OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
Vol. 15, N.º 2
Novembro 2024-Abril 2025
505
RECENSÃO CRÍTICA
JOSEPHINE QUINN (2024). HOW THE WORLD MADE THE WEST: A 4,000-YEAR
HISTORY. BLOOMSBURY PUBLISHING. ISBN (HB): 978-1-5266-0518-4.
DANIEL CARDOSO
dcardoso@autonoma.pt
Doutorado em Relações Internacionais pela Universidade Livre de Berlim.
Professor Associado da Universidade Autónoma de Lisboa (Portugal) e investigador integrado do
Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa.
No seu livro How the World Made the West. A 4,000-Year History (ainda não traduzido
para português), Josephine Quinn analisa 4000 anos de história da região euro-afro-
asiática, começando no Levante no século XX a.C. e terminando na chegada de Cristóvão
Colombo às Américas no século XV d.C. Professora de História Antiga na Universidade de
Oxford, na Inglaterra, Quinn é uma reputada historiadora, tendo escrito outras obras
galardoadas como, por exemplo, In Search of the Phoenicians (2017).
A análise de 4000 anos de história levada a cabo por Quinn resulta num livro de mais de
500 páginas, divididas em 30 capítulos, cuja leitura é fascinante. É um livro que assenta
numa estrutura académica, com recurso a várias referências bibliográficas, mas que,
pela escrita simples e pelo uso de rios exemplos concretos, se torna apelativo para
todos os tipos de leitores.
Ao analisar este longo período, Quinn chega à conclusão de que a história euro-afro-
asiática é, essencialmente, o somatório dos contactos que humanos estabeleceram entre
si nesta região. No livro, a autora detalha de forma exaustiva estas interações, que
incluíram Fenícios, Minoicos, Gregos, Romanos, Egípcios, Cartagineses, Mouros, Francos,
Visigodos, entre outros. Estes contatos foram de várias naturezas, incluindo comércio,
cultura, diplomacia e guerra. Foi nestas interações que as sociedades se construíram e
evoluíram. Um exemplo particularmente instrutivo destas dinâmicas é o alfabeto. Como
explica a autora, a base para os alfabetos atuais foi criada no Egipto por trabalhadores
do Levante no século XVIII ou XIX a.C. Como o sistema de escrita egípcio, baseado em
hieróglifos, era bastante complexo, estes trabalhadores inventaram um novo sistema
mais simples em que cada letra correspondia a um som. Ao fazê-lo, criaram o primeiro
alfabeto da história. Por sua vez, os contactos que se estabeleceram no Mediterrâneo por
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL 15 N 2
Novembro 2024-Abril 2025, pp. 505-509
Recensão Crítica Josephine Quinn (2024). How the World Made the West: A 4,000-Year
History. Bloomsbury Publishing. ISBN (hb): 978-1-5266-0518-4
Daniel Cardoso
506
via marítima permitiram que este novo sistema fosse difundido e depois ajustado por
outros povos da região, dando origem ao latim, ao grego e às restantes línguas da
antiguidade e da atualidade. O mesmo se aplica aos números que hoje usamos. De
origem indiana, estes números, que hoje chamamos de “árabes”, foram trazidos para a
Europa pelos mouros do Norte de África no século X d.C. Algumas invenções matemáticas
importantes, como o mero “0” também são de origem indiana. Com estes exemplos,
Quinn revela que a ideia de glocalização (interação entre o local e o externo) é muito
antiga. Para a autora, este diálogo constante entre povos moldou as sociedades e fê-las
avançar.
Com base nesta constatação, fundamentada numa pesquisa muito bem desenvolvida,
recorrendo a um espólio muito alargado de fontes primárias e secundárias, a autora vai
retirar conclusões conceptuais, que têm ramificações para a Ciência Política e para as
Relações Internacionais. É aqui, aliás, que se centra o seu principal argumento. Segundo
Quinn, se a história é baseada em interações, a ideia de que a história se construiu com
base em civilizações é errada. Comumente, civilização é definida como um grupo
alargado de pessoas com traços culturais e valores em comum, fazendo, assim, parte de
um todo coerente. Estes traços e valores são específicos ao grupo e distinguem-nos de
outros grupos com características diferentes. No entanto, esta especificidade,
autenticidade, e diferenciação entre grupos é algo que autora o encontra no estudo
histórico que fez dos 4000 anos em análise. Dada a interação entre os vários povos neste
período, a tendência foi a fluidez, a co-criação e a polinização. Sendo assim, chamar os
Fenícios, os Gregos ou os Persas de “civilizações” é, segundo a autora, incorreto, porque
não se identificam características essencialmente particulares e distintivas em cada um
deles. Acrescenta Quinn que os próprios na altura não se viam desta forma, como
civilizações. As pessoas viam-se como membros de aldeias ou cidades, não como parte
de uma “civilização”. Aliás, o próprio conceito de civilização só vai surgir no século XVIII.
Se as civilizações não existiram enquanto tal historicamente, porque é que então
falamos, por exemplo, de “civilização ocidental”? É aqui que reside o cerne da leitura
académica e política da autora. A ideia do Ocidente, enquanto civilização distinta, é uma
construção, que apenas vingou por razões políticas. Segundo a autora, esta construção
emergiu depois das campanhas para expulsar muçulmanos e judeus do continente
europeu durante a Idade Média, e ganhou forma ideológica no século XVIII com base
naquilo que ela designa como “pensamento civilizacional”. Para Quinn, este pensamento
desenvolveu-se em duas fases: singular e plural. Na primeira, civilização é apresentada
como um estágio avançado de desenvolvimento das sociedades. Este conceito foi
introduzido, por volta de 1750, por filósofos franceses e britânicos e insere-se no que
atualmente designamos como teorias da evolução social. Vista deste modo, civilização é
o ponto final de um trajeto de evolução linear das sociedades desde formas mais
precárias de organização socioeconómica (nomadismo e pastorícia) até formas mais
desenvolvidas como o comércio e a indústria. A autora confirma esta visão citando John
Stuart Mill, filósofo britânico do século XIX, que afirma que “na vida selvagem não
comércio, nem manufaturas, nem agricultura, ou quase nenhuma: a um país rico, fruto
da agricultura, do comércio e das manufaturas, chamamos civilizado” (página 3).
A civilização, neste sentido singular, era teoricamente um estado a que qualquer
sociedade humana poderia aspirar com esforço e educação suficientes, e todas as
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL 15 N 2
Novembro 2024-Abril 2025, pp. 505-509
Recensão Crítica Josephine Quinn (2024). How the World Made the West: A 4,000-Year
History. Bloomsbury Publishing. ISBN (hb): 978-1-5266-0518-4
Daniel Cardoso
507
sociedades humanas poderiam ser classificadas de acordo com o seu sucesso nesta
frente. Os autores europeus, proponentes desta visão, apresentavam a Europa como o
modelo civilizacional a que os outros poderiam aspirar. Como o estudo desta época
indica, este conceito abstrato de civilização acabou por constituir um apoio útil para o
imperialismo da Europa Ocidental. Mill, que trabalhou para a Companhia Britânica das
Índias Orientais durante mais de trinta anos, argumentou que os civilizados tinham o
dever de ajudar os outros na sua própria viagem pelo mesmo caminho (página 4). Esta
ideologia foi captada de forma clara por Rudyard Kipling no seu poema “The White Man’s
Burden” (1899), no qual procurava convencer o presidente norte-americano a colonizar
as Filipinas para a “civilizar”. Formas modernas desta conceptualização de evolução linear
podem ser encontradas em teorias liberais da economia e da política como a “teoria da
modernização” desenvolvida por Walt Whitman Rostow no seu livro The Stages of
Economic Growth: A Non-Communist Manifesto (1991).
A segunda fase, denominada pela autora de plural, surge no século XIX por influência do
historiador e político francês François Guizot. Para este, civilização não era um estágio
de evolução social, mas um grupo humano específico de um local específico, com a sua
própria história e atributos particulares, no seio do qual o desenvolvimento era um
processo endógeno. À luz desta definição, não havia apenas a “civilização”, mas as
“civilizações”, ou seja, a indiana, a grega, a romana, entre tantas outras. Para Guizot,
estes grupos podiam ser definidos como civilizações porque tinham atributos particulares
e essenciais que as distinguiam umas das outras. Sendo assim, a missão do académico
era identificar estes atributos, o que poderia implicar estudar a origem das civilizações,
as suas raízes ancestrais. É com base neste pensamento, considera Quinn, que se
construiu a ideia da “civilização ocidental”. Uma ideia particularmente cara aos filósofos
ingleses do período vitoriano. Para estes, a civilização ocidental tinha a suas raízes na
Grécia e Roma Antigas, designadamente nos seus atributos como: o Estado de Direito, a
democracia, o apelo da ciência e da arte. Estes foram desconsiderados na Idade Média e
depois recuperados, primeiro, durante o Renascimento e, segundo, pelo Iluminismo,
culminando na formação da coluna vertebral do sistema político e cultural do Império
Inglês do século XIX. Também através desta conceção de “civilização”, argumenta a
autora, é possível criar hierarquias entre civilizações em que umas são apresentadas
como mais aptas ao desenvolvimento do que outras, sendo que os “ocidentaiseram
apresentados como superiores. Assim, o avanço tecnológico europeu do século XIX era
retroativamente explicado em termos civilizacionais, ou seja, a Europa liderava porque
tinha atributos endógenos, originários da Grécia e Roma Antigas, que favoreciam este
desenvolvimento. Por exemplo, em 1896, Arthur Evans, responsável pelo Museu
Ashmolean, em Oxford, que supervisionou as escavações arqueológicas de ruínas
“minoicas”, exaltou Creta, chamando-lhe “a campeã do espírito europeu contra o jugo
da Ásia” (página 27).
Esta visão da humanidade dividida em civilizações perfeitamente demarcadas foi
recuperada recentemente por Samuel Huntington no seu livro O Choque das Civilizações
(1999). Neste, Huntington argumenta que, no pós-Guerra Fria, as guerras do futuro não
ocorreriam entre Estados, mas entre “civilizações” monolíticas e homogéneas, como a
“ocidental”, a “islâmica”, a “africana” ou a “sínica” (chinesa).
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL 15 N 2
Novembro 2024-Abril 2025, pp. 505-509
Recensão Crítica Josephine Quinn (2024). How the World Made the West: A 4,000-Year
History. Bloomsbury Publishing. ISBN (hb): 978-1-5266-0518-4
Daniel Cardoso
508
Para Quinn, qualquer uma das conceções de civilização é incorreta porque não é
suportada pelos factos históricos. Ela vai desenvolver o seu argumento, analisando o
caso do Ocidente. Em primeiro lugar, a autora argumenta que não há “civilizações”. A
ideia de que os humanos se organizam em conjuntos alargados com características
específicas que se consolidam ao longo do tempo não procede. Nada é de geração
espontânea e exclusivamente endógena. Tudo surge fruto de interações e influências.
Por isso, estabelecer distinções e especificidades é inútil. Em segundo lugar, e em
decorrência do ponto anterior, a autora argumenta que aquilo que se poderá considerar
ocidental no caso da Grécia e Roma, ou se praticava em outras paragens ou acabou
por se estabelecer nestes territórios fruto das influências que receberam de outras
paragens. Daqui resulta o título do livro. O Ocidente não foi criado pela Grécia ou por
Roma, mas sim pelo mundo. A autora apresenta inúmeros exemplos desta dinâmica. O
alfabeto e os números, já mencionados anteriormente, são dois dos casos. Há, contudo,
muitos mais. Os códigos legais vieram da Babilónia, a irrigação da Assíria, a arte de
navegar dos Fenícios e a roda da estepe centro-asiática. A religião, no caso grego, é de
origem oriental. Até na democracia, a autora mostra como esta forma de governação foi
experimentada pela primeira vez na Assíria por volta do século XI a.C. Neste território,
os detentores de cargos públicos eram selecionados por uma lotaria pública que incluía
todos os cidadãos. Qualquer um deles poderia receber esta responsabilidade. Esta forma
foi a que se acabou por instalar também em Atenas.
Por tudo isto, analisar a história com base na ideia de civilização é, segundo a autora,
empobrecedor, porque impede que se revelem todos estes contatos que se
estabeleceram entre os povos ao longo dos séculos. Foi, através destes contatos, que a
história se fez e evoluiu. O “Ocidente” tal como os restantes espaços sociais são locais
de agregação e hibridismo, cuja extensa gama de objetos e artefactos nega a noção de
uma cultura orgânica, pura ou essencial.
Apesar das muitas qualidades do livro, algumas limitações que o notórias. O livro
não tem uma conclusão. Esta parte teria sido importante para desenvolver as ideias
teóricas da introdução à luz dos dados empíricos explorados nos restantes capítulos. A
análise fica, assim, curta e mais difícil de transportar para a atualidade e para outras
paragens. Questões que ficaram por responder são: a emergência do Estado moderno e
do capitalismo retirou espaço à heterogeneidade? Esta abordagem baseada em
interações pode ser aplicada a outros grupos que acabámos também por chamar de
“civilizações” como a chinesa, a asteca ou a maia? Se sim, como? O que motiva as
interações? A natureza humana, as circunstâncias, outras razões?
Além disso, as conclusões a que a autora chega não são propriamente novidade. Imensos
académicos incluídos na linha de pensamento designada como pós-colonial têm
contestado o pensamento civilizacional. Um dos exemplos mais emblemáticos é o livro
de Edward Said Orientalismo (2021). Neste, o filósofo americano-palestiniano
desconstrói o binarismo Ocidente-Oriente. Outros autores desta linha de pensamento
têm demonstrado como o “mundo não ocidental” foi historicamente um espaço de
inovação tecnológica, social e política. O livro As Rotas da Seda (2018) de Peter
Frankopan e The Once and Future World Order (no prelo) de Amitav Acharya são alguns
dos exemplos desta vertente.
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL 15 N 2
Novembro 2024-Abril 2025, pp. 505-509
Recensão Crítica Josephine Quinn (2024). How the World Made the West: A 4,000-Year
History. Bloomsbury Publishing. ISBN (hb): 978-1-5266-0518-4
Daniel Cardoso
509
De qualquer forma, o contributo da autora mantém-se relevante devido à magnitude do
seu levantamento histórico, essencialmente baseado em fontes primárias. Depois deste
livro, ficará ainda mais difícil argumentar sobre a existência de uma civilização ocidental
pura, distinta e com raízes diretas na Grécia e Roma Antigas. O livro ganha também
relevância pelos tempos políticos que se vivem. Numa altura em que os nativismos e
chauvinismos propagados pela extrema-direita crescem um pouco por todo o mundo, o
livro de Quinn mostra que é na diversidade e na interação entre povos de diferentes
proveniências que o mundo avança e que a história se faz. Os povos da antiguidade
perceberam isso. Cabe-nos a nós honrar essa memória.
Referências
Acharya, A. (in press). The Once and Future World Order: Why Global Civilization Will
Survive the Decline of the West. Basic Books.
Frankopan, P. (2018). As rotas da seda: Uma nova história do mundo. Relógio D'Água.
Huntington, S. P. (1999). O choque das civilizações e a mudança na ordem mundial.
Gradiva.
Kipling, R. (1899). The white man’s burden: The United States and the Philippine Islands.
The Kipling Society. https://www.kiplingsociety.co.uk/poem/poems_burden.htm
Quinn, J. (2017). In search of the Phoenicians. Princeton University Press.
Quinn, J. (2024). How the World Made the West. A 4,000-Year History. Bloomsbury
Publishing
Rostow, W. W. (1991). The Stages of Economic Growth: A non-communist
manifesto (3rd ed.). Cambridge: Cambridge University Press.
Said, E. (2021). Orientalismo. Edições 70.
Como citar esta recensão
Cardoso, Daniel (2024). Recensão Crítica Josephine Quinn (2024). How the World Made the West:
A 4,000-Year History. Bloomsbury Publishing. ISBN (hb): 978-1-5266-0518-4. Recensão Crítica,
Janus.net, e-journal of international relations. VOL 15, N.º 2, Novembro 2024-Abril 2025, pp. 505-
509. https://doi.org/10.26619/1647-7251.15.01.1.