parece que é, para promover o soft power. Por isso, acrescentar demasiado ênfase
político na gastrodiplomacia causa o risco de parecer propaganda. Numa entrevista feita
pelo autor para um outro trabalho, Rockower (Li, 2023) argumenta que nem tudo tem
que ser político e a missão da gastrodiplomacia é, antes de tudo, estabelecer laços
emocionais.
Em segundo lugar, as técnicas da gastrodiplomacia chinesa são monótonas. Nos dados
que encontrámos, a maioria dos eventos (92%) é meramente degustação da comida nas
feiras, e esta é uma forma que todos usam. Entretanto, alguns países inovam na
realização das atividades para trazer mais novidade. Por exemplo, “a Coreia do Sul tem
o Bibigo Food Truck nas cidades norte-americanas para servir a comida tradicional do
país.” (Zhang, 2015, p. 12) No caso de Malásia, por sua vez, as campanhas
gastrodiplomáticas foram encaixadas no Night Market, que é um evento com atividades
culturais em maior escala. (Rockower, 2019, p. 209)
Terceiro, a questão de autenticidade e qualidade da comida é um outro fator com que a
China se deve preocupar. Li (2022) defende que o que estamos a promover é uma
comida exótica para o público-alvo, portanto, se se perder a autenticidade, perder-se-á
o sentido da gastrodiplomacia.
No caso chinês, os restaurantes chineses estão em todo o mundo, porém, muitos deles
vendem comida não “chinesa”, ou seja, vendem pratos chineses ajustados segundo o
sabor local ou, simplesmente, vendem outra comida asiática. Em Portugal, após a
Operação Oriente em 2006, vender sushi é um fenómeno comum nos restaurantes
chineses. Por vezes, ironicamente, quando se pergunta qual é o prato representativo na
culinária chinesa, há pessoas que respondem sushi (Li, 2022, p. 93).
Em relação a isto, o governo tailandês criou umas regras para certificar os restaurantes
tailandeses de qualidade no estrangeiro. No caso do Japão, “To safe-guard consumers
overseas from «bad» Japanese food experiences, the Japanese Ministry of Agriculture,
Forestry and Fisheries formed a panel of experts, to inspect Japanese restaurants globally
for authenticity, chastising those that were not up to standard” (Raynolds, 2012, p. 53).
Ao proceder deste modo, por um lado, assegura-se a experiência de qualidade aos
clientes, por outro lado, a imagem da culinária nacional, transmitindo-se a comida
nacional verdadeira. Do ponto de vista de nation branding, o que estamos a promover
tem de ser algo da nossa identidade, ou seja, é representativo e identitário. Portanto,
garantir o acesso dos estrangeiros à comida chinesa autêntica e o acesso dos atores aos
ingredientes de qualidade são tarefas relevantes na gastrodiplomacia chinesa.
5. Conclusões
Resumindo, a China está a utilizar a sua comida para fins gastrodiplomáticos, estando as
embaixadas, Institutos Confúcio e entidades relevantes chinesas a organizarem eventos
de gastronomia. Da mesma forma, participam também em eventos organizados por
outros governos e pelas comunidades chinesas locais. A gastrodiplomacia chinesa mostra
certas caraterísticas distintas dos outros países, por exemplo, o modo selvagem e Track
2 diplomacy.