como duas questões a combater para a libertação do povo, e das mulheres em particular.
Assim, para libertar as mulheres Saharauis, a independência do Sahara Ocidental foi
considerada fundamental, carecia de correlação com a independência da ordem Patriarcal
estabelecida. No entanto, Marrocos considerou que o Referendo da Independência não
deveria ter lugar, por considerar que o território do Sahara Ocidental pertencia
historicamente ao Reino de Marrocos. Neste sentido, o país solicitou uma audiência ao
Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) (Lippert, 1992; Zunes & Mundy, 2010). Em 1975,
foi estabelecida uma Missão das Nações Unidas para analisar este processo. O TIJ
entendeu que não existiam laços entre Marrocos e a Mauritânia com o território do Sahara
Ocidental, enquanto as reivindicações de independência pareciam fortes (“Advisory
Opinion on the Western Sahara”, 1975).
Ocupação marroquina e a Guerra do Sahara Ocidental
A 6 de novembro de 1975, Marrocos e a Mauritânia invadiram o Sahara Ocidental com a
Marcha Verde, onde 300.000 cidadãos e 20.000 soldados invadiram a região (Lovatt &
Mundy, 2021; Zunes & Mundy, 2010). Uma semana depois, no dia 14, Espanha, Marrocos
e Mauritânia assinaram os Acordos de Madrid, nos quais ficou estabelecido que Espanha
passava a soberania sobre o Sahara Ocidental a Marrocos e à Mauritânia (López Tessore
& Maiolino, 2022; Lovatt & Mundy, 2021; Strzelecka, 2023) – reconhecendo assim a
invasão. A Frente Polisário opôs-se a estes acordos, apoiada pela Argélia, e as Nações
Unidas não reconheceram esta transferência de poder (Lovatt & Mundy, 2021). Nem
Marrocos nem a Mauritânia recuaram, o que levou ao início da guerra do Sahara Ocidental
e à fuga para o exílio na Argélia de cerca de 40% da população Saharaui, onde foram
criados campos de refugiados (Lovatt & Mundy, 2021). A 27 de fevereiro de 1976, foi
proclamada a República Árabe Saharaui Democrática (RASD), que se tornou o governo
dos Saharauis no exílio, nos campos da Argélia (López Tessore & Maiolino, 2022; Lovatt
& Mundy, 2021; Medina Martín, 2016; Strzelecka, 2023). No dia seguinte, 28, as forças
espanholas retiraram-se do território ocupado. A guerra com Marrocos prolongou-se até
1991, mas a Mauritânia foi derrotada em 1979 (Lovatt & Mundy, 2021).
Entre 1981 e 1987, Marrocos construiu um muro de 2.700 km, o muro da vergonha,
rodeado por cerca de 10 milhões de minas antipessoais, que divide as regiões ocupada
(a oeste) e libertada (a este) do Sahara Ocidental (Estrada & Costa, 2017; Lee, 2015;
Lovatt & Mudy, 2021; Medina Martín, 2016) (ver figura 1). A zona libertada foi
bombardeada com napalm e fósforo branco, e na região ocupada os Saharauis são
torturados e sofrem desaparecimentos forçados (Medina Martín, 2016).
Enquanto os Saharauis da zona ocupada resistiam à opressão do Reino de Marrocos, nos
campos de refugiados a sobrevivência quotidiana estava em perigo. Com os homens na
linha da frente da batalha, as mulheres encarregaram-se de garantir que o seu povo
sobrevivesse para ver o dia seguinte: construíam as jaimas (tendas) que se tornariam
as casas das pessoas que viviam na hammada argelina e organizavam os campos de
refugiados para garantir a sobrevivência, a educação e a saúde das pessoas (Medina
Martín, 2016). Estes campos são autoadministrados pela Frente Polisário e pela RASD,
mas dependem da ajuda alimentar e humanitária internacional (Strzelecka, 2023).