Desde a criação da UNESCO até a adesão formal de Portugal, em 1965, o país adotou
uma postura de “constante avaliação e reavaliação das vantagens e das desvantagens
inerentes à sua participação na organização” (Rodrigues, 2006, p. 179). Contrariamente,
às expetativas do Governo português, o estatuto de Estado-Membro intensificou as
críticas à política colonial portuguesa. Pouco após a adesão, ainda em 1965, o Conselho
Executivo da UNESCO aprovou a Decisão 70EX/1, determinando que Portugal não seria
convidado a participar nas atividades da organização até à divulgação dos resultados de
um estudo de campo sobre a educação nos territórios africanos sob jurisdição
portuguesa. Nesse mesmo ano, foram também aprovadas as resoluções XI e XX, que
condenavam todas as formas de colonialismo e racismo. Em 1968, a Assembleia Geral
da UNESCO reforçou a sua posição anticolonialista ao aprovar a Resolução 9.12, que
condenava a manutenção dos regimes coloniais e de todas as formas de discriminação
racial, bem como a Resolução 9.14, que repudiava os atos de agressão cometidos pelas
forças militares portuguesas em África, instando os Estados-Membros a suspenderem
toda a cooperação com Portugal nas áreas da educação, ciência e cultura. Dois anos
depois, em outubro de 1970, o Conselho Executivo da UNESCO decidiu prosseguir com
o apoio às organizações e aos refugiados provenientes de territórios coloniais já
libertados (Santos, 2021, pp. 93-94).
Perante as constantes resoluções, o Governo português manifestou a sua insatisfação
face à orientação da UNESCO contra Portugal, considerando o conjunto de medidas
adotadas uma ingerência nos assuntos internos do Estado português. Em consequência,
o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui d'Espinay Patrício, comunicou ao Diretor-Geral
da organização que Portugal solicitava a sua saída de Estado-Membro da UNESCO,
formalizada em dezembro em 1972.
Somente em Setembro de 1974, com a democratização do regime português, resultante
da Revolução de 25 de Abril, Portugal regressou UNESCO, sendo a liderança da Missão
Portuguesa atribuída a Maria de Lourdes Pintasilgo.
Maria de Lourdes Pintasilgo: Breve Biografia
Maria de Lourdes Ruivo da Silva Pintassilgo nasceu a 18 de janeiro de 1930, em Abrantes,
filha de Jaime de Matos Pintassilgo, comerciante, e de Amélia do Carmo Ruivo da Silva
Matos Pintassilgo, doméstica (Souza, 2013, p. 345).
Em 1933, três anos após o seu nascimento, foi institucionalizado em Portugal, o regime
do Estado Novo, assumindo a chefia do Governo António de Oliveira Salazar. Desde cedo,
para Maria de Lourdes, “obedecer e respeitar os chefes, exigindo-se a si própria a
excelência, sempre ultrapassável” , constituiu um lema de vida que manteve nas duas
primeiras décadas de existência, altura em que “a submissão dará lugar à contestação,
embora sempre dentro do cenário de aperfeiçoamento contínuo” (Beltrão & Katton, 2007,
p.22).
Após a mudança da família para Lisboa, em 1937, Maria de Lourdes Pintasilgo realizou a
instrução primária no Colégio Garrett, obtendo as melhores classificações da instituição,
e em outubro de 1940, ingressou no Liceu Dona Filipa de Lencastre (Beltrão & Katton,
2007, p.33).
Aluna de mérito e excelência, decidiu, em 1948, ingressar no Instituto