perceber o papel critico que o desenvolvimento internacional poderá desempenhar em
torno das interações que envolvem a construção de capacidades das comunidades,
instituições, sistemas económicos, sociais e ambientais, face aos desafios globais
(Amaro, 2023: 26). Neste sentido, sistema resiliente, implica a capacidade de um
sistema se preparar, mitigar e prevenir, face aos impactos negativos, a fim de preservar
e restaurar as suas estruturas e funções básicas essenciais, proporcionando condições
ajustáveis dos seus componentes, de forma a assegurar a continuidade dessa mesmas
estruturas e funções, através de um processo de transformação que está na origem do
estabelecimento de um sistema essencialmente novo (OECD, 2021: 164).
Este processo de construção, incorpora do ponto de vista sistémico a combinação
estratégica e integrada das capacidades absortivas, adaptativas e transformativas, para
melhor alinhar as ações de gestão de riscos, com os objetivos de desenvolvimento de
longo prazo. Considerando-se a resiliência como uma propriedade sistémica, a sua
conceptualização tem extravasado todo o campo científico, refletindo-se como um
paradigma multidimensional, sustentado por uma dinâmica de processos
interrelacionados, face à um denominador comum: as perceções em torno dos desafios
representados pela interação humana e o planeta, onde se destacam os impactos das
alterações climáticas, pandemias, desigualdades, fluxos migratórios, conflitos violentos,
crises económicas e financeiras, entre outras.
Ontologia social e construtivismo nas RI
As ciências humanas dispõem de diversos meios para estudar a realidade social, sendo
a filosofia a primeira disciplina a pesquisar os assuntos em torno da ética, política e
moral, ou seja, os três maiores campos que distintamente lidam com a realidade social
(Andina, 2016: 11). A ontologia como um dos ramos da filosofia, é a ciência do que é,
dos tipos de estruturas dos objetos, propriedades, eventos, processos e das relações em
cada área da realidade, procurando providenciar uma solução e classificação exaustiva
das entidades em todas as dimensões do ser (Smith, 2012: 155). A disciplina das RI, a
semelhança de outras disciplinas do campo das ciências sociais, assenta em pressupostos
meta-teóricos que consistem na maneira pela qual as teorias são desenvolvidas,
oferecendo diferentes e complexas perspetivas em torno dos fenómenos em estudo
(Fernandes, 2011: 17-18). Em termos da terminologia filosófica, o posicionamento
teórico diz respeito a suposições particulares assentes na ontologia, epistemologia e
metodologia, o que pressupõe diferentes formas de se percecionar a realidade:
ontologicamente na forma como se percebem os diferentes domínios dos objetos,
epistemologicamente na aceitação ou rejeição de reivindicações particulares do
conhecimento, e metodologicamente na escolha de métodos particulares de estudo
(Kurki e Wight, 2013: 14-15). Partindo das abordagens construtivistas das RI, os
indivíduos ou Estados, enquanto entidades sociais, não podem ser separados do contexto
dos significados normativos que moldam a sua identidade ou do vasto recurso de
possibilidades proporcionadas pela sua agência, o que nos transporta para o domínio da
ontologia social (Fierk, 2013: 190). Uma das tarefas da ontologia social é precisamente
identificar as causas por trás do conflito entre o livre arbítrio e a responsabilidade ética