A China é o maior parceiro comercial do Camboja. Segundo estatísticas do Ministério do
Comércio da China, o volume de comércio bilateral entre a China e o Camboja cresceu
de 3.77 bilhões de dólares em 2013 para 13.67 bilhões em 2021. Nesse âmbito, a balança
comercial se mostra favorável à China, que usufruiu de um crescente superávit comercial
com o país de 2013 a 2021. A China foi o segundo principal destino das exportações do
Camboja em 2021, representando 8.3% do valor total das exportações, e constituiu a
maior fonte de importações do país, correspondendo a 33.9% do valor total importações
(Yu, 2025: p. 107). Demostrando a relação de assimetria entre ambos os Estados, país
central e periférico, e a crescente dependência econômica do Camboja, que se encontra
cada vez mais amarrado as cadeias produtivas regionais, que tem a China em posição
de destaque.
Para além disto, o IDE chinês pode ter a capacidade de alterar as dinâmicas das
atividades econômicas e empresas locais devido à presença de seus interesses
comerciais. Lojas, vendedores e operadores turísticos cambojanos não conseguem
competir com o crescente número de hotéis, cassinos, restaurantes e lojas de varejo de
propriedade chinesa. Para além do que, turistas chineses, os quais são uma parcela
relevante dos turistas, tendem a consumir produtos e serviços de seus conterrâneos.
Assim, o efeito econômico de gotejamento ou trickle-down é limitado. Esse cenário se dá
principalmente na região de Sihanoukville, uma Zona Econômica Especial sob o guarda-
chuva da IFR (Pani & Tobing, 2025: pp. 37, 47; Yu, 2024: pp. 111, 113).
Ou seja, há um processo de marginalização econômica, novamente levantando
preocupações de que os benefícios econômicos dos investimentos chineses favoreçam
majoritariamente as elites chinesas e locais, excluindo o cambojano comum. Além disso,
o rápido desenvolvimento conduziu um influxo de migrantes e trabalhadores chineses,
para além do emprego de mão-de-obra chinesa nos investimentos na esfera da IFR,
reduzindo as oportunidades de emprego para os trabalhadores locais e, possivelmente,
suprimindo salários (Pani & Tobing, 2025: pp. 37, 47). Provavelmente aumentando o
nível de desigualdade no país.
Logo, ainda que o investimento estrangeiro conceda benefícios de curto prazo, como na
promoção do crescimento econômico e do desenvolvimento de infraestrutura, a
dependência excessiva do capital estrangeiro promove um relacionamento
desequilibrado, suscetível à influência econômica e política do país investidor (Pani &
Tobing, 2025: p. 48). Ademais, a governança inadequada amplifica as consequências
negativas da gestão do investimento estrangeiro. A governança debilitada do Camboja,
reconhecida por altos níveis de corrupção, aplicação ineficaz da lei e priorização do
financiamento estrangeiro, restringe o gerenciamento do investimento estrangeiro para
a perseguição dos interesses nacionais. Assim, o Camboja tornou-se cada vez mais
dependente dos investimentos chineses, sem a capacidade de controlar e mitigar seus
impactos negativos (Pani & Tobing, 2025: p. 48). E mantêm-se como majoritariamente
um país voltado a exportação de produtos de baixo valor agregado, o setor de
manufaturados como o de têxteis continua a ser um dos principais condutores no
crescimento do país (FMI, 2025b: pp. 43-44).
No entanto, considerando que o Camboja é um aliado próximo da China e que a
construção de infraestruturas em larga escala desempenham um papel essencial no
Sudeste Asiático no âmbito da IFR, não parece lógico a China conduzir o país à falência