2.1. Eixo Turquia-Azerbaijão
A relocalização do foco da Rússia na sua frente de combate na Ucrânia, abriu o caminho
para Ancara aproveitar o vácuo de poder e confirmar as suas aspirações de liderança
regional do sul do Cáucaso. A vitória de Baku com forte apoio da Turquia também pode,
por conseguinte, ser encarada como uma vitória de Ancara na região. A forte aliança
entre a Turquia e o Azerbaijão encontra-se plasmada na “Declaração de Shusha”, de 15
de Junho de 2021 (Azertac, 2021) que cobre diversas áreas, incluindo as indústrias de
defesa, cooperação e assistência mútua no campo militar. Aborda igualmente a desejada
concretização do “corredor de Zangezur”, de ligação entre o Azerbaijão e o exclave de
Naquichevão que conferiria ainda maior vulnerabilidade à Arménia na condição de
“landlocked country”.
A proximidade turca ao Azerbaijão baseia-se em três vertentes: (a) na partilha de laços
históricos, culturais e linguísticos turcomanos, que se encontra plasmada no mote “one
nation, two States” (Yavuz, 2022); (b) na possibilidade de estabelecer o corredor de
Zangezur que ligaria a Turquia aos restantes países turcomanos e fortificaria a sua
liderança regional (Pierini, 2023); (c) no apoio militar da Turquia ao Azerbaijão. Em 2020,
o apoio turco através dos drones Bayraktar TB-2 e de outros equipamentos militares foi
decisivo para a recuperação de territórios por Baku (Droin et al., 2023).
A referida “Declaração de Susha” saiu reforçada, em fevereiro de 2022, quando, dois
dias antes da invasão russa da Ucrânia, a Turquia celebrou uma aliança estratégica com
a Rússia designada “Declaration of Allied Interaction”. Semelhante à declaração
concretizada com o Azerbaijão em 2020, esta cobre um largo espetro de áreas de
cooperação, incluindo a militar e da energia, que possibilitará o escoamento do gás russo,
via Azerbaijão, para os mercados europeus. Existe um interesse estratégico turco ligado
a um mega corredor energético (gás-petróleo) que ligaria o sul asiático à Europa, via
Cáucaso, e mais concretamente o Mar Cáspio ao Mar Negro. A via mais curta e rápida
para a Turquia seria uma ligação direta através de território arménio que possibilitaria
também a unificação de toda a zona de influência turca até à Ásia Central.
2.2. Eixo Israel-Azerbaijão
Para além de laços históricos e culturais (a última comunidade judia no Cáucaso reside
no Azerbaijão), Telavive e Baku mantêm uma relação de estreita cooperação desde 1992,
na sequência do reconhecimento da independência do Azerbaijão em 1991 e do
subsequente estabelecimento de relações diplomáticas.
A par do apoio militar prestado pela Turquia, Israel também desempenhou um papel
fundamental nas guerras de 2020 e 2023, ainda que nem sempre de modo explícito,
através da exportação de tecnologia de ponta na frente militar. No total, 70% das
importações azeris relacionadas com equipamento militar provieram de Israel (Droin et
al., 2023; Kogan, 2023), país ao qual tem sido garantido acesso a bases aéreas no
Azerbaijão. De acordo com o SIPRI (2023), o Azerbaijão foi o segundo maior cliente de
armamento israelita no período 2018-2022. Telavive e Baku têm vindo a desenvolver
uma forte aliança política, militar e económica que se traduz, por exemplo, no facto de
40% do petróleo importado por Israel ser proveniente do Azerbaijão (Broers, 2019). Por