quatro motivos que se prendem com a questão das migrações de refugiados, com a
propagação do terrorismo transnacional, com a garantia de continuidade de
desenvolvimento de projetos europeus regionais pré-conflito e com a comercialização de
recursos energéticos essenciais à produção e energia, como o Urânio, que são
abundantes em certos poderes regionais, como o Níger. Neste sentido, cabe agora
analisar brevemente cada motivo para melhor compreensão da significância da questão
do Sahel para o espaço europeu.
Primeiramente, na questão das migrações de refugiados, temos que o Sahel se localiza
diretamente abaixo de zonas sensíveis de migração de refugiados para o Mediterrâneo,
como a Argélia e a Líbia, países pertencentes ao Magrebe. Por norma, os dois Estados
anteriormente mencionados são aqueles onde existe um maior número de migrantes
provenientes do Sahel, sobretudo devido à maior facilidade de passagem na fronteira
com o Mali e o Níger, os dois Estados mais afetados pela crise do Sahel, e à ação das
redes de tráfico no Mediterrâneo nas costas argelianas e libanesas (Bøås, 2021, pp. 55–
57; Pye, 2021, p. 2). Aliás, mesmo apesar de, nos últimos três anos, a Argélia e a Líbia
terem fortalecido o controlo fronteiriço, este controlo não tem sido muito bem sucedido,
com milhares de migrantes a recorrerem a passaportes ilegais para conseguir contornar
a situação, mantendo o problema da crise de refugiados e continuando a gerar
preocupação no espaço europeu (AFP, 2023; Gasperini, 2023; NPR, 2022).
Segundamente, porque, como já abordado, a disseminação de grupos jihadistas constitui
por si só um perigo à segurança e estabilidade europeias pela localização próxima desta
região com o Magrebe e o Mediterrâneo. Neste sentido, a junção desta disseminação
jihadista à propagação de ideias fundamentalistas islâmicas no Sahel, tem permitido uma
amplificação da violência regional, sobretudo pela expansão de grupos como a Al-Qaeda
e o Estado Islâmico (EI) que patrocinam agregados jihadistas locais, como por exemplo
o Jama'at Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM) e o Islamic State Sahel Province (IS Sahel)
(Lederer, 2023; Nsaibia, 2021; Pye, 2021, pp. 2–6; Raafat, 2021, pp. 6–8). Ademais,
em acrescento, estes grupos utilizam-se ainda da conflitualidade interétnica que define
a base da questão do Sahel para alastrarem as suas redes de operações às portas do
espaço europeu (Lederer, 2023; Nsaibia, 2021; Pye, 2021, pp. 2–6).
Terceiramente, porque, anteriormente a 2012, a UE era um dos grandes intervenientes
na região com projetos de desenvolvimento regional nas áreas do clima, segurança,
energia e comércio, sobretudo devido à estratégia de aproximação Europa-África entre a
UE e a União Africana (UA) (European Comission, 2010; Pye, 2021, pp. 2–3). Porém, a
conflitualidade no Sahel alterou a realidade até então vivida de cooperação e
desenvolvimento nas mais diversas áreas, obrigando ao redirecionar de fundos para a
resolução da instabilidade saheliana de modo a garantir, principalmente, que os projetos
desenvolvidos e em curso não seriam afetados. Isto foi visível quando, em 2012, a
questão da insurgência Tuaregue no Mali se começou a expandir para os países vizinhos
na região do Sahel, e a UE, de modo a proteger os seus interesses e a diminuir um foco
de violência às portas da europa, acabou por se tornar, quase que de forma inevitável,
o principal interveniente na mediação de conflitos a nível regional, criando e cooperando
em iniciativas que permitissem estabilizar a região e garantir a continuação da execução
dos projetos em curso e de novos projetos nas áreas já estabelecidas de cooperação
(Pye, 2021, pp. 2–3; Venturi, 2017, pp. 6–12).