OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
Vol. 14, Nº. 1 (Maio-Outubro 2023)
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O DESFASAMENTO ENTRE POLÍTICA E ESTRATÉGIA MILITAR: UMA ANÁLISE
AO IRAQUE (2006-2007) E AFEGANISTÃO (2009)
LUÍS BARROSO
barrosolfm@gmail.com
Coronel Tirocinado do Exército Português (Portugal) e professor de Estratégia e História Militar no
IUM. Qualificado com o Curso de Estado-Maior pelo IAEM; Qualificado com o Curso de Estado-
Mayor de las Fuerzas Armadas de España. Doutor em História, Defesa e Relações Internacionais
pelo ISCTE-IUL. Investigador no Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL
Resumo
Compreender o desfasamento originado pela atividade civil-militar e seus efeitos na estratégia
é um contributo essencial para a prática da estratégia. Partindo da análise de casos de valor
intrínseco para esta investigação, avalia-se a prática da estratégia para demonstrar que o
desfasamento entre política e estratégia militar resulta do facto de a guerra, como variável
dependente da política, assumir variações imprevisíveis, que obriga a que a estratégia, como
variável interveniente e como atividade resultante das relações civis-militares, seja definida
como teoria do sucesso. Este argumento está baseado em três explicações para a existência
daquele desfasamento: (1) a natureza da guerra influencia a natureza e a eficácia da
estratégia militar, porque os atores envolvidos atuam num ambiente de imprevisibilidade; (2)
a estabilidade e a coerência da relação entre política e guerra, materializada na prática da
estratégia militar, obriga a considerar que a razão da estratégia é o sucesso; (3) a eficácia
das relações civis-militares é determinante para diminuir as tensões naturais entre a ação
política e a ação militar. Conclui-se que a estratégia militar, como resultado do domínio das
relações civis-militares, segue as dinâmicas da complexa relação entre política e guerra.
Palavras-chave
Guerra; política; estratégia militar; relações civis-militares
Abstract
Understanding the gap caused by civil-military activity and its effects on strategy is essential
to the practice of strategy. Based on the analysis of cases of intrinsic value, the practice of
strategy is assessed to show that the discrepancy between politics and military strategy
results from the fact that war, as a policy-dependent variable, assumes unpredictable
variations, meaning that strategy, as an intervening variable and as an activity resulting from
civil-military relations, must be defined as a theory of success. The argument is based on
three explanations for the existence of that gap: (1) the nature of war influences the nature
and effectiveness of military strategy, because the actors involved in the process act in an
environment of great unpredictability; (2) the stability and coherence of the relationship
between politics and war, embodied in the practice of military strategy, makes it necessary
to consider the purpose of strategy is success; (3) the effectiveness of civil-military relations
is crucial to reducing the natural tensions between politics and military action. It is concluded
that military strategy because of civil-military relations follows the dynamics of the complex
relationship between politics and war.
Keywords
War; politics; military strategy; civil-military relations
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uma análise ao Iraque (2006-2007) e Afeganistão (2009)
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Como citar este artigo
Barroso, Luís (2023). O desfasamento entre política e estratégia militar: uma análise ao Iraque
(2006-2007) e Afeganistão (2009). Janus.net, e-journal of international relations, Vol14 N1, Maio-
Outubro 2023. Consultado [em linha] em data da última consulta, https://doi.org/10.26619/1647-
7251.14.1.6
Artigo recebido em 26 de Julho de 2022, aceite para publicação em 4 de Março de 2023
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O DESFASAMENTO ENTRE POLÍTICA E ESTRATÉGIA MILITAR:
UMA ANÁLISE AO IRAQUE (2006-2007) E AFEGANISTÃO (2009)
LUÍS BARROSO
Introdução
O objetivo deste texto é avaliar a relação entre política e estratégia militar para
compreender que fatores contribuem para o desfasamento entre objetivos políticos e
ação militar em situação de guerra
1
. Os últimos 30 anos revelam que o Ocidente tem
tido uma “deficiente performance estratégica” (Osinga, 2021), porque tem sido difícil
converter o sucesso militar de nível tático em objetivos políticos. A implementação da
estratégia militar, como processo distintivo que liga a política às operações militares, é
muito mais exigente do que aparenta a teoria. O desfasamento entre política e estratégia
militar evidencia-se quando a ligação entre tática e política é quebrada, quando os
objetivos militares perdem relação com a política, ou quando o sucesso depende de
opções militares que o o exequíveis ou adequadas para solucionar o problema
político-estratégico. Para além da incerteza e fricção, inerentes à ação militar devidas à
natureza da guerra, muitos outros fatores emergem da luta política interna, das
personalidades envolvidas, da existência de coligações e alianças políticas e militares que
contribuem para aumentar o desfasamento natural entre política e ação militar.
A estratégia militar pode também não ser possível de implementar, porque o que
acontece no intervalo entre a política e a guerra é demasiado complexo e imprevisível
para ser teorizado (Betts, 2000). A tentativa de desenvolver uma teoria universalmente
aceite tem sido frustrada pela inerente imprevisibilidade dos assuntos militares e pela
ainda maior imprevisibilidade dos assuntos políticos (Freedman, 2013: 242), pelo que a
prática da estratégia militar é sempre a questão mais problemática (Strachan, 2019:
187-188). Mais do que a fórmula Ends+Ways+Means(Lykke Jr., 1989), a estratégia
militar é uma arte da política para criar poder, que entra em ação quando a situação que
se enfrenta é instável e imprevisível (Freedman, 2013: 617), devendo ser definida como
“teoria do sucesso” (Cohen, 2002: 33; Meiser, 2017: 86-87), uma vez que é o sucesso
que determina se a estratégia foi bem concebida e implementada.
1
Utiliza-se o termo “guerra” para referir as intervenções militares em que o resultado tem relação direta com
a eficácia do potencial de combate: situações em que há pelo menos um oponente; em que o emprego da
força pressupõe uma estratégia a implementar; a violência é opção para cumprir objetivos políticos; a ação
militar é governada pela política que impõe objetivos ou mandatos; a violência é legal, ou pelo menos aceite
pela maioria da comunidade que nela participa; e é uma atividade coletiva (Creveld, 2017: 50-51).
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O problema da eficácia da estratégia militar em situações de conflito tem sido
amplamente debatido para discutir se a sua definição é ou não suficiente para a realidade
contemporânea (Webb, 2019; Meiser, 2017; Freedman, 2013); se é ou não uma ilusão
(Betts, 2000), na medida em que o sucesso de uma estratégia depende de um tão
elevado número de fatores de ordem política (Kiszely, 2018; Payne, 2020; Jacobson,
2010), que obriga a considerar uma clara separação entre teoria e prática (Strachan,
2019); ou por motivos do ambiente das relações civis-militares (Brooks, 2008; Kohn,
2009; Travis, 2017; Owens, 2012). A ligação entre as relações civis-militares e eficácia
militar não tem merecido atenção suficiente (Nielsen, Civil-Military Relations Theory and
Military Efectiveness, 2002), mas parece ser cada vez mais um assunto relevante, uma
vez que parecem ter mais influência na derrota ou vitória do que as vantagens materiais
(Narang & Talmadge, 2018).
Compreender as razões do desfasamento entre política e estratégia militar, para além do
resultado natural da fricção da ação tática, permite avançar possíveis soluções para o
minimizar e contribui para o desenvolvimento da teoria da estratégia militar como
atividade resultante das relações civis-militares. Para o objetivo deste texto, avança-se
com o argumento de que o desfasamento entre a política e a estratégia militar emerge
do facto de a guerra, como variável dependente da política, assumir variações
imprevisíveis resultantes daquela relação e da sua natureza, que obriga a que a
estratégia militar, como variável interveniente e como atividade resultante das relações
civis-militares, seja orientada ao sucesso. O argumento combina a importância da
definição de estratégia militar como "teoria do sucesso" com a relevância das relações
civis-militares, cuja lógica está baseada em três explicações para a existência do
desfasamento entre a política e a ação militar no terreno. Na primeira, considera-se que
a natureza da guerra influencia a natureza e a eficia da estratégia militar, porque os
atores envolvidos no domínio da política e da estratégia atuam num ambiente de grande
imprevisibilidade e complexidade, o que propicia o desfasamento natural entre os
objetivos políticos e o resultado da prática da estratégia. Desta forma, as decisões de
nível político e militar devem-na ter em conta na medida em que os resultados são
sempre diferentes do esperado e a estratégia tem constantemente de se adaptar. A
segunda, considera que a estabilidade e a coerência da relação entre política e guerra,
materializada na prática da estratégia militar, obriga a que o processo de conceção e
implementação da estratégia seja um processo político-militar iterativo. Desta forma, ao
adotar-se o conceito de estratégia como “teoria do sucesso” que depende da interação
entre os níveis de decisão político-militar reduz-se a tensão resultante da definição de
objetivos, conceção, implementação e avaliação de resultados da estratégia. A terceira,
resulta da evidência de que a estratégia militar, como “negócio pragmático”, é o resultado
das relações civis-militares, cuja eficácia é determinante para diminuir as tensões
naturais entre os níveis político e militar. Utilizam-se casos de importância intrínseca”
para o objeto de estudo (Evera, 1997: 86-87), como os recentes casos do Iraque (2006-
2007) e do Afeganistão (2009) em que se evidencia tensão entre as lideranças políticas
e as lideranças militares. Outros exemplos o também mencionados para reforçar o
poder explicativo do argumento proposto.
A organização do texto segue a lógica da construção do argumento. Inicialmente,
caracteriza-se a ontologia da guerra e a natureza da estratégia militar, de forma a avaliar
como se influenciam e perceber se a atual definição responde aos desafios da natureza
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da guerra, com o objetivo de servir como referência para a análise a efetuar nos casos
selecionados. Seguidamente, analisa-se os dados relativos às campanhas militares
selecionadas para apoiar o argumento, fazendo relevar os fatores que compõem algumas
das dinâmicas da relação entre a política e estratégia militar em situação de conflito que
contribuem para o alargamento do desfasamento natural entre política e ação militar.
Consequentemente, avalia-se a importância das relações civis-militares no desfasamento
entre política e estratégia militar. A opção de individualizar as relações civis-militares
decorre da importância que este domínio tem na prática da estratégia militar. Conclui-se
que a estratégia militar, como resultado do domínio das relações civis-militares, segue
as dinâmicas da relação entre política e guerra.
1. Natureza da Guerra e Natureza da Estratégia Militar: a base conceitual
A guerra tem sido adjetivada sob inúmeros rótulos, como guerra convencional, guerrilha,
guerra civil (Hendersson & Singer, 2000; Mello, 2010), e até agrupadas como novas
guerras” (Kaldor, 2006; Creveld, 1991; Holsti, 1996; Hammes, 2004; Smith, 2005),
embora poucos se tenham debruçado sobre a sua natureza e sobre como o seu poder
gerador molda a vida social e política (Barkawi & Brighton, 2011). Não obstante a
classificação, o combate é o elemento unificador das várias perspetivas e o verdadeiro
teste para a estratégia militar e para a política, sendo a única força eficaz na guerra e
tudo o que acontece “deriva originalmente do combate” (Clausewitz, 1984: 95, 97). Com
efeitos imprevisíveis em tudo o que toca, distorce a razão, o conhecimento, a verdade,
torna quase impossível prever resultados e instala uma ordem da qual ninguém se pode
distanciar (Levinas, 1980: 9-10). É o combate que une a guerra, na generalidade e no
particular, e nenhuma ontologia o pode ignorar (Barkawi & Brighton, 2011: 135-137). A
centralidade do combate no pensamento estratégico ocidental tem raízes em Clausewitz
e na relevância da vitória militar tática (Newland, 2005).
O efeito disruptivo do combate sobre a ordem existente estabelece uma ligação íntima
entre a sociedade e a guerra, que vai para além da violência do combate, como se de
um excesso se tratasse. Este é a capacidade de a violência ser geradora de gicas
sociopolíticas para além das dos contendores (Barkawi & Brighton, 2011: 136). A guerra
tem características únicas que podem gerar resultados contraditórios em relação aos
objetivos esperados. Ela escapa ao controlo dos interesses racionais, arrasta toda a
sociedade e impõe limites à racionalidade estratégica (Shaw, 2010: 7-11). Se a guerra
molda as relações sociais em que está inserida, então está presente muito para além da
frente de batalha e do momento em que está a ser combatida, sendo geradora de
mudanças nas relações sociais, económicas culturais, entre outras, após o seu termo
(Barkawi & Brighton, 2011: 132).
A incerteza é uma outra característica definidora da complexa relação entre a essência
do combate, a lógica político-estratégica e os efeitos do seu “excesso” na ordem político-
social. Tal como Clausewitz refere, a incerteza é um dos principais obstáculos ao
conhecimento (Clausewitz, 1984: 113) e à formulação de uma teoria positiva da guerra,
que obriga a confiar no talento e na sorte, porque o génio militar e o talento operam fora
das regras estabelecidas (Clausewitz, 1984: 140). Como problema especial, a incerteza
é um problema da e na guerra (Clausewitz, 1984: 140), porque é único, recorrente e
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inevitável. Por conseguinte, a incerteza deve também ser tida em conta como parte
integrante da ontologia da guerra, que torna tão difícil prever o seu excesso e com o qual
o cálculo político-estratégico tem de lidar.
Assim, em que medida a ontologia da guerra influencia a definição e a natureza da
estratégia militar? Para Coutau-Bégarie (2008: 75) a estratégia é a “dialética de
inteligências” em ambiente conflitual baseada na utilização ou ameaça de utilização da
força para os fins da política. Para Couto (2020: 227) a estratégia é a “ciência a arte de
desenvolver e utilizar as forças materiais e morais de uma unidade política ou coligação,
a fim de se atingirem objetivos políticos que suscitam, ou podem suscitar, a hostilidade
de uma vontade política”. Das definições anteriores, quando a forma de coação é a
militar, estamos no domínio da estratégia militar, cuja definição dominante no Ocidente
corresponde ao processo que relaciona objetivos e meios militares disponíveis (Ends +
Ways + Means) (Lykke Jr., 1989), que reflete a Doutrina Weinberger quanto ao privilégio
no emprego de forças militares como último recurso, com objetivos claros e apenas com
o apoio da população para evitar que os EUA se envolvessem em “atoleiros” como o
Vietname (Webb, 2019: 94-95).
Em situação de guerra ou crise, a estratégia militar identifica-se com a política,
monopolizando toda a sua ação (Coutau-Bégarie, 2008: 123). Uma vez que a estratégia
militar é julgada pelos resultados, planos bem desenhados e estruturados, grandiosidade
dos meios, ou genialidade o inúteis se no final o sucesso não é alcançado (Creveld,
2017: 94-95). Embora a estratégia tenha como finalidade a vitória militar, esta deve ser
sempre vista na dimensão política (Coutau-Bégarie, 2008: 80). Como ato da política, o
estadista e o comandante militar devem tentar perceber o tipo de guerra que vão
combater, porque as situações e as motivações das partes não o constantes
(Clausewitz, 1984: 88). Bush e Blair não entenderam a natureza da guerra em que os
seus exércitos intervieram no Afeganistão e no Iraque, tentando resolver situações
eminentemente políticas com meios desenhados para guerras convencionais, em linha
com a doutrina Weinberger (Elliot, 2015: 86-87) e, por conseguinte, com a definição de
Lykke. Os soviéticos lidaram com o mesmo problema no Afeganistão, entre 1979 e 1989,
cujo resultado foi decisivo para o fim da União Soviética (Braithwaite, 2011).
Ter uma natureza significa que, independentemente da evidência empírica, a estratégia
vale para além dos adjetivos que se queira atribuir: estratégia subversiva; estratégia
nuclear; estratégia militar convencional. Uma teoria geral da estratégia tem
aplicabilidade universal, independente das formas de luta ou combate (Gray, 2006: 3-
5). Seja para designar os meios, para designar a forma de alcançar a vitória, ou para
privar o adversário da sua capacidade de lutar, a estratégia é definida como a “escolha
de soluções vitoriosas” (Foucault, 1982: 793). Se o objetivo é o sucesso, o elemento
mais importante da natureza da estratégia militar é ser instrumento da política para o
emprego, ou ameaça do emprego, da força militar (Cf. Gray, 2006: 15).
A definição dos objetivos e a escolha dos meios é governada pelo contributo para o
sucesso, ao qual se opõe a capacidade, intenções e linhas de ação do adversário (Creveld,
2017: 97). Deste modo, a estratégia envolve sempre um grau de incerteza, conferido
pela presença do adversário e pelo acaso, que dificulta a sua implementação. Não sendo
possível controlá-los, o plano tem de ser regularmente revisto e acompanhado pela
política e pela estratégia, porque a ação militar faz sentido se contribuir para o sucesso
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político. É esta necessidade que advém de a estratégia ser instrumental e que obriga ao
diálogo constante entre políticos e militares (Gray, 2006: 14).
A definição de Lykke Jr. (1989), dominante no mundo Ocidental, ignora a ligação entre
a natureza da guerra e a natureza da estratégia. Sem aquela, a estratégia militar deixa
de ser um instrumento e um conceito coerente. Aplicar definições típicas do ambiente
da Guerra Fria deixa a estratégia militar descontextualizada da sua ligação à política,
especialmente nas democracias em que as dinâmicas político-militares são afetadas por
um elevado número de fatores, como são os casos de eleições, das personalidades das
lideranças e da sua experiência política, pressões partidárias, regimes e sistemas
políticos, grau de controlo civil sobre os militares, meios de comunicação social, entre
outros. Parte da solução é conceitual, na medida em que a guerra assume uma direção
imprevisível derivada da competição constante entre os contendores (Strachan, 2013:
23). Por conseguinte, considera-se que a definição que melhor captura a natureza da
estratégia militar e a natureza da guerra é o conceito de Jeffrey Meiser (2017) como
“teoria do sucesso”. A palavra teoria cria a expetativa de que o conceito em estratégia
militar é uma explicação de como uma ação, ou conjunto de ações, causam sucesso.
Defini-la como “teoria do sucesso” encoraja o pensamento criativo, ao mesmo tempo que
se ancora no processo científico das “causas e efeitos” da criação de teorias (Evera, 1997:
7-8), obrigando o estrategista a clarificar como se alcança o sucesso. Uma outra
vantagem da definição de Meiser (2017: 86-87) é encorajar a pensar mais eficazmente
em relação ao poder que pode ser gerado com a implementação da estratégia, porque a
esta é também a “arte de criar poder”, que entra em ação quando a situação que se
enfrenta é instável e imprevisível (Freedman, 2013; xi, 617).
O sucesso pode ser definido em várias dimensões e pode variar de acordo com a evolução
da situação, mas está sempre ligado à consecução de objetivos políticos com os meios à
disposição e com resultados duradouros. Considerar a estratégia como teoria imprime
dinâmica à relação entre os deres militares e civis envolvidos na conceção e
implementação da estratégia militar. Ao combinar-se os elementos constitutivos da
ontologia da guerra com a estratégia militar como teoria do sucesso e de produção de
poder, imerge-se num domínio que envolve dinâmicas da atividade política que obrigam
ao diálogo constante, embora desigual, entre governante e soldado, impedindo a ligação
perfeita que diferencia a teoria da prática.
2. A Prática da Estratégia e o desfasamento entre Política e Ação Militar
Teoricamente, a estratégia militar é o resultado de ligação perfeita entre os domínios
político e militar, em que cada um ocupa um espaço bem delimitado. Porém, como
atividade prática, a estratégia é moldada pelas realidades do momento (Strachan, 2013:
113). Uma estratégia é sempre julgada pelo sucesso de longo prazo, em que intervêm
fatores como meios envolvidos, modus operandi, definição dos objetivos, dinâmicas
políticas internas e externas e ação do adversário. Mesmo quando o contendor mais
“forte” parece ter a situação controlada, outros fatores emergem que tornam os
resultados imprevisíveis.
Os recentes casos do Afeganistão e do Iraque, envolvendo as personalidades militares e
civis responsáveis pela estratégia militar, ilustram a complexidade da prática da
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estratégia militar. Depois do sucesso militar da operação Iraqui Freedom, seguiu-se um
surto de insurreição e violência sectária que colocou em causa a capacidade militar de
norte-americanos e britânicos. O caos resultou da inexistência de uma estratégia, porque
se privilegiou ões militares rápidas, violentas e a retirada das tropas o mais
rápidamente possível, conforme preconizado pela doutrina Weinberger-Powell, focada
em objetivos políticos claros, guerra relâmpago, derrota militar do adversário, apoio da
população e existência de uma estratégia de saída (Elliot, 2015: 87). Porém, a ligação e
a coordenação ao nível político não garantiram a coerência entre a estratégia militar e a
política. A divergência entre o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e a secretária de
Estado, Condoleezza Rice, é disso um claro exemplo. Rumsfeld pretendia concentrar as
forças em bases, enquanto Rice pretendia garantir o controlo e a segurança das cidades
durante a implementação da democracia” (West, 2008: 110). Esta situação revela a
falta de união de esforços e falta de direção estratégica de George Bush, que evitava
também imiscuir-se na campanha militar. Se o tivesse feito, teria tido a oportunidade de
perceber que, desde o sucesso militar do verão de 2003, a ação tática das forças militares
não contribuía para os objetivos políticos (West, 2008: 363).
A estratégia militar é o negócio pragmático” de aplicar meios militares para alcançar
objetivos políticos claros e exequíveis, que tem relação direta com a natureza da guerra.
Na impossibilidade de provar que o Iraque possuía armas de destruição em massa, Bush
alterou o objetivo da operação para o fomento de uma democracia no Iraque que pudesse
contagiar a região (Johnson, 2010: 585). Apesar de enfrentar um grave problema
securitário no Iraque, Bush via a guerra em termos convencionais, estando mais
preocupado em saber “quantos inimigos tinham sido mortos ou capturados”. Para o
general George Casey, comandante da Multi-National Force Iraq, a batalha norte-
americana era preparar os iraquianos para se protegerem e governarem sozinhos. Bush
não compreendeu a guerra nem como a vitória militar podia ser convertida em ganhos
políticos e económicos para o próprio Iraque (Woodward, 2008: 4-5).
Enviar forças militares para solucionar problemas políticos parece ser uma opção
apelativa, mas é sempre necessário avaliar o impacto das operações militares. Conforme
nota Clausewitz (1984: 95), a destruição das forças do inimigo não é a única solução se
outros objetivos pelos quais a guerra é combatida. Bush e Rumsfeld pediram às forças
americanas para combaterem uma guerra para a qual não estavam preparadas, sem
compreender a sua natureza. Quando Bush decidiu invadir o Iraque com o apoio de
alguns aliados, nenhum responsável político antecipou que depois da queda de Saddam
se envolveriam numa guerra de longa duração (Metz, 2010: 1). Blair pediu aos seus
militares para se juntarem aos americanos, mas também sem qualquer estratégia (Elliot,
2015: 23).
O sucesso da implementação da estratégia militar depende da capacidade de se perceber
o caráter da guerra que se combate. No Iraque, apesar de a coligação não ter sofrido
nenhuma derrota em confrontação militar direta, a adequabilidade dos meios para o
sucesso político pós-invasão foi deficiente. A insurreição e a violência sectária estavam a
ser combatidas com meios militares e doutrina convencional (Woodward, 2008: 5-6;
West, 2008: 45). Especialmente durante 2006, a evolução do número de ataques contra
as forças da coligação e a violência sectária não foram suficientes para que se
reconhecesse que a estratégia era inadequada. As evidências levaram Bush e outros
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responsáveis políticos a perder a confiança em Casey, determinando a sua substituição
e a conceção de uma nova estratégia (Ricks, 2010: 58; Barno & Bensahel, 2020: 195-
215).
A ausência de uma estratégia de sucesso é muitas vezes substituída pela simples adição
de recursos ao problema. Em janeiro de 2007, Bush anunciou o reforço do dispositivo
americano no Iraque com cerca de 30 mil militares, conhecido como surge, para que o
esforço militar se orientasse na proteção da população e para evitar uma derrota que
parecia iminente (Metz, 2010: 5; Elliot, 2015: 115; Feaver, 2011: 87). Bush foi
assessorado por um grupo de americanos influentes, que o levou a reconsiderar as suas
opções porque era impensável que o exército mais poderoso do mundo fosse derrotado.
Bush tinha recusado a proposta de alguns dos seus generais para retirar e decidiu
aumentar os efetivos no Iraque em 2007, sob o comando do general David Petraeus
(Ricks, 2010). Nada foi pensado para encontrar uma solução política para a qual os
esforços militares seriam direcionados (Strachan, 2013: 12), mas apenas para diminuir
pressões em Washington junto da bancada Democrata no Congresso (Feaver, 2011: 88).
A opção, implementada por Patraeus, para diminuir com a violência sectária acabou por
dar resultados, apesar da ausência de uma estratégia (Strachan, 2013: 12, 220). O
reforço funcionou, muito mais pela mudança operada pela elite sunita por influência de
Petraeus do que pela ação militar. A surge converteu a estratégia inicial de abandonar o
Iraque, cerca de seis meses após a invasão, num plano para uma “guerra longa” contra
o terrorismo (Ricks, 2010: 124). Isto está em linha com a asserção de Betts (2000: 5-
6) de que, às vezes, a estratégia é uma ilusão e de que uma estratégia, ou a sua
ausência, pode funcionar se ela for apenas a aplicação de recursos muito superiores
(atrição).
A campanha do Afeganistão, na Administração Obama, é também um exemplo da
inexistência de uma estratégia de sucesso. Depois de ter anunciado que diminuiria a
presença militar no Afeganistão, e depois de alguns meses de debate em que se assistiu
à incapacidade do general David Mckiernan de diminuir a violência, em 2009 o general
Stanley McChrystal propôs uma estratégia” baseada no reforço de tropas. Porém,
Obama considerava que as modalidades apresentadas não eram suficientemente
diferentes, variando apenas nos efetivos a empenhar (Woodward, 2011: 273-274). Se,
por um lado, Obama não podia escolher com apenas uma opção, por outro, a estratégia
apresentada por McChrystal não estabelecia qualquer relação causal entre objetivos e
ações, conforme a construção de uma teoria obriga (Meiser, 2017: 88-89). Sem
surpresa, de 2009 a 2021, a situação no Afeganistão foi-se degradando até à retirada da
coligação e a tomada de poder pelos Taliban em Cabul.
Em guerra, ou em conflito, política e estratégia militar não estão apenas relacionadas,
elas são indistintas. A manutenção do poder em política interna pode substituir os
objetivos políticos como finalidade primária para a guerra. Tal como em outras
democracias
2
, os norte-americanos combinam recorrentemente estratégia militar,
opinião pública e considerações eleitorais na interação entre política e estratégia (Metz,
2
Veja-se o caso holandês em 2002 em relação a Sebrenica e em 2020 em relação ao Afeganistão, ou o caso
da Grã-Bretanha em relação à Síria em 2013 (Dimitriu, 2020: 667). A preocupação com as eleições e apoio
da população introduz um novo racional no emprego da força militar, que, conforme nota Smith (2005:
12), leva ao emprego de forças em missões de reconstrução, humanitárias, de polícia, para as quais não
estão bem preparadas.
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2010: 10), que relavam o impacto das questões políticas na estratégia militar A vitória
de Bush, em 2004, tinha dado ao Partido Republicano uma maioria. Porém, em 2008,
Obama venceu as eleições e o Partido Democrático ficou com o domínio no Congresso e
no Senado. Muitas razões podem ser apontadas, mas a guerra no Iraque e no Afeganistão
tiveram, certamente, um papel importante (Jacobson, 2010; Stevens, 2015). No verão
de 2006, apesar de a situação no Iraque obrigar a uma urgente revisão da estratégia
militar, esta foi comunicada após as eleições intercalares de novembro desse ano, que
acabaram por dar uma vitória esmagadora ao Partido Democrático. Bush queria evitar o
anúncio de uma viragem na estratégia que equivalesse ao reconhecimento de que estava
errada (Payne, 2020: 173). também que considerar que o presidente receava chegar
às eleições presidenciais de 2008 com o fantasma de uma derrota militar no Iraque. A
impopularidade da guerra e a possibilidade de ser acusado de nada fazer para mudar a
situação, podem ter sido decisivas para que Bush impusesse o reforço do dispositivo,
mesmo contra a proposta dos seus generais (Bowen, 2013: 275).
Estratégia militar e política são domínios diferentes, mas o sucesso da prática estratégica
baseia-se no diálogo político-militar permanente em que a estratégia militar corresponde
exatamente ao domínio onde se intersetam (Strachan, 2013: 12, 20). Quase
imediatamente após a queda de Saddam, “política e conduta da guerra” seguiram
paralelamente sem nunca terem convergido. A 20 de maio de 2003, depois de vencer as
forças militares iraquianas, o general James Mattis, comandante da força de Fuzileiros,
estava convencido de que a sua missão era apoiar a reconstrução do país. No dia
seguinte, Paul Bremer, diretor da Coalition Provisional Authority, dissolveu o exército
iraquiano com o apoio do Pentágono e da Casa Branca sem qualquer ligação com os
comandantes militares no terreno. O presidente concedeu todo o poder a Bremer, que
não estava ao corrente das ações militares e sem ter qualquer controlo de Washington
(West, 2008: 8, 17). Bremer reportava diretamente a Bush sem consultar o general
Ricardo Sanchez, originando uma clara desunião de esforços que impedia que a ação
militar fosse consequente (Dyson, 2013: 478; Woodward, 2008: 20; West, 2008: 6) com
os objetivos políticos, criando um claro desfasamento entre ambos.
O elevado número de fatores ligados entre si faz com que a relação entre a política e a
estratégia seja problemática. A maioria deles está relacionada com questões de luta
política interna, fricção entre as lideranças políticas e militares, e com a mudança no
caráter da guerra e com a prevalência de conflitos, como a contrainsurgência,
estabilização e operações militares que envolvem atores não-estatais, que aumenta o
peso da ação política através do emprego de forças militares. Este ambiente, coloca as
principais potências ocidentais perante a “ratoeira da hegemonia” (Travis, 2018: 69-70)
em que os estrategistas e os políticos enfrentam situações complexas, ambíguas, incertas
e paradoxais. Ambientes como o da contrainsurgência exigem soluções “20 por cento
militares e 80 por cento políticas” (Galula, 2006: 62-63).
A luta pelo poder e as dinâmicas político-militares em situação de conflito conformam a
lógica clausewitziana da finalidade política da guerra. O decurso da conduta estratégica
da guerra ao nível político-militar tem servido também para a luta política interna e para
satisfazer a opinião pública. A evidência demonstra que as forças políticas internas são
um fator disruptivo em situação de conflito (Hooker R. D., 2013). Tal como referimos
que as decisões de mudança de estratégia no Iraque e Afeganistão com Bush e Obama
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tiveram em conta considerações políticas internas, também Blair estava mais preocupado
com as eleições do que em alcançar o sucesso no Afeganistão (Elliot, 2015: 124). Em
democracia, a liderança política exerce a sua função estratégica na guerra, não tanto
pela consecução dos objetivos políticos, mas pela manutenção ou obtenção do poder. É
neste ponto que existe a maior fricção entre o domínio político e o domínio militar, que
Dimitriu (2020) denomina como “desconexão político-militar”, resultante do
desenvolvimento da política contemporânea, típica das democracias ocidentais, em que
intervêm factores como a dificuldade em distinguir paz e guerra, sucesso e insucesso,
personalidades envolvidas e sua experiência, impacto dos meios de comunicação,
necessidade de envolver vários ministérios na ação estratégica, participar em coligações
e alianças, ou grau de controlo civil sobre a instituição militar. Se a guerra é a variável
dependente da política, quando esta muda também muda a guerra. Assim, também a
estratégia militar, como variável interveniente para atingir o sucesso do emprego da
força militar, tem de mudar. Por essa razão, considera-se que o alargamento do conceito
à teoria do sucesso serve esse objetivo, embora se deva considerar os fatores resultantes
da dinâmica das relações civis-militares para lhe garantir a coerência instrumental.
3. As Relações Civis-Militares: Coerência e Estabilidade da Relação entre
Política e Estratégia Militar
As relações civis militares descrevem a relação entre os militares, as instituições e a
população que servem, como comunicam, como interagem e como se regula a sua
ligação. O diálogo é desigual (Cohen, 2002: 263) e o controlo civil é utilizado pelo nível
político para exercer a sua autoridade sobre as forças armadas (Hooker J. R., 2011).
Neste texto, tem especial relevância compreender os processos de relacionamento civil-
militar ao nível político-estratégico para determinar a linha que separa as respetivas
responsabilidades e onde se sobrepõem, que dinâmicas existem na assessoria estratégica
por parte do chefe militar e que influência tem aquele relacionamento na eficácia das
operações. O diálogo entre militares e políticos é desigual, mas o seu estudo está na
base do que é a estratégia militar (Cohen, 2002: xii, 263), sendo uma questão essencial
da política do Estado.
A combinação do padrão das relações civis-militares e a conduta das operações tem
influência direta para a eficácia militar em proveito da política. Em última análise, o teste
às relações civis-militares é o contributo que tem para a estratégia militar, especialmente
no staffing, conceção e implementação. Em relação aos Estados Unidos da América, mais
de vinte anos após o final da Guerra Fria, o sucesso militar não se tem traduzido em
sucesso estratégico, porque se assiste a um “declínio da compencia militar em relação
ao planeamento estratégico” (Kohn, 2008: 73, 76).
A teoria normal” das relações civis-militares, baseada em Huntington, considera que o
corpo de oficiais é composto por militares cujo profissionalismo exige a separação clara
entre a perícia militar e domínio político (Huntington, 2000: 7). A principal função do
oficial é a gestão da violência, planeamento militar, organização e emprego da força, mas
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não a sua aplicação (Huntington, 2000: 7-18)
3
. O controlo objetivo assegura o domínio
civil sobre as forças armadas, que pretende que os militares sejam politicamente neutros
ou apolíticos (Cohen, 2002: 243). Por outro lado, a integração dos militares na sociedade
e a inserção do nível político nos assuntos de segurança e defesa garante à liderança civil
o controlo subjetivo (Huntington, 2000: 83-84). O controlo objetivo permite que os
militares se foquem nos assuntos operacionais, deixando a política para a liderança civil
(Huntington, 2000: 308). A separação que Huntington faz dos dois domínios parece
indicar um distanciamento entre violência e política, o que afeta a conceção e a execução
da estratégia (Nielsen & Liebert, 2021: 738). Aquela separação contradiz o papel que
Clausewitz (1984: 112) atribuía ao comandante-chefe, simultaneamente general e
político. O combate não é a simples utilização da força bruta para alcançar a vitória
militar, mas poder coercivo ao serviço de um estado final político que muitas vezes passa
pela negociação. A liderança civil e a militar devem garantir que os desafios resultantes
da relação dos domínios político, estratégico e operacional sejam integrados num todo
coerente (Barsuhn, 2022: 5, 9).
O nosso ponto é o de que a distinção entre política e estratégia militar não existe em
situação de crise ou guerra, fazendo com que a consciência política dos militares seja
fator inestimável para o sucesso (Nielsen & Liebert, 2021: 734). A autonomia operacional
dos militares proposta por Huntington infringe a máxima de Clausewitz de que a guerra
é uma extensão da política e não assegura que o profissionalismo resulte em melhores
decisões. Em contraste com a abordagem dicotómica de Huntington, Morris Janowitz
propõe uma aproximação mais pragmática, enfatizando a ligação à sociedade. Tal como
Huntington, Janowitz (1960: viii) considera o controlo objetivo como essencial na relação
com o poder político. Contudo, a sua aproximação requer oficiais com competências
sociopolíticas, sem tomar parte ativa na política interna, mas com sensibilidade às
questões políticas (Roennfeldt, 2019: 62). Esta abordagem é compatível com os valores
democráticos e com o controlo político que impedem a tensão entre os domínios civil e
militar e evita o autoritarismo militar (Janowitz, 1960: 439-440). Janowitz a esfera
militar e a esfera política integradas, em que os oficiais operaram em ambas. Os civis e
os militares, mesmo ao mais baixo escalão de comando devem cooperar para alcançar a
dissuasão estratégica, gerir crises e a resolver conflitos. Em conflitos como o Vietname
ou a Somália, é requerido aos oficiais que atuem fora do quadro convencional (Cohen,
2002: 258-259), porque as dinâmicas sociopolíticas ligadas às operações militares
mudam o contexto do emprego da força (Roennfeldt, 2019: 63).
Apesar da divisão de responsabilidades entre o domínio político e o militar ser apelativa,
em conflito as suas considerações não podem ser separadas. Os militares devem
participar de forma ativa nos processos de decio estratégica dos Estados, em que
considerações políticas internas e externaso determinantes. Porque as ões militares
são, em última instância, julgadas pelos resultados políticos, a separação proposta por
Huntington é questionável (Travis, 2017; Travis, 2018; Roennfeldt, 2019). Nenhuma
decisão em guerra acontece sem a interferência das entidades civis, a quem qualquer
Constituição democrática atribui a responsabilidade da segurança nacional e
3
A “aplicação” refere-se à decisão política, enquanto o “emprego” se refere à condução das operações
militares. A descrição da especificidade da profissão militar é efetuada no capítulo 1 do livro, entre as
páginas 7-18.
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responsabilidade sobre a liderança militar que gere, administra e lidera as forças
armadas. Quando a relação funciona, o resultado é o alinhamento entre o interesse
nacional, os objetivos políticos, a estratégia militar e as operações militares. Quando a
relação não funciona, a estratégia militar e a política deixam de fazer sentido (Khon,
2008: 71). O Iraque é um claro exemplo da importância das relações civis-militares na
eficácia da estratégia militar. Apesar da vitória militar e da inabilidade estratégica de
alguns generais norte-americanos (Strachan, 2006: 63), muitos dos problemas no
período pós-Saddam foram essencialmente devidos à fricção e ineficácia das relações
civis-militares, especialmente com Rumsfeld. Este parecia ter uma agenda de
confrontação direta com os generais da Administração Clinton e que achava que o Joint
Chiefs of Staff era inútil (Brooks, 2008: 226-255).
A liderança política escolhe os comandantes militares com quem discute os objetivos e
as opções para assegurar que a estratégia militar é o resultado de um processo de debate
resultante de uma “teoria do sucesso”. Isto parece não ter acontecido no planeamento
da invasão do Iraque, onde não houve diálogo contínuo ao nível estratégico-militar nem
a atenção devida com o planeamento do período pós-Saddam. Para além da crispação
criada por Rumsfeld, a liderança militar também não conseguiu estabelecer a ligação
entre a política e as ões no terreno, devido ao seu foco no combate e na vitória militar
tática. A substituição de Rumsfeld por Robert Gates amenizou o ambiente na Defesa e
no Departamento de Estado, mas a inaptidão dos comandantes militares em preparar a
contrainsurgência que se seguiu manteve a tensão entre Washington, o Pentágono e os
comandantes no terreno (Hoffman, 2008: 229).
Nas democracias, o controlo civil é subalternizado pela eficácia estratégica por ser um
domínio onde as relações são menos estruturadas e onde há muitos fatores
intervenientes (Hoffman, 2008: 218). Perceber as responsabilidades de cada um na
formulação estratégica, na tomada de decisão e na supervisão da implementação está
no centro da prática da estratégia militar. Conforme Cohen (2002) deduz, o estadista de
sucesso não aceita linhas divisórias na responsabilidade, nomeia e demite comandantes,
e refina as estratégias para alcançar os objetivos políticos. Todavia, a conceção
estratégica não se pode focar apenas na mestria do der político. O processo exige
também que a liderança militar tenha a coragem moral de fazer as questões devidas
sobre os objetivos militares e informar sobre os riscos dos planos, porque a ligação entre
objetivos e meios é bidirecional e interativa (Rapp, 2015: 20-25; Echevarria II, 2007:
85-97). Um exemplo do diálogo que deve existir é o do caso da solicitação de aprovação
do Pentágono para o reforço do teatro do Afeganistão no início de 2009. Obama, apoiado
por Colin Powell, iniciou uma ronda de discussões com o seu staff e com o Pentágono até
se assegurar que o reforço cumpria os objetivos políticos mais amplos do que a derrota
militar dos Taliban. Apesar de não ter recebido opções estratégicas para além do reforço
militar, Obama liderou uma estratégia com os meios e com os objetivos definidos por si
(Elliot, 2015: 226-227).
A estratégia militar é o produto do diálogo entre políticos e militares, e a sua essência,
ser instrumental, é o resultado da harmonização dos dois e não a sujeição de nenhum
deles (Strachan, 2013: 12, 78), como parece ter acontecido entre o general Sanchez e
Paul Bremer no Iraque, cada um deles a advogar um domínio próprio sem permitir
interferências (McColl, 2013: 113). Se a guerra é política e o sucesso é definido em
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termos políticos, então o militar está sempre ligado à política. Alcançar o sucesso requer
uma apreciação das condições políticas e a habilidade para inovar para as alcançar é tão
importante como pensar criticamente, ser criativo e obter a iniciativa em combate (Clark,
2016: 37). A política é o processo natural das democracias que envolve a arte de
controlar, proteger, apoiar e governar uma sociedade. Esta atividade inclui também a
obtenção e a manutenção do poder. O militar está envolvido nos assuntos políticos na
mesma medida em que a política intervém nos assuntos militares. Não há como abdicar
ou escapar da vida política, tal como definido por Janowitz (1960: 12-13) que considera
que oficial não deve ser um mero “técnico militar”, especialmente ao nível da “liderança
estratégica”, mas um interveniente direto na política interna, como estrategista, e na
política externa, como estrategista e estratega. A necessidade de compreender as
dinâmicas políticas que influenciam a guerra e a estratégia militar releva o facto de, ao
mais alto nível, a arte da guerra se tornar em política, e o comandante-chefe dever estar
com ela familiarizado (Clausewitz, 1984: 607, 146).
A lógica da guerra e da política mantêm a relevância na sua relação. As atuais campanhas
militares refletem a imersão do contexto sociopolítico nas operações com todas as
complexidades da política a serem traduzidas em constrangimentos, restrições e
desalinhamentos evidenciados até ao mais baixo escalão. A guerra, como variável
dependente da política, e a estratégia militar como variável interveniente, refletem essa
ligação. um aprofundamento do conhecimento da política contemporânea e as suas
implicações nas operações militares pode restabelecer a sua coerência teórica e prática
(Dimitriu, 2020: 672).
Conclusões
O desfasamento entre a política e a estratégia militar resulta da combinação de um
elevado número de fatores existentes no domínio civil-militar que afetam a prática da
estratégia, para além do efeito resultante da natureza da guerra. Embora a teoria defina
a linha que separa as responsabilidades do domínio civil do domínio militar, a prática da
estratégia militar indica que em situação de conflito as duas estão em ligação permanente
e se confundem. Esta asserção é particularmente importante nas democracias, embora
não lhes seja exclusivo, em que o diálogo desigual entre a liderança política e a liderança
militar não pode ser obstáculo ao diálogo franco, claro e honesto em que o nível político
prevalece. Em conflitos como o Iraque e o Afeganistão, guerra e política estiveram ainda
mais interligadas do que a teoria da estratégia parece pressupor. A guerra, como variável
dependente da política, assume variações imprevisíveis resultantes da sua natureza e da
influência da política. O que se evidencia do Iraque e do Afeganistão não é o resultado
de uma mudança da natureza da guerra, mas o reflexo da política contemporânea, em
especial do resultado das suas dinâmicas internas. Fatores como ação e luta política
interna, fricção entre lideranças políticas e militares, assimetria entre tempos políticos e
militares, adicionam um grau de complexidade à incerteza característica da natureza da
guerra que incrementa o desfasamento natural entre a política e a ação militar. O cerne
da prática da estratégia está em perceber as responsabilidades de cada um na sua
formulação, na tomada de decisão e na supervisão da implementação. É daqui que deriva
a natureza instrumental da estratégia militar, cujo objeto é a aplicação da força militar.
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Não compreender esta relação torna quase impossível avaliar o ambiente de incerteza e
de caos resultantes da natureza violenta do emprego de forças militares.
A estratégia, como variável interveniente na relação entre guerra e política, deve assumir
uma conceitualização que obrigue os seus praticantes a uma construção encadeada de
ações e resultados que levem ao sucesso. De pouco serve ter definições de estratégia
que não tenham relação direta com a prática e que não exijam criatividade. Esta é a
razão pela qual se assume como meritória a definição de J. Meiser como “teoria do
sucesso” e que se valoriza as relações civis-militares, por ser nesse domínio que se geram
fricções na conceção e implementação da estratégia que contribuem para aumentar o
desfasamento natural resultante da ação dos vários níveis da guerra. O papel da liderança
estratégico-militar na gestão da violência é debater a formulação e implementação dos
planos estratégicos com a liderança civil para que se apoie a sua decisão, para cuja
função necessita de ser competente no domínio da política, embora sem ser partidário.
Se a guerra é política e o sucesso é definido em termos políticos, então o militar está
sempre ligado à política. As operações militares exigem a compreensão do ambiente
político, que é essencialmente relevante nas operações de baixa intensidade, mesmo aos
mais baixos escalões, porque a ação militar do soldado é ação política. Planos vencedores
dependentes de vantagem esmagadora em recursos não são resultado da estratégia de
sucesso.
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