A discrepância verifica-se sobretudo pela não observação dos requisitos ideais para
implementar a RSS, nos ambientes de conflitualidade contemporânea. Estes requisitos
apontam, nomeadamente, para: i) condições mínimas de segurança; ii) planos e
estratégias definidas, acordadas por todas as partes e alinhadas com os doadores, iii)
estruturas de representação e garantida a inclusividade da sociedade civil e não
estruturas paralelas dos consultores e militares estrangeiros que decidem e conduzem a
reforma; iv) haja recursos e meios disponíveis; v) a duração das atividades da RSS
considere o longo prazo e sujeitas a vi) uma monitorização e avaliação eficaz (Sedra,
2018). De forma geral, estas condições não existem e têm de ser construídas
gradualmente, em ambientes inseguros onde tudo tem que se fazer ou refazer.
A falta desses requisitos está muito ligada aos dilemas e desafios subjacentes à
intervenção externa nos conflitos, nomeadamente, à avaliação insuficiente do contexto
e à tensão existente entre as atividades de PB, ao processo de paz, à reconciliação e
representatividade dos vários atores internos em sistemas transitórios de governação,
processos de justiça transitória, etc.. Por outro lado, esbarra também na realidade das
medidas de “State-building” (SB), visível na construção de instituições capazes de
assumir progressivamente as funções do estado de per si, sem a presença externa ou
onde esta é segregada de forma estratégica pelas dinâmicas do poder em exercício. A
gestão destes processos cifra-se muito no grau de transição da autoridade e da ação
para o governo e instituições locais e no impacto da aceitabilidade da população do
Estado ou região intervencionada, cujo contexto assenta em arranjos políticos formais e
informais com dinâmicas de poder, que importa observar, conhecer e operacionalizar
(Paris & Sisk, 2009; Menocal, 2015; Khan, 2017; Woodward, 2017; Henningsen, 2022;).
Segundo Sedra (2017) a melhoria do presente e sobretudo o futuro da RSS aponta para
modelos específicos seguindo três escolas de pensamento: i) A escola monopolista, que
defende instituições capazes de garantir o monopólio da força. A insuficiência de recursos
de doadores, coordenação, capital político e tempo são os responsáveis pela falha, mas
que se resolvidos, entendem os defensores, traria o êxito (Andersen, 2011). ii) A escola
"boa o suficiente" que promove não uma réplica do Estado ocidental, mas sim um Estado
"bom o suficiente" de critérios mínimos do estado weberiano, cariz institucionalista, neo-
liberal, onde o construtivismo já influencia. Focado no contexto, com programas de cariz
incremental, iterativo e adaptativo, em intervenções de curto e médio prazo, para
impulsionar a reforma das instituições, através de medidas provisórias de estabilização,
conforme Colletta & Muggah (2009), é uma abordagem pragmática, politicamente
sensível, que vai reconhecendo os défices e corrigindo o rumo para um estado final de
cariz liberal e, nominalmente, democrático. iii) A escola “híbrida”, a mais radical e
transformadora das três escolas, considera que o estado weberiano de orientação liberal
está longe da realidade, na maioria dos ESF. O hibridismo, envolvendo as realidades
políticas locais, considera que o projeto de paz liberal minimiza "o espaço disponível
para abordagens indígenas e tradicionais, uma gama difusa da autoridade informal e não
estatal” no terreno que não deve ser ignorada. O problema atual, é a rigidez do modelo
estatal e a perspectiva apolítica, que ignora a dinâmica de poder local e deve ser mais
sintonizada com as realidades locais. A RSS da escola híbrida é a menos normativa,
menos centrada no Estado, prevê acordos de co-governança, de caráter permanente,