OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
Vol. 14, Nº. 2 (Novembro 2023-Abril 2024)
11
A CHINA, A RÚSSIA E A REINVENÇÃO DA EURÁSIA
CARLOS GASPAR
cemedeiros@autonoma.pt
Investigador integrado do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova
de Lisboa (Portugal). Professor Catedrático Convidado, Universidade Autónoma de Lisboa e
Investigador Associado no OBSERVARE, Observatório de Relações Exteriores. Assessor do
Conselho de Administração da Fundação Oriente. Assessor do Instituto de Defesa Nacional.
Membro do European Council on Foreign Relations. Membro do Conselho de Assessores do Real
Instituto Elcano. Membro da Associação Portuguesa de Ciência Política. Autor de O Pós-Guerra
Fria (2016); A Balança da Europa (2017); Raymond Aron e a Guerra Fria (2018); O Regresso da
Anarquia (2019); O Mundo de Amanhã (2020); O Fim da Europa (2022).
Resumo
No post-Guerra Fria, a transformação das relações entre a Rússia e a China é inseparável da
reinvenção da Eurásia, que está no centro da nova aliança entre as duas principais potências
continentais. As estratégias revisionistas da Rússia de Putin e da China de Xi Jinping
dependem da convergência sino-russa. Moscovo e Pequim começaram a construir uma ordem
alternativa a partir da organização multilateral do espaço euroasiático, cujo contraponto é a
estratégia dos Estados Unidos no Indo-Pacifico. Esse processo abre caminho à emergência da
China como a principal potência euroasiática, pela primeira vez na história internacional.
Palavras-chave
Eurásia, China, Rússia, Ordem mundial, Belt and Road Initiative
Abstract
In the post-Cold War, the transformation of relations between Russia and China is inseparable
from the reinvention of Eurasia, which is at the centre of the new alliance between the two
main continental powers. The revisionist strategies of Putin's Russia and Xi Jinping's China
depend on Sino-Russian convergence. Moscow and Beijing have begun to build an alternative
order based on the multilateral organisation of the Eurasian space, the counterpoint to which
is the US strategy in the Indo-Pacific. This process is paving the way for China to emerge as
the leading Eurasian power for the first time in international history.
Keywords
Eurasia, China, Russia, World order, Belt and Road Initiative
Como citar este artigo
Gaspar, Carlos (2023). A China, a Rússia e a reinvenção da Eurásia. Janus.net, e-journal of
international relations, Vol14 N2, Novembro 2023-Abril 2024. Consultado [em linha] em data da
última consulta, https://doi.org/10.26619/1647-7251.14.2.1
Artigo recebido em 1 de Setembro de 2023 e aceite para publicação em 5 de Setembro
de 2023
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A China, a Rússia e a reinvenção da Eurásia
Carlos Gaspar
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A CHINA, A RÚSSIA E A REINVENÇÃO DA EURÁSIA
CARLOS GASPAR
No dia 16 de Maio, o Embaixador Li Hui, Representante especial para a Eurásia, iniciou
em Kyiv os seus contactos diplomáticos para discutir a "resolução política da crise
ucraniana", nos termos do anúncio feito pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros em
Pequim. Depois de passar por Varsóvia, Berlim, Paris e Bruxelas, a sua missão terminou
em Moscovo, onde Li Hui foi o Embaixador da República Popular da China entre 2009 e
2019, uma década crucial para a consolidação da aliança entre as duas grandes potências
continentais.
Não há notícia de que a China - a nova China ou o velho Império do Meio - tenha jamais
nomeado um "Representante especial para os assuntos euroasiáticos". A estrutura
organizativa do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês não tem nenhum
departamento para a Eurásia, embora exista um Departamento da Ásia Central e da
Europa. Também não há notícia de que a Eurásia tenha passado a ser um termo corrente
no debate político chinês, tal como a Eurásia como conceito geopolítico não é uma
referência típica nos estudos de estratégia e de relações internacionais na China. E,
todavia, existe um enviado especial de Pequim para a Eurásia, que incluiu no seu
perímetro a Rússia, a Alemanha, a França, a Polónia e a Ucrânia: a ssia post-
soviética assume a sua identidade euro-asiática, que é estranha aos outros quatro
Estados europeus visitados pelo representante chinês para os assuntos euroasiáticos.
A novidade da diplomacia chinesa - uma coisa rara em si mesma - tem as suas origens
na reinvenção da Eurásia na evolução das relações entre a China e a Rússia desde o fim
da Guerra Fria. A decomposição da União Soviética é o ponto de partida para a
reconstrução da Eurásia, o leit-motiv das velhas teorias pan-eslavistas que hibernaram
durante as décadas do regime comunista russo, mesmo quando Stalin e Mao Tsetung
decidiram concretizar a unidade euroasiática com a assinatura do tratado de aliança sino-
soviético em 1950.
O fim do império soviético foi, ao mesmo tempo, uma catástrofe ideológica para o regime
comunista chinês e uma benção estratégica para a equação de segurança da China, que
deixou de estar concentrada na ameaça soviética e de realizar plenamente o programa
de reformas e de abertura internacional de Deng Xiaoping. A estratégia reformista
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traduziu-se na "asianização" da nova China, que assegurou o processo de modernização
acelerada e a ressurgência do velho império como uma grande potência internacional.
Nesse sentido, a ruína da União Soviética significa, desde logo, uma mudança do centro
de gravidade estratégica da China, que se desloca do hinterland continental para a faixa
costeira, onde se concentra a melhor parte da sua economia industrial. Por outro lado, o
declínio da Rússia abre caminho para a normalização das relações bilaterais entre
Moscovo e Pequim, com a conclusão do processo de definição das fronteiras entre os dois
Estados, em 1994, e a formalização da primeira versão da "parceria estratégica" entre a
China e a Rússia, na cimeira que reúne o Presidente Jiang Zemin e o Presidente Boris
Yeltsin, dois anos depois. Por último, a decomposição do império soviético significa que
a República Popular da China passa a ter três novos Estados contíguos - o Kazaquistão,
a Kirguizia e o Tajiquistão, três das cinco ex-Repúblicas soviéticas da Ásia Central, que
Pequim reconhece desde 1992.
A prioridade para a China é completar as conversações sobre a demarcação territorial
que iniciou ainda com a União Soviética. Nesse quadro, retoma o processo com os três
Novos Estados Independentes, com os quais conclui acordos de fronteiras separados
entre 1994 e 1996, que alargam o território da República Popular da China na Ásia
Central
1
.
Acto contínuo, a China reúne a Rússia, o Kazaquistão, o Kirguistão e o Tajiquistão em
Shanghai para estabelecer um quadro de concertação multilateral que possa assegurar
a estabilidade política na sua rectaguarda continental
2
. Em 2001, os "Shanghai Five"
instituem a Organização de Cooperação de Shanghai (SCO), que inclui também o
Uzbequistão. As prioridades da SCO concentram-se no domínio securitário, incluindo a
neutralização dos movimentos pan-islamistas e das redes terroristas islâmicas,
nomeadamente o Movimento para a Independência do Turquestão Oriental (ETIM), que
organiza a oposição dos Uyghurs no Xinjiang. Paralelamente, a Rússia garante a
segurança do Kazaquistão, do Kirguistão e do Tajiquistão, que são membros do Tratado
de Segurança Colectiva (CSTO) desde 1992.
A SCO é a primeira instituição multilateral de segurança criada pela China no post-Guerra
Fria, que confirma uma convergência relevante entre Pequim e Moscovo, empenhados
ambos em definir um quadro de estabilidade política na Ásia Central, que é o "separador"
regional entre as duas grandes potências continentais desde o século XIX
3
. É também,
avant la lettre, a primeira instituição euro-asiática, formada num momento em que a
Rússia quer regressar à Europa e a China se está a tornar a potência hegemónica da Asia
Oriental.
1
A China obteve 16 mil km2 de território na redefinição das fronteiras com as três novas Repúblicas da Ásia
Central. Jeffrey Mankoff (2023). "The War in Ukraine and Eurasia's New Imperial Moment". Washington
Quarterly 45 (2): 138. Jeffrey Mankoff (2022). Empires of Eurasia. How Imperial Legacies Shape
International Security. New Haven: Yale University Press. Ver também Daniel Markey (2020). China's
Western Horizon. Beijing and the New Geopolitics of Eurasia. Oxford: Oxford University Press.
2
Yuan Jingdong (2010). "China's Role in the Establishment of the Shanghai Cooperation Organization".
Journal of Contemporary China 19 (67): 855-869. Alyson Bailes et al (2007). The Shanghai Cooperation
Organization. SIPRI Policy Paper 17.
3
David Dallin (1949). The Rise of Russia in Asia. New Haven: Yale University Press.
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Essa dinâmica o se vai alterar nos anos seguintes. Enquanto os Estados Unidos, depois
do "11 de Setembro", se concentram no "Grande Médio Oriente", incluindo o Afeganistão
e a Ásia Central - as tropas norte-americanas instalam bases militares temporárias no
Kirguistão, no Tajiquistão e no Uzbequistão para apoiar as suas operações contra os
Taleban -, a Rússia e a China mantêm a sua "parceria estratégica" e continuam de
costas voltadas, uma virada para a "Europa de Lisboa a Vladivostok", a outra para a Ásia
marítima.
Tudo muda dez anos depois, quando se torna evidente que a China deixou de ser uma
potência regional emergente e passou a ser um challenger que pode desafiar a
preeminência internacional dos Estados Unidos, posta em causa pela divisão da coligação
ocidental na Guerra do Iraque, pela débâcle da ocupação militar do Iraque e pela crise
financeira internacional.
As respostas da Rússia e dos Estados Unidos à "ascensão pacifica" da China são
simétricas e opostas. Em Moscovo, o Presidente Vladimir Putin reconhece que o centro
de gravidade da política internacional se deslocou para a Ásia e defende o "pivot oriental"
da Rússia
4
para consolidar a aliança com a China e, simultaneamente, para a integrar
numa "Grande Eurásia", o que torna prioritário reintegrar o espaço post-soviético no
quadro de uma União Euroasiática, incluindo uma União Económica Euroasiática (EEU)
que exclui a principal potência asiática
5
.
A resposta da Rússia à ressurgência da China é a reinvenção da Eurásia, cujo centro se
deslocou de Moscovo para Pequim, como reconhecem os estrategas russos alinhados
com o Kremlin, incluindo Sergei Karaganov e Timofei Bordachev
6
. A referência à Eurásia
é natural, uma vez que esse conceito é parte integrante da cultura estratégica russa
desde o século XIX e, adicionalmente, essa visão evoca o projecto imperial russo, sem
ter de se alinhar com a ideologia radical dos novos pan-eslavistas russos, representada
por Alexander Dugin
7
.
Em Washington, o Presidente Barack Obama reconhece que o centro da gravidade da
política internacional se deslocou do Atlântico para o Pacífico e do "Grande Médio Oriente"
para a "Grande Ásia". Nesse quadro, defende o "pivot asiático" da estratégia norte-
americana para conter a ascensão da China e, simultaneamente, para a integrar na
ordem internacional, nomeadamente no G20, como um "responsible stakeholder".
Essa viragem histórica torna prioritário reorganizar as suas alianças e as suas parcerias
4
Jeffrey Mankoff. Russia's Asia Pivot. Confrontation or Cooperation? CSIS, 2 de Fevereiro de 2015. Mikhail
Troitskiy (2014). The Sino-Russian Pivot and American Power. MGIMO, Pin Points 40. Ekaterina Kuznetsova,
Vladimir Inozemtsev (2013). "Russia's Pacific Destiny". American Interest, 10 de Outubro de 2013. Fiona
Hill, Bobo Lo. "Putin's Pivot. Why Russia is Looking to the East". Foreign Affairs, 31 de Julho de 2013. Kadri
Liik, editor (2014). Russia's Pivot to Eurasia. ECFR.
5
Putin define a EEU como uma "associação supranacional" que deve ser um pólo internacional e uma ponte
entre a Europa e a Ásia-Pacifico. Jeffrey Mankoff (2023): 140. Ver também Vladimir Putin. "A New
Integration Project for Eurasia. The Future in the Making." Permanent Mission of the Russian Federation to
the European Union, 3 de Outubro de 2011.
6
Sergei Karaganov. "From East to West, or Greater Eurasia". Global Affairs, 25 de Outubro de 2016. Sergei
Karaganov, Timofei Bordachev (2017). The Turn To The East To Greater Eurasia. Valdai Report. Toward the
Great Ocean 5.
7
Marlene Laruelle (2015). Eurasia, Eurasianism, Eurasia Union. PONARS Eurasia Policy Memo 336. Marlene
Laruelle (1999). L'idéologie eurasiste ou comment penser l'empire. Paris: L'Harmattan.
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na Ásia-Pacífico com a formação da nova Parceria do Trans-Pacifico (TPP), que exclui a
principal potência asiática
8
.
A resposta dos Estados Unidos à ressurgência da China é a reinvenção do Pacífico, que
se alarga para passar a ser o Indo-Pacifico - a fórmula original do Primeiro-Ministro
Shinzo Abe que une o Japão, a Austrália e a Índia à principal potência marítima para
impedir a emergência de uma "Ásia unipolar"
9
. A referência transoceânica é natural na
cultura estratégica da principal potência marítima, que organizou a derrota da União
Soviética a partir da aliança transatlântica e os Estados Unidos reproduzem esse modelo
na coligação quadrilateral do Indo-Pacífico
10
.
Em Pequim, durante o processo de escolha do novo Secretário-Geral do Partido
Comunista da China que termina com a nomeação de Xi Jinping em Setembro de 2012,
o debate estratégico opõe os partidários da paciência estratégica, que defendem uma
linha de continuidade para evitar um afrontamento prematuro com os Estados Unidos -
o erro fatal da União Soviética, segundo Deng Xiaoping -, e os partidários do voluntarismo
estratégico, que querem revelar a China como uma grande potência internacional e
enfrentar a hegemonia norte-americana. Duas fórmulas identificam as escolhas
divergentes - a velha guarda reformista quer "esconder a força da China e evitar
pretensões à hegemonia" (Tao Guang Yang Hui), enquanto a vanguarda revisionista
quer uma estratégia dinâmica para mobilizar a força da China e "alcançar resultados" na
política internacional (Fen Fa You Wei)
11
.
A linha defensiva defende a "Marcha para Ocidente"- uma versão chinesa do "Drang
nach Osten" de Karl Haushofer que evoca os dilemas das estratégias continentalistas
da Alemanha
12
, implicitamente na versão de Wang Jisi, explicitamente na versão do
General Liu Yazhou. Para Wang Jisi, se os Estados Unidos se vão concentrar na Ásia-
Pacifico, a única maneira de evitar o afrontamento directo entre as duas grandes
potências é a China concentrar-se no seu "Drang nach Westen" ao longo de um eixo
que deve unir Shanghai a Londres - os símbolos da velha e da nova globalização
13
. Para
Liu Yazhou, a defesa das fronteiras terrestres e da estabilidade na Ásia Central é mais
importante do que a conquista de Taiwan: o Xinjiang deve ser reconhecido como uma
posição central, decisiva tanto para assegurar uma ligação terrestre segura aos recursos
energéticos concentrados na Ásia Central e no Golfo Pérsico, como para ligar a China à
Asia do Sul, ao Médio Oriente e à Turquia
14
.
8
Jeffrey Bader (2013). Obama and China's Rise. An Insider's Account. Nova York: Brookings Institution.
Hillary Clinton (2014). Hard Choices. A Memoir. Nova York: Simon and Schuster. Aaron Friedberg (2022).
Getting China Wrong. Cambridge: Polity Press. Andrew Small (2022). No Limits. The Inside Story of China's
War with the West. Londres: Melville House.
9
Gudrun Wacker, Felix Heiduk (2020). From Asia-Pacific to Indo-Pacific. Significance, Implementation, and
Changes. SWP Research Paper 9.
10
Rory Medcalf (2020). Indo-Pacific Empire. China, America, and the Contest for the World's Pivotal Region.
Manchester: Manchester University Press.
11
Yan Xuetong (2014). "From Keeping a Low Profile to Striving for Achievement". Chinese Journal of
International Politics 7 (2): 153-184.
12
Michel Korinman (1990). Quand l'Allemagne pensait le monde. Paris: Fayard.
13
Wang Jisi. Marching Westwards. The Rebalancing of China's Geostrategy. Pequim: Center for International
and Strategic Studies Report, 7 de Outubro de 2012.
14
O texto é escrito pouco depois de um período de tensões políticas e sociais em Urumqi. Lu Yazhou. On
Advance Toward the West, 8 de Agosto de 2010. Ver também Yun Sun. March West. China's Response to
U.S. Rebalancing. Brookings Institution, 31 de Janeiro de 2013. Michael Clarke (2016). "Beijing's March
West. Opportunities and Challenges for China's Eurasian Pivot". Orbis 62 (2): 296-313.
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A linha ofensiva defende a transformação da China numa grande potência marítima para
enfrentar os Estados Unidos em Taiwan e nos mares adjacentes e a competição global
com a potência hegemónica implica formar uma ordem alternativa à ordem liberal. A
Ásia Central é uma rectaguarda sem valor estratégico decisivo desde que se possam
excluir os Estados Unidos e os seus aliados desse espaço secundário: a concertação na
SCO assegura a retirada das tropas norte-americanas estacionadas no Uzbequistão, no
Tajiquistão e no Kirguizistão e a retirada gradual da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (NATO) e dos Estados Unidos do Afeganistão confirma esse cálculo. Yan Xuetong
considera queexistem duas grandes potências internacionais - os Estados Unidos e a
China - e que a inevitabilidade de uma nova divisão bipolar exige que a potência
ascendente possa ter um modelo normativo próprio para criar uma nova ordem
mundial
15
.
Em 2013, o Presidente Xi Jinping anuncia a "Rota da Seda Terrestre" em Nur-Sultan
(Astana), no Kazaquistão, e a "Rota da Seda Marítima" em Djakarta, na Indonésia
16
. A
nova estratégia - a Belt and Road Initiative (BRI) na sua denominação oficial,
traduzido em português pela Xinhua como a iniciativa "Cinturão e Rota" - antecipa a
reorganização da Eurásia como um espaço integrado por redes digitais, energéticas,
ferroviárias e financeiras de conectividade continental ao longo de três corredores
terrestres - no Sul, no centro e no Norte - e de uma rota marítima que circunda a Ásia
até ao Mediterrâneo
17
. Pela primeira vez desde o início do período das reformas, a nova
estratégia apresenta a China como um modelo de desenvolvimento político e económico
alternativo ao modelo liberal
18
.
A Belt and Road Initiative, pilar da "Comunidade de Destino Comum" sinocêntrica
anunciada primeiro por Hu Jintao e depois por Xi Jinping
19
, vai estar aberta a todos os
Estados - excepto os Estados Unidos, por definição excluídos da ordem chinesa - e mais
de 140 Estados, incluindo a Itália e Portugal,o assinar acordos bilaterais com a China
nesse quadro. As novas "Rotas da Seda" chinesas substituem as antigas "Rotas da Seda"
europeias de Marco Polo e de Vasco da Gama e anunciam o fim do longo ciclo de
ocidentalização.
A Belt and Road Initiative é a resposta da China à viragem estratégica dos Estados
Unidos e da Rússia. Xi Jinping defende o "pivot euroasiático" da China para consolidar a
aliança, ou a quase-aliança, com a Rússia
20
, necessária para contrabalançar a hegemonia
15
Yan Xuetong (2019). Leadership and the Rise of Great Powers. Princeton: Princeton University Press.
16
A escolha do nome remete para uma iniciativa anterior dos Estados Unidos - a New Silk Road Initiative
anunciada em 2011 por Robert Hormats, Subsecretário de Estado para a Economia, a Agricultura e a
Energia, que queria construir redes de telecomunicações, estradas e caminhos-de-ferro para garantir a
integração regional do Afeganistão. Robert Hormats. The United States "New Silk Road" Strategy. U.S.
Department of State, 29 de Setembro de 2011.
17
Nadège Rolland (2017). Drivers of the Belt and Road Initiative in National Bureau of Asian Research. China's
Eurasian Century? Political and Strategic Implications of the Belt and Road Initiative: 93-120. William
Callahan (2016). "China's 'Asia Dream'. The Belt and Road Initiative and the new regional order". Journal
of Asian Comparative Politics: 1-18.
18
Francis Fukuyama. "Exporting the Chinese Model", 12 de Janeiro de 2016.
19
A "Comunidade de Destino Comum", apresentada Xi Jinping no Forum da Belt and Road Initiative em 2017,
é uma versão moderna do Tianxia, a ordem imperial chinesa. O seu antecessor, Hu Jintao, foi o primeiro a
usar a fórmula. Jeffrey Mankoff (2022). Ver também Wang Gungwu. On Tianxia. The China Story, 6 de
Agosto de 2013.
20
Chen Xiaotong, Marlen Belgibayev (2014). China's Eurasian Pivot. Asan Forum, 1 de Dezembro de 2014.
Bobo Lo (2019). Greater Eurasia. The Emperor's New Clothes or an Idea whose Time Has Come? Paris: IFRI
Russia NEI Reports.
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norte-americana. Mas a estratégia de Xi Jinping anuncia uma viragem ofensiva: a China
precisa de um aliado seguro na rectaguarda continental para poder concentrar as suas
forças na transição de poder e substituir a potência hegemónica em declínio, tal como
precisa de se transformar numa potência marítima para lutar contra os Estados Unidos,
desde logo nos estreitos da Formosa e nos mares adjacentes que quer integrar no seu
espaço de soberania
21
. Nesse contexto, a China de Xi precisa mais da Rússia de Putin do
que a Rússia de Putin precisa da China de Xi.
A política internacional passa a ser dominada pela bipolarização entre os Estados Unidos,
por um lado, e a China e a Rússia, por outro lado. Em 2014, a anexação da Crimeia vai
pôr à prova a coesão da coligação entre as duas grandes potências continentais
revisionistas.
A decisão de Xi força Putin a dar forma à União Euroasiática. Em 2013, Moscovo decide
criar uma União Económica Euroasiática, cuja credibilidade reclama a integração da
Ucrânia. Mas Kyiv prepara-se para assinar um Acordo de Associação com a União
Europeia, que é incompatível, nos seus próprios termos, com a adesão à União Económica
Euroasiática
22
. Putin obriga o Presidente Viktor Yanukovych a escolher Moscovo, mas a
ruptura com Bruxelas provoca um levantamento das correntes nacionalistas ucranianas,
que ocupam o centro de Kyiv durante os meses de Inverno. O movimento Maidan acaba
por prevalecer contra o Presidente Yanukovych, que foge para a Rússia quando se vai
iniciar a intervenção militar russa na Crimeia, em 28 de Fevereiro de 2014
23
. Três
semanas antes, no dia 6 de Fevereiro, véspera da abertura dos Jogos Olímpicos de
Inverno em Sochi, Xi encontra-se com Putin, mas ninguém dá. pelo menos publicamente,
importância a essa reunião
24
.
A anexação da Crimeia e a insurreição armada das milícias russas no Donbas, que está
na origem da "guerra híbrida" na Ucrânia Oriental, confirmam a estratégia de Putin
centrada na ruptura com a ordem internacional e no realinhamento com a China. A
República Popular da China não reconhece a anexação da Crimeia, nem condena a Rússia
e, em Maio, a cimeira anual entre Xi e Putin em Shanghai consolida a Entente
revisionista e garante o acesso da China às reservas estratégicas de hidrocarbonetos da
Sibéria com a construção de um novo gasoduto, o Power of Siberia.
Em Junho, a Ucrânia acaba por assinar o Acordo de Associação com a União Europeia
que marca a fronteira com a União Económica Euroasiática, fundada pela Rússia, pela
Bielorússia, pela Arménia e pelo Kazaquistão - o Kirguistão vai entrar mais tarde. As
tensões entre a União Económica Euroasiática e as parcerias da Belt and Road
Initiative na Ásia Central são evidentes desde a primeira hora, o que justifica a decisão
de Xi e Putin de declarar os dois projectos complementares, logo no ano seguinte
25
.
21
Rush Doshi (2021). The Long Game. China's Grand Strategy to Displace American Order. Nova York: Oxford
University Press.
22
Anders Aslund. Ukraine's Choice. European Association Agreement or Eurasian Union? Peterson Institute
for International Economics Policy Brief, Setembro de 2013.
23
Serhii Plokhy (2017). The Gates of Europe. A History of Ukraine. Nova York: Basic Books.
24
"Meeting with President of China Xi Jinping", President of Russia, 6 de Fevereiro de 2014. "Xi Jinping Meets
with President of Russia, Vladimir Putin", PRC Consulate-General, Toronto, 6 de Fevereiro de 2014.
25
Alexander Gabuev. "Eurasian Silk Road Union. Towards a Russia-China Consensus?" Diplomat, 5 de Junho
de 2015. Martin Kaczmarski, Witold Rodkiewicz. Russia's Greater Eurasia and China's New Silk Road:
adaptation instead of competition. OSW Center for Eastern Studies OSW Commentary, 21 de Julho de 2016.
Ver também "Russia, China, agree on integration of Eurasian Economic Union, Silk Road Projects", TASS, 8
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O Kazaquistão, onde a China constrói o porto-seco de Khorgos, é crucial na conexão
ferroviária que liga Xian, Moscovo e Duisburg no corredor norte, assim como na conexão
energética dos gasodutos que ligam o Turquemenistão à China, no corredor central das
novas "Rotas da Seda". O corredor sul liga o Xinjiang directamente ao Paquistão - o
"Corredor Económico China-Paquistão - e termina no porto de Gwadar, no Indico. Na
conjuntura, a divisão do trabalho que prevalece na Ásia Central post-soviética valoriza a
posição decisiva da Rússia na dimensão securitária e a da China na dimensão económica
e garante a co-existência das duas grandes potências na "Eurásia Central".
No mesmo sentido, a convergência sino-russa define o quadro dos alargamentos
sucessivos da SCO. Em 2017, a India entra pela mão da Rússia, que quer contrabalançar
a posição tendencialmente hegemónica da China na construção da "Grande Eurásia"; o
Paquistão entra pela mão da China, para manter a balança entre as duas potências
nucleares da Ásia do Sul; e o Irão, alinhado com a Rússia na guerra civil da Síria e com
a China para resistir ao isolamento imposto pelos Estados Unidos e às sanções
internacionais, completa o processo de adesão como membro permanente em 2022; o
Afeganistão, a Mongólia e a Bielorússia têm o estatuto de observadores; e a Turquia
anuncia a sua candidatura para 2024 - seria o primeiro Estado membro da NATO a entrar
na instituição multilateral que dá forma à "Grande Eurásia" e é um pilar fundamental da
ordem neo-imperial que as potências do eixo Moscovo-Pequim-Teerão defendem como
alternativa à ordem internacional das Nações Unidas
26
.
Em 2022, a invasão da Ucrânia pela Rússia e, sobretudo, o prolongamento da Guerra
Russo-Ucraniana depois do fracasso inicial da ofensiva russa, vai confirmar a aliança
sino-russa - o cenário geopolítico mais perigoso para os Estados Unidos, na previsão de
Zbigniew Brzezinski
27
- e transformar a balança entre as duas principais potências
revisionistas.
Tal como em 2014, a ofensiva russa é precedida por uma cimeira entre Xi e Putin, na
véspera dos Jogos Olímpicos de Inverno, desta vez em Pequim. Mas, em 2022, ninguém
pode ignorar a importância decisiva da reunião entre os dois Presidentes nas vésperas
da invasão da Ucrânia. Xi e Putin aprovam uma Declaração Conjunta que marca a
convergência da Rússia com a China nas principais questões da política internacional e
qualifica a relação bilateral, pela primeira vez, como uma "amizade sem limites"
28
. A
reunião cimeira de 4 de Fevereiro de 2022 marca o fim da velha ordem internacional
29
e
a invasão da Ucrânia confirma a escalada na luta pelo poder entre as principais potências
e a divisão irreversível entre o "Ocidente alargado" e a coligação oriental.
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A China, a Rússia e a reinvenção da Eurásia
Carlos Gaspar
19
A Guerra Russo-Ucraniana - o golpe-de-mão que devia decapitar o Estado ucraniano
transforma-se numa guerra prolongada - vai revelar as vulnerabilidades da Rússia, que
justificam a percepção quer das elites chinesas, quer das elites norte-americanas, sobre
a decadência russa. A aliança entre as duas potências continentais não é posta em causa
- a neutralidade chinesa é uma fraude, desde a primeira hora e a missão euroasiática do
Embaixador Li Hui confirma o alinhamento fundamental entre Pequim e Moscovo. Mas a
coligação revisionista passa a ser dirigida pela China que, pela primeira vez na história
internacional, passa a ser a principal potência continental na Eurásia
30
.
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