no âmbito político, demonstrar que o país estava seguindo no caminho da democracia e
que os processos e instituições estavam sendo fortalecidos.
A política externa nesse momento, assim, tinha uma característica de normalização e
(re)construção de parcerias. Essencialmente, o objetivo era assegurar que Angola não
era mais um país em guerra e que estava evoluindo em uma transição gradual para a
paz e a democracia. Nesse sentido, Roque (2013) afirma que o governo de Dos Santos
é caracterizado pela preocupação em reconstruir a imagem do regime liderado pelo
MPLA, ao mesmo tempo em que almeja tornar-se um Estado com maior influênica
regional.
Também é um marco, a partir de 2002, a maior ênfase que se passa a dar à diplomacia
como instrumento de promoção do desenvolvimento (Ginga, 2014). É importante
lembrar que a pacificação do território, ao mesmo tempo em que significa a resolução de
um grande problema interno, também representa a necessidade de lidar com outros
desafios, notadamente, as condições socioeconômicas da população.
É evidente a conexão entre o contexto doméstico e as eventuais mudanças na política
externa; mas é igualmente importante compreender como os contextos regionais e
internacionais também foram considerados. Entre os vizinhos, a conjuntura, como
lembra Malaquias (2011), era bastante favorável, levando em conta uma África do Sul
muito mais cooperativa desde o encerramento do apartheid e a volta ao poder de Denis
Sassou Nguesso na República do Congo, além, obviamente, da queda de Mobuto, na
República Democrática do Congo.
Do ponto de vista internacional, Angola valia-se da importante e longeva parceria com a
China, que seguia bastante fortalecida. Além disso, a cooperação sul-sul estava em
franca expansão, possibilitando outras relações, como com o Brasil. Garantia-se, desta
forma, a ampliação das relações comerciais e de investimento, aproveitando uma
conjuntura internacional também favorável.
Essa relação entre o doméstico e o internacional, tão evidente quando se trata do caso
angolano, também tem reflexos na intersecção entre política externa e política de defesa.
Sobre essa questão, um aspecto em específico merece maior atenção: a participação dos
militares, ainda que da reserva, tanto na formulação quanto na execução da política
externa.
Esse papel desempenhado pelos militares em outras esferas, em parte, é um reflexo da
fragilidade das demais instituições angolanas, nesse caso, o corpo diplomático, preteridas
ao longo das décadas de conflitos, em favor das forças de segurança (Castellano, 2015).
Não se pode olvidar, todavia, que as relações entre força e diplomacia são históricas.
Aron (2002) já trazia à tona a importância desses dois instrumentos e a impossibilidade
de um Estado atuar no sistema internacional sem equilibrar esses dois aspectos,
simbolizados por ela na figura do soldado e do diplomata.
Não se trata, portanto, de excluir os militares da diplomacia; sua presença é desejada e
necessária. O que é preciso é que essa participação, de fato, esteja inserida em uma
política externa e de defesa pensadas e concatenadas para a inserção qualificada de
Angola, e não baseada nos interesses pessoais da elite militar. Ginga (2014), por
exemplo, defende o que ele chama de diplomacia securitária, com a participação ativa
das Forças Armadas Angolanas na diplomacia, como no caso das operações de paz