Assim, os fatores percetivos e ideológicos, ao condicionarem a visão do decisor, têm um
profundo impacto na decisão em si, o que faz cair por terra a visão tradicional de que a
política externa é decidida somente em razão da pressão estrutural, ou tendo somente
por base o interesse nacional. São as perceções e “interpretações” (Mendes, 2017: 27)
que o decisor constrói que moldam a sua visão da realidade, e, por conseguinte, moldam
a própria cena internacional. Ainda neste domínio, Snyder, Bruck e Sapin (2002: 76)
afirmam que os “decision-makers operate in a highly particular and specific context”,
pelo que é importante atendermos aos condicionamentos e influências que o meio lhes
impõe, assim como à sua própria idiossincrasia, sendo essencial “[the] re-creation of the
‘world’ of the decision-makers as they view it” (Idem: 59), através do entendimento da
perceção, das escolhas e das expectativas do decisor.
Mais tarde Allison também defendeu esta visão, ao afirmar que, mesmo que a política
externa possa ser uma resposta (ou ação) do Estado face à realidade internacional, a
decisão cabe sempre a decisores políticos, que não são independentes do que os rodeia,
e que, por isso, deve-se estudar o processo de tomada de decisão para, aí, encontrar as
motivações que levaram a com que se decidisse de uma determinada maneira. Surgem
assim, alguns modelos de análise, se bem que muito ligados ao estudo da política externa
como uma política pública, por um lado, o Modelo do Ator Racional – este modelo não foi
desenvolvido por Allison, mas antes apresentado de forma sumaria por este, como o
modelo que a maioria dos estudiosos seguia à época, e que ainda era muito associado
aos pressupostos realistas de que a decisão é sempre dominada por critérios racionais –
e, por outro, o Modelo da Política Burocrática e o Modelo da Política Organizacional.
Também James Rosenau aprofundou esta conceção, considerando que o decisor é
influenciado por um conjunto de inputs internos e externos, mas, mais do que isso, que
tanto o meio interno como o meio externo interagem, formando processos de linkage –
entendidos enquanto “any recurrent sequece of behavior that originates in one system
and is reacted to in another” (Rosenau, 1969: 45) – que condicionam, ainda mais, o
decisor. Ainda, neste sentido, Putnam apresentou o seu modelo de negociação em dois
tabuleiros, afirmando que, o decisor, mais do que enfrentar, simultaneamente, pressões
do meio interno e do meio externo, tem de mover duas negociações políticas para chegar
a uma decisão em cada um destes planos.
Concluindo, podemos afirmar que a Análise de Política Externa surgiu com o intuito de
contestar o papel atribuído pelos realistas, no estudo da política externa, ao interesse
nacional e à Estrutura (externa), assim como a própria ideia de racionalidade na decisão.
Para os realistas, a política externa era simplesmente influenciada por questões externas,
não sendo mais do que uma resposta, natural e quase que automática, do Estado às
pressões da Estrutura. A APE veio, por um lado, alargar este conceito de Estrutura do
meio externo ao meio interno – assumindo, inclusive, interdependência entre ambos,
como demonstraram Putnam e Rosenau – e, por outro lado, demonstrar que além da
Estrutura outras variáveis importam, como as ideias e perceções do decisor, permitindo,
assim, aprofundar o estudo da política externa. A APE surge, desta forma, como uma
abordagem mais alargada e abrangente de entender a decisão em política externa,
propondo um novo modo de análise mais capaz do que as tradicionais teorias das
relações internacionais que não são capaz de explicar, na sua totalidade, muitos dos
fenómenos da política internacional. A política externa é formulada através de diversos