da história, principalmente, por parte de certas classes políticas que teimam em associar
o fracasso do projecto bolivariano exclusivamente com factores exógenos e alheios às
acções e decisões adoptadas pelos responsáveis políticos de então.
O “sonho belo de Bolívar” desfez-se, e no lugar de uma Hispano-América unida, surgiu
um espaço regional de desintegração. A política tendeu ao contraditório, e em ocasiões,
mostrou-se incoerente no quadro das suas acções e decisões, consoante os objectivos e
os princípios assumidos. A política externa da Grande Colômbia constituiu, podemos
dizer, um elemento catalisador da desintegração da Grande Colômbia.
Se por um lado, as acções militares dos colombianos conseguiram a libertação dos
territórios, por outro, algumas das decisões adoptadas criaram outras novas formas de
dependência. As concessões comerciais generosas para norte-americanos e ingleses em
troca do reconhecimento da nova República, por exemplo, comprometeram o
desenvolvimento do comércio intra-regional, mesmo que incipiente.
A Colômbia propôs a União Hispano-Americana de toda uma região com estruturas e
padrões de conduta económica favoráveis à divisão entre as províncias, desprovida de
uma identidade comum diferente da consciência (subjectiva) comum imposta pela
metrópole, o que acabou por gerar desconfianças entre as elites políticas e comerciais
dos novos Estados, incentivou as rivalidades e reforçou os nacionalismos. Ao mesmo
tempo, o potencial emergente do novo Estado – republicano, promotor da abolição da
escravatura e do comércio de escravos – aumentou os receios das potências externas,
podendo este ser o interlocutor de toda uma região que apesar de imersa num clima de
grande instabilidade política, económica e social, somava num contexto de configuração
de forças.
Por último, foi encontrada uma solução de compromisso com a adopção do princípio do
utis possidetis para a delimitação dos territórios, proposta por Bolívar, contudo, a
realidade da existência de fronteiras mal definidas pelos tratados anteriores, e o potencial
dos recursos contidos nestes territórios ainda por explorar tornou esta solução
claramente insuficiente, e nalguns casos garantiu a perpetuidade dos conflictos.
Referências
Boersner, D. (1996). Relaciones Internacionales de América Latina. Nueva Sociedad
Cândido, A. (1999). «Literatura, espelho da América?». Remate de Males, Revista do
Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP.
De la Reza, Germán A. (2015). «El intento de integración de Santo Domingo a la Gran
Colombia (1821-1822)». Secuencia, nº 93, 65-82.
https://secuencia.mora.edu.mx/Secuencia/article/view/1271
Elías Ortiz, S. (1971). Franceses en la Independencia de la Gran Colombia. Editorial A B
C.
Flagg Bemis, S. (1944). La Diplomacia de Estados Unidos en la América Latina. Fondo de
cultura económica.