aspetos aqui explorados. Assim, estes temas partilham o seu forte valor normativo,
crítico tanto no debate político e como no seio da sociedade civil.
Para Susana Peralta, o aborto é o assunto chave, num artigo com testemunho pessoal,
sublinha “As consequências – das do aborto clandestino às da gravidez não desejada –
são sempre mais prováveis nas mulheres de menores rendimentos, (...) Assim era em
Portugal antes de 2007: quem podia ia a Espanha tratar do assunto.” (p. 184) Já para
Teresa Violante, o foco é na questão da objeção de consciência, em que se “(...) coloca
os profissionais na posição de juízes morais do comportamento das pessoas grávidas.”
(p. 209) Paralelamente, a eutanásia é o outro grande tema relacionado com as escolhas
políticas valorativas. No artigo de André Coelho Lima, com três tipos de argumento
(jurídico, político e filosófico) o autor apresenta-se como um defensor da não ingerência
na vida de outrem, afirmando a sua incredulidade sobre defender-se a defesa da vida do
próprio que, detentor desse direito, quer terminá-la. (p. 20) Outro ângulo de análise
surge no artigo de Isabel Moreira, defendendo tratar-se de uma matéria da competência
da Assembleia da República, menciona também algumas incongruências no debate, em
que: “Também houve tentativas de referendar o final da vida de pessoas. Os que
recusaram inicialmente o referendo com base na sua fé, dizendo que a vida não se
referenda, depressa mudaram de opinião, já que a lei fora aprovada.” (p. 121)
Por fim, no conjunto de contributos que se centram no conceito de família, encontramos
Daniel Oliveira, que assinala a variedade de configurações familiares, pelo que “Não
quero convencer ninguém das virtudes do meu modelo de família, até porque não o
tenho.” (p. 67). Fabíola Cardoso refere também que “Quebrar o conservadorismo com
que crescemos, que nos foi transmitido em cada colher de sopa, em cada ida à casa da
tia, é um processo emancipatório duro. Especialmente para as mulheres, eternamente
entre a puta e a santa.” (p. 70), fazendo referência à família, à mulher e à criança que
cresce nessa família. Particularmente sobre a diversidade de famílias, esta questão
advém também destas novas formações familiares, uma evolução do conceito de família
nas sociedades contemporâneas. A introdução do divórcio, a legalização do aborto, o
casamento e adoção por pessoas do mesmo sexo, por um lado, mas também a introdução
das mulheres na força laboral, alteraram estruturalmente o conceito de família – não
existindo, no entanto, uma irreversibilidade dos direitos sociais conquistados. Os autores
mencionam algumas destas questões, sendo que para Pedro Strecht, “A diversidade da
organização das famílias é atualmente indiscutível. (...) É a evolução da realidade
psicossocial que o demonstra de forma clara, levando a que seja impossível não só
compreendê-la como, obviamente, aceitá-la.” (p. 175) Em relação à parentalidade, a
paridade é o tema principal no artigo de Leonor Caldeira, em que o padrão português se
define como “(...) pai e mãe trabalham a tempo inteiro, mas é à mãe que cabe a maior
parte das tarefas domésticas e, em cima disso, é ainda ela a pessoa que domina as
questões da saúde familiar: (...)” (p. 149) Sobre as crianças e a educação, Joana
Mortágua fala da disciplina de Educação para a Cidadania e o Desenvolvimento,
sublinhando a sua posição sobre a identidade, individualidade, liberdade e autonomia das
crianças, que deverão no contexto escolar desenvolver-se como cidadãos completos,
saudáveis e livres. (p. 131) Por último, Teresa Leal Coelho fala sobre a democracia, a
família e a liberdade individual e conclui: “Uma sociedade democrática, integrada num
Estado de direito democrático, reconhece a dignidade humana como atributo de todos os