ações, considerando a
criação da Redeluso em 2005.
Tabela 1: Ações presenciais da Redeluso no período entre 2005 e 2021.
Ano
Local
Evento
Ações
2005
Ericeira,
Portugal
XII Jornadas da ASPEA
o Criação Redeluso
2006
Joinville Santa
Catarina, Brasil
V Congresso Iberoamericano de
Educação Ambiental
o Simpósio Lusófono de Educação
Ambiental
o Necessidade de articulação
permanente entre Redeluso e
CPLP
o Lançamento do 1º Congresso
Internacional de Educação
Ambiental dos Países Lusófonos
e Galiza
2007
Santiago de
Compostela,
Galiza, Espanha
1º Congresso Internacional de
Educação Ambiental dos Países
Lusófonos,
o Coordenação do Centro de
Extensión Universitaria e
Divulgación Ambiental de Galicia
(CEIDA)
o Cabo Verde reivindicou a
concretização do congresso
internacional de educação
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ambiental dos países lusófonos
para o ano de 2010
2013
Cuiabá/Mato
Grosso, Brasil
Congresso Internacional de
Educação Ambiental dos Países
Lusófonos
o Coordenação da Universidade
Federal Mato Grosso
2015
Murtosa,
Portugal
O Congresso Internacional de
Educação Ambiental dos Países
Lusófonos
o Organização da Associação
Portuguesa de Educação
Ambiental (ASPEA).
2017
Ilha do Príncipe,
São Tomé e
Príncipe
Congresso Internacional de
Educação Ambiental dos Países
Lusófonos
o Coordenação do Governo
Regional do Príncipe em parceria
com instituições locais
2019
Ilha de Bubaque,
Bijagós, Guiné-
Bissau
Congresso Internacional de
Educação Ambiental dos Países
Lusófonos
o Coordenação da RedeLuso
Guiné-Bissau e do Instituto de
Biodiversidade e das Águas
Protegidas na Guiné Bissau
2021
Ilha de São
Vicente, Cabo
Verde
Congresso Internacional de
Educação Ambiental dos Países
Lusófonos
o Coordenação da Faculdade de
Educação e Desporto da
Universidade de Cabo Verde
Fonte: Autoria própria
De acordo com Borges (2019), a primeira experiência de debate sobre a Educação
Ambiental no espaço lusófono ocorreu durante realização do Simpósio Lusófono de
Educação Ambiental promovido pela Redeluso no ano de 2006 no Brasil. Essa foi a
oportunidade para a realização de um encontro presencial que possibilitou a partilha de
experiências mediadas pelo entrecruzamento real de olhares e por uma intensa interação
humana em momentos definidos por um planejamento prévio e por outros criados a
partir da chance de vivenciar um tempo/espaço comum. O evento ocorreu em paralelo à
realização do V Congresso Iberoamericano de Educação Ambiental que foi realizado na
cidade de Joinville, na região sul do Brasil. Nessa oportunidade foi possível fazer uma
análise das informações que circularam no grupo de troca de emails e promover uma
discussão sobre o primeiro ano de atividades da Redeluso, visando estabelecer
perspectivas de continuidade do trabalho. Ao final deste encontro, ficou definido que o
próximo evento seria realizado na Galiza (Região Autônoma de Espanha) no ano de 2007.
A transição de um simpósio de menor porte, caracterizado como um evento paralelo
dentro de um dos maiores congressos de Educação Ambiental realizados no âmbito da
comunidade iberoamericana, para um congresso no continente europeu constituiu-se em
um grande desafio. Dentre as demandas que emergiam naquele contexto, estava a
identificação de pessoas e instituições govenamentais e o-governamentais que
pudessem representar cada um dos países e apresentar um panorama do trabalho que
estava sendo desenvolvido no campo da Educação Ambiental. Segundo Vázquez (2019),
a organização de um congresso da envergadura que exigia o 1º Congresso Lusófono
organizado na Galícia, requeria amplos apoios institucionais e disponibilidade de recursos
humanos e orçamentários dos quais a Rede Lusófona não dispunha naquele momento.
Portanto, a concretização do primeiro congresso exigiu a articulação de muitas pessoas
e instituições para a composição de uma equipe de organização composta por pessoas
de diferentes nacionalidades, com experiências diversas, mas com um compromisso
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comum com o campo da Educação Ambiental. Esse esforço resultou na realização de um
evento que congregou um grande número de participantes (379 participantes) e
consolidou a Redeluso como um espaço de integração que poderia promover ações de
cooperação entre os países.
A falta de recursos nacionais e internacionais, principalmente a indisponibilidade de
recursos financeiros e de apoio político-institucional permanente para a realização dos
congressos, foram elementos dificultadores para a continuidade das ações e para a
realização do congresso em 2010. Em 2007 havia ficado definido que Cabo Verde seria
o próximo país acolhedor, no entanto, isto não foi possível, tendo em vista que não
haviam condições materiais e logísticas para realizar um evento com as dimensões e a
complexidade antevistas pelos possíveis organizadores locais. Tal condição inviabilizou a
concretização do segundo congresso no ano previsto e criou um hiato de tempo que
seria interrompido no ano de 2013, com a realização do 2º Congresso no Brasil.
De acordo com Borges (2019), nos dois primeiros congressos (Galiza/Espanha e Brasil),
foi realizada uma revisão do tipo “Estado da Arte” da Educação Ambiental no contexto
dos países e das comunidades que compunham a Redeluso. Segundo a autora, este foi
o início do delineamento de algumas “propostas para a construção do pilar das
identidades nos mosaicos dos territórios lusófonos”, a partir da génese de diálogos entre
quatro continentes, constituindo um elo entre 9 territórios para o desenvolvimento da
Educação Ambiental, com a intenção de contribuir na construção de uma sociedade mais
justa e inclusiva socialmente e ecologicamente mais sustentável.
Na sequência, ainda segundo Borges (2019), os 3º e congressos (em Portugal e o
Tomé e Príncipe) enfocaram os princípios orientadores do Tratado de Educação Ambiental
para Sociedades Sustentáveis e de Responsabilidade Global e da Carta da Terra. Neste
sentido, foi possível perceber um esforço em ampliar o debate para além de um processo
inicial de reconhecimento dos membros da Redeluso para dar relevo ao surgimento de
eixos comuns para criar novas inciativas ou oportunidades para a concretização de uma
possível malha de cooperação, mais complexa e sistematizada no campo da Educação
Ambiental.
A experiência de realização do congresso na Gui Bissau (2019), com forte
integração das comunidades locais denotou a existência de potencial de engajamento
comunitário a partir das ações realizadas nos congressos. Ao incluir na programação do
evento uma sequência de visitas a diferentes comunidades, a exemplo do que já sido
feito na Ilha do Príncipe (2017), o congresso ampliou a sua perspetiva para além de um
evento científico ou acadêmico, superando um desafio apontado por Vázquez (2019) ao
dizer que seria preciso fuxir da tentación de converter os nosos congresos nun espazo
fundamentalmente académico e non nun instrumento de creación de intelixencia
colectiva e de apoio a intervención socioambiental (p. 32).
No ano de 2021, ao final de um período pandêmico, a Universidade de Cabo Verde foi
palco de mais um congresso internacional de Educação Ambiental dos países e
comunidades de Língua Portuguesa. Nesta ocasião, mesmo que o evento tivesse sido
realizado com algumas restrições sanitárias, foi possível dar continuidade aos processos
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de cooperação iniciados. Neste congresso, em resposta ao que foi apontado na VIII
Reunião de Ministros de Ambiente da CPLP, a Redeluso definiu que seriam elaboradas as
Linhas orientadoras para elaboração, implementação, avaliação e revisão de Estratégias
de Educação Ambiental” para as políticas de Educação Ambiental em todos os países.
Esse processo envolveu a participação de muitos atores de todos os países na formação
de um Grupo de Trabalho (GTEA-CPLP), demandou a realização de diversas reuniões
virtuais e momentos de debates e revisão de textos e culminou em um documento que
foi apresentado e acolhido pela CPLP em uma reunião de ministros. Em 2023, por ocasião
da realização do VII Congresso da Redeluso em Maputo (Moçambique), o documento
1
foi
apresentado a todos os participantes presentes para amplo conhecimento.
Assim, de acordo com Prata, Guerra e Schmidt (2023), a partir do reconhecimento das
diversas ões que compunham o panorama da Educação Ambiental no contexto
lusófono, especialmente no que se refere à realização dos congressos, a CPLP reconheceu
a necessidade de apoio e cooperação multilateral, tendo em vista a existência de uma
forte dinâmica entre as políticas institucionais e a sociedade civil (representada pela
Redeluso). Neste processo, de acordo com os autores, não é possível desprezar que
persistem algumas desigualdades na sua sistematização (estratégias, medidas),
abrangência (temáticas, públicos), estabilidade (política, financeira) e governança
(participativa, transparente) entre os países e comunidades envolvidas. Portanto, essa
análise considera estes aspectos como elementos basilares para a análise das
informações que emergem dos registros e dados acessados ao longo do processo de
construção do material empírico.
Metodologia da investigação
Este estudo baseia-se em uma análise documental (Coutinho, 2023) feita a partir dos
documentos provenientes das seis primeiras edições dos congressos internacionais de
Educação Ambiental dos países e comunidades de Língua Portuguesa. Mais
especificamente, adotou-se uma metodologia quantiqualitativa (Coutinho, 2023) para a
compreensão do objeto de pesquisa. A análise de dados foi feita a partir da análise de
conteúdo (Bardin, 1977), ou seja, foram analisados aspectos quantiqualitativos
presentes nos documentos anteriormente citados neste texto. O período a que se refere
esta análise compreende os dados referentes aos congressos realizados entre os anos de
2007 a 2021, do 1º ao 6º congresso.
Numa primeira etapa de coleta dos dados foram lidos todos os documentos referidos na
introdução, sendo a origem de alguns relacionada a documentos disponíveis no site oficial
dos congressos e de outros, fornecidos pelas pessoas fonte que, de uma forma ou de
outra, atuaram na organização dos congressos. Numa segunda etapa, foram usados
critérios de exclusão, dentro os quais citamos: a coerência interna dos dados e a
organização do material. Após essas etapas se procedeu ao processo de análise e
discussão dos resultados, os quais apresentamos a partir daqui.
1
Disponível em: http://ealusofono.org/images/LO_PARA_O_APOIO_A_ELABORACAO.pdf.
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perspectivas de cooperação para construir respostas sociais
a uma crise socioambiental global
Setembro 2024, pp. 24-44
Rede Lusófona de Educação Ambiental: da “Cooperação” à Construção de uma Perspetiva de
“Cocriação” a Partir da Análise de Seis Congressos Internacionais (2007-2021)
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Resultados e Discussão
Esta análise busca responder ao objetivo de compreender a construção da identidade
que emerge dos debates e das ações desenvolvidas em cada um dos congressos
internacionais de Educação Ambiental dos países e comunidades de Língua Portuguesa
para identificar os potenciais e os limites dos processos de cooperação como possíveis
favorecedores para cocriação entre os participantes no âmbito da lusofonia.
Em um primeiro momento, por meio da análise dos dados quantitativos, buscou-se
identificar a quantidade de participantes inscritos em cada uma das edições dos
congressos. Ao comparar os dados de diferentes documentos, foi possível perceber
algumas discrepâncias numéricas, por isso decidimos nos centrar nos dados recebidos
pelas pessoas fonte, pois elas estiveram envolvidas nas diferentes fases da organização.
Os dados são apresentados a seguir na tabela 2.
Tabela 2: Número de inscritos nas diferentes edições dos congressos.
Edição
País Anfitrião
Nº de inscritos
Pessoas Fonte
Relatório final do
Congresso
I
Espanha
374
Sem dados
II
Brasil
Sem dados
Sem dados
III
Portugal
713
Sem dados
IV
São Tomé e Príncipe
279
274
V
Guiné-Bissau
274
396
VI
Cabo-Verde
341
419
Fonte: Autoria própria
A ausência de dados referentes ao número de inscritos na segunda edição dos congressos
dificultou uma análise completa em relação ao número de inscrições recebidas em cada
evento. Nas demais edições foram encontradas discrepâncias de dados entre as fontes
de informação, o que não nos permite afirmativas específicas sobre o nível de
participação, pois poderia suscitar dúvida sobre o entendimento do indicador inscrito.
A disparidade poderia ser explicada pela não concretização de intenções de participação
manifestadas com a inscrição inicial, no entanto, essa eventual explicação só se aplica à
IV Conferência em que o mero de inscritos apresentados no relatório final do congresso
é inferior ao número registado nos dados cedidos pela pessoa fonte. Nos V e VI
congressos há um comportamento oposto, ou seja, o número de inscritos registados nos
respetivos relatórios finais é superior ao número de inscritos registados, o que pode ser
explicado pelo de inscritos de última hora e sem comunicações de trabalhos. Sendo
que a diferença é significativa, 122 no V e 78 no VI congressos. Outra explicação para
tal facto é o universo de instituições que estão a trabalhar em rede, para a organização
do Congresso, nem sempre conseguirem estar em diálogo, sucedendo por isso dados
distintos.
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Países da CPLP e Espanha presentes nos Congressos
Para além do número de participantes nos congressos e a identificação dos países de que
estes são originários é imprescindível realizar uma análise sobre o tipo de contribuições
que foram realizadas ao longo das seis edições do congresso. Quando falamos no número
e tipo de intervenções estamos a incluir conferências, painéis, comunicações orais,
pósteres e apresentações de recursos didáticos. Neste contexto, observamos que ao
longo dos seis congressos realizados, Portugal registrou um total de 310 intervenções,
seguido pelo Brasil com 208 intervenções. Em sequência, a Guiné-Bissau e a Espanha
apresentaram 75 e 74 intervenções, respetivamente. Cabo Verde, ao longo destes anos,
contribuiu com um total de 42 intervenções, enquanto São Tomé e Príncipe, Angola e
Moçambique registraram aproximadamente 20 intervenções cada. Timor-Leste fez 5
intervenções. Ressalta-se ainda o facto de a Guiné Equatorial, que se tornou membro da
CPLP em 2014, nunca se ter feito representar nos congressos, o que suscita reflexões
significativas sobre as futuras participações dos membros deste país. Na figura 1
apresentam-se os dados relativos ao número de intervenções por país.
Figura 1: de intervenções por país ao longo das seis edições do Congresso Internacional de
Educação Ambiental.
Fonte: Autoria própria
0 20 40 60 80 100 120
Angola
Brasil
Cabo Verde
Guiné-Bissau
Portugal
Moçambique
São Tomé e Príncipe
Espanha
Timor-Leste
Guiné Equatorial
nº de intervenções* por país em cada congresso
2021 | CV 2019 | GB 2017 | STP 2015 | PT 2013 | BR 2007 | ES
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Gostaríamos ainda de ressaltar que na realização do VI Congresso, realizado em 2021,
sediado em Cabo Verde, foi evidenciada a presença notável do projeto intitulado "ECO
YOUTH", uma iniciativa que reuniu colaborações entre Portugal, Espanha e Moçambique.
Além disso, foram estabelecidas parcerias estratégicas para a promoção de eventos
específicos, incluindo:
A organização de uma oficina denominada "Reciclagem do vidro", resultante da
colaboração entre duas organizações não governamentais: a EducÁfrica ONGD de
Portugal e a Cooperativa de Educação Ambiental Repensar de Moçambique.
A condução de uma mesa de diálogo intitulada "Escola Azul o mar que une", fruto
da interação entre a Direção Geral de Política do Mar de Portugal e a Universidade de
São Paulo, Brasil.
A realização de um minicurso intitulado "Visitas de campo: Baia Norte e Praia Grande",
resultado da colaboração entre a Universidade Lusófona de Lisboa e a Associação
Biosfera de Cabo Verde.
Estas parcerias representam um avanço significativo na promoção de diálogos
interculturais e na abordagem de questões ambientais, agregando conhecimentos e
práticas entre diversas entidades de diferentes países. No contexto deste congresso,
reconhecido pela partilha de comunicações através de apresentações em diferentes
formatos: comunicações em painel ou orais, oficinas, mini-cursos, painéis, mesas de
diálogo, culminando na produção de artigos científicos que abordam diversas temáticas
no âmbito da Educação Ambiental, revelou-se pertinente uma análise do público
participante.
Tipo de instituições presentes nos Congressos
Após a identificação dos países participantes no congresso internacional de educação
ambiental, torna-se imperativo caracterizar os diversos intervenientes nas seis edições
realizadas. Estes protagonistas, provenientes de diferentes países e instituições,
carregam consigo a responsabilidade de discutir, implementar e estabelecer medidas e
estratégias de ação. Ao retornarem aos seus países de origem, almeja-se que estejam
munidos de um conhecimento mais aprofundado e comprometidos em efetuar mudanças
significativas em prol do bem comum.
Ao observar a primeira edição do congresso realizada em Espanha, no ano de 2007,
identificamos que a maioria dos participantes eram representantes do governo ou de
instituições governamentais, membros de universidades e da sociedade civil, incluindo
organizações não governamentais e associações. Esta composição do público
permaneceu notavelmente constante ao longo das edições subsequentes do congresso
até o ano de 2021, como demonstrado na figura 2.
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Figura 2: Tipo de representação institucional ao longo das diferentes edições do Congresso.
Fonte: Autoria própria
Outro elemento de notoriedade consiste no aumento da participação por parte do país
anfitrião. Em outras palavras, a presença de participantes de cada país torna-se mais
expressiva quando este assume a posição de anfitrião do congresso. Isto sugere a
presença de uma facilidade ampliada e custos de deslocamento reduzidos, contribuindo
assim para um aumento na adesão participativa.
Destaca-se a frequente participação de instituições governamentais ao longo das
distintas edições, fenómeno atribuível à importância conferida pela organização ao
realizar convites direcionados. A compreensão de que, sem o respaldo de governos e
entidades governamentais regionais e locais, as atividades da sociedade civil,
universidades e escolas encontram-se desprovidas de suporte, seja ele de natureza
financeira ou estrutural, reforça a relevância deste envolvimento. Este congresso detém
uma crescente notoriedade entre instituições governamentais, universidades e a
sociedade civil, cuja participação se estabeleceu como uma constante ao longo dos anos,
conforme evidenciado pela figura 2. Esta presença manifesta-se como um intercâmbio
de conhecimento, ideias e a criação de vínculos, elementos que contribuem para a
perenidade da rede lusófona de educação ambiental até aos dias de hoje.
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Por outro lado, observa-se uma menor participação das escolas e das empresas, facto
que pode ser justificado pela escassa presença de iniciativas de Educação Ambiental em
âmbitos empresariais. Isto deve-se à natureza das atividades desempenhadas por estas
instituições, em que a implementação de ações educativas não figura como uma
prioridade. No contexto das escolas (1º, 2º e ciclos), embora desempenhem um papel
crucial no âmbito da Educação Ambiental, não é comum a sua participação em
congressos com as características dos eventos atualmente em análise, motivada por
diversos fatores nomeadamente a ausência ou débil suporte financeiro para cobertura
dos custos de participação (inscrição, mobilidade e estadia); a indisponibilidade para
justificação de ausências durante os períodos letivos (restringindo a disponibilidade dos
professores aos intervalos letivos ou períodos de rias que nem sempre são coincidentes
no espaço da Redeluso).
A representação de algumas das instituições envolvidas neste congresso e na Redeluso
é apresentada na figura 3. Neste âmbito ressalva-se o facto de que a diversidade de
instituições representadas demonstram a existência de dissímeis condições de
desenvolvimento de trabalho e não da consistência de trabalho, realizada pelos diferentes
membros de cada país. Ou seja, uma perceptível assimetria de instituições que têm
apoiado de forma sistemática os congressos, com presença maior de instituições
portuguesas, galegas e brasileiras. A figura 3 oferece uma perspetiva gráfica de algumas
das entidades e instituições que têm sido participantes ativas e contribuintes para o
desenvolvimento e continuidade dos congressos.
Figura 3: Instituições participantes nas diferentes edições dos congressos.
Fonte: Sistematização das autoras
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Nos períodos entre congressos, a Redeluso sentiu a necessidade premente de promover,
facilitar e democratizar a comunicação entre seus membros, tendo em vista que a lista
de e-mails criada em 2005 já não cumpria mais com seus objetivos de estabelecer uma
comunicação rápida e ágil. Sendo assim, foram criados grupos em diferentes aplicações,
como: o “WhatsApp” denominado "Redeluso" (conforme representado na figura 4) com
236 participantes; o Facebook “redeluso” com 2.9 mil gostos e 3.1 mil seguidores; o
Youtube “EALusófono”, que conta com 123 subscritores; e, o Instagram “Congressoea”,
que tem 213 seguidores.
Figura 4: Grupo Redeluso nas diferentes aplicações WhatsApp, Facebook, Instagram e Youtube.
Fonte: Sistematização das autoras
Estes grupos concentram-se na discussão de assuntos pertinentes à organização dos
congressos internacionais de Educação Ambiental, bem como na divulgão e articulação
de iniciativas de âmbito científico, social, educativo e político relacionadas à Educação
Ambiental. Adicionalmente, foram estabelecidos grupos de trabalho dedicados a diversas
temáticas específicas, nos quais os membros têm a oportunidade de se inscrever e
contribuir ativamente para estes debates e projetos. Estas iniciativas visam promover
uma troca contínua de ideias e ões colaborativas entre os integrantes da Redeluso,
fortalecendo assim a colaboração e o desenvolvimento contínuo no campo da Educação
Ambiental.
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Implicações para a Rede Lusófona de Educação Ambiental: da
“cooperação” a construção de uma perspetiva de “cocriação”
Explorando as implicações derivadas dos resultados alcançados para o futuro da
Educação Ambiental nos países e comunidades de Língua Portuguesa, é imperativo
identificar possíveis diretrizes que orientem políticas, práticas e investigações futuras. Os
seguintes apontamentos são delineados com vista a favorecer a cooperação visando a
cocriação de novas iniciativas:
(1) Padronizar os dados dos congressos da Rede Lusófona: Com o intuito de
aprimorar a consistência e a fiabilidade das informações sobre os congressos,
identifica-se a necessidade de padronização dos dados e registros produzidos para
avançar-se em relação ao controle, a qualidade e ao acesso às informações sobre os
resultados para superar possíveis lacunas identificadas em cada edição dos
congressos. Esta ponderação aponta para a necessidade de estabelecimento de
diretrizes claras para uniformizar as fichas de inscrição, os formatos de relatórios e
outros documentos. Em relação aos tipos de metodologias de investigação e atuação
utilizadas, que tradicionalmente se baseiam na divulgação escrita do conhecimento,
seria preciso considerar também a divulgação oral para a produção e difusão dos
resultados. Nesse sentido, é essencial encorajar a adoção de recursos audiovisuais
para preservar e compartilhar saberes e informações, salvaguardando o conhecimento
tradicional e o conhecimento produzido na contemporaneidade. Este esforço visa
contribuir para a evolução e a inclusão de dados dos congressos, para que as
informações sejam democratizadas e otimizadas para ampliar a comunicação a todas
as comunidades envolvidas. Desta forma, seria favorável a criação de um conjunto de
diretrizes para orientar a uniformização dos dados nos congressos, garantindo maior
precisão e acessibilidade nas informações compartilhadas pela Rede Lusófona de
Educação Ambiental.
(2) Utilização efetiva de Plataformas Digitais: O nascimento da Rede Lusófona se
com base nas ferramentas digitais de comunicação, tendo em vista que a rede
começou suas ações a partir da constituição de um grupo de troca de emails no
sistema Yahoo. Ou seja, vale o reconhecimento de que a rede teve sua proposta
impulsionada pela existência de tecnologias de comunicação que possibilitaram um
diálogo entre os diferentes atores para articular ações em comum. Esse processo
significou uma oportunidade de democratização e difusão de conhecimentos
construídos em cada país e comunidade, em coletividade, em parcerias ou em
cooperação, mais ou menos ampliadas. Neste sentido, os dados dos congressos
demonstram que potenciar o uso de plataformas digitais ou outros tipos de
ferramentas digitais é um elemento favorecedor para a gênese de novas ações e para
a divulgação das experiências que estão ocorrendo no contexto da Rede Lusófona.
(3) Incentivar projetos e ações de cooperação: Nos espaços de apresentação de
experiências proporcionados ao longo dos seis congressos analisados foi possível
identificar uma riqueza de projetos e ões de cooperação que precisam ser
reconhecidos, fortalecidos e incentivados. Estimular e apoiar projetos de investigação
e ações que adotem uma perspetiva colaborativa entre os países, visando a construção
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de um futuro mais sustentável e harmonioso para a comunidade global é coerente
com os objetivos da Rede Lusófona estabelecidos desde sua origem. Para isso, seria
necessário buscar formas de cooperação mais efetivas, com maior apoio político e
recursos provenientes de fundos nacionais e internacionais.
(4) Ampliar o alcance das redes e das parcerias: É importante reconhecer que desde
2005 a Rede Lusófona promoveu um processo de ampliação do diálogo e possibilidade
de cooperação entre diversos atores que atuam em diferentes territórios, no entanto,
seria preciso intensificar e ampliar a participação mais efetiva de todos nas redes, nas
organizações não governamentais, nas universidades e em outros espaços potenciais
que possam enriquecer o cenário com novas causas, projetos, iniciativas que sejam
relevantes e inovadoras para fomentar processos de cocriação.
(5) Integrar diferentes abordagens teóricas e componentes nas estratégias
educativas: As estratégias educativas apresentadas ao longo dos seis congressos
analisados denotam a necessidade de que sejam incluídas nos currículos escolares e
extraescolares a valorização e integração de diferentes abordagens teóricas para
edificação de estratégias educativas que levem em consideração temas como a
proteção do patrimônio natural e cultural, as tradições locais e os modos de vida das
comunidades, a partir de uma perspetiva crítica e inovadora, baseada em processos
de cooperação e integração de diferentes visões de mundo.
(6) Fomentar sinergias entre os diferentes países e comunidades: Apesar da
notável contribuição de Portugal, Brasil e Espanha, é essencial intensificar a
participação ativa dos países africanos e de Timor Leste na cocriação de parcerias,
sejam eles projetos de investigação, ou outro tipo de ações: seminários, mini-cursos,
oficinas, entre outros. As nações africanas dentro da Rede Lusófona têm demonstrado
um progresso notável, porém, é crucial que desempenhem um papel mais
proeminente na formação e execução dessas colaborações. Para isso, a cooperação é
um elemento fundamental para que se criem melhores condições de trabalho e
atuação dos diversos atores que atuam nesses países, muitas vezes em condições
bastante adversas.
Estas ponderações, que emergem da análise dos dados podem constituir uma estrutura
inicial para direcionar esforços e iniciativas futuras, visando o fortalecimento e
aprimoramento contínuo da Educação Ambiental nos países e comunidades de Língua
Portuguesa, promovendo uma abordagem mais inclusiva, colaborativa e holística de
forma a ampliar processos de cooperação e avançar em direção à cocriação de sociedades
mais sustentáveis. Ao longo do processo de análise dos dados foi possível perceber que
há uma lacuna substancial em termos de parcerias, de projetos comuns de investigação
e apoio técnico que envolvam a participação de múltiplos países para promover
colaborações mais robustas e abrangentes. Neste sentido, o melhor registo e tratamento
dos dados poderia apoiar iniciativas de cooperação multilaterais.
Por outro lado, a proposta de padronizar dados na Redeluso, incluindo a criação de um
banco de dados acessível, seria fundamental para preservar informações valiosas e para
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facilitar estudos futuros. Esta padronização poderia incluir o detalhamento de dados como
a afiliação dos partipantes a instituições e países, o tipo de comunicações e cooperações
que ocorrem entre os congressos, o tipo de participação dos inscritos nos congressos,
dentre outros registos que garantiriam um repositório organizado e acessível para fins
de pesquisa e referência futura.
Considerações finais
Após analisar os dados produzidos, ponderamos alguns aspetos que parecem relevantes
em relação à materialidade e à memória dos congressos de Educação Ambiental dos
países e comunidades de Língua Portuguesa. Vale destacar que estas conclusões se
referem aos dados e registos dos congressos, mas que reconhecemos que estes são
apenas uma parte das ões desencadeadas no contexto de uma rede de atores e
instituições de diferentes países que busca atuar de forma coletiva em torno a objetivos
comuns.
A rede foi num crescente de participação, ampliando a mero de atores e diversificando
suas formas de partipação. Foi ganhando força para promover um maior nível de
institucionalização, de reconhecimento em relação ao seu papel político, sublinhando sua
função agregadora desde uma perspetiva de desenvolvimento de mais e melhores
processos de cooperação multilateral. Essa dinâmica apresenta características que
denotam a existência não apenas de processos que integram ões que ocorrem em
diferentes territórios, pois também aponta para a constituição de uma possível criação
de respostas às questões ambientais a partir de processos de cocriação. Ao abordarmos
este conceito, apontamos para a possível emergência de uma nova fase do processo de
diálogo entre países e comunidades de Língua Portuguesa, ou seja, compreendemos que
mais do que cooperar, seria preciso alavancar estratégias de criação conjunta, que não
desconsiderem as significativas diferenças culturais e socio-políticas que marcam essa
comunidade, mas que permitam, apesar da diversidade, criar novas alternativas para o
enfrentamento de uma crise socioambiental planetária que transforma o processo
civilizatório global.
Por outro lado, na medida em que os congressos ocorrem e aprimoram seus mecanismos
de organização, se reforça a possibilidade de emergência de um processo mais
intencional e sistematizado de cooperação. Neste sentido, se considera que a cooperação
é um estágio do processo de cocriação, pois é o momento que possibilita a construção
de confiança e reconhecimento dos limites e potenciais entre as partes, o alinhamento
de linguagens dentro de um mesmo idioma e reconhecimento de potencial para
aprendizagens comuns a partir de mecanismos horizontais e democráticos. Tal
compreensão refere ao reconhecimento de que a cooperação e a cocriação tratam de um
conhecimento tuo que está relacionado com a confiança pessoal e afinidade entre
pessoas.
A cocriação exige autonomia das partes para que não exista necessidade de que os
processos sejam induzidos ou limitados a níveis hierárquicos de controle. Neste sentido,
o diálogo de saberes dependerá da relação de confiança e autonomia que se estabelece
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entre os interlocutores. Portanto, cooperação e cocriação são processos imbricados que
pululam o universo de diferentes grupos, mas que no contexto da Redeluso, considerando
as características de sua trajetória, poderiam ser considerados com uma nova
perspectiva em relação ao seu devir, como um fluxo permanente em movimento
ininterrupto, com capacidade de criar e transformar realidades.
A sociedade humana é parte integrante do ecosistema natural e como tal, precisa
reconhecer-se como parte do sistema de vida global. Ao reconhecer-se como mais um
elemento da natureza precisa reconhecer sua condição de interdependêcia com os
elementos não-humanos que compoem o ecossistema planetário. Portanto, ao finalizar
estas reflexões, vale destacar que existe uma demanda significativa para intensificar a
cooperação entre os países membros da Rede Lusófona como forma de criar, de maneira
coletiva (cocriar), mecanismos de resistência às injustiças socioambientais.
Em suma, as conclusões apontam para a importância de uma abordagem colaborativa
mais ampla, padronização de dados para preservação do conhecimento e a necessidade
contínua de desenvolvimento e evolução da Educação Ambiental na CPLP, visando um
futuro mais sustentável e inclusivo.
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a uma crise socioambiental global
Setembro 2024, pp. 24-44
Rede Lusófona de Educação Ambiental: da “Cooperação” à Construção de uma Perspetiva de
“Cocriação” a Partir da Análise de Seis Congressos Internacionais (2007-2021)
Ana Laranja, Filomena Martins, Marília Andrade Torales Campos
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Proposta de estratégias de articulação na comunidade lusófona, I Congresso
Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua
Portuguesa,
http://ealusofono.org/images/I_Congresso/I_Congresso_Propostas.pdf.
Relatório Final de Atividade do IV Congresso Internacional de Educação
Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa,
http://www.ealusofono.org/images/IV_Congresso/IV_Congresso_Relatorio_Ativ
idades.pdf.
Relatório Final de Atividade do V Congresso Internacional de Educação Ambiental
dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa,
http://www.ealusofono.org/images/V_Congresso/V_Congresso_Atividades.pdf.
Relatório Final de Atividade do VI Congresso Internacional de Educação
Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa,
http://www.ealusofono.org/images/VI_Congresso/VI_Congresso_Rel_Final.pdf.
Resultados Diretos do IV Congresso Internacional de Educação Ambiental dos
Países e Comunidades de Língua Portuguesa,
http://www.ealusofono.org/images/IV_Congresso/IV_Congresso_Resultados_Di
retos.pdf.
Vázquez, C. V. (2019). “Percorrido histórico dos Congresos de Educación
Ambiental para os países lusófonos e Galicia”. AmbientalMENTEsustentable
xaneiro-decembro, 2019, ano XIV, 26: 1-2, pp. 23-33.