Foi nestas circunstâncias que as duas partes assinaram importantes protocolos bilaterais
no âmbito da saúde, educação, políticas sociais e segurança pública. Dois tipos de
acordos foram ratificados: programas específicos e memorandos de entendimento,
chamados de “protocolos de intençes” (Bussoti & Macamo, 2018). Pertencem ao
primeiro tipo, o mais operacional, o Ajuste Complementar ao Acordo Geral de
Cooperação no sector educacional, com a implementaço do programa “Alfabetizaço
Solidria em Moçambique”. Tal programa visava difundir a alfabetizaço em
Moçambique, quer nos jovens, quer nos adultos, no âmbito do Plano Estratégico da
Educação de Moçambique, tendo como objectivo alfabetizar um milhão de jovens e
adultos até 2003. Também nos acordos operacionais deve ser incluído o Ajuste
Complementar no âmbito educacional, com o programa “Bolsa-Escola”, que visava
colocar todas as crianças em idade escolar a estudar em escolas públicas até 2005, com
a disponibilização de 100 bolsas, ao longo do primeiro ano, para que as famílias
mantivessem os seus filhos na escola. O terceiro Ajuste Complementar refere-se ao
“Apoio ao Programa Nacional de Controle às DTS/SIDA”, cuja finalidade era apoiar o
esforço de Moçambique na luta contra SIDA e outras doenças sexualmente
transmissíveis. O Brasil tinha, como sua tarefa fundamental, enviar especialistas a
Moçambique, formar quadros moçambicanos e garantir a transferência de tecnologia
(Bussoti & Macamo, 2018).
Esses programas incidiam sobre áreas sociais moçambicanas e a actuação de
especialistas brasileiros, através da cooperação técnica tinha por fim a partilha da sua
experiência e conhecimentos. Tais programas não interferiam em questões de ordem
política, isto é, não apresentavam e nem constituíam interferências nos assuntos políticos
domésticos do Estado moçambicano. No entanto, o número de indivíduos que se
pretendia abranger pelos projectos era ambicioso, não correspondendo à realidade dos
recursos disponíveis. O Ajuste Complementar na área da educação, por exemplo,
pretendia abranger todas as crianças em idade escolar, mas só tinha 100 Bolsas-Escola
para oferecer.
Pertencem ao segundo tipo de acordos o Protocolo de Intenções relativo à cooperação
técnica na área da mulher e acção social, da educação, da saúde (com enfoque especial
na saúde da mulher, da criança e do adolescente), na formação de quadros superiores
do sector, na implementação do ensino à distância para formação contínua dos
profissionais de saúde, HIV/SIDA, com transferências tecnológicas na produção de
antirretrovirais. Aqui, também não existe especificação do número de moçambicanos que
deviam beneficiar dessas acções. Pela primeira vez, é assinado um Protocolo de
Intenções na área da segurança pública, envolvendo os Ministérios do Interior dos dois
países, com o objectivo primário de troca de informações entre as partes sobre a
prevenção e combate ao crime, formação de pessoal, pesquisa, desenvolvimento
científico e estudos organizacionais (Bussoti & Macamo, 2018). Neste protocolo verifica-
se, diferentemente dos anteriores, não apenas o contributo expresso do Brasil, também
um papel atribuído a sua contraparte moçambicana, dado o envolvimento de instituições
securitárias dos dois Estados, actuando em forma de intercâmbio institucional.
Assim, a cooperação entre os dois países ganhou uma nova dimensão em que às
questões comerciais se juntam componentes sociais e de segurança que passaram a
fazer parte do leque de ajuda disponibilizada pelo Brasil a Moçambique – na base de