OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N1, TD1
Dossiê Temático Rede Lusófona de Educação Ambiental:
perspectivas de cooperação para construir respostas sociais
a uma crise socioambiental global
Setembro 2024
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EDITORIAL
REDE LUSÓFONA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL:
PERSPECTIVAS DE COOPERAÇÃO PARA CONSTRUIR RESPOSTAS SOCIAIS
A UMA CRISE SOCIOAMBIENTAL GLOBAL
MARÍLIA ANDRADE TORALES CAMPOS
mariliat.ufpr@gmail.com
Doutora em Ciências da Educação, professora associada da Universidade Federal do Paraná.
Mestre em Educação Ambiental, Pedagoga. Diretora do Centro de Educação Ambiental e
Preservação do Patrimônio (Brasil). Líder do Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental e Cultura
da Sustentabilidade. Coordenadora Adjunta da Rede Lusófona de Educação Ambiental. Bolsista
Produtividade em Pesquisa (CNPq/Brasil). https://orcid.org/0000-0002-4026-6239
PEDRO MARTINS
pedro.martins@aspea.org
Doutorando em Equidade e Inovação em Educação (Universidade de Santiago de Compostela).
Mestre em Educação pelo Instituto Politécnico do Porto. Mestre em Ecologia Aplicada pela
Universidade do Porto, em colaboração com a Universidade de Santiago de Compostela
(Espanha) e o Istituto Zooprofilattico Sperimentale della Lombardia e Dell’Emilia Romagna
(Itália). Licenciado em Biologia pela Universidade do Porto (Portugal). Professor no ensino
superior e no ensino secundário (Portugal). Investigador do inED Centro de Investigação e
Inovação em Educação (Instituto Politécnico do Porto). Autor de manuais escolares e livros
técnicos para professores (AREAL Editores). Ministrou formação de adultos na área da Educação
Ambiental e foi diretor escolar. É Secretário-Geral da Associação Portuguesa de Educação
Ambiental e Representante de Portugal no Conselho de Coordenação da RedeLuso.
Como citar este editorial
Campos, Marília Torales & Martins, Pedro (2024). Editorial, Rede Lusófona de Educação Ambiental:
Perspectivas de Cooperação para Construir Respostas Sociais a uma Crise Socioambiental Global.
Janus.net, e-journal of international relations. VOL 15 N1, TD1 Dossiê temático - Rede Lusófona
de Educação Ambiental:perspectivas de cooperação para construir respostas sociais a uma crise
socioambiental global, setembro de 2024. DOI https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0224ED.
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N1, TD1
Dossiê Temático
Rede Lusófona de Educação Ambiental: perspectivas de cooperação para construir respostas
sociais a uma crise socioambiental global
Setembro 2024, pp. 2-5
Editorial Marília Andrade Torales Campos, Pedro Martins
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EDITORIAL
REDE LUSÓFONA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PERSPECTIVAS
DE COOPERAÇÃO PARA CONSTRUIR RESPOSTAS SOCIAIS
A UMA CRISE SOCIOAMBIENTAL GLOBAL
MARÍLIA ANDRADE TORALES CAMPOS
PEDRO MARTINS
De forma bastante evidente, a humanidade vive num cenário de convergência de
diferentes crises, que se entrecruzam e afetam distintas dimensões da sociedade. Tal
cenário, complexo na sua natureza e dimensão, desafia-nos a repensar o processo
civilizatório humano, tendo em vista a forte correlação existente entre os modos de vida
e o modelo de desenvolvimento adotados pelas sociedades forjadas a partir de um padrão
de produção e consumo capitalista. O esforço para constituir uma governança global
capaz de enfrentar os problemas decorrentes de um desequilíbrio ecológico sistémico não
tem sido suficiente para reverter o quadro de crise climática, o aumento dos níveis de
poluição e a perda de biodiversidade, que cada vez mais evidenciam os limites
regenerativos do planeta.
Para enfrentar este cenário tão complexo que desafia a sociedade mundial, é preciso
buscar alternativas sociais, políticas e económicas capazes de transformar
profundamente a relação entre as sociedades e a natureza, problematizando modelos de
desenvolvimento insustentáveis para repensar o próprio processo civilizatório que os
legitima. Assim, se há uma necessidade premente de reação da sociedade mundial para
responder a um cenário de múltiplas crises, como poderiam as sociedades
instrumentalizar-se para, de maneira individual e coletiva, criar alternativas capazes de
manter saudáveis as suas condições de vida no planeta, sem desconsiderar as demais
espécies e elementos que se interconectam na composição e existência dos
ecossistemas?
Certamente, a questão exige aprofundamento científico e capacidade de análise crítica
sobre uma realidade cada vez mais intrincada e multidimensional. Neste sentido, a
Educação Ambiental emerge como um campo teórico-prático potente para a formação
de pessoas, capaz de promover experiências que, com base no diálogo e na troca de
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saberes, possibilitem a tomada de consciência sobre a realidade ambiental do planeta e
sobre a sua relação com todas as formas de vida, considerando as suas dinâmicas de
interdependência. Portanto, a necessidade de reação das sociedades não se restringe
apenas a ações locais, mesmo que delas não se prescinda, mas é preciso lançar mão de
estratégias sociopolíticas mais robustas, com maior capacidade de impacto na tomada
de decisões que possam modificar o rumo dos problemas ambientais, que se têm
agravado e colocado em risco a sociedade mundial.
Assim, o presente dossiê temático resulta de um processo de cooperação internacional
iniciado no ano de 2005, que teve por objetivo integrar educadores ambientais que atuam
nos países e comunidades que compartilham a lusofonia, entre as características que
marcam a sua cultura e a sua história. A criação da Rede Lusófona de Educação Ambiental
(Redeluso) constitui-se como um processo de cooperação voltado para a criação de um
espaço de ação coletiva, comprometido com a construção de sociedades mais
sustentáveis, mais justas e democráticas a partir de processos participativos de formação
da cidadania. No seu escopo, a Redeluso busca fortalecer processos conjuntos de
pesquisa, formação e informação no campo da Educação Ambiental, contribuindo para
os debates sobre o presente e o futuro do planeta.
Dentre as suas ações, a Redeluso promove encontros presenciais periódicos entre os
participantes dos países e comunidades que a integram, nomeadamente, Angola, Brasil,
Cabo Verde, Galiza (Espanha), Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal,
São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Assim, este dossiê sistematiza reflexões a partir de
práticas de Educação Ambiental desenvolvidas e apresentadas no VII Congresso
Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa,
que decorreu em julho de 2023 na cidade de Maputo (Moçambique). Este congresso foi
precedido pelos congressos realizados em 2007 (Santiago de Compostela, Galiza), em
2013 (Cuiabá, MT, Brasil), em 2015 (Torreira, Murtosa, Portugal), em 2017 (Ilha do
Príncipe, São Tomé e Príncipe), em 2019 (Arquipélago de Bijagós, Guiné-Bissau) e, 2021
(Ilha de São Vicente, Cabo Verde).
Ao final de cada um destes congressos, foi elaborado um documento com as principais
conclusões dos debates, originando um registo de sugestões e de contributos ao fomento
de um processo participativo contínuo, desencadeado ao longo das diversas ões que
ocorrem nos diferentes países que integram a rede. Neste sentido, o programa do VII
Congresso Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua
Portuguesa buscou utilizar metodologias que atribuíssem relevo a diferentes
manifestações culturais integradas nas práticas de Educação Ambiental, reforçando a
potência de cada cultura para a formulação de políticas públicas que ajudem a fortalecer
as iniciativas que ocorrem nos países e comunidades lusófonos.
O VII Congresso da Redeluso teve como tema central de debate "A Educação Ambiental:
a chave para a Sustentabilidade". A escolha desta temática visou agregar as perspectivas
de diferentes grupos em relação à busca de soluções e à composição de estratégias
comuns. Como forma de melhor orientar os debates, o congresso estruturou-se com base
nos seguintes eixos: (1) Educação Ambiental nas Políticas de Desenvolvimento Humano;
(2) Educação Ambiental e Cidadania: na escola e na sociedade; (3) Educação Ambiental,
o Antropoceno e o enfrentamento à Crise Climática; (4) Educação Ambiental e
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Diversidades: Natureza e Cultura. Cada um destes eixos albergou um conjunto de
debates que deram origem aos artigos distribuídos e recomendados a quatro periódicos
científicos, entre eles a JANUS.NET, e-journal of International Relations.
Por outro lado, importa recordar que no bojo das discussões que decorrem da proposição
da Organização das Nações Unidas sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
(ODS), compreende-se que a Educação Ambiental se constitui como um elemento fulcral
para tratar de temas como o cuidado ético, a justiça socioambiental e a equidade nas
políticas, a partir do reconhecimento de que existem abismos sociais que precisam ser
enfrentados ao tratar das condições de vida no planeta. Neste contexto, a Educação
Ambiental escolarizada, comunitária ou social, tem a responsabilidade de contribuir para
a formação de uma cidadania mais consciente da sua realidade e capaz de responder às
demandas de enfrentamento de diversos problemas, como a necessidade de resistência
a políticas de desmonte ou de ameaça às iniciativas democráticas e participativas para a
proteção ambiental.
Neste cenário, em que as mudanças climáticas demandam ações de mitigação e
adaptação, colocando em tela o que as predições científicas já antecipavam, mas que se
concretizam a um ritmo acelerado, em meio a incertezas que dificultam a exatidão nas
previsões, tanto o campo científico como o campo político enfrentam um movimento
negacionista balizado por interesses económicos e por ideologias alinhadas a uma visão
de mundo pouco pautada na garantia de direitos humanos básicos e universais, em meio
à necessidade de prevenção e de enfrentamento contra as consequências dramáticas
provocadas pela mudança climática global.
Assim, os artigos que compõem os quatro dossiês que decorrem do último congresso
promovido pela Redeluso multiplicam-se e derivam em várias dimensões de um cenário
global que exige uma sociedade mais preparada para agir de maneira coletiva, crítica e
articulada. Nesta tessitura, importa realçar que a Educação Ambiental é política, exige
atuação democrática e participativa, requer iniciativas pautadas por princípios de justiça,
ética, sustentabilidade e inclusão da diversidade e das diferenças entre as identidades
dos grupos sociais, considerando marcadores de raça, etnia, sexo ou género. Portanto,
este conjunto de reflexões e análises ora oferecidos aos leitores, busca contribuir para
os debates no campo da Educação Ambiental, valorizando mecanismos de cooperação
internacional que reconheçam a importância das vidas e não vidas; dos humanos e não
humanos; e da possibilidade da sua coexistência frente aos desafios das violações de
Direitos Humanos e da Terra.
Boas leituras!