Neste sentido, importa agora aferir a sua aplicabilidade nacional. Apesar das necessárias
diferenças, em termos de ambição, contexto e magnitude da mudança, considera-se que
as tendências de transformação irão replicar-se no panorama internacional. Assim, é
possível inferir o impacto da GAA em termos da utilidade do PA para concretização dos
objetivos políticos, através do emprego dos SAFA como potenciador de capacidade
operacional nas várias Missões das Forças Armadas (MIFA) (Conselho Superior de Defesa
Nacional, 2014).
A análise é sustentada pelas entrevistas realizadas a especialistas, tem como prisma de
observação a FAP e está organizada segundo as perspetivas operacional (emprego das
capacidades), estrutural (organização das capacidades) e genética (edificação de
capacidades). Este constructo, expresso nas perspetivas de gestão estratégica, facilita
também a identificação de medidas de melhoria, otimização e contributos para a
transformação do PA nacional.
3.1. Enquadramento estratégico nacional
O Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN) vigente mantém a sua atualidade, ao
estabelecer as linhas orientadoras e prioridades para o investimento em capacidades
essenciais ao cumprimento das MIFA, multiplicadoras de forças, com maior eficiência dos
efeitos operacionais, onde se destacam, entre outras, a vigilância e controlo dos espaços
de soberania e sob jurisdição nacional, o C2, comunicações e informações efetivas, e o
apoio à proteção civil (Governo de Portugal, 2013: 37-38).
No quadro conceptual estratégico-militar, os cenários de emprego das FFAA e as suas
missões não sofrerão alterações significativas com a revisão do CEDN, uma vez que não
existem novas ameaças, alterando-se, no entanto, a forma como se manifestam, a
prioridade como devem ser combatidas e a forma de resposta (N. Pires, entrevista por
videoconferência, 05 de janeiro de 2023; F. Garcia, entrevista por videoconferência, 20
de janeiro de 2023). Assim, a disrupção tecnológica resultante da crescente robotização
e sanitização da Guerra, impede uma perceção clara acerca da dimensão da ameaça, da
aceleração do seu desenvolvimento e acima de tudo, da magnitude da resposta (N. Pires,
op. cit.).
A elevada superfície de ataque, quer em termos de duplo uso (emprego civil e militar) e
uso duplo (multifunção), quer dos efeitos operacionais multidomínio, torna a dimensão
ofensiva da GAA mais remuneradora, criando maior complexidade na defesa geográfica
alargada de forças, infraestruturas críticas e população (P. Nunes, entrevista por
videoconferência, 20 de fevereiro de 2023). Adicionalmente, os agentes não estatais,
incluindo indivíduos, recorrendo à armamentização do sistema e à sua utilização de forma
criativa e inesperada, podem ter impacto desproporcional em espaços de soberania
nacional (A. Nunes, entrevista por videoconferência, 20 de janeiro de 2023; P. Nunes,
op. cit.).
Desta forma, emergem vulnerabilidades que importa considerar, através de uma
resposta holística integrada, proporcional, priorizada e credível, em termos de proteção
e contramedidas face a um adversário que utilize estas capacidades (P. Nunes, op. cit.;
B. Martins, entrevista por videoconferência, 21 de fevereiro de 2023; N. Pires, op. cit.).