especial procurou dar resposta, fazendo uma avaliação dos primeiros vinte anos da União
Africana e os desafios para o processo de integração africana nas suas diferentes
dinâmicas.
Olhares sobre os vinte anos da União Africana
Os artigos selecionados para compor este número especial procuram trazer respostas a
essas e outras questões. Nos vinte anos de sua existência, as questões relacionadas à
segurança continental continuam entre as prioridades políticas da entidade e dos
analistas. Prova disso é o artigo apresentado por Diall e Nimaga, que se debruçam sobre
os mecanismos coletivos de segurança, em particular a Arquitetura Africana de Paz e
Segurança (APSA, na sigla em inglês), em paralelo à atuação da CEDEAO (ECOWAS, na
sigla em inglês), analisando a sua efetividade na prevenção e na resolução de conflitos
em nível continental e sub-regional e, identificando avanços e limitações dessa atuação.
Na mesma linha, o artigo de Afolabi e Kadoglu Chen, também analisa a Arquitetura
Africana de Paz e Segurança (APSA, na sigla em inglês), sob a ótica da avaliação do
Conselho de Paz e Segurança da União Africana (PSC, na sigla em inglês) e do
Departamento de Assuntos Políticos, Paz e Segurança da União Africana (AU-PAPS). Os
autores avaliam os diferentes mecanismos de ação e instrumentos normativos instituídos
para o funcionamento da APSA e apontam para a necessidade de mudanças estruturais,
não apenas dos mecanismos já existentes, mas também no aprofundamento da
supranacionalidade da UA e no reforço das capacidades da organização para enfrentar
as causas profundas dos conflitos entre os estados, que atualmente são bastante
limitadas, a exemplo dos Acordos de Pretória de 2022.
Fechando o tópico das questões de segurança e conflituosidade, o artigo de Horn traz
um estudo de caso sobre o conflito entre a Etiópia e os rebeldes da Frente de Libertação
do Povo do Tigray, próximo à fronteira da Eritreia. A autora avalia a atuação da União
Africana durante as negociações de paz, demonstrando que a atuação diplomática da UA
foi eficiente para provocar a abertura do diálogo entre as partes e o sucesso das
negociações representou um importante avanço da capacidade institucional de solucionar
conflitos. Entretanto, o artigo também discute a incapacidade de implementar
integralmente as ações pós-conflito, sobretudo o desarmamento e a desmobilização,
criando condições para a emergência de um novo enfrentamento.
O trabalho de Laetitia Koechilin acrescenta uma contribuição importante para a reflexão
mais ampla a respeito da atuação da União Africana nesses vinte anos de trajetória, ao
abordar um tema central na própria origem da entidade: o acesso dos povos indígenas
à justiça. A autora discute as muitas situações de discriminação e marginalização de
populações que não são reconhecidas efetivamente como cidadãs pelos estados nacionais
do continente e, consequentemente, ficam incapazes de proteger e acessar seus direitos.
Por meio de dois estudos de caso, Koechlin analisa os avanços e limites da União Africana
em sua função de promover justiça restaurativa para as populações indígenas e
tradicionais do continente, apesar do arcabouço normativo no campo dos Direitos
Humanos à disposição da entidade.