1625; passa pelas duas restaurações: a portuguesa e a pernambucana; a fundação de
Colônia do Sacramento; e ainda, passa pela intervenção espanhola na Independência, a
intervenção portuguesa na Cisplatina, os projetos comuns dos liberais dos dois lados,
que pensaram criar uma “União Ibérica Liberal”, etc.
Um período que deve ser destacado singularmente é o período da união das coroas
ibéricas (a mal chamada “União Ibérica”), ou Período Filipino, o momento da anexação
do Reino de Portugal e suas conquistas aos vãos territórios de Filipe II (Filipe I de
Portugal) depois da crise sucessória de 1580-81.
Durante esse período, de 1580-1 a 1640, um enorme conjunto de territórios ficou unido
(pelo menos na teoria) sob a mesma coroa. De Macau a Lima, de Antuérpia a Goa, de
Olinda a Malaca, espaços imensos separados por enormes oceanos acumularam-se nos
mapas e nas estratégias dos conselheiros dos reis da Casa de Áustria em Madri. Um
império complexo, um império católico, a Monarquia Católica, como era conhecido na
época esse conglomerado. O vasto território ao qual se acrescentam em 1581 as
possessões portuguesas, nos mostra o teatro das primeiras fases da globalização ao
colocar sob o mesmo rei umas 225 cidades (nas quais se ouvia uma missa a cada meia
hora num lugar diferente do planeta) (Socolow & Hoberman, 1986, p. 3).
A união das coroas, os 60 anos de domínio Habsburgo, culminados pelo Rei Planeta,
Felipe IV (III de Portugal), não foi, não poderia ser, na América portuguesa, um período
neutro, um período qualquer.
Além das mudanças conhecidas por todos (divisão em dois Estados, Ordenações Filipinas,
expansão para o norte, etc.), podemos adicionar: expansão económica, reformas
administrativas e fiscais; legislação de proteção dos indígenas; organização do sistema
defensivo e muitas mais que o breve espaço que tenho não me deixa desenvolver com
detalhe.
A historiografia relativa a esse período, no passado, tem sido especialmente afetada pela
relação peculiar que a partir de 1640 têm tido Espanha e Portugal, e mais tarde pela
distância que o Brasil marcou em relação a sua antiga metrópole desde 1822.
De fato, o período da União Dinástica foi visto tradicionalmente pela historiografia
portuguesa de tipo nacionalista como um período escuro, com um resultado catastrófico
para a situação de Portugal no cenário internacional. A suposta negligência dos reis da
Casa de Áustria com as possessões portuguesas, a sua preocupação extrema pelas
guerras na Europa e a prata americana, teriam determinado a perda dos territórios nas
primeiras quatro décadas do século XVII, especialmente entre os anos 1621 a 1641. Esse
argumento foi muito usado a partir dos ataques holandeses à Bahia e Pernambuco em
1624 e 1625 (Santos Pérez & Vicente Martín, 2023, p. 30-31).
Que o Reino de Portugal foi uma "vítima" da união das coroas, e não um dos principais
beneficiários, (que é o que a historiografia mais recente está mostrando), foi um tema
recorrente nas crônicas pós-Restauração de 1640, dada a necessidade do Duque de
Bragança, rei João IV, de legitimar a ação de 1 de dezembro.
Podemos dizer que tanto a história da união das coroas ibéricas, quanto a história da
Independência do Brasil, tiveram dois problemas interpretativos fundamentais,
problemas interpretativos, podemos dizer, na “vertical e na horizontal”.
Na vertical porque nos dois casos foram construídos relatos que, teleologicamente,
condicionavam todos os assuntos anteriores a uma resolução futura, no 1 de dezembro
de 1640, e no 7 de setembro de 1822, respectivamente, como se os homens de 1625
soubessem o que iria acontecer em 1640, ou como se os homens de 1808 soubessem
dos desenvolvimentos do ano 22.