Verificamos que no período entre 2018 e 2021, apesar de existirem 57 reuniões de
coordenação no âmbito das JIT, as autoridades portuguesas apenas fizeram parte em 6
JIT, o que será manifestamente pouco se compararmos com os restantes países da União
Europeia.
Optamos por uma análise cronológica da participação portuguesa neste tipo de
cooperação internacional, sendo que podemos referir as participações de relevo que se
seguem.
Em 2018, as autoridades portuguesas surgem associadas à “Operação Pollino”, que é
referenciada como “numa das maiores investigações em matéria de criminalidade
organizada do tipo na Europa até à data.” levando à “deteção de quase 4 000 kg de
cocaína e grandes quantidades de outras drogas, bem como na apreensão de cerca de 2
milhões de euros em ativos de origem criminosa e 84 detenções”. Contudo, esta tratou-
se apenas de uma colaboração nacional numa JIT constituída pela Itália, Alemanha e
Países Baixos (Eurojust, 2018, p. 12).
Neste ano, Portugal participou efetivamente em duas JIT, sendo que uma reporta a
novembro de 2018, onde em colaboração com Espanha, desmantelou uma rede de
escravatura e tráfico de seres humanos, que atuava na província de Segóvia, permitindo
diversas buscas, apreensões e detenções, culminando ainda na libertação de 10 vítimas
de trafico, seis das quais em Portugal. Ainda nesse mesmo mês, mas em colaboração
com Luxemburgo, foi desmantelada uma rede de jogos de fortuna ou azar,
branqueamento de capitais e fraude fiscal, que atuava online. Resultaram dessa JIT, 30
detenções, 275 buscas e cerca de 576 mil euros, para além de diverso material
informático entre outros. Os lucros dessa rede foram avaliados em 80 milhões de euros,
tendo ainda sido recuperados cerca de 6 milhões provenientes da atividade ilícita
(Eurojust, 2018).
No ano de 2019, as autoridades portuguesas são convidadas a participar numa
investigação que teve origem na Alemanha em 2015, que visava uma organização
criminosa que se dedicava a fraude e branqueamento de capitais. Essa organização
esteve também sob investigação em Itália, numa investigação autónoma. A Eurojust
promoveu a criação da JIT, e para além da Alemanha e Itália, Portugal, a Suíça e Espanha
tomaram parte na equipa de investigação. Em janeiro de 2019, foram detidos 4 suspeitos
(dois em Espanha, dois na Alemanha), tendo sido realizadas diversas buscas, inclusive
em entidades bancárias, levando ao congelamento de contas e apreensões de viaturas
de luxo, joias, entre outros. Os prejuízos causados por esta rede ascende aos 12 milhões
de euros (Eurojust, 2019).
Ainda nesse mês, com as autoridades belgas, foi desmantelada uma rede que recrutava
mulheres portuguesas para casamentos fictícios. Com origem em 2015 na Bélgica, a
investigação tinha por suspeita casamentos de mulheres portuguesas com cidadãos
paquistaneses. Estes casamentos falsos, tinham contrapartidas monetárias para as
mulheres portuguesas, que não tinham contacto prévio com os maridos e apenas se
deslocavam a território belga para o casamento. A JIT, fundada em 2017, tem o seu
resultado em janeiro de 2019, culminando em 17 suspeitos detidos, e 18 buscas
domiciliárias na Bélgica e 3 suspeitos e 8 buscas em Portugal. Resultou ainda a apreensão
de diversos documentos falsos e avultadas quantias em dinheiro (Eurojust, 2019).