OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025
71
O CIBERESPAÇO COMO CENÁRIO DE SEGURANÇA E DEFESA FACE ÀS
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
HELDER FIALHO JESUS
hmfj2009@gmail.com
Comandante da Marinha portuguesa, na reserva, com mais de trinta anos de experiência. Serviu
embarcado em várias classes de navios, especializado em Comunicações e Guerra
Eletrónica, com uma Pós-graduação em Sistemas de Informação, é auditor da Defesa
Nacional e é o Vice-Presidente do Observatório dos Ecossistemas e Infraestruturas
Digitais, OEID (Portugal). Foi o coordenador da Área da Marinha, no Instituto
Universitário Militar (IUM) (2020-2023); Chefe do Centro de Ciberdefesa das Forças
Armadas (2017-2020), primeiro representante nacional no Steering Committee do NATO
Cooperative Cyber Defence Centre of Excellence (CCDCOE), na Estónia; e Chefe da
Divisão de Comunicações e Sistemas de Informação do Comando Naval e Director do
Centro de Comunicações, de Dados e de Cifra da Marinha (2015-2017). Tem uma
comissão na NATO, no SHAPE - Bélgica (2009-2012), na área das Comunicações e
Sistemas de Informação para as Operações Militares.
Resumo
Nos últimos anos, o ciberespaço tem-se consolidado como um elemento em destaque nas
relações internacionais e na segurança global. Ao ser um componente fundamental na
profunda interdependência da sociedade e com uma natureza dinâmica e sem fronteiras
físicas, o ciberespaço desempenha um papel central em diversas dimensões da vida
contemporânea, incluindo a gestão de crises climáticas. Neste contexto, as interseções entre
cibersegurança, defesa nacional e alterações climáticas emergem como áreas importantes
para políticas públicas e estratégias nacionais e internacionais, às quais os recentes
desenvolvimentos em inteligência artificial vieram trazer soluções e complexidade.
Palavras-chave
Cibersegurança, tecnologia, resiliência, ciberataque, inteligência artificial.
Abstract
Recently, cyberspace has established itself as a prominent element in international relations
and global security. Cyberspace, a fundamental component in the deep interdependence of
society, plays a central role in several dimensions of contemporary life, including the
management of climate crises. In this situation, the areas where cybersecurity, national
defense, and climate change meet seem to be crucial for national and international public
policies and strategies. New developments in artificial intelligence have added both ease and
complexity to these areas..
Keywords
Cybersecurity, technology, resiliency, cyber-attack, artificial intelligence.
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
72
Como citar este artigo
Jesus, Helder Fialho (2025). O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações
climáticas. Janus.net, e-journal of international relations. VOL15 N2, TD3 Dossiê Temático
Clima e Segurança. Abril de 2025, pp. 71-87. DOI https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT0225.4.
Artigo submetido em 8 de março de 2025 e aceite para publicação em 23 de março de
2025.
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
73
O CIBERESPAÇO COMO CENÁRIO DE SEGURANÇA E DEFESA FACE
ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
HELDER FIALHO JESUS
“People everywhere are hoping for a future of peace, dignity, and prosperity.”
António Guterres, Opening remarks to the summit of the future, New York, 22 September 2024
O papel do ciberespaço no contexto das alterações climáticas
As alterações climáticas são um processo global multifacetado, caracterizado por
alterações substanciais nos padrões climáticos e nas temperaturas ambiente durante
períodos prolongados, induzidas principalmente pelo aumento de gases com efeito de
estufa e pelo esgotamento dos recursos naturais. O aquecimento global resultante e os
fatores de risco associados têm repercussões extensas e complexas, afetando
significativamente a sociedade, sendo as alterações climáticas amplamente reconhecidas
como uma das maiores ameaças globais do século XXI (Nações Unidas, s.d.). O Acordo
de Paris, de 2015, constitui-se como uma referência visando limitar o aquecimento global
e fazer face aos respetivos impactos, vinculando juridicamente os seus signatários a
agirem para combater as alterações climáticas (Conselho Europeu, 2024). Eventos
climáticos extremos, como furacões, inundações e secas prolongadas, têm-se
intensificado, colocando em risco populações, ecossistemas e infraestruturas críticas. O
ciberespaço, por sua vez, oferece ferramentas essenciais para a gestão e mitigação
desses impactos. Com a implementação de sistemas digitais consegue-se fazer a recolha
e análise de dados meteorológicos, a monitorização de desastres naturais em tempo real
e a coordenação de respostas rápidas e integradas. De acordo com o World Economic
Forum (WEF) seis tecnologias o críticas para a adaptação ao clima, sendo elas a
inteligência artificial, os drones, a observação da Terra, a computação avançada, a
Internet das Coisas e a realidade virtual e aumentada (Masterson, 2024).
Entretanto, essa dependência de tecnologias digitais torna as nações vulneráveis a
ciberataques. Assim, as infraestruturas críticas, como as redes elétricas, os sistemas de
abastecimento de água e as plataformas de comunicação, podem ser alvo de sabotagem
durante crises climáticas, agravando os impactos desses eventos. A convergência entre
o ciberespaço e as alterações climáticas exige, assim, uma abordagem integrada que
contemple tanto a mitigação dos riscos ambientais quanto a proteção contra ameaças
digitais ou físicas. E aqui, o conceito Proteção, Segurança e Defesa (PSD) tem a sua
aplicabilidade, ao adotar uma visão holística para a proteção física das Infraestruturas
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
74
críticas, para a segurança dos seus sistemas, dados e informação, bem como na sua
defesa contra agentes externos (Jesus, 2023).
Cibersegurança e alterações climáticas: novos paradigmas
A compreensão das três camadas características do ciberespaço
1
é fundamental para
estruturar as análises a este ambiente. No presente contexto, a segurança no ciberespaço
envolve a proteção, a segurança e a defesa de infraestruturas estratégicas que sustentam
as sociedades modernas. Num cenário de alterações climáticas, a segurança nacional
enfrenta desafios adicionais, na medida em que as crises ambientais podem ser
exploradas por atores mal-intencionados, estatais ou não estatais. No entanto, não existe
uma relação causal direta entre as alterações climáticas e a cibersegurança (Shea, 2023),
podendo sim, haver um aproveitamento por cibercriminosos de situações criadas pelas
alterações climáticas, com preocupações na área financeira já notadas (Aspinall, s.d.).
Por exemplo, uma disrupção que surja durante um furacão pode interromper sistemas
de energia e comunicação, dificultando os esforços de socorro (camada física e lógica).
Além disso, a desinformação disseminada nas redes sociais pode minar a confiança
pública nas autoridades e nas medidas adotadas, comprometendo ainda mais a
capacidade de resposta (camada semântica), naquilo que Thiago Braga considera como
“crise informacional global e outras crises interconectadas (como a ambiental, a
geopolítica e a guerra) que formam uma espécie de policrise” (Agência Gov, 2024).
Para mitigar esses riscos, é importante o investimento em sistemas resilientes e seguros
e aproveitar os desenvolvimentos tecnológicos, como por exemplo os seis acima referidos
pela WEF para reforçar a proteção de dados, da informação e prever padrões de disrupção
intencional. Por sua vez, o Chefe da Defesa das Forças Armadas Holandesas, General
Tom Middendorp, no seu livro The Climate General- Stepping up the fight”, apresenta a
ligação entre as alterações climáticas e a segurança global e o seu efeito na sociedade,
tanto do ponto de vista da defesa nacional como da cibersegurança (Middendorp e
Campen, 2023).
O relatório que a AXA publica anualmente relativo aos riscos (Axa, 2024) mostra que as
alterações climáticas estão no topo das preocupações desde o relatório de 2021, onde as
preocupações com a cibersegurança e a instabilidade geopolítica vão alternando de ano
para ano, conforme figura abaixo, mostrando a importância destes temas.
1
Três camadas: Física, lógica e semântica. Cyberspace Operations, Joint Publication 3-12
https://irp.fas.org/doddir/dod/jp3_12.pdf https://irp.fas.org/doddir/dod/jp3_12.pdf
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
75
Figura 1 - Evolução da percentagem de seleção dos principais riscos por parte dos especialistas
(2018-2024)
Fonte: AXA Future Risks Report 2024
Alterações climáticas como multiplicador de ameaças no Ciberespaço
As alterações climáticas atuam como multiplicadoras de ameaças ao intensificar as
tensões sociais e económicas em diferentes regiões. Secas prolongadas, escassez de
recursos hídricos e deslocamentos populacionais em massa criam cenários propícios para
conflitos. No ciberespaço, esses cenários são ampliados pela possibilidade de
manipulação de informação (camada semântica), espionagem (camada lógica) e ataques
a sistemas críticos (camada lógica e física).
As alterações climáticas já fazem parte da agenda da área da defesa (JRC, 2023). Por
sua vez, as Forças Armadas de diversos países já reconhecem o impacto das alterações
climáticas no contexto da sua defesa, com o estabelecimento de procedimentos de
interagência ao mais alto nível (DOD, 2016). Por outro lado, alterações climáticas
originando crises humanitárias obrigam a uma grande mobilização de recursos logísticos
e tecnológicos, pelo que o ciberespaço é um elemento indispensável para prever, planear
e executar atividades em contextos de alta complexidade. Nesse sentido, o International
Military Council on Climate and Security (IMCCS) pode constituir-se como um exemplo,
ao ser uma rede de líderes militares visado apoiar a elaboração de políticas com
implicações de segurança num contexto de alterações climáticas.
No caso dos EUA, é assumido que as missões e operações do Departamento de Defesa
(DOD) são negativamente afetadas pelas alterações climáticas através da amplificação
das exigências operacionais da força, da degradação das instalações, infraestruturas e
sistemas e do aumento dos riscos para a saúde dos militares e civis envolvidos (DoD,
2024). O setor da defesa é composto por mais de 200.000 empresas e agências (GAO,
2022), e cada uma desempenha naturalmente um papel importante na sensibilização
para as alterações climáticas e na cibersegurança por detrás de sistemas críticos. Assim,
ao serem implementadas medidas de cibersegurança para proteger as energias
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
76
renováveis, a monitorização climática e a análise de dados, reconhece-se a dificuldade
das ameaças, cuja complexidade aumenta com as alterações climáticas. O planeamento
estratégico envolve a realização de análises completas dos riscos climáticos para
compreender os potenciais impactos nas estratégias de defesa e integrar as
considerações climáticas em todos os níveis de planeamento.
Apesar de serem domínios separados, o ciberespaço e a atmosfera apresentam
problemas análogos de sobre-exploração, dificuldade de aplicação da lei e obstáculos
relacionados com a inação coletiva e o comportamento de aproveitamento (Shackelford,
2020). As alterações climáticas são um problema global, caracterizado por alterações nos
padrões climáticos, aumento do nível do mar e temperaturas projetadas que ultrapassam
os 1,5 graus Celsius até 2100. No entanto, as suas vantagens são amplamente
distribuídas, enquanto os seus prejuízos são frequentemente concentrados. Da mesma
forma, uma parte significativa das despesas associadas aos ciberataques está
concentrada em poucos países, enquanto outros estão a emergir como santuários para
os cibercriminosos. No entanto, também é verdade que as atividades realizadas por
vários indivíduos em pequena escala podem influenciar tanto a questão das alterações
climáticas globais como o avanço de uma cultura mundial de cibersegurança.
Cooperação internacional e resiliência digital
A colaboração em matéria de cibersegurança e de conservação ambiental exige vários
tipos de ligações, como as que existem entre governos, agências de segurança pública e
as partes interessadas (Cassotta & Pettersson, 2019). Estas várias modalidades de
cooperação podem manifestar-se como cooperação bilateral, exemplificada pelos acordos
multilaterais de auxílio jurídico mútuo, cooperação bilateral informal, como contactos
policiais individuais, ou cooperação multilateral formal, como se verificou no Conselho da
Europa, com a Convenção Europeia sobre Cibercrime, vulgarmente designada por
“Convenção de Budapeste”
2
. Tanto na cibersegurança como nas estruturas de proteção
ambiental, a obrigação de cooperar, enquanto princípio fundamental do direito
internacional, é pertinente, particularmente no contexto dos bens comuns globais, que
tem em Elinor Ostrom, Prémio Nobel da Economia em 2009, a sua grande referência.
Um exemplo ilustrativo de um acordo multilateral é a Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar (CNUDM), que constitui a moldura jurídica de referência do direito
internacional do mar contemporâneo, onde que a necessidade de cooperação é articulada
no seu artigo 197.º.
3
Mas já em 2008, na “Declaração para o futuro da economia da internet”, mais conhecida
por “Declaração de Seul
4
, as preocupações com a cibersegurança, as alterações
climáticas e a importância da cooperação estavam presentes, ao ser referido que
importava promover os objetivos estabelecidos nessa Declaração, através da cooperação
2
Convenção aprovada pela Resolução da Assembleia da República n.º 88/2009, de 15/09; e ratificada pelo
Decreto do Presidente da República n.º 91/2009, de 15/09. Disponível em
https://www.ministeriopublico.pt/instrumento/convencao-sobre-o-cibercrime-0
3
A convenção estabelece um regime jurídico para os mares e oceanos, definindo regras aplicáveis a todas as
utilizações dos oceanos e respetivos recursos. Disponível em https://eur-lex.europa.eu/PT/legal-
content/summary/united-nations-convention-on-the-law-of-the-sea.html
4
Declaration for the Future of the Internet Economy (The Seoul Declaration) (2008), disponível em
https://legalinstruments.oecd.org/public/doc/113/113.en.pdf
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
77
entre múltiplos stakeholders, e a necessidade de se identificar o impacto da Internet e
das TIC no combate às alterações climáticas, bem como na melhoria da eficiência
energética. Ainda sobre a cooperação, foi realçado que se deveria aumentar a cooperação
transfronteiriça entre os governos e as autoridades responsáveis pela aplicação da lei
nas áreas da melhoria da cibersegurança, do combate ao spam, bem como da proteção
da privacidade, dos consumidores e dos menores.
Mais recentemente, a “Declaração para o futuro da internet”
5
, publicado pelo
Departamento de Estado dos EUA e por mais de 60 países signatários e parceiros, em
abril de 2022, refere que a tecnologia desempenha um papel fundamental na “luta contra
as alterações climáticas globais”, o que torna a proteção da tecnologia ainda mais
urgente, onde a cibersegurança será fundamental. Igualmente aqui é referido que se
deve “cooperar para maximizar os efeitos facilitadores da tecnologia no combate às
alterações climáticas e na proteção do ambiente, reduzindo ao máximo a pegada
ambiental da Internet e das tecnologias digitais”. Por sua vez, a cooperação deveria ser
estendida em matéria de investigação, inovação e definição de normas, e reafirma o
compromisso com a estrutura de comportamento estatal responsável no ciberespaço,
tendo em vista combater o cibercrime e impedir atividades maliciosas no ciberespaço.
Por sua vez, a interdependência global no ciberespaço requer soluções coletivas para
desafios comuns. Pelo impacto que as alterações climáticas têm na sociedade, as
governanças do ciberespaço e climáticas devem ser pensadas de forma coordenada,
reunindo esforços de governos, sociedade civil, setor privado e organizações regionais
entre outros, conforme decorreu da cimeira do Futuro das Nações Unidades em setembro
de 2024 (United Nations, 2024). A colaboração entre partes e iniciativas como parcerias
público-privadas e tratados internacionais podem ajudar a definir normas para o uso
ético e seguro do ciberespaço em contextos de alterações climáticas, ajudando à sua
governação (Sol, 2024). Além disso, é fundamental promover a educação e
conscientização sobre segurança digital e sustentabilidade ambiental. Uma população
mais informada e preparada é menos vulnerável a desinformação e ciberataques,
contribuindo assim para a confiança nas instituições e para sociedades mais resilientes
(OECD, 2021).
Compromissos de sustentação tecnológica
De notar ainda que existem várias semelhanças entre os desafios representados pelas
alterações climáticas e a cibersegurança, as quais requerem mudanças
comportamentais, investimento em inovação, regulamentação rigorosa e colaboração
entre setores e interesses, conforme é apresentado por Barbara Maigret (2022). Ao fazer
o paralelismo entre as alterações climáticas e a cibersegurança, ela argumenta que
ambas são preocupações prementes para os governos, empresas e indivíduos. A
inovação é outra área onde estas questões críticas se cruzam. A tecnologia desempenha
um papel crucial ao ajudar a sociedade a reestruturar os sistemas e as infraestruturas
necessárias para alcançar e manter uma sociedade sustentável. Refere que a inovação
tecnológica verde em todos os setores é essencial para enfrentar o desafio global das
5
Declaration for the Future of the Internet (2022), disponível em https://www.state.gov/declaration-for-the-
future-of-the-internet
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
78
alterações climáticas. As fontes de energia renováveis, os transportes sustentáveis, os
processos de fabrico limpos, os edifícios ecológicos e os dispositivos com maior eficiência
energética desempenham um papel fundamental na entrega de um desempenho
ambiental consideravelmente melhorado.
De acordo com a World Meteorological Organization apenas 0,5 por cento da água da
Terra é água doce, verificando-se que as alterações climáticas estão a ter impacto nesse
abastecimento. Nos últimos vinte anos, o armazenamento de água terrestre incluindo
a humidade do solo, a neve e o gelo diminuiu a uma taxa de 1 cm por ano, com grandes
ramificações para a segurança hídrica (WMO, 2021). A dependência crescente das
sociedades do elemento digital, obriga naturalmente a um aumento de data centers
6
para
dar as respostas necessárias, as quais são cada vez mais exigentes em termos
tecnológicos como ambientais, onde a cibersegurança é um elemento preponderante
para a confiança. Relativamente às questões ambientais, verifica-se que o crescimento
destes centros tem impacto nas redes elétricas, nas emissões de gases com efeito de
estufa e nas grandes necessidades de água para efeitos de arrefecimento (McGrath e
Alamamos, 2024). No relatório ambiental de 2023 da Google, no que à água diz respeito,
é referido que os seus data centers consumiram 5,2 mil milhões de galões de água
durante 2023 (Google, 2023), correspondendo a cerca de 20 mil milhões de litros de
água. Isto representa uma média de aproximadamente 500.000 litros de água por data
center por dia (Melamedov, 2024), o que é muito significativo. No presente contexto de
alterações climáticas a inovação é fundamental para se encontrarem soluções criativas,
sendo fundamental a monitorização dos consumos de águas, pois apenas 50% dos data
centers o fazem. Outras soluções podem passar pela substituição dos seus sistemas
legados de arrefecimento de modo a reduzir os consumos de água e energia, na
localização dos data centers em regiões mais frias ou em zonas junto ao mar, tendo em
vista auxiliar o arrefecimento, reduzindo assim a necessidade de sistemas de
arrefecimento mecânico.
A relação entre desenvolvimento tecnológico, as alterações climáticas e
a cibersegurança
Interessante de notar que o WEF Global Risks Report 2025 (WEF, 2025) infere que a
cibersegurança, as alterações climáticas e o desenvolvimento tecnológico estão
interligados de rias formas, criando riscos complexos e interdependências,
enunciando-se por exemplo os ataques a infraestruturas críticas. As alterações climáticas
podem causar eventos climáticos extremos que danificam infraestruturas críticas,
tornando-as mais vulneráveis a ciberataques. Independentemente do tipo de
infraestruturas (energia, água, transportes), a interrupção de serviços essenciais
aumenta a dificuldade nos esforços de resposta a emergências. Por outro lado, são
também referidas a desinformação e a polarização social, as quais impulsionadas pelo
desenvolvimento tecnológico com novas plataformas digitais podem agravar as
tendências em torno das alterações climáticas, dificultando a implementação de soluções
eficazes. De referir, ainda, que a desinformação, está classificada em primeiro lugar nos
6
Os data centers são uma infraestrutura com um grande grupo de servidores de computador que
armazenam, gerem e processam dados.
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
79
“Riscos globais classificados por gravidade a curto e longo prazo”, num horizonte de 2
anos, decorrente da preocupação nos setores privado e do governo e no meio académico.
Um outro aspeto em alerta são os chamados avanços biotecnológicos, os quais,
impulsionados pela IA, apresentam oportunidades para mitigar as alterações climáticas,
mas também criam novos riscos. A utilização maliciosa da biotecnologia, facilitada por
ciberataques, pode ter consequências devastadoras para a saúde humana e para os
diversos ecossistemas da natureza. Como soluções são consideradas as respostas
multilaterais, que são essenciais para abordar os riscos das alterações climáticas e do
desenvolvimento tecnológico. Os tratados e acordos globais podem promover a partilha
de informação, a coordenação de políticas bem como a criação de normas para mitigar
estes riscos. Neste caso, seria necessário promover igualmente a literacia digital,
melhorar a responsabilização e a transparência, e investir em soluções tecnológicas. Por
fim, tendo em vista criar um futuro mais seguro e sustentável, é essencial a colaboração
entre os setores público e privado, a sociedade civil e o meio académico.
A inovação tecnológica pode mitigar o impacto adverso dos riscos advindos pelas
alterações climáticas no desempenho financeiro das empresas. Esta situação ficou
demonstrada num estudo de Zhao & Parhizgari (2024), numa análise aos dados de 46
países, num período compreendido entre 2011 e 2018, na relação entre inovação
tecnológica e alterações climáticas. Este estudo refere ainda que as empresas localizadas
em países com alta taxa de inovação demonstram uma maior confiança no futuro, o que
lhes permite estar menos preocupadas com o impacto das alterações climáticas, situação
esta que tem consequências diretas nas questões ligadas à cibersegurança.
A segurança face à Inteligência artificial nas alterações climáticas
A cibersegurança está intrinsecamente relacionada com a integração da IA, na transição
energética, uma vez que a crescente digitalização dos sistemas de energia torna-os mais
vulneráveis a ciberataques. Isto porque a IA pode ajudar a melhorar a segurança e a
estabilidade dos sistemas de energia, mas também pode ser alvo de ataques (Wang &
al, 2025). E podem apresentar-se algumas formas de relacionar a cibersegurança com a
transição energética impulsionada pela IA, nomeadamente porque os ciberataques
podem ter como alvo os algoritmos de machine learning, contornando os sistemas de
segurança de IA, sendo mais subtis e perigosos do que os ataques comuns. Por sua vez,
a interligação entre o ciberespaço e o mundo físico pode levar a ataques ou falhas que
se propagam de um domínio para outro, representando riscos significativos no mundo
real. Complementarmente, os riscos e perdas podem alastrar-se por vastas áreas e até
além-fronteiras. De acordo com este trabalho de Wang, entre 2011 e 2017, o setor
energético dos EUA sofreu mais de 400 intrusões e um outro estudo aqui referido
demonstra que o impacto de um ciberataque em grande escala na rede de energia de
Londres pode atingir 111 milhões de libras esterlinas, com possíveis perturbações na
eletricidade, caminhos de ferro, telecomunicações e água potável. Relativamente aos
métodos de ataque que visam especificamente os algoritmos de machine learning (ML)
existem várias técnicas, entre elas os ataques a Generative Adversarial Networks (GAN)
7
.
7
Generative Adversarial Network (GAN) - corresponde a uma arquitetura de deep learning, que treina duas
redes neurais para competirem entre si de modo a gerarem novos dados mais autênticos a partir de um
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
80
Ainda na vertente da transição energética é igualmente interessante a análise à aplicação
da IA e de machine learning em modelos energéticos e de alterações climáticas. Isto
porque exploram como estas tecnologias conseguem melhorar a previsão da procura
energética, a otimização das redes de distribuição e a manutenção de fontes de energia
renováveis. Como exemplo, Shobanke, Bhatt & Shittu (2025) fizeram uma análise de
como estas tecnologias têm apoiado e promovido os sistemas de gestão de energia e a
modelação das alterações climáticas, avaliando igualmente os desafios, as limitações e
as oportunidades da integração da IA nos sistemas energéticos, bem como o seu impacto
nas estratégias de mitigação das alterações climáticas. Aqui incluem-se estudos de caso,
modelos e conjuntos de dados para ilustrar os benefícios e as potenciais aplicações
futuras da IA nestes domínios.
A Inteligência artificial e a segurança dos dados nas alterações
climáticas
A IA oferece avanços significativos na ação climática e na cibersegurança, mas acarreta
riscos inerentes à segurança dos dados. A proteção de dados sensíveis, a implementação
de fortes medidas de cibersegurança e a consciencialização sobre as ameaças são cruciais
para uma utilização responsável da IA (UNFCCC, 2024). A falta de proteção de dados,
particularmente nos países em desenvolvimento, pode comprometer a confiança pública
e a eficácia das iniciativas baseadas em IA. A colaboração entre decisores políticos,
indústria e investigadores é essencial para o desenvolvimento de estratégias de
segurança adaptáveis, bem como para garantir que a IA contribui de forma segura para
a sustentabilidade ambiental global. A gestão de segurança da IA requer medidas de
proteção contra acessos não autorizados e atividades maliciosas, incluindo a identificação
de ameaças e o controlo de acessos.
A Segurança dos dados é uma preocupação, porque a utilização de IA para ação climática
envolve a recolha e a análise de grandes volumes de dados (Big Data), o que gera
preocupações significativas em relação à privacidade e segurança dos mesmos. Entre
estes destaca-se o risco de acesso não autorizado, a utilização ou exploração de
dados sensíveis (por exemplo, dados sobre uso do solo, práticas agrícolas, informações
comunitárias) que é real e pode comprometer a confiança pública. Um outro elemento
de alerta é a falta de estruturas robustas de proteção de dados, especialmente em países
em desenvolvimento, o que agrava este tipo de riscos. Relativamente à criação de efeitos
através de ciberataques, e uma vez que os sistemas de IA são suscetíveis a ataques de
data poisoning
8
, pode verificar-se uma alteração do comportamento dos sistemas de
determinado conjunto de dados. E designa-se de adversária porque treina duas redes diferentes, colocando-as
uma contra a outra. Assim, uma rede gera novos dados com base numa amostra de dados de entrada
modificando-os oximo possível. Por sua vez, a outra rede tenta prever se a saída de dados gerada pertence
ao conjunto de dados original (https://aws.amazon.com/what-is/gan/ ).
Deep learning - método de IA que ensina os computadores a processar dados inspirados no cérebro humano.
Os modelos de deep learning conseguem reconhecer padrões complexos em imagens, texto, sons e outros
dados para produzir insights e previsões precisas. É possível usar métodos de deep learning para automatizar
tarefas que normalmente exigem inteligência humana, como descrever imagens ou transcrever um arquivo de
som em texto (https://aws.amazon.com/what-is/deep-learning/ ).
8
Data poisoning - O envenenamento de dados é um ciberataque no qual os adversários alteram ou
comprometem os dados de treino utilizados para o desenvolvimento de modelos de IA e de ML. As redes
neuronais, os large language models e os modelos de deep learning dependem fundamentalmente da qualidade
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
81
forma imprevisível. Por outro lado, o armazenamento e processamento de dados por
sistemas de IA, se não for efetuado de forma cuidadosa e segura, pode expor informação
sensível a partes não autorizadas, tanto internas como externas às organizações, com
os problemas que daí podem advir.
Os dados relacionados com o clima devem ser geridos com a devida diligência. Os dados
devem ser adquiridos, processados e disseminados de uma forma que preserve a
confiança, mas respeitando adequadamente a privacidade e a segurança. Alguns dados
pertinentes relativos às aplicações climáticas podem ser significativamente sensíveis em
relação a questões de privacidade. Existe a preocupação de que o acesso ou a gestão
irresponsável de dados em projetos de IA relacionados com o clima possa corroer a
confiança na IA em setores específicos. Além disso, os ecossistemas de dados abertos
devem ser estruturados de forma a honrar as necessidades e os interesses das
comunidades das quais os dados têm origem, especialmente aquelas que foram
historicamente desfavorecidas ou menorizadas. E para isto, a aplicação de normas e
regras de cibersegurança é fundamental.
Importará ainda referir que a recolha de dados relevantes para o clima é diferenciada.
Isto porque a recolha de dados e a sua subsequente disponibilidade para algoritmos de
IA estão predominantemente concentradas naquilo que agora se chama o Norte Global
(Amiri & al, 2024). Assim, seria relevante que organizações internacionais considerassem
facilitar o desenvolvimento de processos de recolha de dados nos países de baixo
rendimento e no Sul Global, de modo a melhorar a distribuição geográfica dos dados.
Inteligência Artificial e riscos
Utilizar a IA traz riscos como preconceito, invasão de privacidade, vulnerabilidades de
segurança, preocupações de segurança e aumento das emissões de gases com efeito de
estufa (ICEF, 2023). Relativamente aos riscos relacionados com preconceitos no emprego
de IA para mitigações climáticas, estes envolvem o favorecimento de grupos específicos
devido a disparidades na acessibilidade dos dados. Os riscos relacionados com a
privacidade incluem violações ilegais de dados de terceiros, a identificação de pessoas e
questões de vigilância. Podem surgir vulnerabilidades de segurança à medida que os
sistemas de IA alargam a superfície de ataque aos cibercriminosos, para além do que
está presente nas aplicações de software tradicionais. Os riscos de segurança podem ser
significativos quando os sistemas de IA apresentam avarias ou produzem resultados
imprevistos. As emissões de gases com efeito de estufa provenientes de processos
computacionais de IA são atualmente mínimas substancialmente abaixo de 1% do
total global. São necessários procedimentos de recolha e avaliação de dados melhorados
para gerar uma estimativa mais precisa e com maior confiança. As projeções de emissões
e integridade dos dados de treino, que, em última análise, determinam as capacidades de um modelo. Estes
dados de formação podem ter origem em diversas fontes, entre elas a internet, bases de dados
governamentais, académicas ou empresariais e de fornecedores de dados externos. Os atores mal-
intencionados podem modificar subtil ou significativamente o comportamento de um modelo introduzindo
pontos de dados imprecisos ou enviesados (dados envenenados) nos conjuntos de dados de treino. A
adulteração de dados através de envenenamento pode resultar numa classificação incorreta dos dados,
diminuindo assim a utilidade e a precisão dos sistemas de IA e de ML. Além disso, estes ataques podem
representar ameaças significativas à cibersegurança, particularmente em setores como a saúde e os veículos
autónomos (https://www.ibm.com/think/topics/data-poisoning).
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
82
futuras de gases com efeito de estufa associadas à IA são pouco conhecidas. Em
determinadas circunstâncias, projeta-se que as emissões de gases com efeito de estufa
da IA diminuam nos próximos anos.
Inteligência Artificial e ambientes de segurança
A transversalidade dos assuntos de segurança e da IA é um elemento que estará cada
vez mais na ordem do dia. Neste sentido, é interessante de se ver o trabalho realizado
por Marie Francisco (2023), que fez uma análise ao papel da IA na segurança ambiental,
analisando como diferentes perspetivas de segurança moldam a sua implementação. A
autora examina como a IA se encaixa em discursos de segurança nacional, internacional,
humana e ecológica, com o potencial para a militarização, para a cooperação global e
para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da ONU, bem como
para a alteração das perceções do ambiente.
Começando pelo primeiro ponto, da segurança nacional, considera que IA é vista como
uma ferramenta para proteger os interesses do Estado em conflitos induzidos pelo clima,
incluindo o seu uso para fins militares e de desinformação. Utiliza a Rússia como um
exemplo de um país que utiliza a IA para semear instabilidade política nos seus
adversários através da "cyber-psychological warfare". Relativamente à segurança
Internacional considera que as organizações internacionais podem utilizar a IA para
atingir os seus ODS, sendo um exemplo a gestão de migrações internacionais. No
entanto, indica como potenciais impactos negativos no ambiente o facto de as empresas
transnacionais poderem recorrer à IA para acelerar a extração de recursos. A autora
considera ainda a situação da colaboração público-privada para fins militares, a qual
poderá dificultar os movimentos ambientais. Sobre a Segurança Humana, cujo conceito
é reconhecido pela primeira vez em 1994, no Relatório de Desenvolvimento Humano
publicado no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD
1994), Marie considera que IA pode ser vista como uma ferramenta para alcançar
igualmente os ODS. Exemplifica com a utilização de aplicações específicas no contexto
da análise dos dados para identificar a poluição da água, ou mesmo a utilização de
smartphones para diagnosticar doenças em culturas agrícolas. No entanto, alerta para o
risco de a IA incrementar as desigualdades, ou perpetuar os preconceitos de género e
criar dependências entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. O quarto e último
ponto refere-se à segurança ecológica, centrando o seu discurso na forma como a IA
molda a nossa compreensão do ambiente e como pode alienar-nos de outras visões do
mundo. A construção de "florestas inteligentes" e a utilização de dados em tempo real
podem esconder as implicações geopolíticas da construção e operação de sistemas de
IA. Critica ainda o "pensamento algorítmico" por apresentar o conhecimento como
objetivo e universal, marginalizando outras epistemologias.
Um olhar nacional sobre o tema
Portugal tem acompanhado a evolução das alterações climáticas, iniciando-se em 2004
com o Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC) (Schmidt, Delicado e
Junqueira, 2021), e através de políticas e instrumentos de política blica para a ação
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
83
climática, de âmbito nacional e local (ADENE, s.d.). A participação em iniciativas
internacionais, ao vel da ONU ou da EU, tem sido apanágio dos diversos governos,
sendo o exemplo a mais recente a Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações
Climáticas, mais conhecida por COP29 (GovRP, 2024), em Baku, Azerbeijão. No entanto,
foram os grandes incêndios de 2017, dos quais resultaram mais de uma centena de
mortos, que se constituíram como o despertar do país coletivamente para as alterações
climáticas, conforme referido na iniciativa Cinco décadas de Democracia”, quando foi
discutido o tema de “Como preparar Portugal para as alterações climáticas?” (FFMS,
2024). E neste contexto, podem ainda elencar-se os relatórios das comissões técnicas
independente a estes incêndios (AR, 2017 e AR, 2018) ao relevarem a evolução
tecnológica e a necessidade de sistemas de comunicações mais atuais e robustos para
as situações de emergência, onde o elemento de cibersegurança é fundamental para
garantir a confidencialidade, integridade e disponibilidade das redes. De notar também
no “Relatório Cibersegurança em Portugal - Riscos e Conflitos”, promulgado pelo Centro
Nacional de Cibersegurança (CNCS, 2024), a alusão às alterações climáticas, relativa ao
risco de cibersabotagem e hacktivismo, em face do contexto internacional. Por sua vez,
em março de 2024, o jornal Expresso organizou uma conferência subordinada ao tema
“Desafios da Cibersegurança”, tendo por base o World Economic Forum, que coloca a
proteção digital das organizações ao vel de outros riscos globais como a inflação, as
alterações climáticas ou os conflitos militares (Ferrão, 2024). Neste mesmo ano, em
outubro, foi criado em Portugal o Observatório dos Ecossistemas e Infraestruturas
Digitais (OEID)
9
pela importância do digital, da sua segurança e das infraestruturas a ele
associadas.
Conclusão
A globalização, a evolução tecnológica e a aposta numa inovação contínua são elementos
que contribuem para o aumento do risco digital sistémico. O ciberespaço está no centro
de um mundo em transformação, onde a segurança e a defesa o podem ser dissociadas
das alterações climáticas, face à diversidade de ameaças.
Sendo a IA uma tecnologia cada vez mais em uso na sociedade, existe a necessidade de
abordar os riscos interligados da IA, da cibersegurança e das alterações climáticas em
toda a extensão na relação entre estas três partes. Pela sua importância e impacto geral,
a proteção de infraestruturas críticas e sistemas de energia impulsionados pela IA têm
uma atenção específica. Por outro lado, a importância de frameworks para a proteção
dos dados tendo em vista assegurar a privacidade e a confiança pública no uso da IA na
ação climática é igualmente um elemento de garantia de conformidade e certeza para os
resultados atingidos.
9
O OEID visa a apresentação de contributos para as políticas públicas, junto de empresas e na sociedade em
geral, quer no âmbito nacional quer internacional, bem como colaborar com entidades Governamentais,
Académicas e entidades Públicas e Privadas para a definição de políticas de segurança e prevenção dos
Ecossistemas e Infraestruturas Digitais em Portugal. Pretende ainda contribuir assim para um melhor
esclarecimento da opinião pública sobre infraestruturas digitais nacionais e globais e sobre o papel de
Portugal no mundo da conectividade digital.
https://www.linkedin.com/in/o-e-i-d-observat%C3%B3rio-dos-ecossistemas-e-infraestruturas-digitais-
2ba27b331/?originalSubdomain=pt
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
84
Para enfrentar os desafios destes cenários, é necessário adotar uma abordagem
multidisciplinar, investindo em tecnologias inovadoras, fortalecendo a cooperação e
parcerias globais, bem como promovendo a resiliência digital, onde o fator confiança é
fundamental. Somente assim será possível proteger infraestruturas críticas, garantir a
segurança dos seus sistemas, dados e informação, reduzir vulnerabilidades e assegurar
um futuro mais seguro e sustentável para as próximas gerações.
Referências
Adene (s.d.). Instrumentos de Política Pública para a Ação Climática: Âmbito Nacional e
Local. Academia ADENE [Em linha]. Consultado em 29Dec2024. Disponível em
https://academia.adene.pt/instrumentos-de-politica-publica-para-a-acao-climatica/
Agência Gov (2024). Desinformação e mudanças climáticas são grandes ameaças globais
do século 21 [Em linha]. Consultado em 29Dec2024. Disponível em
https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202408/desinformacao-e-mudancas-climaticas-
sao-grandes-ameacas-globais-do-seculo-21
Amiri, Zahra; Heidari, Arash; Navimipour Nima (2024). Comprehensive survey of
artificial intelligence techniques and strategies for climate change mitigation. Energy.
Published by Elsevier Inc. https://doi.org/10.1016/j.energy.2024.132827
AR, Assembleia da República (2017). Análise e apuramento dos factos relativos aos
incêndios que ocorreram entre 17 e 24 de junho de 2017. Comissão Técnica
Independente. Disponível em
https://www.parlamento.pt/Documents/2017/Outubro/Relat%C3%B3rioCTI_VF%20.pd
f
AR, Assembleia da República (2018). Avaliação dos incêndios ocorridos entre 14 e 16 de
junho de 2017 em Portugal Continental. Comissão Técnica Independente. Disponível em
https://www.parlamento.pt/documents/2018/marco/relatoriocti190318n.pdf
Aspinall, Mike (s.d.). Climate Change and Cyber Security: What to Expect in Financial
Services. Rutherford [Em linha]. Consultado em 29Dec2024. Disponível em
https://www.rutherfordsearch.com/blog/2021/09/climate-change-and-cyber-security-
what-to-expect-in-financial-services
Cassotta, Sandra & Pettersson, Maria (2019). Climate Change, Environmental Threats
and Cyber-Threats to Critical Infrastructures in Multi-Regulatory Sustainable Global
Approach with Sweden as an Example. Beijing Law Review>Vol.10 No.3, June 2019, DOI:
10.4236/blr.2019.103035. disponível em
https://www.scirp.org/journal/paperinformation?paperid=93271
CE, Conselho Europeu (2024). Acordo de Paris sobre as alterações climáticas [Em linha].
Consultado em 29Dec2024. Disponível em
https://www.consilium.europa.eu/pt/policies/paris-agreement-climate/
CNCS, Centro Nacional de Cibersegurança (2024). Relatório Cibersegurança em Portugal.
Riscos & Conflitos Edição. Disponível em https://www.cncs.gov.pt/docs/rel-
riscosconflitos2024-obcibercncs.pdf
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
85
DOD, Directive 4715.21 (2016). Climate change adaptation and resilience [Em linha].
Consultado em 29Dec2024. Disponível em
https://dod.defense.gov/portals/1/documents/pubs/471521p.pdf
Ferrão, Fátima (2024). Ciber(in)segurança no topo dos riscos. Expresso [Em linha].
Consultado em 29Dec2024. Disponível em
https://expresso.pt/iniciativaseprodutos/projetos-expresso/2024-03-04-Ciber-in-
seguranca-no-topo-dos-riscos-460f6914
FFMS, Fundação Francisco Manuel dos Santos (2024). Como preparar Portugal para as
alterações climáticas? Cinco Décadas de Democracia-23 episódios [Em linha]. Consultado
em 29Dec2024. Disponível em https://ffms.pt/pt-pt/ffms-play/cinco-decadas-de-
democracia/como-preparar-portugal-para-alteracoes-climaticas
Francisco, Marie (2023). Artificial intelligence for environmental security: national,
international, human and ecological perspectives. Open Issue 2023: Sustainability
Science, Digitization and AI. Published by Elsevier Inc.
https://doi.org/10.1016/j.cosust.2022.101250
GPAI, Global Partnership on AI Report (2021). Climate change and AI: Recommendations
for Government Action. In collaboration with Climate Change AI and the Centre for AI &
Climate. Disponível em https://www.gpai.ai/projects/climate-change-and-ai.pdf
Google (2023). Environmental Report [Em linha]. Consultado em 29Dec2024. Disponível
em https://sustainability.google/reports/google-2023-environmental-report/
GovRP, Governo da República Portuguesa (2024). Portugal na COP29: ambição climática
e cooperação internacional [Em linha]. Consultado em 29Dec2024. Disponível em
https://www.portugal.gov.pt/pt/gc24/comunicacao/noticia?i=portugal-na-cop29-
ambicao-climatica-e-cooperacao-internacional
ICEF, Innovation for Cool Earth Forum (2023). Artificial Intelligence for Climate Change
Mitigation Roadmap (2023). Disponível em https://www.icef.go.jp/wp-
content/uploads/2024/02/AI-Climate-Roadmap-ICEF-Dec-1-2023.pdf
Jesus, Helder (2023). A aplicabilidade do conceito “Proteção, Segurança e Defesa” para
a Ciber-resiliência no contexto do atlântico português, Anais do Clube Militar Naval, Vol.
CLIII, janeiro-junho 2023, p. 75-120
JRC, Joint Research Centre (2023). Impacts of climate change on defence-related critical
energy infrastructure. Science for Policy report (JRC) - European Commission [Em linha].
Consultado em 29Dec2024. Disponível em https://eda.europa.eu/docs/default-
source/brochures/climate-report.pdf
Maigret, Barbara (2022). Addressing cybersecurity and climate change for a sustainable
society. Disponível em https://www.itp.net/insight/addressing-cybersecurity-and-
climate-change-for-a-sustainable-society
Masterson, Victoria (2024). 6 technologies to help the world adapt to climate change.
Centre for Nature and Climate - World Economic Forum climáticas [Em linha]. Consultado
em 29Dec2024. Disponível em https://www.weforum.org/stories/2024/02/ai-climate-
adaptation-technologies/
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
86
McGrath, Triona e Alamamos, Angelos (2024). Water use by data centres: An Irish
Context. A Report Prepared for the Water Forum [Em linha]. Consultado em 29Dec2024.
Disponível em https://thewaterforum.ie/app/uploads/2024/10/McGrath-2024-Data-
Centre-Water-Use-in-Ireland-.pdf
Melamedov, Maxim (2024). How to cut water usage in cloud data centres. Data Centre
Dynamics Ltd [Em linha]. Consultado em 29Dec2024. Disponível em
https://www.datacenterdynamics.com/en/opinions/how-to-cut-water-usage-in-cloud-
data-centers/
Middendorp, Tom e Campen, Antonie (2023). The Climate General: Stepping Up the
Fight, Éditions la Butineuse, Auray
Nações Unidas (s.d.). Causas e Efeitos das Mudanças Climáticas [Em linha]. Consultado
em 29Dec2024. Disponível em https://www.un.org/pt/climatechange/science/causes-
effects-climate-change
OECD, Organisation for Economic Co-operation and Development- (2021). The E-Leaders
Handbook on the Governance of Digital Government. OECD Digital Government Studies
[Em linha]. Consultado em 29Dec2024. Disponível em
https://www.oecd.org/en/publications/the-e-leaders-handbook-on-the-governance-of-
digital-government_ac7f2531-en.html
Schmidt, Luísa e Delicado, Ana e Junqueira, Luís (2021). Políticas de alterações climáticas
em Portugal: posicionamentos e redes de relações dos atores institucionais. Análise
Social, LVI (3.º), 2021 (n.º 240). https://doi.org/10.31447/as00032573.2021240.03.
Disponível em
https://revistas.rcaap.pt/analisesocial/article/download/29675/21189/126490
Shackelford, Scott (2020). On Climate Change and Cyber Attacks: Leveraging Polycentric
Governance to Mitigate Global Collective Action Problems. 18 Vanderbilt Journal of
Entertainment and Technology Law 653 (2020). Disponível em
https://scholarship.law.vanderbilt.edu/jetlaw/vol18/iss4/1
Shea, Sharon (2023). Where climate change and cyber attacks intersect. Informa
TechTarget [Em linha]. Consultado em 29Dec2024. Disponível em
https://www.techtarget.com/searchsecurity/feature/Where-climate-change-and-cyber-
attacks-intersect
Shobanke, Mobolaji; Bhatt, Mehul; Shittu, Ekundayo (2025). Advancements and future
outlook of Artificial Intelligence in energy and climate change modeling. Advances in
Applied Energy. Published by Elsevier Inc.
https://doi.org/10.1016/j.adapen.2025.100211
Sol, Kaya (2024). Intersecting Frontiers: International Governance in Environmentalism
& Cybersecurity. The Henry M. Jackson School of International Studies / College of Arts
and Sciences / University of Washington [Em linha]. Consultado em 29Dec2024.
Disponível em https://jsis.washington.edu/news/intersecting-frontiers-international-
governance-in-environmentalism-cybersecurity/
United Nations (2024). Summit of the Future, Our Common Agenda [Em linha].
Consultado em 29Dec2024. Disponível em
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL15 N2, DT3
Dossiê Temático Clima e Segurança
Abril 2025, pp. 71-87
O ciberespaço como cenário de segurança e defesa face às alterações climáticas
Helder Fialho Jesus
87
https://www.un.org/sites/un2.un.org/files/our-common-agenda-summit-of-the-future-
what-would-it-deliver.pdf
UNFCCC, United Nation Framework Convention on Climate Change (2024). Draft
technical paper on AI for climate action. Technology Executive Committee (REC). TEC-
CTCN Advisory Board Joint session - Twenty-nineth meeting. Framework Convention on
Climate Change. Disponível em
https://unfccc.int/ttclear/misc_/StaticFiles/gnwoerk_static/tn_meetings/0ec396b0ba7b
4d0d853b77c7b83dc172/3ebbf2e8e7834a7f873b0ae9a86262f7.pdf
Wang, Qiang; Li, Yuanfan; Li, Rongrong (2025). Integrating artificial intelligence in
energy transition- A comprehensive review. Energy Strategy Reviews. Published by
Elsevier Inc. https://doi.org/10.1016/j.esr.2024.101600
WEF, World Economic Forum (2025). WEF Global Risks Report 2025. 20th Edition, Insight
Report Cologny/Geneva, Switzerland. [Em linha]. Consultado em 29Dec2024. Disponível
em https://www.weforum.org/publications/global-risks-report-2025/
WMO, World Meteorological Organization (2021). Wake up to the looming water crisis,
report warns. Press Release [Em linha]. Consultado em 29Dec2024. Disponível em
https://wmo.int/news/media-centre/wake-looming-water-crisis-report-warns
Zhao, Le e Parhizgari, A.M. (2024). Climate change, technological innovation, and firm
performance. International Review of Economics and Finance. Published by Elsevier Inc.
https://doi.org/10.1016/j.iref.2024.04.025