OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
Vol. 15, Nº. 1 (Maio 2024 Outubro 2024)
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ANÁLISE COMPARATIVA DA COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA - NATO VERSUS
TURQUIA - NO INÍCIO DA INVASÃO DA UCRÂNIA EM 2022
FAUSTO BRITO E ABREU
faustoba@gmail.com
Doutorado em Ecologia Comportamental pela Universidade de Oxford, Reino Unido
Licenciado em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Foi Diretor-Geral
de Política do Mar, Ministério do Mar de Portugal, Secretário Regional do Mar, Ciência e
Tecnologia do Governo Regional dos Açores, Conselheiro de Ambiente, Clima e Política Marítima,
Representação Permanente de Portugal Junto da União Europeia, Ministério dos Negócios
Estrangeiros em Bruxelas. Auditor do 47.º Curso de Defesa Nacional 2022/2023, Instituto da
Defesa Nacional (Portugal)
ANA OLIVEIRA E PINHEIRO
aop.formacao.2020@gmail.com
Licenciada em Ciência Política, com especialização em Política Internacional com relevância
interna pelo ISCSP. Iniciou a carreira no Centro de Documentação do Estado-Maior da Força
Aérea Portuguesa. Desempenhou funções no Ministério da Defesa Nacional transitando para a
Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros (Portugal) onde se mantém até à data,
tendo desempenhado funções em áreas distintas como Segurança, Defesa e Cooperação
Internacional. Auditora do 47.º Curso de Defesa Nacional 2022/2023, no Instituto da Defesa
Nacional, Portugal.
JÚLIO N’NAQUIDANQUE
julionaque57@gmail.com
Coronel do Exército (Guiné-Bissau). Licenciado em Administração Publica Economia Social,
Universidade Colinas de Boé, Guiné-Bissau. Curso de Comando e Estado Maior, Academia
Internacional de Nandjin, China. Curso de Promoção a Oficial Superior, IESM, Portugal
Curso de Promoção a Capitão, Escola Prática de Infantaria, Portugal
Professor de Liderança Militar e Professor do Ensino Secundário no Liceu Samora Moisés Machel
Auditor do 47.º Curso de Defesa Nacional 2022/2023, Instituto da Defesa Nacional, Portugal.
https://orcid.org/0000-0003-2452-0417
FERNANDO RITA
Ferrita70@gmail.com
Doutorado em História Moderna e Contemporânea, pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE).
Mestre em História Regional e Local, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Membro do Centro de Investigação da Academia Militar (CINAMIL), do Centro de Investigação
Joaquim Veríssimo Serrão e do Fórum Ribatejo para Historiadores Regionais e Locais.
Tenente-Coronel do Exército Português, na reserva (Portugal), cumpriu duas comissões de
serviço especiais na Bósnia-Herzegovina e Moçambique. É autor de quatro livros e
colaborador/coordenador de outros oito sobre temas de História Militar, Regional e de Defesa
Nacional. Conferencista convidado em vários seminários e colóquios; foi comentador televisivo na
Cerimónia dos 100 anos do Armistício da Primeira Grande Guerra, emitida pela RTP. Foi ainda
Professor Regente de História Militar, na Secção de Estudo das Crises e dos Conflitos Armados,
da Academia Militar, Portugal. Auditor do 47.º Curso de Defesa Nacional 2022/2023, Instituto da
Defesa Nacional, Portugal
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Análise Comparativa da Comunicação Estratégica
Nato versus Turquia - no início da Invasão da Ucrânia em 2022
Fausto Brito e Abreu, Ana Oliveira e Pinheiro, Júlio N’naquidanque, Fernando Rita
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Resumo
No dia 24 de fevereiro de 2022 a Rússia lançou uma operação militar especial no leste da
Ucrânia. Vários países e organizações internacionais reagiram com mensagens de
condenação. Neste artigo, foi definido como objeto de estudo as comunicações oficiais da
NATO e da Turquia durante as primeiras três semanas após o início da guerra a 23 de fevereiro
de 2022, partindo da questão inicial: terão existido diferenças na comunicação da NATO e da
Turquia sobre a invasão da Ucrânia e, em caso afirmativo, que fatores poderão ter motivado
estas diferenças? Foram realizadas análises de conteúdo a 26 comunicados do Secretário-
Geral da NATO e a 31 comunicados do Governo Turco emitidos entre 24 de fevereiro e 17 de
março de 2022. Nos resultados foram detetadas diferenças significativas na utilização das
palavras-chave mais relevantes. A linguagem insuficientemente crítica e assertiva da Turquia
permitiu-lhe manter um jogo-duplo, beneficiando, por um lado, da sua proximidade a
Moscovo, sem descurar, por outro lado, a sua posição na NATO. Por outro lado, a NATO
modelou a sua comunicação de forma a sublinhar que esta ameaça à segurança da Europa
evidencia que o reforço de uma aliança defensiva, forte e coesa, continua a ser um aspeto
central das políticas de defesa nacional dos seus estados-membros.
Palavras-chave
Comunicação estratégica, Turquia, NATO, guerra na Ucrânia, Comunicação e Defesa Nacional.
Abstract
On February 24, 2022, Russia launched a special military operation in eastern Ukraine. Several
countries and international organizations reacted with messages of condemnation. In this
article, was defined as an object of study the official communications of NATO and Turkey
during the first three weeks after the beginning of the war on February 23, 2022, starting
from the initial question: were there differences in the communication of NATO and Turkey
on the invasion of Ukraine and, if so, what factors might have motivated these differences?
Content analysis was carried out on 26 press-releases from the Secretary General of NATO
and 31 press-releases from the Turkish Government issued between February 24 and March
17, 2022. Significant differences were detected in the use of the most relevant keywords in
the results. Turkey's insufficiently critical and assertive language allowed it to maintain the
double game, benefiting, on the one hand, from its proximity to Moscow, without neglecting,
on the other hand, its position in NATO. On the other hand, NATO displayed its communication
in such a way as to underline that this threat to Europe's security shows that the reinforcement
of a strong and cohesive defensive alliance continues to be a central aspect of the national
defence policies of its member states.
Keywords
StratCom, Turkey, NATO, Ukraine war, Communication and National Defence.
Como citar este artigo
Abreu, Fausto Brito e, Pinheiro, Ana Oliveira e, N’naquidanque, Júlio & Rita, Fernando (2024).
Análise Comparativa da Comunicação Estratégica Nato versus Turquia - no início da Invasão da
Ucrânia em 2022. VOL 15, Nº.1, Maio-Outubro, pp. 80-99. DOI https://doi.org/10.26619/1647-
7251.15.1.5
Artigo recebido em 1 de Setembro 2023 e aceite para publicação em 30 de Janeiro de
2024.
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ANÁLISE COMPARATIVA DA COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA - NATO
VERSUS TURQUIA - NO INÍCIO DA INVASÃO DA UCRÂNIA
EM 2022
FAUSTO BRITO E ABREU
ANA OLIVEIRA E PINHEIRO
JÚLIO N’NAQUIDANQUE
FERNANDO RITA
Introdução
O dia 24 de fevereiro de 2022 será marcante na história do século XXI. Próximo das seis
da manhã, hora de Moscovo, o Presidente russo Vladimir Putin comunicou a sua decisão
de lançar uma operação militar especial no leste da Ucrânia (Sheftalovich & Kuznetzov,
2022). No seu discurso, refere ter como plano ocupar o território ucraniano num apoio
direto à autodeterminação do povo ucraniano, que segundo ele enfrentava há oito anos
humilhações e genocídios por parte das autoridades de Kiev. Pretendia ainda com esta
operação garantir a desmilitarização e «desnazificação» da Ucrânia. Após este discurso
surpreendente do presidente Putin, tiveram lugar várias explosões em território
ucraniano nas suas cidades mais importantes, como Kiev, Kharkiv e Odessa, assim como
na região do Donbass (Putin, 2022).
Perante esta realidade, foram vários os países e organizações à escala global que
reagiram quase de imediato a este acontecimento, que segundo vários analistas poderá
trazer no futuro significativas alterações à ordem mundial. Enquadrados nas novas
circunstâncias da história presente, encaixamos nesta realidade o tema da nossa
investigação, elencando para o efeito como objeto de estudo as comunicações oficiais da
NATO e da Turquia. Com este enquadramento, definimos ainda como objetivo geral da
investigação a intenção de aferir se existiram diferenças nas perspetivas apresentadas
por estas duas entidades no âmbito da sua comunicação estratégica. Delimitado o
objetivo principal e querendo focar da melhor forma a nossa investigação, decidimos
abordar uma questão concreta: terão existido diferenças na comunicação da NATO e da
Turquia sobre a invasão da Ucrânia e, em caso afirmativo, que fatores poderão ter
motivado estas diferenças?
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A construção desta questão central acabou por resultar, na sua essência, das várias
comunicações difundidas na altura por diferentes países e organizações em relação à
invasão da Ucrânia. Apesar de uma maioria de sensibilidade mais condenatória, existiram
outras menos evidentes e mesmo contrárias a essa condenação de acordo com as
orientações de política externa dos respetivos estados e organizações. Para melhor
completar os fins últimos da nossa investigação, o enquadramento teórico deste estudo
acabou por ser essencial para o desenvolvimento da nossa investigação. Destacamos
aqui o conceito de defesa nacional que surge como um instrumento indispensável na
resposta nacional ao novo ambiente de segurança que resultou da invasão da Ucrânia.
Pressupondo ainda uma estratégia nacional capaz de mobilizar os portugueses, assim
como todos os recursos materiais e imateriais do país, na consecução dos objetivos da
segurança e defesa (Governo de Portugal, 2013).
Importa, igualmente, referir o conceito de comunicação estratégica numa primeira leitura
como o processo de desenvolver e implementar planos de comunicação eficazes para
atender aos objetivos de uma organização, que envolve a identificação e compreensão
do público-alvo, a seleção de mensagens e de canais de comunicação adequados, o
estabelecimento de objetivos claros e a avaliação dos resultados. Apesar do conceito ter
evoluído consideravelmente, continua a ser de difícil a sua definição, que não existe
um consenso sobre o que abrange efetivamente (Paul, 2011). Segundo definição da
NATO, publicada através do seu Centro de Excelência de Comunicações Estratégicas,
sedeado em Riga, na Letónia (NATO StratCom COE), comunicação estratégica é a
utilização coordenada das atividades e capacidades de comunicação da NATO, de modo
a atingir os objetivos da organização. Estas atividades e capacidades incluem diplomacia,
relações-públicas civis e militares, operações de informação e operações psicológicas. No
seu novo Conceito Estratégico, aprovado na Cimeira de Madrid, em 2022, a NATO prevê
expressamente o reforço da sua comunicação estratégica, juntamente com a sua
capacidade de dissuasão (NATO, 2022). Neste quadro, podemos concluir que a
comunicação estratégica da NATO é um esforço planeado e coordenado para transmitir
mensagens precisas e coerentes ao seu público-alvo com o objetivo de apoiar a tomada
de decisões políticas e militares, bem como promover a compreensão e a aceitação das
suas ações. A comunicação estratégica, da NATO é especialmente importante em tempos
de crise e conflito, quando as mensagens precisam de ser cuidadosamente elaboradas
para alcançar objetivos pretendidos e evitar interpretações errôneas. Este tipo de
comunicação é para a NATO uma parte crítica da sua estratégia de defesa coletiva e dos
seus compromissos com a segurança e a estabilidade. Para o efeito a NATO conta com
três pilares de comunicação que servem para estruturas as comunicações externas da
Aliança, designadamente a NATO Protege, a NATO Une e a NATO Fortalece. Os três
pilares, conforme mencionado, são projetados para orientar quem comunica quando
adapta conteúdo e atividades para segmentos de audiências específicas. O primeiro pilar,
a NATO Protege, abrange a comunicação da organização em relação à sua missão
principal de defesa coletiva e à sua capacidade de responder a ameaças à segurança do
seu território e dos seus aliados. O segundo pilar, a NATO Une, cobre os esforços da
organização para fortalecer a Aliança e promover a unidade dos seus membros, incluindo
para o efeito atividades que visam construir consenso, fomentar a cooperação e
aumentar a solidariedade entre os países membros. Por último, a NATO Fortalece, é o
pilar que cobre os esforços da organização para fortalecer as suas capacidades de defesa
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e dissuasão, bem como estabelecer parcerias e colaborações com outros países e
organizações internacionais, incluindo para o efeito atividades de comunicação que visam
destacar as missões realizadas pela NATO, obter apoio para gastos com a defesa e
promover a cooperação e colaboração entre os países membros.
Em último lugar, releva reconhecer-se o papel da comunicação social, que se apresenta
como um segmento responsável pela difusão das atividades de comunicação estatal,
organizacional e empresarial. Assim, os profissionais desta área acabam por atuar como
intermediários entre os emissores e as suas diversas audiências. Ao desempenhar essa
função, elaboram e supervisionam a produção de textos, que servem tanto os interesses
dos públicos-alvo, como dos emissores (Cardoso de Andrade, 2013). Por este motivo,
neste estudo, foi tomada a decisão deliberada de analisar apenas os comunicados
institucionais oficiais da NATO e da Turquia, evitando o vasto corpo de conteúdos
produzidos na comunicação social e redes sociais durante o período em análise.
1. Análise de conteúdo
A análise de conteúdo é uma ferramenta que tem por objetivo apresentar uma
apreciação crítica de análises de conteúdo como forma de tratamento em pesquisas
qualitativas e quantitativas" (Santos, 2012) é uma metodologia de análise utilizada na
comunicação social e nas mais diversas áreas, que possibilita uma identificação, rápida,
simples e com poucos recursos, de padrões, temas, ideias e valores que estão presentes
num determinado conjunto de dados (comunicação, textos, imagens, áudios e vídeos).
Wittgenstein na sua obra sobre a teoria da linguagem considera que o pensamento e a
linguagem ganham significado ao representar o Mundo. Wittgenstein acreditava que
existiam proposições que refletiam a estrutura da realidade (Phillips, 1971). Segundo
Anne Applebaum e Edward Lucas em análises realizadas a textos publicados pela
Federação Russa concluem por exemplo que a desinformação transformada em arma
corrói o apoio público aos valores euro-atlânticos, impedindo e distorcendo a tomada de
decisão nos EUA e na Europa” (Applebaum & Lucas, 2015). Existem diferentes
abordagens para a análise de conteúdo, que podem variar de acordo com os objetivos e
características da pesquisa. Ao aplicar a análise de conteúdo nesta pesquisa, ponderamos
a clareza sobre os objetivos da mesma, as questões a responder e as hipóteses a serem
testadas. Também foi importante a definição de uma metodologia clara, bem como seguir
rigorosamente todas as etapas do processo de análise, que incluiu a pré-análise, a
exploração do material, o tratamento dos resultados obtidos, a inferência e a
interpretação, ou seja, a fase da organização propriamente dita. No que respeita à pré-
análise, esta é a fase da organização propriamente dita e integra três missões, a escolha
de documentos a serem submetidos à análise, a formulação de hipóteses e dos objetivos
e a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final. Estes três fatores
não têm necessariamente uma ordem cronológica previamente definida, mas mantêm
uma ligação estreita entre si. A exploração do material envolve uma fase longa de
codificação, decomposição ou enumeração dos documentos selecionados. O tratamento
dos dados obtidos é frequentemente necessário para obtermos resultados significativos,
uma vez que estes são submetidos a operações estatísticas e testes de validação. com
uma síntese e seleção de resultados podemos propor inferências e adiantar
interpretações a propósito dos objetivos previstos.
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Neste âmbito, para avaliar se existiram diferenças nos conteúdos da comunicação oficial
da NATO e da Turquia durante as primeiras três semanas da invasão da Ucrânia pela
Rússia, analisaram-se os 26 comunicados do Secretário-Geral da NATO (Anexo I) e os
31 comunicados do Governo Turco (do Presidente da República e do Ministro dos
Negócios Estrangeiros) que abordaram esta matéria entre 24 de fevereiro e 17 de março
de 2022 (Anexo II).
De seguida passamos à formulação das hipóteses e dos objetivos, nomeadamente,
avaliar se a Turquia e a NATO tinham diferenças de conteúdo nas comunicações que
realizaram sobre o mesmo evento - o início da Invasão da Ucrânia - e por último à
elaboração de indicadores que fundamentassem essa interpretação. Realizamos uma
transformação dos dados brutos recolhidos na análise dos textos, de acordo com as
exigências das análises qualitativa e quantitativa previstas, sistematizando e agregando
em unidades que permitiram uma descrição clara das principais mensagens a destacar,
a determinação da frequência de utilização das palavras-chave selecionadas, bem como
aferir se as diferenças detetadas, no conteúdo das comunicações emitidas, por ambas as
partes, eram significativas.
Na análise de conteúdos destes comunicados referimo-nos a cada um dos documentos
como uma unidade de contexto utilizando a nomenclatura de Osgood (Bardin, 2016).
Adaptando o Procedimento de Osgood, selecionaram-se agrupamentos de palavras-
chave que descrevem conceitos semelhantes e que surgem com alguma frequência nas
unidades de contexto. Estes agrupamentos, que são elementos constitutivos com sentido
equivalente, são descritos nesta análise de conteúdos como unidades de registo.
Estes dados permitem duas análises quantitativas importantes para se aferirem as
diferenças entre as mensagens da NATO e as da Turquia, no período em análise.
Em primeiro lugar, foi aplicado um teste estatístico paramétrico (teste T de Student,
bicaudal, para amostras independentes, com tamanhos e variâncias diferentes) para
determinar se as diferenças nas frequências de utilização destas 38 palavras-chave foram
significativas, entre a NATO e a Turquia, no período em análise. O teste t de Student foi
selecionado para este efeito por ser considerado um teste paramétrico simples e
relativamente robusto, no sentido de ser eficaz mesmo quando os pressupostos do teste
não se verificam plenamente, ou quando são de difícil confirmação, e por ser amplamente
utilizado neste tipo de análise nas ciências sociais (Barbetta, 2002). De forma sumária,
podemos dizer que o objetivo do teste T de Student é verificar com que nível de confiança
(valor do parâmetro p) podemos rejeitar a chamada “hipótese nula”. No caso concreto
deste estudo a hipótese nula é não existirem diferenças estatisticamente significativas
no uso das 38 palavras-chave nas unidades de contexto que avaliámos da NATO e da
Turquia. Se o teste T de Student permitir rejeitar esta hipótese nula, com um nível de
confiança elevado (considera-se comummente um nível elevado quando se obtém um
parâmetro p < 0,05), teremos confirmação de que as diferenças detetadas entre as
amostras de comunicados da NATO e da Turquia não ocorreram por acaso, e são
significativas do ponto de vista estatístico (Barbetta, 2002).
Em segundo lugar, analisaram-se as frequências, e principais coocorrências, destas
palavras-chave dentro das respetivas unidades de registo, relativamente aos
comunicados da NATO e da Turquia. Neste âmbito foram consideradas as seguintes
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unidades de registo: Reação inicial; Designação do conflito; Adjetivação; Ação exigida às
partes; Legalidade da intervenção militar; Justificação para o conflito; Solução proposta;
Reação internacional preconizada; Implicações para defesa coletiva; Apoio humanitário.
Para cada unidade de registo foram identificadas as palavras-chave mais utilizadas. Este
tipo de análise de conteúdos e de coocorrências pretende revelar preocupações latentes,
estereótipos, representações sociais e ideologias (Bardin, 2016). Na interpretação dos
resultados e, especialmente, na procura dos fatores motivacionais que possam estar na
origem de diferenças na comunicação estratégica da NATO e da Turquia no período em
análise está implícita, também, uma análise de expressão no sentido de M.C d’Unrug,
segundo a qual “Os traços pessoais mais ou menos permanentes, o estado do locutor ou
a sua reação a uma situação, modificam o discurso tanto na sua ‘forma’ como no
conteúdo” (Bardin, 2016).
2. Análise léxica e sintática da amostra
A análise de conteúdo visa dois objetivos, superação da incerteza e enriquecimento da
leitura, ou seja, o que julgo ver na mensagem esta lá efetivamente contido e o
poderá uma leitura atenta aumentar a produtividade e a pertinência. Este oscilar entre
estas duas tendências, desejo de rigor e necessidade de descobrir, expressa o
desenvolvimento histórico e o aperfeiçoamento da análise de conteúdo. Neste âmbito e
para melhor entendermos como funciona podemos centrar o nosso foco na análise léxica
e sintática de uma amostra, fazendo um estudo de código de diversos textos tendo por
base as Convenções e as Possibilidades de Comparação, uma vez que as convenções
permitem enumerar nos textos o número total de palavras presentes ou ocorrências; o
número total de palavras diferentes ou vocábulos que representam o reportório léxico a
que o autor do texto recorre, e a relação ocorrências/vocábulos dá conta da riqueza (ou
da pobreza) do vocabulário utilizado pelo autor da mensagem, visto que indica o mero
médio de repetições por vocábulo no texto. Podemos ainda classificar as unidades de
vocabulário entre palavras plenas e palavras instrumento, sendo as primeiras palavras
portadoras de sentido, ou seja, substantivos, adjetivos e verbos. As segundas o
palavras funcionais de ligação, ou seja, artigos, preposições, pronomes, advérbios,
conjunções, etc.
Também é possível estudar o modo (ou tempos) dos verbos presentes no texto se
anteciparmos que possa ser significativo. A análise qualitativa das unidades de
vocabulário por ordenação frequencial segundo o sentido, pode fornecer informações. Da
mesma forma, certos aspetos sintáticos como a organização da frase são suscetíveis de
serem reveladores das características de um discurso, ou podem fornecer a confirmação
de certas hipóteses formuladas.
No que respeita às possibilidades de comparação, é de referir que as características de
um discurso necessitam da comparação com outros discursos ou com normas que o
ponham em relevo.
Para o efeito, apresentamos na tabela I uma proposta que descreve a percentagem dos
comunicados em que cada palavra-chave ocorre no conjunto de unidades de contexto da
NATO e da Turquia. Para o efeito aplicamos à amostra o Teste T de Student, um teste
estatístico paramétrico que é usado para determinar se há uma diferença significativa
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entre as médias de duas amostras independentes. Como referimos previamente, este
teste é adequado para dados contínuos e é amplamente utilizado em muitas áreas,
incluindo nas ciências sociais. O teste t de Student é baseado em duas hipóteses: a
hipótese nula e a hipótese alternativa.
A hipótese nula é que as duas amostras m médias iguais, enquanto a hipótese
alternativa é que as duas amostras têm médias diferentes. O teste T de Student calcula
o valor t, que é a diferença entre as médias das duas amostras dividida pelo erro padrão
dessa diferença. Esse valor t é então comparado a uma distribuição T de Student com
um certo grau de liberdade, que depende do tamanho das amostras e do nível de
significância escolhido.
Se o valor t calculado for maior do que o valor crítico na distribuição T de Student, a
hipótese nula é rejeitada e conclui-se que há uma diferença significativa entre as médias
das duas amostras. Como foi referido, o teste T de Student é um teste estatístico
robusto, ou seja, é eficaz mesmo se os pressupostos do teste não forem completamente
atendidos. No entanto, o teste T de Student deve ser usado se as duas amostras forem
independentes e se ambas tiverem uma distribuição normal ou se o tamanho da amostra
for grande o suficiente para que a distribuição normal seja uma aproximação adequada.
Se essas suposições não forem atendidas, pode ser necessário usar um teste não
paramétrico em vez do teste T de Student.
O resultado do teste T de Student aplicado à frequência de utilização das 38 palavras-
chave (tabela I) selecionadas confirma que existe uma diferença estatisticamente
significativa entre a NATO e a Turquia na utilização destas palavras nos seus comunicados
(valor p < 0,05).
A tabela II ilustra as palavras mais frequentes em cada unidade de registo, pela NATO e
pela Turquia.
No processo de seleção de regras de contagem, a presença de elementos ou unidades
de registo (palavras, temas ou outras unidades) pode ser significativa ou, ao contrário,
a ausência de determinados elementos pode bloquear ou traduzir a vontade oculta.
Outros fatores cruciais neste processo o a frequência com que aparece a unidade de
registo; a intensidade medida através dos tempos dos verbos, advérbios e adjetivos; a
direção favorável, neutra ou desfavorável e outros critérios associados (positivo ou
negativo); a ordem estabelecida nos registos, ou seja, se o sujeito A aparece antes do B
e, por fim, a coocorrência, caracterizada pela presença simultânea de duas ou mais
unidade de registo numa unidade de contexto. Neste âmbito, verificamos que apesar de
uma aparente similitude no discurso e posição da NATO e da Turquia, face à Invasão da
Ucrânia, denota-se diferenças como é possível constatar nas três primeiras unidades de
registo - Reação inicial, Designação do conflito e Adjetivação - a Turquia utiliza uma
linguagem mais branda como «reject» (de recusa, de não aceitação, de desaprovação),
enquanto a NATO uma linguagem forte e assumida como «condemn» (de reprovação, de
censura, de proibição); No que refere à Denominação do evento, a Turquia utiliza as
expressões de «War» e «Crisis» enquanto a NATO recorre a expressões como «Invasion»
e «Aggression»; No que respeita aos adjetivos mais utilizados neste recorte (e aqui
determinar o grau, ou seja, a qualidade que permite que os adjetivos possam designar,
com maior ou menor intensidade, as características do evento), a Turquia foca-se em
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«Unacceptable», enquanto a NATO adjetiva a invasão como «Brutal» (cruel, desumana,
violenta).
Tabela I - Propostas de Análise
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Quanto às seguintes unidades de registo, nomeadamente - Ação exigida, Legalidade;
Justificação; Solução proposta - a Turquia no que respeita à ação exigida utiliza
expressões como «Restore peace» e «Ceaste fire» e referências ao restabelecimento da
paz, enquanto a NATO utiliza outras expressões com enfoque militar como «Cease
military action» e «Retreat/Withdraw/Turn back»; Na unidade de registo Legalidade a
NATO e a Turquia utilizam o mesmo conjunto de palavras-chave para definir o evento
como uma «grave violação» dos princípios estabelecidos no direito internacional,
respeitando e mantendo as «fronteiras e a integridade internacionalmente
reconhecidas», bem como o «direito à autodefesa» da Ucrânia, privilegiando a NATO
termos como «Illegal/Unlawful», e a Turquia referências a «Territorial
integrity/recognised borders»; Relativamente a uma possível Justificação para a invasão
russa da Ucrânia, a Turquia quase não adjetiva a iniciativa, usando apenas «Unjust» em
um dos seus comunicados, enquanto a NATO utiliza abundantemente adjetivos como
«Unjustified/illegitimate/unjust» e, principalmente, «Unprovoked»; Na unidade de
registo Solução proposta, apesar de ambas as partes referirem que a resolução do
conflito se deve se basear numa solução diplomática, alcançada através da cooperação,
a NATO defende apoio militar à Ucrânia, algo que a Turquia nunca menciona.
Relativamente às unidades de registo - Reação internacional preconizada, Implicações
para defesa coletiva e Apoio humanitário - importa realçar na primeira unidade de registo
o seguinte, a comunicação da NATO assenta em expressões duras como
«Imposing/Implementing sanctions» ou «Consequences», e a Turquia tem um discurso
mais conciliador em que manifesta que centrará todos os seus esforços («Efforts») para
obter a paz pela via diplomática; No que reporta à segunda unidade de registo Defesa
coletiva, a Turquia apresenta um discurso centrado em apoiar e garantir a independência,
soberania e integridade territorial da Ucrânia, enquanto a NATO polariza o seu discurso
com palavras como «Collective defense», «Unity» e «Threat», referindo em múltiplas
ocasiões o seu compromisso do artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte; Por fim e no
que diz respeito ao Apoio humanitário é de destacar que ambas as partes, NATO e
Turquia, centram o seu discurso e atenção na ajuda humanitária e apoio aos refugiados
e vítimas do conflito, porventura com um pouco mais de insistência da Turquia na
problemática dos refugiados e sua evacuação segura através de corredores humanitários.
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Tabela II - Palavras-chave mais frequentes em cada unidade de registo (a negrito a
palavra-chave mais utilizada)
3. Comunicação e Defesa Nacional
Em síntese, podemos confirmar que a comunicação é uma ferramenta importante para a
defesa nacional uma vez que possibilita a troca de informações e disseminação de
mensagens a diferentes blicos-alvo. A aplicação da análise de conteúdo neste trabalho
produziu resultados úteis para a investigação neste domínio, se considerarmos que este
tipo de análise é utilizado como um instrumento de diagnóstico. Neste quadro,
corroboramos a visão de que a deteção padrões e ideias-chave em conjuntos de
comunicados através de uma análise quantitativa e qualitativa dos seus conteúdos
permite revelar as causas subjacentes a estes padrões e, porventura, prever os seus
efeitos nos públicos-alvo (Riffe, 2019).
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Nato versus Turquia - no início da Invasão da Ucrânia em 2022
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Confirma-se a possibilidade de que, no início da invasão da Ucrânia pela Federação da
Rússia em 2023 distintas agendas políticas e prioridades estratégicas no seio da NATO
afetaram o teor das comunicações oficiais produzidas nesse período. A este efeito
acrescem as diferenças de opinião conhecidas, entre estados-membros da NATO sobre
que papel deve ter a comunicação estratégica em situações de crise (Fry, 2022). Neste
quadro, não é verdadeiramente inesperado que uma análise de conteúdos dos
comunicados oficiais da NATO e da Turquia revele diferenças. A interpretação destas
diferenças e a identificação de fatores que as possam ter motivado constituem-se como
os aspetos mais relevantes deste estudo.
Evitando, o mais possível, mergulhar no debate sobre as vantagens que os instrumentos
da psicologia nos disponibilizam em análises de subjetividade na construção de posições
discursivas, uma vez que este é essencialmente um debate teórico (Saville-Young &
Frosh, 2009), não podemos deixar de fazer algumas inferências sobre como a
comunicação estratégica dos diferentes atores durante o início da guerra na Ucrânia terá
sido também afetada pelas suas ansiedades, receios e perceções subjetivas dos eventos
em curso.
No que respeita à comunicação da Turquia, o Presidente Recep Erdoğan teve palavras
duras e surpreendentes face à invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, referiu-se ao
evento como “inaceitável”, defendeu a integridade territorial da Ucrânia, afirmou que a
designada operação militar era ilegal à luz do direito internacional, realizou exercícios
militares conjuntos com outros membros da Aliança no âmbito da defesa coletiva e
desempenhou um papel importante no apoio humanitário à Ucrânia, ajudando a mitigar
os efeitos da crise humanitária em curso.
No entanto, manteve uma postura ambígua quanto à imposição de sanções à Federação
Russa optando apenas por proibir a circulação de alguns produtos no país, mas realizando
acordos, após o início da invasão da Ucrânia, em que assume o pagamento do
fornecimento de gás russo, ao país, em rublos, moeda russa. Ao contrário de outros
estados-membros da NATO, a Turquia não defendeu abertamente o apoio militar à
Ucrânia, nem forneceu material ou equipamentos letais no início da guerra.
A posição da Turquia é difícil e complexa, uma vez que enquanto membro da NATO é
compelida a apoiar as decisões do Conselho do Atlântico Norte, onde tem assento, mas
por outro lado está refém das retaliações da Federação da Rússia que já demonstrou, no
passado, usar táticas duras contra a Turquia. Em vários conflitos regionais, contudo,
atingiu-se um equilíbrio de forças algo inesperado entre a Turquia e a ssia. Desde os
recentes conflitos das montanhas do Cáucaso, até ao Magrebe, há exemplos de um certo
equilíbrio militar. Foi o caso quando se constatou a superioridade dos drones turcos em
relação às defesas aéreas russas, que permitiu à Turquia afirmar-se com sucesso em
teatros de operações na Líbia, na Síria e no Nagorno-Karabakh.
A tentativa da Turquia se manter neutral nem sempre foi bem conseguida, tanto que
para se defender o Governo Turco tomou várias posições contra os governos ocidentais
afirmando que estes têm contribuído para agravar a crise entre a Ucrânia e a Rússia”.
Porém, e pela sua posição geográfica, que inclui o Estreito do Bósforo, a Turquia tem um
trunfo a jogar neste contexto, que lhe confere algum ascendente sobre as partes
beligerantes, dado que a Convenção de Montreux (de 1936) atribui a este país da NATO
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a possibilidade de condicionar a navegação no estreito em tempo de guerra, e quando a
sua segurança nacional é colocada em causa.
A este conjunto de variáveis de política externa acresce uma dimensão de política interna
turca que o Presidente Recep Erdoğan teve de ponderar na sua comunicação estratégica
durante o período em análise neste estudo. A invasão da Ucrânia pela Federação da
Rússia começou a pouco mais de um ano das mais disputadas eleições legislativas na
Turquia de sempre, que ocorreram em duas voltas, a 14 e a 28 de maio de 2023. Recep
Erdoğan acabou por sair vitorioso por uma escassa margem, contra o candidato da
oposição unida republicana e laica, Kemal Kiliçdaroglu. Existe algum consenso entre
analistas políticos de que a guerra na Ucrânia foi um fator com impacto indireto, mas
importante, neste desfecho eleitoral. Para além do desgaste do regime de Erdoğan, no
poder há 21 anos, a guerra na Ucrânia agravou a crise económica, provocando uma
redução acentuada do poder de compra dos cidadãos. Durante a campanha eleitoral, a
posição da Turquia em relação às partes beligerantes e à própria guerra não foi um tema
central, uma vez que o debate se acabou por centrar em questões económicas, agravadas
pelo conflito na Ucrânia e pelo forte terramoto de 6 de fevereiro de 2023, que afetou o
sudeste da Turquia, e questões políticas internas. Por um lado, Erdoğan manteve o seu
estilo mais autoritário, beligerante, nacionalista e conservador. Por outro, Kiliçdaroglu
contrapôs uma postura mais inclusiva, tolerante e conciliadora, defendendo a
reconciliação nacional e a melhoria das relações da Turquia com os seus vizinhos
(Tavares, 2023).
Relativamente à comunicação da NATO, a aliança ressuscitou com a invasão da Ucrânia
pela Federação da Rússia e revelou coesão e unidade transatlânticas ao condenar a
Federação da Rússia pelo ato de agressão, com um discurso duro e assertivo face à
ameaça que pende sobre a Europa. A comunicação da NATO tem como principal
finalidade garantir que as informações e mensagens da organização sejam transmitidas
de forma clara, objetiva e coerente por forma a aumentar a compreensão e a
consciencialização sobre a importância da aliança e das suas ações. A NATO tem três
pilares de comunicação, que servem para estruturar as comunicações externas da aliança
provendo estrutura para temas e tópicos das áreas políticas. Os três pilares NATO -
Protege, Une e Fortalece - são projetados para orientar quem comunica quando adapta
conteúdo e atividades para segmentos de audiências específicas. Neste âmbito a NATO
apoiou a Ucrânia, e descreveu como "sem precedentes", o apoio militar ao país,
centrando a sua atuação no "direito à autodefesa" deste país. O Secretário-Geral Jens
Stoltenberg reafirmou também que a NATO está "pronta a defender a soberania e a
integridade territorial da Ucrânia. A NATO enquanto instituição e organização é uma
aliança militar defensiva, criada para a defesa dos países membros e atua perante
ataque, invocando para o efeito o Princípio de Defesa Coletiva patenteado no artigo 5.º
do Tratado do Atlântico Norte. O apoio da NATO à Ucrânia é pela defesa deste país, mas
acima de tudo pela defesa das suas fronteiras.
Em suma, as diferenças de comunicação entre a NATO e a Turquia são significativas, mas
não são profundas, têm similitudes como foi possível verificar na análise de conteúdo dos
comunicados publicados, por exemplo, quanto à legalidade, em que ambas recorrem à
mesma linguagem, ou seja, como sendo uma violação grave dos princípios estabelecidos
no direito internacional, das fronteiras e integridade territorial internacionalmente
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reconhecidas, quanto à importância a atribuir à resolução do conflito pela via diplomática
e quanto à necessidade de se assegurar apoio humanitário às vítimas da guerra.
Contudo também têm diferenças no tom e na forma como comunicam ou se expressam,
como é possível verificar na linguagem a que cada parte recorre para reagir por exemplo
à invasão. Enquanto a NATO opta por um tom duro de condenação, a Turquia mantém
um tom mais suave de apenas rejeição. O mesmo se verifica na designação do conflito.
Enquanto a Turquia carateriza o evento como «guerra» ou «crise», quase como uma
certa normalização de um estado de tensão e hostilidade, a NATO designa de «invasão»
e «agressão», ou seja, um ato hostil, agressivo que tem de ser imediatamente cessado.
Esta dissonância também se mantém na adjetivação do conflito. A Turquia afirma que o
evento é inaceitável, quase como se fosse apenas uma ação inadequada, enquanto a
NATO refere-se ao conflito como uma ação «brutal», violenta e desumana para o período
da história em que nos encontramos. E a dissonância continua como podemos verificar
nos resultados da nossa análise relativamente a outras unidades de registo,
nomeadamente, na ação exigida ao invasor, na justificação para esta intervenção militar
ou na reação internacional recomendada.
A linguagem insuficientemente crítica, afirmativa e assertiva da Turquia permitiu-lhe
manter o jogo-duplo, beneficiando, por um lado, da proximidade a Moscovo, de acordo
com os seus interesses e objetivos, sem descurar, por outro lado, a sua posição na NATO.
Por outro lado, a NATO modelou a sua comunicação de forma a sublinhar que esta
ameaça à segurança da Europa, e do mundo, evidencia, uma vez mais, que o reforço de
uma aliança defensiva, forte e coesa, continua a ser um aspeto central das políticas de
defesa nacional dos seus estados-membros.
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Anexo I
Lista de Comunicados publicados pela NATO que foram alvo de análise nesta investigação
NATO, 2022. NATO Secretary General: «NATO and the EU stand with the brave people
of Ukraine». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_192397.htm.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «NATO Secretary General statement on Russia’s
unprovoked attack on Ukraine». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_192401.htm.
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NATO, 2022. NATO Secretary General: «Statement by the North Atlantic Council on
Russia's attack on Ukraine». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/official_texts_192404.htm#:~:text=Statement%2
0by%20the%20North%20Atlantic%20Council%20on%20Russia's%20attack%20on%20
Ukraine,-
4%20Feb.&text=We%20condemn%20in%20the%20strongest,with%20the%20people
%20of%20Ukraine.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «NATO Allies condemn Russia’s invasion of
Ukraine in the strongest possible terms». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_192406.htm.
NATO, 2022. NATO Secretary General: “Statement by NATO Heads of State and
Government on Russia’s attack on Ukraine”. [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/official_texts_192489.htm.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «NATO leaders call on Russia to stop «senseless
war». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_192451.htm#:~:text=NATO%20leaders%2
0meeting%20virtually%20today,NATO%20Secretary%20General%20Jens%20Stoltenb
erg.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «NATO Allies boost support to Ukraine». [Online]
Available at: https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_192476.htm.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «NATO Secretary General takes part in call with
President Biden». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_192578.htm.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «NATO’s defensive shield is strong, says Chair of
the NATO Military Committee». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_192544.htm?selectedLocale=en.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «NATO Secretary General visits multinational
battlegroup in Estonia». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_192542.htm.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «Secretary General in Poland: NATO Allies will
always stand together to protect each other». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_192548.htm?selectedLocale=en#:~:text=S
toltenberg.,each%20other%2C%22%20he%20said.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «NATO Secretary General and Prime Minister of
Iceland discuss Russia’s attack on Ukraine». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_192580.htm?selectedLocale=en.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «NATO Response Force units arrive in Romania».
[Online] Available at https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_192695.htm.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «Remarks: by NATO Secretary General Jens
Stoltenberg with the US Secretary of State, Antony J. Blinken at the start of the
Extraordinary meeting of NATO Ministers of Foreign Affairs». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/opinions_192736.htm.
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NATO, 2022. NATO Secretary General: «NATO Foreign Ministers meet amidst escalating
Russian aggression in Ukraine». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_192795.htm.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «NATO Committee of Chiefs of Military Medical
Services convene follow-up meeting». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_192794.htm?selectedLocale=en.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «Secretary General in Latvia: NATO stands
united». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_192968.htm?selectedLocale=en.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «NATO Secretary General welcomes Canada’s
leading role in the response to Russia’s invasion of Ukrain». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_193057.htm.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «Hungary’s readiness and vigilance are stronger
than ever, says Chair of the NATO Military Committee». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_193072.htm?selectedLocale=en.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «Video message: by NATO Secretary General Jens
Stoltenberg to the Polish National Assembly on the occasion of the 23rd anniversary of
NATO membership». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/opinions_193107.htm.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «Secretary General in Turkey: NATO stands with
Ukraine, rejects spheres of influence». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_193091.htm?selectedLocale=en.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «The Secretary General underlines the
importance of Turkey’s contributions to NATO». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_193089.htm.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «Secretary General previews extraordinary
meeting of NATO Defence Ministers». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_193201.htm.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «Secretary General: NATO is responding to this
crisis with speed and unity». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_193231.htm.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «Remarks: by NATO Secretary General Jens
Stoltenberg with the US Secretary of Defense, Lloyd J. Austin III at the start of the
Extraordinary meeting of NATO Ministers of Defence». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/opinions_193188.htm?selectedLocale=en.
NATO, 2022. NATO Secretary General: «NATO Secretary General, German Chancellor
discuss Russia’s invasion of Ukraine». [Online] Available at:
https://www.nato.int/cps/en/natohq/news_193368.htm?selectedLocale=en.
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Anexo II
Lista de Comunicados publicados pela Turquia que foram alvo de análise nesta
investigação
Türkiye, 2022. PR Recep Tayyip Erdoğan: «The military operation Russia has launched
against Ukraine is unacceptable» [Online] Available at:
https://www.tccb.gov.tr/en/news/542/135778/-the-military-operation-russia-has-
launched-against-ukraine-is-unacceptable-.
Türkiye, 2022. PR Recep Tayyip Erdoğan: «NATO should have taken a mor decisive step».
[Online] Available at: https://www.tccb.gov.tr/en/news/542/135790/-nato-should-
have-taken-a-more-decisive-step-.
Türkiye, 2022. PR Recep Tayyip Erdoğan: «Phone Call with Prime Minister Rutte of the
Netherlands». [Online] Available at: https://www.tccb.gov.tr/en/speeches-
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Türkiye, 2022. PR Recep Tayyip Erdoğan: «Phone Call with President Michel of the
European Council». [Online] Available at: https://www.tccb.gov.tr/en/speeches-
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Türkiye, 2022. PR Recep Tayyip Erdoğan: «Phone Call with Prime Minister Johnson of the
UK». [Online] Available at: https://www.tccb.gov.tr/en/speeches-
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Türkiye, 2022. PR Recep Tayyip Erdoğan: «Phone Call with President of Russia». [Online]
Available at: https://www.tccb.gov.tr/en/speeches-statements/558/136129/phone-call-
with-president-putin-of-russia
Türkiye, 2022. PR Recep Tayyip Erdoğan: «Phone Call with President Sandu of Moldova».
[Online] Available at: https://www.tccb.gov.tr/en/speeches-
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Türkiye, 2022. PR Recep Tayyip Erdoğan: «We have displayed a principled and
conscientious stance in the face of the crises in our region». [Online] Available at:
https://www.tccb.gov.tr/en/news/542/135913/-we-have-displayed-a-principled-and-
conscientious-stance-in-the-face-of-the-crises-in-our-region-.
Türkiye, 2022. PR Recep Tayyip Erdoğan: «Phone Call with President Biden of the US».
[Online] Available at: https://www.tccb.gov.tr/en/speeches-
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established». [Online] Available at: https://www.tccb.gov.tr/en/news/542/135949/-a-
new-global-security-architecture-must-be-established-.
Türkiye, 2022. PR Recep Tayyip Erdoğan: «As Türkiye, we continue our attempts aimed
at achieving a ceasefire». [Online] Available at:
https://www.tccb.gov.tr/en/news/542/136075/-as-turkiye-we-continue-our-attempts-
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e-ISSN: 1647-7251
Vol. 15, Nº. 1 (Maio 2024 Outubro 2024), pp. 80-99
Análise Comparativa da Comunicação Estratégica
Nato versus Turquia - no início da Invasão da Ucrânia em 2022
Fausto Brito e Abreu, Ana Oliveira e Pinheiro, Júlio N’naquidanque, Fernando Rita
99
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