OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
VOL. 16, Nº. 2
novembro 2025 -abril 2026
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O IMPACTO DA INICIATIVA FAIXA E ROTA NO DESENVOLVIMENTO DO
SUDESTE ASIÁTICO COM DESTAQUE AO CAMBOJA A CONTINUAÇÃO DE UM
“DESENVOLVIMENTO DEPENDENTE”?
PAULO VICTOR BASÍLIO JERONYMO
paulovbj.12@gmail.com
Licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Lusófona de Lisboa.
Mestre em Relações Internacionais, especialidade em Política Internacional Contemporânea, pela
Universidade Autónoma de Lisboa (Portugal).
Resumo
Desde o seu surgimento, a Iniciativa Faixa e Rota (IFR) tem levantado muitos alarmismos.
Isto é, há preocupações quanto ao uso da iniciativa, essa seria utilizada para a perseguição
estrita dos objetivos nacionais chineses. Ao mesmo tempo, e devido a isso, traria
consequências econômicas negativas aos Estados participantes, sendo muitas vezes
reconhecida como uma armadilha econômica. Sob esse contexto, o presente artigo procura
responder como o desenvolvimento dos países do Sudeste Asiático, em especial do Camboja,
poderá ser impactado pela IFR. Haveria uma perpetuação de um modelo de “desenvolvimento
dependente”? Para tal faz-se necessário compreendermos as principais dinâmicas no processo
histórico de desenvolvimento dos Estados do Sudeste Asiático. E como a estratégia
geoeconômica chinesa voltada ao Sudeste Asiático sob o contexto da IFR é implementada.
Assim, utilizando-se de um modelo descritivo-analítico, através de pesquisa bibliográfica e da
análise do caso do Camboja, pode-se dizer que as construções de infraestruturas no contexto
IFR apresentam efeitos econômicos positivos no curto prazo para os países participantes no
Sudeste Asiático que apresentam características semelhantes ao Camboja. Nesse sentido, os
investimentos e construções de infraestruturas na esfera da IFR têm a capacidade de
promover o crescimento econômico de Estados com baixos níveis de infraestruturas
conectivas, dependentes de investimentos diretos estrangeiros e com uma governança
debilitada. Logo, não parece existir uma armadilha como se é normalmente pensado, uma
armadilha de dívida, mas sim uma possível “armadilha” a longo prazo. Na qual os Estados do
Sudeste Asiático conectam-se cada vez mais a uma cadeia produtiva regional e aumentam as
suas relações comerciais com a China. Assim, possivelmente dando continuidade a um modelo
de “desenvolvimento dependente”, mas agora dependentes da China. Indo de acordo com os
objetivos chineses para a região, uma ordem econômica regional centrada na China.
Palavras-chave
China, Sudeste Asiático, Iniciativa Faixa e Rota, Camboja, desenvolvimento dependente.
Abstract
Since its emergence, the Belt and Road Initiative (BRI) has raised many alarms. That is, there
are concerns that the initiative will be used to strictly pursue Chinese national objectives. At
the same time, and because of this, it would have negative economic consequences for
participating states, often being recognised as an economic trap. In this context, this article
seeks to answer how the development of Southeast Asian countries, especially Cambodia,
could be impacted by the BRI. Would there be a perpetuation of a model of ‘dependent
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O Impacto da Iniciativa Faixa e Rota No Desenvolvimento do Sudeste Asiático com destaque
ao Camboja A Continuação de um “Desenvolvimento Dependente”?
Paulo Victor Basílio Jeronymo
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development’? To do so, it is necessary to understand the main dynamics in the historical
development process of Southeast Asian states. And how China's geo-economic strategy
towards Southeast Asia in the context of the BRI is implemented. Thus, using a descriptive-
analytical model, through bibliographic research and analysis of the case of Cambodia, it can
be said that infrastructure construction in the BRI context has positive short-term economic
effects for participating countries in Southeast Asia that have characteristics similar to
Cambodia. In this sense, investments and infrastructure construction in the IFR sphere have
the capacity to promote economic growth in states with low levels of connective infrastructure,
dependent on foreign direct investment and with weak governance. Therefore, there does not
seem to be a trap as is commonly thought, a debt trap, but rather a possible long-term ‘trap.’
In this trap, Southeast Asian states are increasingly connecting to a regional production chain
and increasing their trade relations with China. Thus, they may be continuing a model of
‘dependent development,’ but now dependent on China. This is in line with China's objectives
for the region, a regional economic order centred on China.
Keywords
China, Southeast Asia, Belt and Road Initiative, Cambodia, dependent development.
Como citar este artigo
Jeronymo, Paulo Victor Basílio (2025). O Impacto da Iniciativa Faixa e Rota No Desenvolvimento
do Sudeste Asiático com destaque ao Camboja A Continuação de um “Desenvolvimento
Dependente”?. Janus.net, e-journal of international relations. VOL. 16, Nº. 2, november 2025-april
2026, pp. 96-117. DOI https://doi.org/10.26619/1647-7251.16.2.6
Artigo submetido em 17 de setembro de 2024 e aceite para publicação em 17 de julho
de 2025.
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O IMPACTO DA INICIATIVA FAIXA E ROTA NO
DESENVOLVIMENTO DO SUDESTE ASIÁTICO COM DESTAQUE AO
CAMBOJA A CONTINUAÇÃO DE UM “DESENVOLVIMENTO
DEPENDENTE”?
PAULO VICTOR BASÍLIO JERONYMO
Introdução
A China, reconhecida como uma potência em ascensão no cenário internacional, utiliza-
se de sua vasta capacidade econômica, simbolizada pela Iniciativa Faixa e Rota (IFR),
para avançar seus interesses nacionais. Isso tem provocado um crescente alarmismo
tanto no meio acadêmico de Relações Internacionais quanto nas grandes mídias
ocidentais. A visão predominante é de que a IFR seria um instrumento voltado
exclusivamente para a promoção dos objetivos chineses, acarretando prejuízos
econômicos para os países participantes, em vez de promover o desenvolvimento tuo.
Assim, o artigo busca compreender quais são os potenciais impactos da IFR nas
economias participantes do Sudeste Asiático, em especial no Camboja. Perpetuar-se-ia
nesses Estados um modelo de “desenvolvimento dependente”? Para que seja possível
responder essa questão, primeiramente se faz necessário compreender as principais
dinâmicas do processo histórico de desenvolvimento dos países do Sudeste Asiático. E
demonstrar como a estratégia geoeconômica regional chinesa direcionada ao Sudeste
Asiático é implementada.
Argumenta-se que os potenciais impactos econômicos da iniciativa se mostrarão de
maneira geral positivos. O uso da IFR como um instrumento de statecraft econômico
negativo não parece favorável aos objetivos políticos chineses na região, a formação de
uma ordem regional com a China no seu centro. Nesse contexto, a continuação de um
modelo de “desenvolvimento dependente” parece ir ao encontro destes objetivos.
Este artigo considera que a região do Sudeste Asiático é composta pelos Estados-
membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e o Timor-Leste. Sendo
selecionado o Camboja como estudo de caso. Uma vez que, é um dos Estados mais
dependentes do financiamento chinês entre os países do Sudeste Asiático e apresenta
baixos níveis de infraestrutura, como será demonstrado. Também, faz parte de um dos
principais corredores econômicos da IFR, o Corredor Econômico China-Península da
Indochina. Assim, apresenta grande potencial para o desenvolvimento, mas também se
mostra mais vulnerável ao suposto statecraft econômico negativo da China. Para além
disso, detém uma maior disponibilidade de estudos sobre, diferente do Laos, mesmo que
esse apresente características semelhantes às descritas acima.
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O presente artigo foi elaborado por meio da metodologia dedutiva, a seguir um modelo
descritivo-analítico baseado em pesquisa bibliográfica. Sob uma lente crítica, esse artigo
busca contribuir empiricamente para o estudo da estratégia regional chinesa.
Modelo de desenvolvimento do Sudeste Asiático
Como será demonstrado nesta secção, através de descrição histórica, o crescimento
econômico na região do Sudeste Asiático de maneira geral foi atingido pela liberalização
seletiva das economias nacionais ao investimento estrangeiro. Desenvolvendo com o
passar do tempo, em sua generalidade, economias voltadas à exportação de manufaturas
(Al-Fadhat, 2020: p. 178; Carroll, 2020: pp. 52-53). Mas, esse crescimento parece ter
chegado a um estágio de estagnação. Diversos autores reconhecem a chamada
“armadilha de renda média”, ou middle-income trap”, no Sudeste Asiático. Atualmente,
essa pode ser compreendida como consequência de estratégias de desenvolvimento
desiguais, assentadas em princípios neoliberais e promovidos, principalmente, pelo
Banco Mundial (Masina, 2018: p. 251). Nesse sentido, em geral, os países da região têm
tido dificuldade em deslocar-se do trabalho intensivo e produções industriais de baixo
valor agregado (Carroll, 2020: pp. 52-53; Masina, 2018: p. 251).
Entre 1945 e meados da década de 1970, as economias do Sudeste Asiático
encontravam-se diretamente relacionadas as dinâmicas do pós-guerra, da Guerra Fria e
de seus processos de descolonização. Nessa altura, os Estados da região tornam-se
importantes locais de produção de manufaturados offshore para os países desenvolvidos,
devido à oferta de mão de obra barata. Esse fenômeno, como será demonstrado, terá
continuidade com o processo de globalização e a adoção de políticas de caráter neoliberal
(Carroll, 2020: pp. 47-48). Os países da região, majoritariamente, tornaram-se
suscetíveis a essa forma de integração econômica (dependente) em grande parte devido
ao seu passado colonial. Assim, não ocorreu o desenvolvimento de suas indústrias
nacionais, mas moldou suas economias de forma a servir principalmente aos europeus
(Masina, 2018: pp. 267-268).
Antes da China passar a ter um papel relevante nas redes de produção regionais, o ator
econômico de maior relevância regional era o Japão, contribuindo para a formação das
redes produtivas do Sudeste Asiático, que mais tarde seriam aproveitadas pelos chineses.
Durante as décadas de 1960 e 1970, desacelerando o passo a partir de meados dos anos
1980, se uma primeira onda de crescimento asiático. Coincidindo com uma primeira
onda de expansão da divisão regional do trabalho, na qual empresas nipônicas
dependiam da Coreia do Sul, Taiwan e Singapura para suas produções (King & Du, 2018:
p. 815; Masina, 2018: p. 263).
Mas, devido ao aumento dos custos laborais passam a realocar para outros países da
região as etapas produtivas de trabalho intensivo. Para além de que, agora os Quatro
Tigres Asiáticos (Coreia do Sul, Hong Kong, Singapura e Taiwan) passam a fazer o
mesmo, transferir suas indústrias de baixo custo para economias asiáticas em
industrialização. Assim, novos países passam a integrar as cadeias produtivas regionais,
como a China, Malásia e Tailândia. Desencadeando uma nova onda de crescimento
asiático (King & Du, 2018: p. 815; Masina, 2018: p. 263). Nesse cenário, a região do
Sudeste Asiático passa a receber grandes fluxos de investimentos ligados a uma
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produção orientada para a exportação de manufaturas. Sendo características dessa o
trabalho intensivo e componentes de baixo valor agregado (Masina, 2018: pp. 263, 265).
Esse processo foi altamente influenciado pela crise de 1970 após a abdicação do gold
standard e o fim do sistema Bretton Woods, para além das crises do petróleo em
decorrência do fim do padrão do dólar. O que isso gera é uma crise de lucratividade nos
países desenvolvidos e um processo de estagflação, baixo crescimento e subida de
preços. Assim, estes Estados começam a dar maior prioridade a competitividade global
e não tanto ao desenvolvimento nacional, seguindo a lógica neoliberal (Carroll, 2020: pp.
48-49). Então, a globalização de frações de capital passam a ser privilegiadas pelas
economias ocidentais, realocando suas produções industriais a Estados com mão de obra
mais barata. Deste modo gerando as condições necessárias ao milagre econômico
asiático na década de 1980 (Carroll, 2020: p. 48).
Este fenômeno se acentua durante os finais da década de 1980 com a segunda onda de
expansão da divisão regional do trabalho, liderada pelos japoneses no Leste e Sudeste
Asiático. Isso porque, as indústrias japonesas transferiram sua produção para países
asiáticos em desenvolvimento. Para além do aumento de investimento direto estrangeiro
(IDE) de saída, até 1987 grande parte dos IDEs nipônicos eram dirigidos a Indonésia,
Singapura, Malásia, Tailândia e Filipinas (Carroll, 2020: pp. 49-51; Jones & Hameiri,
2020: p. 20; Masina, 2018: p. 263).
Logo, o que se evidencia é a ascensão das frações de capital internacionais em simultâneo
com constituição do mercado mundial, em outras palavras, com a expansão da
globalização econômica. Nessa conjuntura, os países do Sudeste Asiático, em especial a
Malásia, Tailândia e Indonésia, ou ASEAN 3, desde a década de 1980, se veem sujeitos
a adotarem uma postura que se ajuste a desse mercado global. Adotam, assim, uma
postura neoliberal, passando a dar maior prioridade ao capital transnacional, processos
de industrialização liderados por IDEs e liberalização comercial (Al-Fadhat, 2020: pp.
180-181; Masina, 2018: p. 254). Esta mudança de conduta se faz significativa para que
os países e suas elites locais possam permanecer competitivos neste ambiente e
prossigam com seus processos de acumulação de capital (Al-Fadhat, 2020: pp. 180-
181).
Nesse âmbito, no decorrer das cadas de 1980 e 1990, os países do Sudeste Asiático
em geral adotam uma economia orientada para a exportação de manufaturas. Também,
se constituem zonas econômicas especiais de maneira a atrair investimentos
internacionais (Gomez, Masina & Vignato, 2020: pp. 12-13; Jones & Hameiri, 2020: p.
203). Segundo, Gomez, Masina e Vignato (2020: p. 11) é durante a década de 1980 que
os IDEs se tornam a fonte primária de integração econômica regional. Ademais, esta
postura que vai de encontro com as tendências neoliberais também começa a se
demostrar no regionalismo do Sudeste Asiático, em iniciativas que buscam a
desregulamentação do comércio e investimentos em setores competitivos e orientadas
para a exportação, como a ASEAN Free Trade Area e a Asia-Pacific Economic Cooperation
(Jones & Hameiri, 2020: p. 203).
Durante os anos de 1980 e começos dos anos 1990 há uma grande quantidade de IDEs
a entrar nos países do Sudeste Asiático, contribuindo para um amplo crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) destes (Gomez et al., 2020: p. 11). E durante a década de
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1990, em geral, os Estados da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN)
cresceram rapidamente, elevando sua classe média. Porém, a qualidade de vida dos
trabalhadores industriais não se mostraram melhores. Uma vez que, como citado,
estes passam a adotar o modelo de desenvolvimento neoliberal, dando maior ênfase ao
lucro e não tanto ao bem-estar dos trabalhadores (Gomez et al., 2020: p. 5).
Depois, ocorre a crise econômica asiática de 1997-98, decorrente da falência de
instituições financeiras da Tailândia, que acaba por se alastrar aos demais Estados da
região que liberalizaram suas economias. Isso teria representado o fim do milagre
econômico asiático, mas o que se mostra a seguir é a continuação de padrões de
crescimento em alguns países do Sudeste Asiático, em especial nos ASEAN 3 (Carroll,
2020: p. 54; Masina, 2018: pp. 253-254; Pitakdumrongkit, 2023: p. 63). Um
crescimento considerado relevante dentro dos padrões internacionais, porém bem mais
lentos do que aqueles experienciados pela primeira geração das “Economias Asiáticas
Recentemente Industrializadas”, o Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Singapura (Masina,
2018: pp. 253-254).
Figura 1. PIB per capita para países asiáticos selecionados, entre 1960 e 2008
Fonte: Masina (2018: p. 260).
Nesta conjuntura, mesmo com a crise, os Estados da região continuam a manter uma
postura reformista pró-mercado. Em 2003, buscou-se regionalmente a liberalização das
regras de investimentos e a construção da Comunidade Econômica ASEAN, favorável aos
negócios internacionais (Carroll, 2020: p. 55). Esta industrialização através de IDEs, que
ocorre principalmente nos ASEAN 3 e no Vietnã, depois dos meados dos anos 2000, é
caracterizada por ligações bem limitadas com empresas nacionais. Grande parte das
cadeias de fornecimento para produção orientada para a exportação encontravam-se sob
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o controle de empresas estrangeiras. Além disso, a maioria dos componentes que
agregam valor eram importados (Masina, 2018: p. 269).
Isso ocorre uma vez que as redes de produção regional no Sudeste Asiático são
hierárquicas. Ou seja, empresas ou países parecem trabalhar ativamente para a
prevenção da difusão de tecnologias para outras empresas ou países, os quais operam
em níveis inferiores na divisão regional do trabalho, de maneira a se manterem mais
competitivos (Masina, 2018: p. 258). Ao decorrer das ondas de expansão e crescimento
asiático, as economias líderes deslocaram suas indústrias para economias inferiores.
Aumentando seu valor produtivo nas cadeias de valor e mantendo espaços com baixos
custos laborais (King & Du, 2018: p. 815).
Assim, a noção de que IDEs são grandes contribuidores nas transferências de tecnologias
para países em desenvolvimento não parece se mostrar verdade. O que se mostra é
apenas um impacto limitado dos IDEs nesse âmbito. Nesse sentido, políticas estatais de
absorção tecnológica e modernização industrial parecem se mostrar mais importantes
(Masina, 2018: p. 258). Logo, se faz necessário a intervenção estatal por meio de
incentivos e restrições para que se encoraje o progresso tecnológico. O mercado
solitariamente não consegue garantir investimentos apropriados para inovação industrial,
afinal, o mercado visa antes de tudo a lucratividade. E investimentos buscando inovações
em Estados em desenvolvimento apresentam demasiado risco (Masina, 2018: p. 259).
Porém, desafios na implementação de políticas industriais estratégicas, não tanto
técnicos, mas sim políticos. Políticas devem distinguir os interesses e partes envolvidas,
direcionando incentivos e rendas para avanço tecnológico e desenvolvimento industrial
nacional (Masina, 2018: p. 261). Mas, o problema que se mostra nos países do Sudeste
Asiático, em especial os ASEAN 3, é a tomada do aparato estatal por interesses
específicos de elites locais fazendo com que a busca por lucratividade (renda)
influenciasse as políticas nacionais destes Estados (Jones & Hameiri, 2020: p. 217;
Masina, 2018: p. 261). Essa preponderância das elites locais que proporciona o controle
dessas sobre o modelo econômico de seus países se em grande parte pelo contexto
do pós-Guerra Fria e o abandono do modelo “socialista” (Hughes, 2020: p. 112).
Assim, as elites ligadas ao aparato estatal, passam a seguir o modelo neoliberal de
mercado frente ao contexto global, de forma a manterem-se competitivos no mercado
global e consolidar seu poder internamente (Hughes, 2020: p. 112). Ou seja, forças
dominantes do mercado passam a delinear o desenvolvimento industrial e os governos
intervém seletivamente em suas economias de forma a proteger os interesses destas
elites. Há, assim, uma liberalização seletiva das economias nacionais, mas não tanto da
política, visível no aumento de barreiras não tarifarias ao comércio, ao mesmo tempo
que tarifas diminuem, ver Figura 2 (Jones & Hameiri, 2020: pp. 217-218; Masina, 2018:
p. 261).
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Figura 2. Tarifas médias e número de barreiras não tarifárias na ASEAN
Fonte: Jones & Hameiri (2020: p. 217).
Logo, pode-se dizer que muitos dos problemas enfrentados pelos Estados do Sudeste
Asiático comumente identificados como a “armadilha de renda média” são oriundos de
uma industrialização dependente que se desenvolve com a adoção do neoliberalismo
(Masina, 2018: p. 262).
Neste contexto, apesar de indústrias de alta tecnologia fazerem parte das economias
regionais, as suas produções representam somente uma pequena fração do valor. Assim,
em sua generalidade os Estados do Sudeste Asiático situam-se como intermediários nas
redes produtivas regionais. Afinal, esses países dependem de insumos estrangeiros de
alto valor. Todavia, essa conjuntura beneficiou o desenvolvimento econômico orientado
para exportação, já que havia uma ampla demanda de commodities, por conta do boom
da manufatura chinesa. Ocorre uma alta demanda chinesa por insumos entre 2003 e
2011 aumentando os preços das commodities (Carroll, 2020: pp. 56, 59-61). Esse
quadro de crescimento teve continuidade mesmo com a crise financeira de 2008,
principalmente nos ASEAN 3, é entendida mais como uma consequência da crise global
e da fragilidade das principais economias globais, do que consequência de suas próprias
capacidades (Carroll, 2020: p. 59; Masina, 2018: p. 254).
É no período posterior da crise asiática, no começo dos anos 2000, que os chineses
passam a ser mais atuantes nas economias do Sudeste Asiático. Em 2001, esta é
admitida na Organização Mundial do Comércio e passa ser reconhecida como a “fábrica
do mundo”. Assim, a China passa a se mostrar como um relevante competidor para os
Estados do Sudeste Asiático, tornando-se um fornecedor de mão de obra barata e de
produção de baixo custo. Possivelmente dificultando o desenvolvimento desses países
por sua ascensão como um espaço de fabricação de baixo custo, mas, ao mesmo tempo,
cria-se uma alta demanda por commodities. Nesse cenário, os Estados do Sudeste
Asiático integram redes de produção regionais, nas quais componentes são produzidos e
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combinados em produtos em diversas localidades. Mas, agora a China encontrava-se
numa posição mais central no contexto regional (Carroll, 2020: pp. 56, 59-60).
Para além disso, o papel mais ativo da China na economia do Sudeste Asiático se uma
vez que essa escolhe por não desvalorizar sua moeda a seguir a crise asiática,
aumentando seu nível competitivo nas exportações. Também, manifestou seu apoio a
Chiang Mai Initiative, criando-se diversos acordos bilaterais de troca de moeda. A China,
assim, proporcionou uma ajuda essencial para a recuperação destes Estados,
fortalecendo os pilares da cooperação econômica regional (Cardoso, 2008: p. 96; Tong,
2021: p. 110).
Posto tudo isso, pode-se dizer que os países do Sudeste Asiático detém em sua
generalidade um desenvolvimento econômico orientado a exportação de manufaturas e
apoiado pela mão de obra barata e intensiva. Consequentemente se tornando
progressivamente mais dependentes do capital internacional, tecnologia estrangeira e
dos mercados de exportação (Carroll, 2020: pp. 49, 52-53; Gomez et al., 2020: p. 12).
Sob esse contexto, que é agravado pela inabilidade dos governos nacionais de
implementarem políticas de desenvolvimento industrial, estes países não são capazes de
aprimorar tecnologicamente seus meios produtivos. Deste modo, mantêm-se em sua
maioria como fornecedores de commodities para mercados estrangeiros, também, de
produtos simples e de montagem final. Assim, se tornaram um armazém de produção de
baixo valor agregado (Carroll, 2020: p. 53; Gomez et al., 2020: p. 12).
Logo, no Sudeste Asiático, em especial no Camboja, Laos, Myanmar e Vietnã, a transição
para uma economia de mercado foi direcionada por forças sociais preocupadas pela
manutenção de seu poder político e controle sobre importantes ativos econômicos
(Hughes, 2020: p. 113). Nesta transição, as elites domésticas investiram em sistemas
de extração simples e protegidos pelo aparelho estatal, evitando a construção de bases
industriais competitivas a nível internacional. O que seria arriscado no contexto de
desenvolvimento tardio que se encontravam. Para além de que, os baixos custos laborais
atraíram investimentos estrangeiros para determinados setores, particularmente o de
vestuário. E mesmo que certos países tenham obtido maior sucesso na produção
orientada para a exportação, como o Vietnã, suas indústrias continuam a ser dominadas
pela mão de obra intensiva, dependentes de multinacionais e produção de baixo valor
agregado (Hughes, 2020: p. 113).
Assim, talvez seja mais apropriado entendermos a condição no Sudeste Asiático não
tanto como uma “armadilha de renda média”, mas sim uma “armadilha de
desenvolvimento dependente”. Esses Estados encontram-se vulneráveis, uma vez que o
processo de reorganização das cadeias produtivas regionais se mostrou constante,
devido à procura por menores custos, movendo processos produtivos para diversos
países. Também, pela sua dependência por IDEs, necessários para a manutenção de suas
posições nesta cadeia regional. E, consequentemente, afetando os trabalhadores, afinal
o trabalho intensivo também se mostra necessário para esta manutenção na cadeia
regional e para competitividade internacional.
Logo, salários, condições laborais e direitos trabalhistas acabam por não se mostrar de
grande interesse para as elites nesses Estados, afinal essas procuram permanecer
competitivas dentro do mercado global e dar continuidade aos seus processos de
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concentração de capital (Al-Fadhat, 2020: p. 180; Masina, 2018: p. 269). Nesse
contexto, a adoção da lógica neoliberal e a expansão de um capitalismo financeiro em
escala global, contribuiu para a degradação da condição trabalhista nestes países. A
terceirização e precarização parecem se mostram características desse modelo, que
funciona em um ambiente de competição internacional.
Estratégia Regional Chinesa no Sudeste Asiático e a Iniciativa Faixa e
Rota
A China emergiu como uma das principais vencedoras da globalização, usufruindo da
interdependência econômica e, por consequência, política que se intensificam através do
processo de globalização, como pilares para o desenvolvimento de sua capacidade
econômica (Cardoso, 2008: p. 54). Também, o país tirou proveito das relações
econômicas transfronteiriças, globais e regionais, que ganham força com o processo de
globalização, e das relações econômicas e redes produtivas regionais estabelecidas
pelas economias asiáticas mais desenvolvidas antes do aparecimento da Iniciativa Faixa
e Rota (IFR). Dessa forma, a China ascende no mercado mundial e suas indústrias
promovem-se dentro das cadeias de valor, consagrando-se como, segundo o Fundo
Monetário Internacional (2025a), a segunda maior economia mundial em termos
nominais na atualidade. Agora com essa grande capacidade econômica, esta passa a
acentuar o uso de instrumentos econômicos de statecraft, o que é refletido pela sua
atuação na IFR.
A IFR se mostrará como um importante instrumento para a continuação da perseguição
dos interesses nacionais chineses. Ou seja, o desenvolvimento nacional como forma de
evitar um novo século de humilhação e projetar-se internacionalmente como uma
potência (Cardoso, 2008: pp. 17, 27, 72). A iniciativa se mostrará importante para a
continuação do crescimento econômico chinês, que é a base de seu poder nacional, afinal
responde às insuficiências internas do país, ao mesmo tempo que se demostra como uma
importante ferramenta na construção de uma ordem (econômica) regional, com a China
no seu centro.
Como estratégia, a IFR busca incentivar o crescimento e integração econômica entre a
China e as diversas regiões que fazem parte da iniciativa. pontos de ligação entre
cada região e a China, que são agrupados em “corredores econômicos”. Que por sua vez
encontram-se conectados através de pontes terrestres, ferroviárias ou marítimas na
Eurásia. Assim, há uma rota terrestre conectando a China à Europa e uma rota marítima
que conecta o Mar do Sul da China (MSC) à Oceania e ao Oceano Índico, desse ponto
conectando as costas asiáticas e africanas à Europa (Rojanaleekul, Pungchompoo &
Sirivongpaisal, 2022: pp. 163-164; Tomé, 2021: p. 167). Assim, o desenvolvimento de
infraestruturas é um dos principais pilares da iniciativa. Nesse contexto, o Corredor
Econômico China-Península da Indochina é uma das principais regiões de conexão para
a iniciativa (Rojanaleekul et al., 2022: pp. 163-164).
O desenvolvimento desse corredor econômico visa ampliar o acesso chinês aos mercados
regionais através do estabelecimento de redes ferroviárias que conectaram diversas
províncias chinesas a países do Sudeste Asiático, nesse caso, Vietnã, Laos, Camboja,
Tailândia, Malásia e Singapura. Além do elemento terrestre, um componente marítimo
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do corredor econômico e ligações entre ambos. Nesse sentido, há o desenvolvimento de
ferrovias ligando os portos de Kuantan e Klang na Malásia, oferecendo uma passagem
alternativa do Oceano Índico para o MSC, importante para diminuir os riscos associados
ao conhecido “dilema de Malaca” (Rojanaleekul et al., 2022: p. 164).
Outro importante aspecto da iniciativa é a cooperação industrial. Nesse âmbito, as
conexões geradas pela iniciativa procuram estabelecer um processo produtivo fora da
China. Dessa forma integrando mais ainda os países da região numa cadeia de
fornecimento com a China. Ajudando, assim, com o problema de excesso produtivo
chinês, especialmente nos setores de alumínio eletrolítico, ferro e aço. Nesse sentido, os
fabricantes chineses teriam um acesso mais estável de recursos e mercados. Para além
disso, a iniciativa auxilia no desenvolvimento de províncias menos desenvolvidas ao oeste
e centro da China. Também, possibilita novos canais de escoamento para grandes
reservas de moeda estrangeira e promove, de forma limitada, a internacionalização da
moeda chinesa (Cai, 2015: pp. 837-838; Rojanaleekul et al., 2022: p. 164).
Logo, a IFR se demostra importante para o aprofundamento das relações econômicas
entre os países do Sudeste Asiático e a China. Nesse âmbito, os Estados Unidos da
América e o Japão detêm maiores ligações nas cadeias de produção globais com a China
do que com os Estados da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). De acordo
com Taguchi e Zhao (2021: p. 149), isso ocorre pela carência de performance logística
nos países da ASEAN, onde insuficiência de infraestruturas conectivas e de transporte.
A densidade da rede ferroviária dos países da IFR, incluindo o Sudeste Asiático, é baixa
se comparada a média global de 8.48 km/1000 km². Nesse âmbito, países como o
Camboja, Indonésia e Filipinas continuam a utilizar linhas ferroviárias construídas dentro
de seus primeiros anos ou com ajuda de outros Estados (Wang, Lim, Zhang, Zhao & Lee,
2020: p. 293). É estimado um vácuo na infraestrutura do Sudeste Asiático na casa dos
8 trilhões de dólares (Cai, 2015: pp. 839-840).
Aqui a IFR detém grande relevância, afinal a construção destas infraestruturas têm a
possibilidade auxiliar no fortalecimento das conexões nas cadeias produtivas entre os
países do Sudeste Asiático e desses com a China. Consequentemente alargando a
dependência econômica destes com a China. Afinal, estes países se interligam cada vez
mais, fortalecendo uma ordem econômica regional com a China no seu centro.
Aumentado a participação comercial chinesa no comércio total e no valor agregado
estrangeiro nas exportações do Sudeste Asiático.
Assim, o que parece se demostrar é a sutil aplicação do statecraft econômico pelos
chineses. Nesse sentido, a influência econômica e, consequentemente, política se daria
pelo aumento gradual da dependência econômica dos Estados do Sudeste Asiático à
China. Logo, a IFR tratar-se-ia da continuação e intensificação da estratégia
geoeconômica e das relações econômicas entre os países do Sudeste Asiático e a China.
Para além de demonstrar o caráter pragmático e paciente da estratégia nacional chinesa,
na qual os objetivos são colocados a longo-prazo (Cardoso, 2008: pp. 95-96). Essa
progressiva dependência econômica dos Estados do Sudeste Asiático decorre do
gradativo aumento da exposição econômica desses com a China, perceptível na
participação comercial chinesa nestas economias, ver Figura 3. Segundo o Observatory
of Economic Complexity (2025), em 2023 a China representou 18% do total das
exportações e 27.4% das importações da ASEAN.
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Figura 3. China ASEAN Participação nas exportações, participação nas importações e
participação comercial total, 19902019
Fonte: Raghavan, Khan & Devadason (2021: p. 15).
As cadeias produtivas regionais de manufaturados estão conectadas através de um
Estado, a China. Assim, os Estados do Sudeste Asiático podem ser expostos a choques
econômicos partidos da China. A influência sínica nas cadeias produtivas regionais com
o Sudeste Asiático e a exposição desses a China como fornecedor e mercado fica
perceptível no crescimento da participação da China no valor agregado estrangeiro nas
exportações da ASEAN
1
(Raghavan, Khan & Devadason, 2021: pp. 19-20).
Além disso, a exposição econômica da região também decorre através do constante
aumento do investimento direto estrangeiro (IDE) da China no decorrer das últimas
décadas. Porém, mesmo com constantes aumentos apenas três economias da ASEAN,
Camboja, Laos e Myanmar, podem ser tidas como dependentes de IDEs chineses. Isso,
quando se é considerado os padrões de fluxos históricos e o padrão de estoque atual
(Tong, 2020: pp. 17-18), ver Tabela 1. Nesse sentido, a participação da China nos fluxos
totais de IDE de entrada na ASEAN cresceu de 6% em 2010-2012 para 7.3% em 2021-
2023. E empresas chinesas ainda se apresentam como o maior grupo de investidores no
Camboja, Laos e Myanmar (ASEAN Secretariat, 2024: p. 21).
Ademais, o fornecimento de ajuda econômica/financeira que se principalmente
através “outros fluxos oficiais” (OFO) e não tanto através de “assistência oficial ao
desenvolvimento” (AOD). E, assim como os IDEs, encontram-se muitas vezes ligados
aos projetos de infraestrutura da IFR. Este tipo de ajuda econômica, OFO, maior
importância ao desenvolvimento de infraestruturas e ao crescimento econômico. Para
além de normalmente seguir o princípio de “não interferência nos assuntos internos”. Por
outro lado, as AODs, as quais os países ocidentais desenvolvidos dão maior preferência,
priorizam os setores de governança, sociais e capacitação da sociedade civil. Comumente
impondo maiores condições e seletividade, as quais expressam lógicas liberais de “boa
1
O valor agregado chinês nas exportações cresceu em todos os países da ASEAN durante os anos de 1990 e
2018. No Camboja, de 2.2% para 25.7%; Indonésia, 3.5% para 18.2%; Laos, 2.5% para 10.7%; Malásia,
2.6% para 18.1%; Myanmar, 2% para 8.1%; Filipinas, 1.9% para 15.3%; Tailândia, 3% para 24.7%; e Vietnã,
5% para 22.8% (Taguchi & Zhao, 2022: pp. 131-132).
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governança”. Nesse contexto, a ajuda econômica da China apresentaria menos restrições
impostas e seguiriam a lógica de desenvolvimento mútuo. Logo, favorecem os interesses
políticos das elites locais, que não demonstram interesse nas agendas liberais
democráticas, mas sim em proteger suas posições de poder. Ao mesmo tempo, a China
se beneficia pela sua crescente influência econômica e política com essas elites (Rosser,
2020: pp. 300-302, 305).
Tabela 1. Participação da China no total de IDE interno do mundo, dos países em
desenvolvimento e da ASEAN (%)
Fonte: Tong (2020: p. 17).
Porém, os projetos de infraestrutura chinesa, nos quais é comum inclusão de
trabalhadores chineses, são muitas vezes considerados armadilhas de dívidas e
associados à corrupção e governança. Esse ponto de vista é corroborado pela
evidência de que grande parte dos países do Sudeste Asiático são compostos por regimes
considerados não democráticos
2
, subordinados às suas elites. Essas que tiram vantagens
através dos acordos bilaterais com os chineses. Desse sentido, receios quanto as
potenciais repercussões nos níveis de dívidas provenientes dos projetos da IFR (Rosser,
2020: p. 308).
Estas podem contribuir para a perpetuação destes Estados como países subdesenvolvidos
de média renda. Para além disso, podem ser citadas receios no âmbito securitário,
relativo os objetivos chineses no Mar do Sul da China (MSC). Uma importante região no
sentido estratégico e econômico, por se tratar de um local de importantes rotas
comerciais e com importantes reservas de hidrocarbonetos e pescados. Fatores
importantes para salvaguardar a continuidade do crescimento econômico chinês. Para
2
De acordo com o V-Dem (2025), Laos, Myanmar, Vietnã são autocracias fechadas. O Camboja, Filipinas,
Indonésia e Tailândia são autocracias eleitorais e, a Malásia é apontada como uma democracia eleitoral (Marina,
Altman, Angiolillo, Fernandes, God & Lindberg, 2025: p. 14).
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além de que a presença no MSC parece se demostrar importante para a segurança
nacional chinesa, grandes centros urbanos encontram-se nas costas. Nesse âmbito, com
a globalização, fatores econômicos ganham uma grande importância securitária para os
Estados e seus objetivos nacionais (Cardoso, 2008: pp. 113-116; Tomé, 2021: p. 162).
Para além disso, pode-se dizer que a globalização coloca os Estados em contato uns com
os outros e fortalece a relevância da economia e do comércio como fundamentos de
poder. Ou seja, o MSC é uma região de extrema importância para a China no atual
sistema internacional (Cardoso, 2008: p. 112).
Ademais, preocupações quanto a possíveis defaults devido às taxas de juros presentes
nos empréstimos chineses. Tanto as AODs e as OFOs chinesas o mais elevadas quando
se comparados aos do Banco Mundial (Cheong, 2022: p. 8). Altas taxas de juros geram
maiores possibilidades de um default, por isso credores chineses parecem dar preferência
a colateralização como estratégia de mitigação de risco. Assim, os mutuários fixam como
garantia algum ativo ou posse, por exemplo, exportação de commodities ou rendimentos
futuros. Os chineses aparentam reconhecer as apreensões dos Estados quanto a uma
possível armadilha de vida. Assim, são oferecidas garantias e os interesses econômicos
são colocados em um nível superior de relevância, quando comparados à tomada de
ativos estrategicamente importantes (Cheong, 2022: pp. 9-11).
Seria contraditório com os interesses chineses na IFR de promoção do crescimento
econômico, desenvolvimento nacional e formação de uma ordem (econômica) regional
centrada na China se o propósito explícito dos empréstimos da China fosse a captura dos
ativos dos mutuários por meio de armadilhas de dívida. Afinal, desestimularia ainda mais
os países do Sudeste Asiático a fazerem parte da iniciativa.
Logo, a China aparenta se utilizar de instrumentos econômicos de statecraft para atingir
fins políticos. Nesse sentido, esta parece preferir o uso positivo desses instrumentos,
visando o longo-prazo, de maneira a ganhar influência com as elites dos Estados do
Sudeste Asiático. Dessa forma, busca-se construir uma ordem econômica regional com
a China no seu centro, através do progressivo aumento da exposição econômica dos
países do Sudeste Asiático à China. Aumentado gradativamente a dependência
econômica e, consequentemente, política destas elites e de seus Estados à China.
A Iniciativa Faixa e Rota e seu impacto no desenvolvimento do Sudeste
Asiático: análise do caso do Camboja
Esta secção busca investigar quais o os possíveis impactos econômicos da Iniciativa
Faixa e Rota (IFR) nas economias do Sudeste Asiático, através da análise do caso do
Camboja. Os projetos de infraestrutura da IFR acabarão por gerar consequências
econômicas negativas as economias participantes? Perpetuar-se-ia um modelo de
“desenvolvimento dependente” nestes Estados? Nesta secção entende-se que não é
necessário a distinção entre investimentos no âmbito da IFR e os demais investimentos
chineses para a realização do estudo. Afinal, grande parte dos investimentos chineses no
Sudeste Asiático antes da IFR destinava-se a projetos similares, como ferrovias e
rodovias. Também, após 2017, o governo chinês incluiu quase todos os investimentos
passados como elementos dos projetos da IFR (Hsueh, 2023: p. 1021). Ademais, o ganho
de influência econômica e política pela China ocorre também através de outros
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investimentos diretos estrangeiros (IDE), não apenas por meio de investimentos em
nome da IFR. Logo, se torna quase impossível e teoricamente desnecessário diferenciar
com clareza quais IDEs fazem parte da IFR e quais não.
De acordo com o Banco Nacional do Camboja, o país acumulou um total de 41 bilhões
de dólares em IDE de 1993 até 2021. Desse total, a China representa 43%, um pouco
mais de 18 bilhões de dólares. Seguida pela Coreia do Sul, representando 11% ou 4.9
bilhões de dólares (Pani & Tobing, 2025: p. 35). Também, de acordo com o American
Enterprise Institute (2025), o investimento acumulado de investidores e construtoras
chinesas entre 2013 e 2025 foi de 17.51 bilhões de dólares para o Camboja. Os setores
de transporte e energia foram responsáveis por grande parte dos investimentos,
representando 9.8 e 4.39 bilhões de dólares, respectivamente. Em conjunto,
representam aproximadamente 81% do total de investimentos chineses no período.
Devido a este grande número de investimentos levantam-se questões acerca da dívida
do Camboja. Assim, em relação à dívida externa total do Camboja, esta tem tido um
aumento significativo devido aos projetos da IFR. Estima-se que mais de 41% da dívida
externa acumulada do país, equivalente a 15% de seu Produto Interno Bruto (PIB), é
mantida pela China. Também, a China se apresenta como o principal credor do Camboja,
responsável por 41.7% do total da dívida externa do Camboja, chegando a 9.47 bilhões
de dólares em meados de 2022 (Pani & Tobing, 2025: pp. 36, 43; Yu, 2024: p. 114).
Também, a dívida pública bruta, por porcentagem do PIB, foi de aproximadamente 26%
ou 11.2 bilhões de dólares em 2023. Nesse âmbito, a dívida bilateral representa a maior
parte da dívida externa total, cerca de 64%, mais da metade devido à China.
Apresentando um baixo risco de superendividamento, mas vulnerável a choques nos
passivos contingentes
3
(Fundo Monetário Internacional [FMI], 2025b: pp. 15, 88; FMI,
2025c).
Esse influxo de capital estrangeiro impulsionou o progresso econômico do Camboja e
mitigou as principais restrições de infraestrutura no país. O Camboja ocupou no Relatório
de Competitividade Global de 2019
4
a 106ª posição entre 141 economias, demostrando
uma baixa qualidade de infraestruturas, principalmente rodoviárias (Yu, 2024: p. 109).
Segundo estimativas da PWC de outubro de 2022, para obter um crescimento sustentado
e melhorar os padrões sociais e econômicos de sua população, o país necessitará de
investimentos em infraestrutura de aproximadamente 28 bilhões de dólares até 2040
(Yu, 2024: p. 109). Nesse contexto, entre 2004 e 2021 a China financiou
aproximadamente 101 projetos de desenvolvimento no Camboja, especialmente em
infraestrutura rodoviária e de transporte (Pani & Tobing, 2025: pp. 36, 43).
Assim, o IDE chinês impulsionou de forma significativa o crescimento econômico do
Camboja, tornando-o uma das economias com crescimento mais rápido entre os países
da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) na última década. De acordo com
o ASEAN Secretariat, com estatísticas de 2022, a taxa de crescimento médio do Camboja
foi de 5.7% entre 2012 e 2021. Acredita-se que esse crescimento é resultado de um
boom nas indústrias de vestuário e têxteis (Yu, 2024: p. 108), segundo o FMI (2025b:
3
Referem-se a obrigações financeiras possíveis ou incertas, cujo reconhecimento e valor dependem de eventos
futuros que não estão sob o controle das empresas ou do governo.
4
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p. 43) a indústria têxtil tem se mantido consistentemente o maior impulsionador deste
crescimento, explicando 21% do crescimento médio do PIB no período de 2010 a 2019.
Também, o turismo e a construção de infraestruturas financiadas por IDE, tiveram um
papel relevante neste crescimento (Yu, 2024: p. 108).
Estas informações vão de acordo com aquelas divulgadas pelo FMI (2025b: p. 15;
2025c), o crescimento real do PIB do Camboja foi de 5% em 2023, impulsionado
principalmente pelo desempenho setor manufatureiro. Também, pela recuperação do
turismo e a retomada das atividades em setores correlatos. em 2024, a forte
recuperação do setor de vestuário, juntamente com o crescimento das exportações
agrícolas e a melhora constante do turismo contribuíram para uma maior aceleração do
crescimento econômico. Assim, ocorrendo um crescimento real do PIB de 6% em 2024.
Mas, questionamentos sobre a governança do Camboja, que é movido
economicamente por IDEs, em sua maior parte chineses. De acordo com o Transparency
International’s Corruption Perceptions Index (2025) o Camboja em 2024, encontrava-se
na 158ª posição de 180 países. Também, de acordo com World Justice Project Rule of
Law Index, em 2022
5
, o país encontrava-se em 141º. Refletindo desafios na governança
e emprego da lei (Pani & Tobing, 2025: p. 44) Assim, os IDEs tem a possibilidade de
contribuir para o acúmulo de capital e consolidação política da elite do Camboja, e não
tanto para o bem-estar da população em geral (Pani & Tobing, 2025: p. 45; Yu, 2024:
p. 113).
Afinal, o IDE chinês é caracterizado por um grande envolvimento estatal, priorização de
setores estratégicos e uso de empréstimos concessionais muitas vezes vinculados a
empreiteiros e fornecedores chineses. Esse modelo também é visível no desenvolvimento
de infraestruturas no âmbito da IFR, na qual o financiamento é constituído de maneira a
beneficiar empresas estatais chinesas. Assim, ao mesmo tempo, garantindo influência
econômica e, consequentemente, política sobre os países beneficiários (Pani & Tobing,
2025: p. 37). O investimento estrangeiro tem a capacidade de exercer uma relevante
influência sobre políticas locais gerando um ambiente favorável ao investimento. Nesse
contexto, a dependência de IDEs fortalece estas elites, que se beneficiam
desproporcionalmente desses investimentos, afinal possuem poder político (Pani &
Tobing, 2025: p. 41).
Neste contexto, os chineses fazem investimentos substanciais de maneira a garantir
acesso a recursos naturais, assegurando as necessidades de sua população. no
Camboja reservas relevantes de petróleo e gás natural, assim como potenciais recursos
minerais e terras agricultáveis. Nesse âmbito, os investimentos estrangeiros no Camboja
foram e são essenciais para moldar a produtividade doméstica e estabilidade financeira
do país. E a China se posiciona como o maior investidor. Assim, uma relação de
dependência em que o país central nesse contexto, a China, foca seus investimentos em
matérias-primas, recursos naturais e agricultura, para assim suprir suas necessidades de
consumo e produção internas. Ao mesmo tempo, cria oportunidades para direcionar a
economia do Camboja, país periférico, para servir aos interesses nacionais chineses (Pani
& Tobing, 2025: pp. 42-43).
5
Últimos dados disponíveis para o Camboja.
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A China é o maior parceiro comercial do Camboja. Segundo estatísticas do Ministério do
Comércio da China, o volume de comércio bilateral entre a China e o Camboja cresceu
de 3.77 bilhões de dólares em 2013 para 13.67 bilhões em 2021. Nesse âmbito, a balança
comercial se mostra favorável à China, que usufruiu de um crescente superávit comercial
com o país de 2013 a 2021. A China foi o segundo principal destino das exportações do
Camboja em 2021, representando 8.3% do valor total das exportações, e constituiu a
maior fonte de importações do país, correspondendo a 33.9% do valor total importações
(Yu, 2025: p. 107). Demostrando a relação de assimetria entre ambos os Estados, país
central e periférico, e a crescente dependência econômica do Camboja, que se encontra
cada vez mais amarrado as cadeias produtivas regionais, que tem a China em posição
de destaque.
Para além disto, o IDE chinês pode ter a capacidade de alterar as dinâmicas das
atividades econômicas e empresas locais devido à presença de seus interesses
comerciais. Lojas, vendedores e operadores turísticos cambojanos não conseguem
competir com o crescente número de hotéis, cassinos, restaurantes e lojas de varejo de
propriedade chinesa. Para além do que, turistas chineses, os quais são uma parcela
relevante dos turistas, tendem a consumir produtos e serviços de seus conterrâneos.
Assim, o efeito econômico de gotejamento ou trickle-down é limitado. Esse cenário se
principalmente na região de Sihanoukville, uma Zona Econômica Especial sob o guarda-
chuva da IFR (Pani & Tobing, 2025: pp. 37, 47; Yu, 2024: pp. 111, 113).
Ou seja, um processo de marginalização econômica, novamente levantando
preocupações de que os benefícios econômicos dos investimentos chineses favoreçam
majoritariamente as elites chinesas e locais, excluindo o cambojano comum. Além disso,
o rápido desenvolvimento conduziu um influxo de migrantes e trabalhadores chineses,
para além do emprego de mão-de-obra chinesa nos investimentos na esfera da IFR,
reduzindo as oportunidades de emprego para os trabalhadores locais e, possivelmente,
suprimindo salários (Pani & Tobing, 2025: pp. 37, 47). Provavelmente aumentando o
nível de desigualdade no país.
Logo, ainda que o investimento estrangeiro conceda benefícios de curto prazo, como na
promoção do crescimento econômico e do desenvolvimento de infraestrutura, a
dependência excessiva do capital estrangeiro promove um relacionamento
desequilibrado, suscetível à influência econômica e política do país investidor (Pani &
Tobing, 2025: p. 48). Ademais, a governança inadequada amplifica as consequências
negativas da gestão do investimento estrangeiro. A governança debilitada do Camboja,
reconhecida por altos níveis de corrupção, aplicação ineficaz da lei e priorização do
financiamento estrangeiro, restringe o gerenciamento do investimento estrangeiro para
a perseguição dos interesses nacionais. Assim, o Camboja tornou-se cada vez mais
dependente dos investimentos chineses, sem a capacidade de controlar e mitigar seus
impactos negativos (Pani & Tobing, 2025: p. 48). E mantêm-se como majoritariamente
um país voltado a exportação de produtos de baixo valor agregado, o setor de
manufaturados como o de têxteis continua a ser um dos principais condutores no
crescimento do país (FMI, 2025b: pp. 43-44).
No entanto, considerando que o Camboja é um aliado próximo da China e que a
construção de infraestruturas em larga escala desempenham um papel essencial no
Sudeste Asiático no âmbito da IFR, não parece lógico a China conduzir o país à falência
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em decorrência de seus projetos de infraestrutura. Isso geraria uma imagem negativa
da IFR, o que dificultaria sua implementação futura, tanto a nível regional quanto global
(Yu, 2024: p. 114). Além disso, não se faz necessário a China deter grandes níveis de
influência econômica e política em todos os países do Sudeste Asiático. Uma vez que o
consenso da ASEAN em relação a questões relativas ao Mar do Sul da China pode ser
quebrado apenas por alguns, impedindo respostas conjuntas. Juntamente a isso, o
desequilíbrio econômico e militar destes Estados em relação à China coloca essa em uma
posição de vantagem.
Assim, parece que a IFR através da construção de infraestruturas, em sua maioria
rodoviárias e de transporte, tem a capacidade de gerar efeitos econômicos positivos aos
países participantes. Principalmente àqueles que apresentam baixos níveis de
infraestrutura e o dependentes de IDE para seu desenvolvimento. Promovendo o
crescimento econômico, possivelmente, em decorrência das melhoras logísticas e maior
integração nas redes produtivas regionais. Porém, há a possibilidade de continuação da
atual divisão do trabalho ao vel regional e global. Para além de haver a possibilidade
da manutenção das desigualdades internas nos países, principalmente se houver
elevados níveis de corrupção entre suas elites econômicas e políticas. Como é o caso do
Camboja.
Considerações finais
A Iniciativa Faixa e Rota (IFR) liga localidades com características econômicas e políticas
específicas, as quais detém relevância para a China devido ao seu posicionamento
geográfico relativo no contexto da iniciativa. Logo, os projetos de infraestrutura o
alocados a determinado país de acordo com o papel a ser desempenhado no contexto da
IFR e de uma economia regional, a qual a China encontra-se numa posição de destaque.
Em outras palavras, de acordo com o que é mais favorável para estratégia regional
chinesa.
A China, que se situa numa posição menos dependente no cenário regional, parece ter
exibido com o decorrer do tempo sua predileção pela utilização positiva do statecraft
econômico como forma de influenciar politicamente os Estados do Sudeste Asiático. De
maneira a fomentar e ampliar confiança, interesses comuns, demostrar-se como um bom
parceiro regional para o comércio e diminuir a percepção de ameaça econômica e
securitária, principalmente em questões relativas ao Mar do Sul da China (MSC). Assim,
os chineses promovem uma lógica de desenvolvimento pacífico em sua política externa
regional. Uma vez que é necessário manter um ambiente externo pacífico e estável para
o desenvolvimento de relações econômicas e para a perseguição de seus interesses
nacionais, os quais o dependentes da manutenção do crescimento econômico. Logo,
pode-se dizer que os chineses utilizariam de instrumentos econômicos buscando atingir
fins políticos.
Considerável parte do Sudeste Asiático mostra-se carente de infraestruturas de
transportes, afetando suas performances logísticas. Nesse âmbito, a IFR possui grande
relevância, afinal a construção de infraestruturas conectivas podem contribuir para a
melhora logística destes Estados. Potencialmente promovendo efeitos econômicos
positivos, como demostrado no caso do Camboja. Fortalecendo, assim, as conexões entre
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os países do Sudeste Asiático e interligando-os ainda mais à China numa ordem
econômica regional, na qual os chineses encontram-se em uma posição central. Assim,
aumentando exposição comercial destes Estados à China pelo aumento da participação
comercial e participação no valor agregado estrangeiro. Desse modo, ampliando a
dependência econômica e, por consequência, política dos países do Sudeste Asiático à
China.
Isto é, o desenvolvimento promovido pela IFR nos Estados do Sudeste Asiático se dá de
tal maneira a auxiliar o fortalecimento de uma ordem econômica regional com a China
em posição de destaque. Assim, ao que tudo indica os chineses usufruem das economias
subdesenvolvidas regionais que dependem de investimento direto estrangeiro, das
relações com as elites nacionais, das cadeias produtivas e de comércio regionais e
globais, que haviam sido estabelecidas antes da IFR, e das relações econômicas
transfronteiriças que se fortaleceram com a globalização e a adoção do modelo neoliberal.
Posto tudo isto, caso a IFR fosse utilizada como um instrumento de statecraft econômico
negativo, trazendo assim consequências negativas as economias do Sudeste Asiático,
seria contraproducente com os interesses nacionais chineses. Desincentivando os
Estados da região a participarem da iniciativa, evitando a construção de infraestruturas
com influência chinesa. Dessa forma, indo diretamente contra a melhora de insuficiências
internas da China e contra a formação de uma ordem regional. Assim, indo contra a
presença chinesa no MSC, a crescente influência política da China para com as elites dos
Estados em contacto com esse mar é importante para a gestão de conflitos e disputas
nessa região. Nesse contexto, a China não precisa ter grande influência econômica e
política sobre todos os Estados do Sudeste Asiático, visto que o consenso da ASEAN sobre
o MSC pode ser rompido por alguns membros, como o Camboja, dificultando respostas
conjuntas.
Logo, o crescimento econômico destes países parece fazer parte dos objetivos chineses
no contexto da IFR, afinal este crescimento será em parte resultado da construção de
infraestruturas conectivas. Mas, como foi descrito, é possível que a atual divisão do
trabalho global se perpetue, dessa forma mantendo os Estados do Sudeste Asiático como
economias orientadas para a exportação de manufaturas e um armazém de produção de
baixo valor agregado. Contribui para isto, a necessidade da intervenção do Estado para
que haja progresso tecnológico e desenvolvimento industrial. Porém, isso não parece ser
de interesse das elites nacionais do Sudeste Asiático, as quais a governança inadequada
aumenta os efeitos negativos da gestão do investimento estrangeiro.
Ademais, a grande dependência de capital estrangeiro favorece um relacionamento
desigual, passível à influência econômica e política do país investidor. Logo, pode-se dizer
que há a possibilidade da continuação de um modelo de “desenvolvimento dependente”
nos Estados do Sudeste Asiático, principalmente aqueles que apresentam características
semelhantes ao Camboja. Que passariam a tornar-se dependentes da economia chinesa,
e não tanto das potências ocidentais. Favorecendo, assim, os objetivos nacionais
chineses na região do Sudeste Asiático, que são colocados a longo prazo.
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