OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
Vol. 15, N.º 2
Novembro 2024-Abril 2025
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ACORDOS PRÉ-ABRAÃO
MARTA RAQUEL FERNANDES SIMÕES LIMA PEREIRA
martarpereira@edu.ulisboa.pt
Doutoranda em Relações Internacionais no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da
Universidade de Lisboa (Portugal). É mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pela
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Para tal, especializou-
se na relação entre Israel, Arábia Saudita e Estados Unidos da América. Assim, os seus
interesses recaem sobre o Médio Oriente, mais especificamente sobre Israel e a sua relação com
os países do Golfo Pérsico. https://orcid.org/0000-0001-8603-134X.
Resumo
Em setembro de 2020 o mundo ficou surpreso ao ser anunciado na Casa Branca um tratado
de normalização de relações entre duas monarquias do Golfo Pérsico, mais especificamente
entre o Bahrain e os Emirados Árabes Unidos, e o Estado de Israel. Ainda mais surpresa ficou
a humanidade ao compreender o silêncio que emanou dos restantes países professantes do
Islamismo. Todavia, não se deve considerar os Acordos de Abraão como um momento de
normalização isolado no panorama das relações entre Israel e os estados árabes e
muçulmanos. É de se relembrar que ocorreram tratados de paz com Israel no passado, sendo
de se nomear o Tratado de Paz com o Egito em 1979 e o Tratado de Paz com a Jordânia em
1994. Tendo em conta que estes acordos existiam, coloca-se em causa a inovação dos
próprios Acordos de Abraão em termos de Relações Internacionais e regionais. Portanto, a
questão de partida que guiará este artigo é a seguinte: Como é que os Acordos de Abraão de
2020 são considerados inovadores em comparação com os Tratados de Paz celebrados entre
Israel e o Egito em 1979 e com a Jordânia em 1994? O objetivo principal deste artigo científico
será distinguir as diferenças a vários veis, nomeadamente ao nível socio-histórico e em
termos de impacto nas Relações Internacionais, entre os Acordos de Abraão e os Tratados de
Paz anteriormente celebrados entre Israel e, em primeiro lugar, o Egito, e de seguida, a
Jordânia. O principal argumento deste artigo é que os Acordos de Abraão são de uma natureza
diferente do Tratado de Paz entre o Egito e Israel de 1979 e o Tratado de Paz entre Israel e
a Jordânia de 1994, dado que os contextos sociohistóricos, geopolíticos e geoestratégicos
eram essencialmente distintos, como é percecionado ao se aplicar a Teoria da Balança da
Amaça e a Teoria da Aliança, ambas de Stephen Walt. Assim, o impacto de cada tratado nas
relações regionais e internacionais era distintivamente diferente. Para atingir estes objetivos,
este estudo seguirá esta metodologia: primeiramente, é considerado um estudo positivista.
De igual forma, dado que vai ocorrer validação por quadros teóricos utilizados, é um estudo
dedutivo. Aglomerará em si dois tipos de investigações, descritiva e explicativa. É
maioritariamente um estudo comparativo, dado que os Tratados de Paz de 1979 e 1994 vão
ser comparados com os Acordos de Abraão. Este estudo utilizará o método histórico
processual diacrónico para analisar o antes e depois dos Tratados de Paz e dos Acordos. Todos
os dados vão ser submetidos a análise de discurso. Uma das principais conclusões deste artigo
é que os Tratados de Paz de 1979 e 1994 foram celebrados após terem perdido guerras contra
Israel, o que conduziu a uma necessidade de paz com o estado judaico de forma a haver
recuperação financeira. Consequentemente, estes Tratados de Pa foram vistos como uma
aliança, nomeadamente, um positive balancing com Israel. Por outro lado, os Acordos de
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Abraão não sugiram de um contexto de guerra, tendo em vista que os Emirados Árabes Unidos
e o Bahrain nunca lutaram Israel, mas num contexto de perceção de uma ameaça comum, o
Irão. Consequentemente, a aliança com Israel foi tanto um hard e soft balancing.
Palavras-chave
Acordos de Abraão, Tratados de Paz, Israel, Jordânia, Egito, Médio Oriente.
Abstract
By September 2020 the world was surprised with the White House's announcement regarding
the normalization treaties between Israel and two Gulf Monarchies, Bahrain and the United
Arab Emirates. It is imperative, nonetheless, to not consider the Abraham Accords as a
normalization moment isolated from the framework of the relations between Israel and the
Arab and Muslim states. It is important to remember the past peace treaties with Israel,
namely the 1979 Peace Treaty with Egypt and the 1994 Peace Treaty with Jordan. Given that
these agreements already existed, the innovation of the Abraham Accords in terms of
international and regional relations is questionable. Therefore, the research question that will
guide this paper is as follows: How is the 2020 Abraham Accords considered innovative as
compared to the Peace Treaties celebrated between Israel and Egypt in 1979 and with Jordan
in 1994? The main goal of this investigative work is to understand the differences between
the Abraham Accords and the cited Peace Treaties at the sociohistorical level and the impact
on International Relations according to the Theory of the Balance of Threat and the Theory of
the Alliance, both by Stephen Walt. The main argument of this paper is that it is understood
that the Abraham Accords are of a different nature from the 1979 Peace Treaty between Egypt
and Israel and from the 1994 Peace Treaty between Israel and Jordan as the sociohistorical,
geopolitical and geostrategic contexts were essentially distinct, as it is perceived by applying
the Theory of the Balance of Threat and the Theory of the Alliance, both by Stephen Walt.
Therefore, the impact on the regional and international relations of each treaty was
distinctively different. To achieve these goals this study will follow this methodology: firstly,
it is considered a positivist study. Also, since there will be a validation of the theoretical
frameworks used, this study is deductive. It will agglomerate in itself two types of
investigations, descriptive and explicative. It is mainly a comparative study, as the 1979 and
1994 Peace Treaties with Israel will be compared with the Abraham Accords. This study will
also use the processual and diachronic historical method to analyze the before and after of
both Peace Treaties and the Accords. All data will be submitted through discourse analysis.
One of the main conclusions of this article is that both the 1979 and the 1994 Peace Treaties
were celebrated after having lost the war against Israel, which brought on the need for peace
with the Jewish state in order to recover financially. Therefore, these Peace Treaties were
seen as an alliance, specifically, a positive balancing with Israel. On the other hand, the
Abraham Accords did not happen in the context of war, as the United Arab Emirates and
Bahrain never fought Israel, but in the context of perceiving a common threat, Iran.
Consequently, they allied with Israel on a positive both hard and soft balancing alliance.
Keywords
Abraham Accords, Peace Treaties, Middle East, Israel, Jordan, Egypt.
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Como citar este artigo
Pereira, Marta Raquel Fernandes Simões Lima (2024). Acordos Pré-Abraão. Janus.net, e-journal of
international relations. VOL 15 N 2, Novembro 2024-Abril 205, pp. 136-134.
https://doi.org/10.26619/1647-7251.15.2.5.
Artigo recebido em 13 de Dezembro de 2023 e aceite para publicação em 7 de Agosto de
2024.
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MARTA RAQUEL FERNANDES SIMÕES LIMA PEREIRA
Introdução
Em setembro de 2020 o mundo ficou surpreso ao ser anunciado na Casa Branca um
tratado de normalização de relações entre duas monarquias do Golfo Pérsico, mais
especificamente o Bahrain e os Emirados Árabes Unidos, e o Estado de Israel. Ainda mais
surpresa ficou a humanidade ao compreender o silêncio que emanou dos restantes países
professantes do Islamismo (Perper, 2020).
Na realidade, ao longo das décadas, algo é considerado como certo: existe uma tensão
eterna entre os países árabes e/ou islâmicos para com o único Estado Judeu do mundo,
Israel. Salienta-se que após o nascimento deste Estado, a 14 de maio de 1948, ocorreu
uma guerra contra este, sendo a mesma liderada pelos Estados árabes vizinhos e
financiada pelos restantes, como a Arábia Saudita (Labelle, 2011). No entanto, desde a
implementação da República Islâmica do Irão em 1979 que ocorreu uma alteração na
própria balança do poder no Médio Oriente. Na realidade, Estados árabes que professam
o Islamismo da variante sunita começaram a percecionar uma ameaça que o se
caraterizava por ser de uma religião oposta, mas sim da mesma religião, porém numa
variante distinta, a xiita. Além do mais, os Estados do rico Golfo rsico entenderam que
a Pérsia revestida de uma nova identidade desejava algo que eles reclamavam para si,
em especial a Arábia Saudita: a hegemonia da região (Miller, 2020).
Vários acontecimentos externos ocorreram que determinaram alterações de relações
nesta região do mundo. No início deste segundo milénio, a administração Obama deixou
de conceder importância ao Médio Oriente, procurando antes o pivot asiático. Além do
mais, procurou o Plano de Ação Conjunto Global, mais conhecido como Acordo Nuclear
com o Irão, que permitiria à República Islâmica começar a produzir urânio para fins
nucleares (IRNA, 2015). Pode referir-se que foram exatamente estas duas políticas que
motivaram as seguintes prosseguidas pela administração de Trump: o reconhecimento
de Jerusalém como a capital de Israel (U.S. Embassy in Israel, 2020) e, finalmente, os
Acordos de Abraão.
Todavia, não se deve considerar os Acordos de Abraão como um momento de
normalização isolado no panorama das relações entre Israel e os estados árabes e
muçulmanos. É de se relembrar que ocorreram tratados de paz com Israel no passado,
sendo de se nomear o Tratado de Paz com o Egito em 1979 e o Tratado de Paz com a
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Jordânia em 1994. Tendo em conta que estes acordos já existiam, coloca-se em causa a
inovação dos próprios Acordos de Abraão em termos de Relações Internacionais e
regionais.
Portanto, a questão de partida que guiará este artigo é a seguinte: Como é que os
Acordos de Abraão de 2020 o considerados inovadores em comparação com os
Tratados de Paz celebrados entre Israel e o Egito em 1979 e com a Jordânia em 1994?
O objetivo principal deste artigo científico será distinguir as diferenças a vários níveis,
nomeadamente ao nível sociohistórico e em termos de impacto nas Relações
Internacionais de acordo com a Teoria da Balança da Ameaça e a Teoria da Aliança,
ambas de Stephen Walt. Todavia, primeiramente, caracterizar-se historicamente o
Egito em 1979 e a Jordânia em 1994. De seguida, comparar-se-á os Acordos de Abraão
com os Tratados de Paz de forma histórica, utilizando as supracitadas teorias.
Seguidamente, descrever-segeopoliticamente e goestrategicamente o Egito em 1979,
a Jordânia em 1994 e o Médio Oriente em 2020, separadamente, realizando, depois, a
comparação. Finalmente, estudar-se as repercussões de cada tratado aos níveis
internacional e regional, de acordo com as teorias de Walt
Pode-se aferir que o argumento principal deste artigo científico consiste na compreensão
de que os Acordos de Abraão o de natureza distinta dos Tratados de Paz celebrados
entre Israel e, em primeiro lugar, o Egito, em 1979, e de seguida, a Jordânia em 1994,
por se considerar que os contextos sociohistóricos, geopolíticos e geoestratégicos são
essencialmente distintos, como se percebe ao se aplicar a Teoria da Balança da Ameaça
e a Teoria da Aliança, ambas de Stephen Walt. Consequentemente, entende-se que o
impacto nas Relações Internacionais entre ambos é distinto.
No que concerne à organização deste artigo, após a introdução, há um capítulo dedicado
à revisão da literatura e outro dedicado ao enquadramento histórico. Seguidamente, há
um capítulo em que se explica a metodologia que este artigo seguirá.
Subsequentemente, existem três capítulos, cada um dedicado a um dos objetivos
citados. Finamente, na conclusão conceder-se-á uma resposta à pergunta de partida.
Revisão da Literatura
Dado que os Acordos de Abraão são um acontecimento recente, a literatura relativa aos
mesmos ainda é precoce e pouco elaborada. Todavia, pode-se selecionar, da literatura
conhecida até ao momento de escrita, três grandes escolas de abordagem a este
acontecimento do século XX.
Numa primeira instância, encontramos uma abordagem ideológica. Podem salientar-se
duas perspetivas de utilizar esta abordagem. Por um lado, observa-se os Acordos de
Abraão como a revelação de que os assuntos de normalização com Israel e o assunto
palestiniano podem ser separados politicamente e emocionalmente (Stephens in Sorkin,
2021). Assim, a rejeição de Israel como deliberado na Declaração de Cartum de 1967
terminou. Para Israel, tal significa que o veto palestiniano para deliberações de paz
deixou de ter efeito. Contudo, esta perspetiva não tem em consideração o facto de os
países signatários dos denominados Acordos de Abraão não serem países que tenham a
influência do povo palestiniano. Assim, esta perspetiva não considera o fator geopolítico
cultural. Ainda na abordagem ideológica, observam-se os mesmos numa perspetiva Pan-
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Arabista de Nasser (Segell, 2021). Esta perspetiva tem como objetivos principais a
cooperação, a unidade e a solidariedade entre os estados Árabes, Africanos e, finalmente,
Israel. De acordo com esta perspetiva, o Bahrain, o Sudão e Marrocos foram liderados
pelos Emirados Árabes Unidos (EAU) a realizar os Acordos em processos top-down
realizados entre líderes. Contudo, aparentemente não existe nenhum tipo de apoio
popular para o movimento ideológico, não havendo evoluções internas e regionais para
uma mudança positiva. No entanto, o facto de a perspetiva abordar os Acordos como
motivados por elites ignora o contexto histórico, geopolítico e geoestratégico dos
mesmos, não tendo em consideração a economia à priori aos Acordos, bem como o papel
da sociedade.
O segundo tipo de abordagem existente na literatura pode denominar-se como sendo
liberal. Mais uma vez, pode-se dividir a mesma em duas perspetivas distintas. Uma forma
de abordar liberalmente os Acordos de Abraão é tendo em consideração os fatores
humanos. Na realidade, esta abordagem observa os Acordos como sendo motivados
pelas próprias populações (Frish in Sorkin, 2021). De acordo com esta perspetiva, a
população está cansada de pedir por unidades pan-Árabe e pan-Islâmica e deseja por
melhores oportunidades económicas, melhor segurança social, melhor educação, mais
inovação, mais estado de direito e maior igualdade. Todavia, esta perspetiva acaba por
ser o extremo da apresentada como anteriormente, dado que, desta vez, ignora o
contexto político e sistémico da região. Por outro lado, observamos uma abordagem de
liberalismo económico (Egel, Efron & Robinson, 2021; Kram & Makovsky, 2021; Segell
2021). Nesta abordagem, refere-se que a relação económica bilateral entre Israel e os
Emirados Árabes Unidos é, na realidade, o fundamento poderoso para os Acordos de
Abraão. Os autores que defendem esta posição referem que estes Acordos permitem
maior interligação entre as economias e eventualmente entre países árabes e
muçulmanos. Esta expansão criaria um Médio Oriente mais integrado, permitindo que
desafios ambientais, económicos e sociais sejam referidos. Contudo, considera-se que,
se os interesses económicos ditassem os Acordos, mais países estariam dispostos a
assinar a normalização dos seus relacionamentos com Israel.
Finalmente observam-se duas abordagens realistas. A primeira refere que existe a
coexistência de pilar pragmático com um pilar ideológico na criação dos Acordos de
Abraão. De acordo com os autores (Krieg, 2020; Abdullah, 2021), o pilar pragmático é
baseado nos interesses nacionais dos países signatários, que consiste em maior
consolidação de poder, preservação das estabilidades económica e militar, bem como
desenvolvimentos tecnológicos e científicos para preservar a segurança. O pilar
ideológico, por sua vez, baseia-se no desejo por paz, por estabilidade regional e por uma
alteração de mentalidades. Todavia, entende-se que, na realidade, existe somente um
pilar, o pragmático. Analisando-se bem o exposto, compreende-se que o pilar ideológico
é consequente do pragmático. Na realidade, quando o poder é consolidado e
desenvolvimentos são efetuados, estes criam paz e estabilidade regionais, tornando as
mudanças em termos de mentalidade possíveis. A perspetiva final é caraterizada como
neorealista, dado que considera que os Acordos o o resultado de uma mudança no
Médio Oriente (Norlen & Sinai, 2020). Refere-se que, além de cada país signatário ganhar
profundadidade estratégica com os Acordos, um eixo de resistência foi criado (Guney &
Korkmaz in Kihlberg, 2021). Consequentemente, a maior consequência dos Acordos de
Abraão, de acordo com esta perspetiva, foi a formação de alianças no Médio Oriente,
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todavia, esta abordagem acaba por ser um estudo das consequências dos Acordos de
Abraão e não um estudo das causas que conduziram aos mesmos.
Principais conceitos e enquadramento teórico
Existem termos que, para efeitos de unanimidade na compreensão do alcance deste
artigo científico, serão necessariamente delimitados concetualmente.
Primeiramente, é de extrema importância referir que, para efeitos desta dissertação
seguir-se-á a definição de poder de Joseph Nye (1990). De acordo com este académico,
poder consiste na capacidade de afetar um outro de forma a atingir os objetivos
desejados. Este autor também distingue entre dois tipos de poder. Hard power, a
primeira distinção que o autor realiza, consiste na capacidade de levar avante os seus
objetivos através de ações coercivas ou ameaças. Historicamente, o hard power é
mensurado por critérios como tamanho populacional e/ou territorial, geografia, recursos
naturais, força militar e força económica. Por outro lado, existe o soft power, que é
definido por ser a capacidade de moldar as preferências dos outros através da cultura,
valores políticos e instituições ou autoridade moral. Contudo, a realidade das Relações
Internacionais revela a necessidade de usar o soft como o hard power conjuntamente.
Assim, esta capacidade de combinar estes dois tipos de poder é chamada de smart
power. Os apoiantes de smart power articulam as vantagens do hard power, como o
poder militar, ao investir em alianças e instituições. Desta forma, os principais poderes
são capazes de atingir resultados máximos de forma legítima.
É essencial também definir o termo “geopolítica”. Na visão de Flint, geopolítica não é só
a questão de país competirem entre si. É a possibilidade de se competir por um território
por meios além das práticas de outros estados. Consequentemente, seguir-se a
definição da geopolítica contemporânea que consiste em identificar “the sources,
practices, and representations that allow for the control of territory and the extraction of
resources” (Flint, 2006, p.16).
Relativamente ao termo “geoestratégia”, para Foucher, significa a aplicação da razão
geográfica à condução da guerra e/ou à criação de um esquema de defesa nacional
(Foucher, 2000, p.165). Por a geopolítica simplificar realidades numa perspetiva
localizada, a geoestratégia surge numa perspetiva de aplicar práticas a lugares
analisados numa perspetiva de operação militar. Considera a avaliação das ameaças
externas e a balança do poder de acordo com os interesses do Estado e as configurações
espacial, física e humana da nação.
Finalmente, temos o conceito de Médio Oriente, em que se utilizará a definição de Tibi
(1989). A razão para esta escolha é que o autor não tem em consideração as relações
estruturais e os processos de interação tuos em formas específicas, como também
leva em consideração um quadro de fatores linguísticos, étnicos, socioeconómicos e
culturais. Refletindo nestes aspetos, Tibi delimita o Médio Oriente em três sub-regiões:
o Oriente Árabe (Mashreq), o Norte de África (Magrebe) e a Região do Golfo (Khaleej).
Quanto ao quadro teórico, este será estudado tendo em consideração quatro grandes
pontos. Primeiramente, considerar-se-á como caraterizar a região utilizando o quadro do
Realismo nas Relações Internacionais (Kauppi & Viotti, 2020, pp. 21-24) que tem as
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seguintes proposições. Primeiramente, para o realista, os estados são os atores chave
de análise num sistema internacional de estados anárquico, ou seja, sem um governo
central legítimo. Como se observa no Médio Oriente, não existe nenhum estado forte o
suficiente para criar um governo central. Igualmente considera-se que os estados são
atores unitários, sendo os seus governos os agentes de política externa. Também se
considera que os estados o atores racionais, ou seja, a política externa é conduzida de
forma racional, sempre colocando em consideração os objetivos, as alternativas, os
benefícios e os custos. Finalmente, para os realistas, o interesse máximo que conduz a
política externa é a segurança nacional e/ou internacional, examinando-se, portanto,
potenciais usos de força e conflitos. Como se observa no Estado da Arte, os Acordos de
Abraão devem ser estudados considerando um cálculo de custos e benefícios para
proteger a segurança nacional dos Estados signatários.
O Realismo desdobra-se em Neorrealismo (ou Realismo Estruturalista) quando se coloca
uma maior ênfase no sistema internacional. Os neorrealistas definem o sistema tendo
em conta as várias distribuições de poder e de capacidades entre os estados, podendo-
se discernir polaridades de acordo com o número de potências e os diferentes efeitos que
estas trazem (Kauppi & Viotti, 2020, pp. 34-35), podendo haver ou equilíbrios ou
alianças. Os neorrealistas podem distinguir-se entre defensivos e ofensivos. Estes
últimos, liderados por Mearsheimer (Kauppi & Viotti, 2020, p.46), defendem que a
anarquia leva ao desejo de expandir as capacidades de poder relativas, vendo-a como
única forma de se manterem seguros. Por sua vez, os primeiros, encabeçados por Waltz
(Kauppi & Viotti, 2020, pp. 45, 46), referem que os estados anseiam, acima de tudo,
sobreviver e procurar a sua segurança, havendo, consequentemente, uma manutenção
do status quo. É dentro do Neorrealismo Defensivo que se encontram as duas teorias de
Stephen Walt (1985 & 1989) que serão o quadro teórico principal deste artigo.
Walt refere que é através das alianças que os Estados reagem perante uma ameaça
externa. De acordo com a teoria da balança da ameaça deste autor, os Estados reagem
não contra um poder superior, mas contra ameaças percecionáveis. Estados com mais
poder agregado (sendo estas capacidades medidas em termos de total de população e
maior inovação tecnológica e industrial), com maior proximidade geográfica, com forças
militares ofensivas e intenções agressivas (Estados que se assemelham agressivos levam
mais facilmente os outros a balançar contra eles) são razão de uma coligação de Estados
que desejam manter o status quo.
Perante a ameaça, Stephen Walt distingue entre duas estratégias para a formação de
alianças. A primeira estratégia consiste em bandwangoning
1
. Esta consiste no
alinhamento de um Estado ameaçado com o Estado ameaçador e revisionista, que coloca
em causa do status quo. Esta política externa é mais beligerante e ofensiva. O objetivo
principal é criar estabelecimentos militares eficazes e resolver à força para resolver
disputas internacionais. A segunda estratégia de formação de alianças distinguida por
Walt é a de balancing. Esta aliança consiste na realização de um alinhamento entre os
diversos Estados que desejam preservar o status quo com a principal potência que o
representa de forma a oporem-se principal fonte de perigo. Podem existir quatro tipos
diferentes de balancing. Balancing negativo ocorre quando o objetivo principal é exercer
1
Consiste no termo inglês para referir à adesão a algo. Todavia, por o termo perder a sua exatidão na tradução
ao português, decidi continuar a usar a palavra em inglês.
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oposição ao Estado revisionista; balacing positivo é quando o objetivo principal é
melhorar as capacidades dos próprios Estados do status quo (Morgenthau & Thompson,
1950, in Bock & Henneberg, 2013, p. 8). Contudo, o balancing também pode ser definitov
como soft ou hard dependendo se as capacidades desenvolvidas o militares ou não (He
& Nexon, 2009, in Bock & Henneberg, 2013, pp. 8-9). A política externa desta estratégia
é mais segura e defensiva. O objetivo principal é a autopreservação, por ansiarem
sobrevivência enquanto o Estado mais forte expande a sua influência.
Para se poder mensurar o poder de acordo com estas distinções, realizar-se uma
análise geopolítica e geoestratégica do Médio Oriente através dos fatores Guido Fischer.
Estes o de três tipos. O primeiro tipo de fator é os fatores políticos, que consiste na
posição, nas fronteiras, na dimensão territorial e populacional, na sua organização e
cultura do Estado. De seguida o económico, que trata da fertilidade do solo, da riqueza
natural, da organização industrial, do nível tecnológico, do desenvolvimento do comércio,
bem como a sua força financeira. O último fator consiste no psicológico, que se debruça
na capacidade de flexibilidade económica, na capacidade de intervenção, no sentido de
preservação e de adaptação da população.
Através de análises geopolíticas e geoestratégicas de cada um dos Estados ameaçados,
será possível enriquecer este estudo utilizando a Teoria da Balança da Ameaça de
Stephen Walt. Ao caraterizar os países, estudar-se-ão os fatores sendo possível estudar
a sua evolução e distinguir o tipo de aliança que foi criado, de acordo com a Teoria da
Aliança de Walt.
Metodologia
Como foi enunciado na revisão da literatura, muito estudos foram efetuados sobre os
Acordos de Abraão considerando as suas causas ou os seus efeitos. Este artigo tem uma
abordagem holística e sistémica, pelo que estudará ambos. Assim é um estudo positivista
(Boduszynski & Lamont, 2020, p. 61). De igual forma, procurar-se a validação de
quadros teóricos que vão ser usados, sendo um estudo dedutivo (Pires, 2022, p.23).
Contudo, este estudo contém em si dois tipos de investigação (Boduszynski & Lamont,
2020, p.57). Primeiramente, uma investigação descritiva, dado que ocorrerão descrições
históricas, geopolíticas e geoestratégicas dos países citados e da região. Em segundo
lugar, será uma investigação explanatória, dado que identificará os mecanismos causais
através dos quais se pode compreender o impacto dos Acordos de Abraão no Sistema
regional do Médio Oriente.
Este é um estudo principlamente comparative, dado que os Tratados de Paz de 1979 e
1994 com Israel serão comparados com os Acordos de Abraão. Além do mais, o método
de most different systems vai ser utilizado, dado que os Estados muçulmanos têm todos
algo em comum: paz com Israel (Boduszynski & Lamont, 2020, pp. 91-92).
Este estudo utilizará o método histórico diacrónico e processual para estudar o antes e
depois dos Tratados de Paz e dos Acordos. Para atingir a descrição histórica, recorrer-
se-á ao process tracing (Beach, 2020).
Dado que se procurarão compreender e interpretar motivações e comportamentos, este
estudo é qualitativo (Boduszynski & Lamont, 2020, pp. 98-101) em que dados escrito
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serão intensamente estudados. Todos os dados serão submetidos a análise de discurso.
Dado que o estudo tem em consideração política internacional, recorrer-se a um
segmento de análise de discurso que tem como foco a política (Wilson, 2015, p. 779).
As it was revealed in the literature review, many studies about the Abraham Accords
were accomplished by considering either what where their causes or their effects. This
paper has a holistic and systemic approach, as it will study both. Therefore, it is a
positivistic study (Boduszynski & Lamont, 2020, p. 61). Also, as there will be a validation
of the theoretical frameworks that will be used, this study is deductive (Pires, 2022,
p.23).
However, it will contain in itself two types of investigations (Boduszynski & Lamont, 2020,
p.57). Firstly, it will be a descriptive investigation, as there will be an historical,
geopolitical and geostrategic description of the quoted countries and of the region.
Secondly, this will be an explanatory investigation, since it will identify casual
mechanisms through which we can understand the impact of the Abraham Accords on
the regional system of the Middle East.
It is mainly a comparative study, as the 1979 and 1994 Peace Treaties with Israel will be
compared with the Abraham Accords. Therefore, the method of various different systems
will be used, since all the Muslim states have something in common: peace with Israel
(Boduszynski & Lamont, 2020, pp. 91-92).
This study will also use the processual and diachronic historical method to study the
before and after of the Peace Treaties and the Accords. To achieve the historical
description, the process tracing method will be used (Beach, 2020).
As we will try to understand and interpret motivations and behaviours, this is a qualitative
study (Boduszynski & Lamont, 2020, pp. 98-101) where written data will be intensively
studied. All data will be submitted through discourse analysis. Given that the study takes
into account international politics, the segment of discourse analysis that focuses on
politics will be used (Wilson, 2015, p. 779).
Contexto histórico
Um tratado e um acordo são respostas a contexto histórico. O contexto histórico tem
caraterísticas únicas a si mesmo e que influenciam a aparência do tratado ou do acordo
e sua escrita. Assim, o contexto em si mesmo diferenciará os tratados e os acordos.
Guerras Israelo-Árabes
Para se entender os supracitados Tratados de Paz é necessário compreender que paz
vieram instituir (Encyclopaedia Britannica, 2022). Contudo, como foi mencionado na
introdução, as guerras Israelo-Árabes foram extensas. Assim, para efeitos de
sintetização destacam-se somente dois conflitos.
O primeiro conflito de interesse para o presente artigo é a chamada Guerra dos Seis
Dias. Este foi um conflito entre forças israelitas e forças egípcias, sírias e jordanas. O seu
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nome derivou ao facto da guerra ter ocorrido em seis dias, entre 5 e 10 de junho de
1967.
No início do citado ano, a Síria havia intensificado os seus bombardeamentos a
localidades israelitas através dos Montes Golã. Quando a força aérea israelita abateu seis
jatos rios, o Presidente egípcio Nasser mobilizou as forças para a fronteira da Península
do Sinai. Nasser também assinou um pacto de defesa mútua com a Jordânia. Israel
entendeu estas ações como amealas e respondeu com um ataque aéreo súbito. Em seis
dias, Israel tomou controlo desses montes, da Faixa de Gaza, da Península do Sinai, da
Cisjordânia como de toda Jerusalém.
O segundo conflito de interesse para este artigo ocorreu no Yom Kippur (Encyclopaedia
Britannica, 2023). Este é o feriado judeu de maior importância, dado que é um jejum
de 25 horas limpar o povo dos seus pecados. No Yom Kippur de 1973, a 6 de outubro do
citado ano, Israel foi invadido por forças egípcias através do Canal do Suez e por forças
sírias através dos Montes Golã. As forças estrangeiras sabiam que era um feriado de
jejum e acreditavam que Israel não estaria preparado para uma invasão. Contudo, as
forças israelitas conseguiram fazer com que os invasores recuassem para os seus
territórios.
Israel e as Monarquias do Golfo
Quanto aos Acordos de Abraão, o seu contexto imediatamente revela porque não são
denominados Tratados de Paz. Na realidade, nunca houve uma guerra direta entre Israel
e uma das Monarquias signatárias do Golfo. De igual forma, nunca houve nenhuma
guerra entre os Emirados Árabes Unidos e o Bahrain, os primeiros Estados Signatários.
O comportamento ameaçador das Monarquias do Golfo em estudo para Israel era
maioritariamente económico, dado que estes Estados eram parte do movimento de
boicote contra o Estado Judeu (Ahren, 2020).
Foi por causa da ameaça iraniana que as relações entre Israel e os estados
supramencionados desenvolveram-se, Em fevereiro de 2005, o Rei Hamad bin Isa Al-
Lhalifa, do Bahrain, mencionou ao Embaixador Americano em Manama que haviam
contactos entre o Bahrain e a Mossad (The Guardianm 2011). Quanto às relações com
os Emirados Árabes Unidos, estas desenvolveram-se de forma diferente (Traub et al.,
2023). Entre 2010 e 2018, os Emirados procuravam manter uma política de ênfase no
soft power. Assim, a sua ênfase estava investimento direto estrangeiro, no
desenvolvimento humano e nas alterações climáticas. Contudo, eventos regionais, como
a Primavera Árabe e a assinatura do Acordo Conjunto com o Irão, levaram a federação
a procurar lutar contra o terrorismo e a envolver-se em alianças para acalmar as tensões
regionais. Todavia, os Emirados Árabes Unidos já refletiam sobre a importância de haver
paz entre as religiões abraâmicas e aumentaram as importações israelitas de produtos
de segurança interna.
Em 2019, tudo mudou. Os EAU diminuíram o número de destacamentos no Iémen e
levantaram as sanções contra o Catar. Esta federação colocou a sua ênfase em tornar o
Médio Oriente um centro cultural e económico global, com desenvolvimento de nova
tecnologia, ciência, energias renováveis e inteligência artificial, mas também como
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estabilidade e paz. Assim, as relações com Israel aumentaram e os Acordos de Abraão
foram desenvolvidos.
O que é que estes contextos históricos revelam sobre os Acordos de
Abraão?
Ao aplicar a Teoria da Balança da Ameaça a estes supramencionados contextos históricos
compreende-se uma distinção importante entre os Tratados de Paz e os Acordos de
Abraão. Pelo que se mencionou relativamente aos Tratados de Paz, compreende-se que
os Estados Árabes observavam Israel como um estado revisionista. Eles reconheciam a
ameaça no facto de Israel ser um país não-Muçulmano que ocupou território palestiniano.
De igual forma, como Israel ganhou todas as quatro guerras contra os Estados Árabes,
tanto o Egito como a Jordânia entenderam que o Estado Judeu era mais desenvolvido
que eles (Middle East Policy Council, n.d.).
Por outro lado, tanto o Bahrain como os EAU não foram ameaçados por Israel. Na
realidade, Israel esta geograficamente distante do Golfo Persa. Para estes estados, a
maior ameaça é o estado revisionista do Irão. Irão não o é uma monarquia, como
é xiita, uma variante diferente dos EAU e do Bahrain (Al-Ketbi, 2018; Vohra, 2022). O
Irão quer exportar a sua revolução às monarquias do Golfo para libertar os xiitas
oprimidos dos seus opressores, os sunitas, que cooperam com o “Grande Satanás”, os
Estados Unidos da América (EUA).
Quando compreendemos o contexto histórico com a Teoria da Balança da Ameaça,
conseguimos compreender como é que cada contexto se posicionou com a Teoria da
Aliança. De cada Tratado de Paz, consegue-se compreender que para a Jordânia, que se
sentia desprotegida de Israel, o Egito representava o status quo. Assim, eles formaram
uma aliança. Eles desejavam balançar o poder contra Israel (balancing negativo). Quanto
aos EAU e ao Bahrain, eles viam Israel como um estado poderoso e inovador que
representava o status quo. Assim, eles realizaram uma aliança de balanço para melhorar
as suas capacidades contra o Irão (balancing positivo).
Descrições geopolíticas e geoestratégicas
Como foi referido na Introdução e no Enquadramento Teórico, acreditamos que através
de análises geopolíticas e geoestratégicas consegue-se perceber melhor as forças e as
fragilidades de cada estado sob estudo neste artigo. Esta perspetiva é explicada pelo
facto que, quando um Estado se envolve numa aliança, este tem de compreender que o
estado mais forte pode oferecer proteção ou alguma inovação que o primeiro não
conseguiria ter por si próprio. Desta forma, neste capítulo analisar-se o Egito e a
Jordânia, na altura em que assinaram os seus tratados de paz, e os EAU, Bahrain e Israel
em 2020, através dos fatores geopolíticos e geoestratégicos de Guido Fischer.
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Egito, 1979
Mapa 1, “Egito”.
Fonte: Nations Online Project, n.d.
Tabela 1. “Fatores de Guido Fischer para anlise geopoltica e geoestratgica do Egito,
1974”
Políticos
Posição
Dimensões
População
Organização
Fronteiras
Norte de
África
996 603
km2
37 71
milhões
Tribal
Árabe
Berbere
Núbia
Líbia
Sudão
Israel
Mar
Mediterrâneo
Mar
Vermelho
Económicos
Fertilidade
do solo
Riqueza
natural
Organização
industrial
Nível
tecnológico
Força
financeira
Rio Nilo
Gás natural
Petróleo
Petróleo
Distribuição
n.d.
Regime mais
socialista
Psicológicos
Flexibilidade
económica
Capacidade de intervenção
Adaptação
Socialismo
Islâmico
Petróleo
Gás
Posicão regional
Islão
Fontes: Baker, Goldschmidt, Holt, Hopwood, Little & Smith, 2022; Bruton, 1983; EI-Sherif, 1997;
World Bank, 1974.
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O primeiro Estado Árabe que normalizou as relações com Israel foi o Egito, em 1979.
Como se compreende pelo contexto histórico, o Egito, um dos perdedores das frequentes
guerras israelo-árabes, estava numa posição frágil. A antiga terra dos Faraós é um país
com fortes recursos naturais, como gás natural, petróleo e minérios. Além do mais, o
solo é fértil, em especial perto do rio Nilo. Contudo, em 1979 a sua economia o
revelava esses benefícios. As riquezas eram investidas no orçamento da defesa,
extremamente elevado devido aos conflitos com Israel.
Outra grande fragilidade encontrava-se no seu regime. Até 1970 o Egito era governado
pelo Presidente Nasser, de uma vertente socialista aplicada aos países árabes. O nome
deste movimento era Pan-Arabismo, que advogava a unidade política, cultural e
socioeconómica dos Árabes entre os diferentes estados que emergiram da
descolonização. Era também um movimento ideológico que tomava principalmente a
forma de um sistema secular e socialista. Além do mais, era inerentemente anticolonial
e anti-imperialista. Este movimento político, na realidade, causou a estagnação da
economia egípcia, dado não haver receitas dos investimentos estrangeiros.
Jordânia, 1994
Mapa 2, “Jordânia”.
Fonte: WorldAtlas, 2021a
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Tabela 2. “Fatores de Guido Fischer para anlise geopoltica e geoestratgica da
Jordânia, 1994”
Políticos
Posição
Dimensões
População
Organização
Fronteiras
Médio
Oriente
89 318 km2
4 41 milhões
Tribal
Árabe
Síria
Iraque
Arábia
Saudita
Israel
Económicos
Fertilidade
do solo
Riqueza
natural
Organização
industrial
Nível
tecnológico
Força
financeira
Solo árido e
rochoso
Minérios
Gás natural
Têxtil
Mineral
n.d.
Investimento
estrangeiro
Remessas
Psicológicos
Flexibilidade
económica
Capacidade de intervenção
Adaptação
Ocidentalizado
Diminuta
Modernização
Fonte: Bickerton, Irvine & Jaber, 2022; Ramachandran, 2004.
O segundo país que normalizou a sua relação com Israel em 1994 foi a Jordânia. O seu
contexto geopolítico e geoestratégico era ligeiramente distinto, dado que estava
fragilizado a três veis. Primeiramente, pode-se referir a fragilidade ao nível
populacional. A Jordânia tem sido albergue de refugiados palestinianos desde a Guerra
da Independência de Israel. Por consequência, existia uma forte pressão populacional
derivada destes, como temor de atentados terroristas por parte de radicais.
Outra fragilidade residia ao nível territorial. Como foi compreendido com o contexto
histórico, as guerras com Israel levaram a este último ocupar territórios da Jordânia.
Assim, houve diminuição da profundidade estratégica como retirada de terras férteis para
cultivo jordano.
Além destas fragilidades territoriais com impacto na economia, adiciona-se a fragilidade
económica advinda do embargo petrolífero. Este teve impacto no investimento
estrangeiro vindo de países árabes, cujas receitas sofreram uma quebra com este
acontecimento.
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Emirados Árabes Unidos, 2020
Mapa 3, “Emirados Árabes Unidos”.
Fonte: WorldAtlas, 2022
Tabela 3. “Fatores de Guido Fischer para anlise geopoltica e geoestratgica dos
Emirados Árabes Unidos, 2022”
Políticos
Posição
Dimensões
População
Organização
Cultura
Fronteiras
Península
Arábica
Médio
Oriente
Ásia
71 024 km2
9 272 000
Federação
Emirados
Tribal
Árabe
Árabe
Persa
Islâmica
Tribal
Golfo Persa
Arábia
Saudita
Omã
Económicos
Fertilidade
do solo
Riqueza
natural
Organização
industrial
Nível
tecnológico
Desenvolvimento
comercial
Força
financeira
Desértico
Oásis
Montanhas
Petróleo
Gás natural
Petróleo
Construção
Parques
tecnológicos
Turismo
Hub
financeiro e
comercial
Psicológicos
Flexibilidade
económica
Capacidade de intervenção
Sentido de
preservação
Adaptação
Turismo
Petróleo
Diversificação
Hub comercial e financeiro
Instituições Bancárias
Tribal
Islamismo
Elevada
Fonte: Crystal & Peterson, 2022.
Os Emirados Árabes Unidos encontram-se no shatterbelt do Médio Oriente (Cohen, 2015,
pp.375, 376). Esta região define-se por haver uma multiplicidade de etnias, raças e
regiões dentro do mesmo estado ou entre diversos estados. Consequentemente, o
processo de fragmentação é dinâmico, facilitando a alteração das alianças.
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No caso dos EAU, apesar da maior etnia ser a Árabe, existe uma grande diversidade de
tribos dentro de cada emirado. Além do mais, apesar da maioria da população ser sunita,
existe uma minoria xiita (Office of International Religious Freedom, 2018, p.2).
A região encontra-se na justaposição de três continentes e está na entrada da Península
Arábica pelo Golfo Persa. Além do mais, os seus portos são pouco profundos, facilitando
as trocas comerciais. Ademais, o baixo relevo permite a fácil existência de rotas
comerciais terrestres do Golfo ao Levante. Consequentemente, as cidades costeiras dos
EAU sempre se caraterizaram por ser um fluxo de raças e etnias, desde persas, a árabes,
a indianos, a europeus. Assim, apesar de ser um país pequeno, os EAU importam mão
de obra, sendo a maioria Indiana ou Paquistanesa.
Algo único do Médio Oriente é o sistema político dos EAU. Os diferentes emirados
decidiram preservar as suas identidades tribais e históricas e criar uma federação. Esta
decisão prática reflete o trade-off existente nos EAU. Apesar do país ter uma forte
identidade muçulmana, é mais ocidentalizado que outros países na região. A História
ajudou a criar dentro dos EAU a coexistência entre uma forte capacidade de adaptação
e a preservação da própria identidade.
Contudo, o shatterbelt também é caraterizado pela existência de riquezas naturais e
escassez de recursos naturais essenciais. Consequentemente, também existe uma forte
possibilidade para o conflito como para a competição entre potências regionais e
externas. Assim, e dado que os EAU estão nesta região instável, a instabilidade pode
afetar o seu sistema político. Duas ideologias têm surgido de forma a usar a instabilidade
para os seus propósitos.
O Irão tem procurado expandir-se e tornar-se o Hégemon na região através da unificação
da mesma num Califado Islâmico. Contudo, para que o Califado possa surgir, o islamismo
xiita deveria ser o predominante. Assim, a República Islâmica move as minorias xiitas a
se revoltarem contra os seus governantes sunitas. Tendo os EAU uma minoria xiita em
Dubai e Sharjah, receia a instabilidade da influência iraniana.
Outro movimento que usa a instabilidade no Médio Oriente em seu favor é a Irmandade
Muçulmana. Este grupo islamita deseja o retorno ao Corão e à Hadith. O seu objetivo é
islamizar a sociedade (Laub, 2019). Este grupo já tem influência no vizinho Catar. Assim,
os EAU receiam a permeabilização dos ideais para o seu território.
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Bahrain, 2020
Mapa 4, “Bahrain”.
Fonte: https://www.mapsland.com/asia/bahrain/detailed-political-map-of-bahrain-with-relief
Tabela 4. “Fatores de Guido Fischer para anlise geopoltica e geoestratgica do
Bahrain, 2020”
Políticos
Posição
Dimensões
População
Organização
Cultura
Fronteiras
Golfo Persa
778 km2
2 059
Tribal
Árabe
Árabe
Persa
Islâmica
Irão
Arábia
Saudita
Catar
Económicos
Fertilidade
do solo
Riqueza
natural
Organização
industrial
Nível
tecnológico
Desenvolvimento
comercial
Força
financeira
Sul
Ocidente
Petróleo
Gás natural
Refinaria
Comércio
Parques
tecnológicos
Refinaria
Comércio
Hub
financeiro
Psicológicos
Flexibilidade
económica
Capacidade de intervenção
Sentido de
preservação
Adaptação
Petróleo
Diversificação
Refinaria
Comércio
Tribal
Islamismo
Elevada
Fonte: Crystal & Peterson, 2022.
O Bahrain tem sido especialmente estudado por ser o palco da rivalidade saudita-
iraniana. Contudo, esta rivalidade tem uma razão de existir. Na realidade, o Bahrain tem
importância geopolítica e geoestratégica, particularmente em três aspetos.
Primeiramente, apesar do Bahrain ser uma ilha de somente setecentos e setenta e oito
quilómetros quadrados (Crystal & Smith, 2023), a sua localização estratégica é de
importância extrema. Situa-se no ocidente do Golfo Persa, tendo a Arábia Saudita a
ocidente e sul, o Qatar a oriente e o Irão a norte. Devido a esta localização vital, os
Estados Unidos da América um quartel-general do Comando Central das Forças Navais
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presente nesta ilha (Myrvold, 2022). No entanto, também devido à sua localização o Irão
reclama esta ilha como a sua décima quarta província (Borges, 2019).
Em segundo lugar, o Bahrain encontra-se numa região rica em termos petrolíferos. Na
realidade, foi neste emirado que se encontrou pela primeira vez petróleo em 1932
(Crystal & Smith, 2023). No entanto, apesar de não ser um produtor de petróleo
significativo nem ser membro da OPEC, contém uma das maiores refinarias do mundo, a
BAPCO Sitrah Refinary. Um sexto do crude é processado no Bahrain, sendo o resto na
Arábia Saudita (Nuruzzaman, 2013).
Finalmente, o Bahrain é um país maioritariamente xiita, mas governado por uma minoria
sunita. Como Borges (2019) referiu no seu trabalho de conclusão de curso, em 1717
houve desmantelamento do controlo safávida (antigo império persa) e, em 1783, os al-
Khalifa, família árabe sunita do Najd, dominaram os territórios do Bahrain.
Consequentemente, existe uma forte divisão sectária no Bahrain, de uma pequena
minoria governar a maioria estatal. Tal foi bastante verificado na Primavera Árabe de
2011, a maioria xiita deseja reformas políticas de forma a se terminar a descriminação
(Peterson, 2022). Contudo, a Arábia Saudita não deseja tal reformulação por receio dos
seus interesses económicos e políticos (Nuruzzaman, 2013).
Israel, 2020
Mapa 5, “Israel”.
Fonte: http://www.guiageo.com/asia/imagens/mapa-israel.jpg
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Tabela 5. “Fatores de Guido Fischer para anlise geopoltica e geoestratgica de Israel,
2020”
Políticos
Posição
Dimensões
População
Organização
Cultura
Fronteiras
Médio
Oriente
21 937 km2
8 424 904
Urbana
Judia
Árabe
Sionista
Ocidental
Egito
Faixa de
Gaza
Jordânia
Líbano
Síria
Económicos
Fertilidade
do solo
Riqueza
natural
Organização
industrial
Nível
tecnológico
Desenvolvimento
comercial
Força
financeira
Planície
costeira
Petróleo
Gás natural
Minerais
Tecnologia
Químicos
Diamantes
Parques
tecnológicos
Gás natural
Tecnologia
Químicos
Diamantes
Alta
Psicológicos
Flexibilidade
económica
Capacidade de intervenção
Sentido de
preservação
Adaptação
Tecnologia
Investigação
EUA
Sionismo
Sionismo
Fontes: Elath, Ochsenwald, Sicherman. & Stone (2019)
Finalmente, vamos estudar o país que mudou o Médio Oriente. Israel é um estado
surpreendente com quatro caraterísticas que são relevantes para a análise. Duas dessas
caraterísticas estão relacionadas com as suas fraquezas, enquanto as outras duas são
consideradas forças.
Primeiramente, Israel é um pequeno estado, que ocupa 470 quilómetros. Está rodeado
por estado que foram hostis para o Estado Judeu desde que nasceu: partilha a fronteira
norte com o Líbano, com quem tem relações frágeis, as fronteiras nordestes com a Síria,
com quem tem relações hostis, a este e sudeste com a Jordânia, com quem tem tratado
de paz, como com o Egito, a sul (Central Intelligence Agency, n.d.; Elath, Ochsenwald,
Sicherman & Stone, n.d.).
Em segundo lugar, a sua população era de mais de 8 500 000 habitantes (Central
Intelligence Agency, n.d.). Contudo, a maioria desta população era não judia: 1.2 milhões
eram Muslim, 123 mil eram cristãos e 122 mil eram Druze (Israel Ministry of Foreign
Affairs, n.d.). Além do mais, este país é crescentemente ocidentalizado, o que significa
que a identidade judia é agora uma conceção social, em vez de religiosa. Desta forma, o
Estado Judeu não sabe o que é que a sua identidade significa (Schweid, 1998).
No entanto, existem duas outras caraterísticas que são as razões principais para os
tratados de normalização. Israel tem uma economia forte, que crescia a 3 por cento ao
ano. A principal força da economia israelita é o setor tecnológico. Além de produzir
fertilizantes, fármacos e ter uma indústria prolífera de diamantes, Israel é conhecido pelo
seu setor de TIC para defesa e equipamento médico (Bahar & Eckstein, 2019; Bruno &
Chenery, 1962; Central Intelligence Agency, n.d.; Elath, Ochsenwald, Sicherman &
Stone, n.d.; OECD Observer, 2011).
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A última caraterística, que também é uma força, é o seu poder de dissuasão. É importante
referir que Israel tem uma política de animut; tal significa que Israel não revela se possui
armamento nuclear (Ferrero, 2019; Israeli, 2015). Contudo, Israel tem forte armamento
convencional. As suas armas são tecnologicamente avançadas e o serviço militar é
obrigatório para ambos os sexos (Wenkert, 2019).
O que é que estas descrições geopolíticas e geoestratégicas revelam
sobre os Acordos de Abraão?
Ao aplicar a Teoria da Balança da Ameaça, compreende-se que, em 1979 e em 1994,
Israel era mais desenvolvido que o Egito e a Jordânia. Apesar do Egito ter maior território,
mais população e estar mais próximo geograficamente, a sua economia não era
inovadora e a sua defesa era fraca. A Jordânia estava na mesma posição que o Egito.
Assim, as suas intenções, apesar de agressivas, não eram tão ameaçadoras como no
início da independência israelita.
Ao mesmo tempo, apesar do Egito ter sido percecionado como um estado que
representava o status quo, compreendeu-se que Israel não era revisionista. Apesar da
sua ter sido distinta, Israel não representava uma ameaça para os estados Árabes. Em
ambos os caos, era compreensível que era mais nocivo permanecer em estado de guerra
contra Israel ou até ser hostil do que normalizar as relações. Assim, apesar da aliança
com Israel, o status quo foi preservado e o Egito e a Jordânia colheram benefícios. O
resultado desta aliança foi o balancing positivo.
No caso dos EAU e do Bahrain, a situação deste era distinta da do Egito e da Jordânia.
As monarquias do Golfo não eram geograficamente perto de Israel. Além do mais, apesar
do Bahrain ser mais pequeno e menos populado que Israel, nunca se sentiu ameaçado
por este. Acrescenta-se que Israel nunca foi intencionalmente ameaçador para estes
Estados. Consequentemente, percebe-se que, para os EAU e Bahrain criaram uma
aliança, que é tanto negativa como positiva (dado que as suas capacidades o
melhoradas, mas também podem ser usadas contra uma ameaça), a ameaça deve vir de
outro Estado.
Ao se aplicar a Teoria da Balança da Ameaça, entende-se que o Irão é a maior ameaça
a ambas as monarquias do Golfo. O Irão não só é maior e mais populado que ambas as
monarquias, como é geograficamente mais próximo e tem um poder militar maior. As
suas intenções são claras, dado que reclama o Bahrain como a sua décima quarta
província e deseja espalhar a sua ideologia.
Pode-se compreender, assim, que através de uma aliança com Israel, os EAU e o Bahrain
podem se defender contra o Irão, beneficiar da defesa israelita e da sua tecnologia
inovadora, em especial na cibersegurança.
O Impacto nas Relações Internacionais
Como este é um estudo positivista que pesquisa as ligações entre eventos a priori e a
posteriori, é razoável considerar a importância do que aconteceu após a celebração de
cada acordo. De facto, compreende-se inovações ao estudar o impacto que causam. Por
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conseguinte, neste capítulo final deste artigo, analisar-seo impacto de cada tratado
não só nas relações no Médio Oriente como internacionalmente.
Os Tratados de Paz de 1979 e de 1994
O principal objetivo de ambos os Tratados de Paz era criar paz entre os supracitados
Estados Árabes e Israel. Contudo, o texto do Tratado de Paz comemorado entre Israel e
o Egito é distinto do Tratado de Paz celebrado entre o Estado Judeu e a Jordânia. Dado
que é o texto que marca as implicações futuras de cada tratado, é importante analisá-
lo.
Primeiramente, o elemento que guia o Tratado de Paz entre Israel e o Egito é “respeito”
(Murphy, 1979). O conteúdo desse tratado é repleto de preocupações quanto à
segurança. Subsequentemente, procura criar uma força internacional cuja tarefa é
monitorizar o sistema de segurança do Sinai. É compreensível que este tratado seja mais
orientado para a segurança, dado que ambos os países estavam envolvidos em combate,
procurando aniquilar-se. A paz estava a ser criada após anos de guerra intensiva. Tal
como o Tratado de Paz entre a Jordânia e Israel (Satloff, 1995), ênfase nos termos
“parceria” e “cooperação”. A razão para estes conceitos serem consistentes é que o
contexto histórico, como estudado anteriormente, era distinto. A Jordânia e Israel não
estavam em combate por mais de 28 anos. Consequentemente, ambos tinham uma
melhor compreensão das necessidades de cada um e o que cada um compreendia ser
uma ameaça para se poder criar uma paz morna, sem a necessidade de peacekeepers.
Outro aspeto importante quanto ao Tratado de Paz com o Egito é que este previa
segurança baseada em reciprocidade (Murphy, 1979). Isto significava que cada país
reconhecia o interesse nacional do outro e equilibrava-o com os seus interesses nacionais
próprios. Quanto ao Tratado de Paz com a Jordânia, a cooperação era o principal conceito
deste Tratado de Paz (Satloff, 1995). É compreensível, desta forma, que o tratado não
era somente técnico, dado que estabelecia relações diplomáticas formais, mas também
um mapa para o desenvolvimento de interações políticas, económicas, sociais, culturais
e humanas.
Com estas distinções, reconhece-se que estes tratados tiveram dois impactos. Em
primeiro lugar, o impacto de Estados Árabes começarem a estabelecer paz com Israel.
Nenhum Estado Árabe e /ou muçulmano havia estabelecido paz com Israel antes do
Egito. Este evento inclusivamente causou o Egito ser expulso da Liga Árabe até 1989
(Masters & Sergie, 2023). Consequentemente, este Tratado de Paz foi o ponto de
lançamento de relações entre Árabes e Judeus.
Em segundo lugar, estes tratados de paz ajudaram a compreender que tipo de paz é que
um estado pode ter com outro país. Apesar do Tratado de Paz israelo-egípcio ter sido
uma vitória, somente houve a concordância da promoção de relações amigáveis e a
abstenção da criação de propaganda hostil. Nenhum mecanismo fora criado para
promover cooperação. Por sua vez, o Tratado de Paz israelo-jordano delineou meios de
promover cooperação e destacou o papel dos governos na adaptação da forma como os
cidadãos falam e pensam em paz. Além do mais, uma comissão especial conjunta foi
criada para examinar se os mecanismos haviam sido estabelecidos e se um fórum público
tinha sido criado.
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Os Acordos de Abraão de 2020
Um grande impacto dos Acordos de Abraão no Médio Oriente foi o facto de terem revelado
que assuntos pragmáticos no Médio Oriente podem ser resolvidos sem haver
consideração por ideologias. Neste caso, a normalização das relações com Israel foi
estabelecida sem se considerar etnia, religião ou outros eventos passados que podiam
ter prevenido a pacificação no Médio Oriente.
Outro tópico importante destes Acordos é o facto de terem sido celebrados sem
intervenção Americana. Apesar dos Acordos de Abraão terem sido medidos pelos EUA, a
primeira iniciativa veio dos Estados que os celebraram. Os Acordos de Abraão não foram
forçados por uma ordem extrarregional, mas foram a culminação de diversas interações
ao longo das décadas passadas.
Também é importante lembrar que os Acordos de Abraão podem ser o início de uma nova
ordem regional. De acordo com Kram e Makovsky (2021), bem como com Segell (2021),
esta nova ordem será caraterizada não pelo aprofundamento das relações entre os
Estados signatários, como também pelo alargamento dos acordos a outros países árabes
e muçulmanos. Desta forma, o Médio Oriente será mais interligado, inclusivamente
economicamente. Tal evento permitiria a ascensão de uma verdadeira cooperação
económica que poderia facilitar a resolução de desafios ambientais e sociais. De facto, o
Fundo dos Acordos de Abraão foi criado e existe para investimento em programas de
infraestrutura e energia. Os Acordos de Abraão sempre previram um melhor
desenvolvimento da região, como é citado que os assinantes “apoiam a ciência, a arte,
a medicina e o comércio para inspirar a humanidade, maximizar o potencial humano e
aproximar cada vez mais as nações” U.S. Department of State, 2020)
2
. Também é de se
notar a criação do “Joint Statement on Women, Peace and Diplomacy” (Berman, 2021),
que deseja revelar o valor de integrar mulheres em processos de paz, como deseja
aumentar a influência feminina em assuntos de direitos humanos, desenvolvimento
sustentável, segurança e assuntos da paz.
Finalmente, de acordo com Norlen e Sinai (2020), os Acordos de Abraão estão a mudar
a geopolítica da segurança no Médio Oriente. Israel, com estes Acordos, foi colocado no
Golfo Persa, próximo da Arábia Saudita. O processo de normalização com o Bahrain
permite Jerusalém estar perto de Riade, dada a existência de um relacionamento de
dependência entre a Monarquia Saudita e a Monarquia al-Khalifa.
O que é que estes impactos revelam sobre os Acordos de Abraão?
Com esta exegese dos Tratados de Paz de 1979 e 1994 e dos Acordos de Abraão de
2020, reconhece-se que os últimos não são somente uma celebração da normalização
das relações entre Israel, os EAU e o Bahrain. de igual forma, estes acordos não o
somente o estabelecimento de relações diplomáticas. Eles são algo maior.
Com os supracitados tratados, entende-se que estes, celebrados desde 1979, têm sido
instrumentais para melhorar a paz estabelecida. Ao aplicar a Teoria das Alianças de
Stephen Walt, compreende-se como as relações com Israel têm sido moldadas. O Tratado
2
Tradução própria.
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de Paz celebrado entre Israel e o Egito era um balancing positivo, dado que tinha como
objetivo melhor o relacionamento, mesmo que as relações não tenham sido
aprofundadas. Quanto ao Tratado de Paz celebrado entre o Estado Judeu e a Jordânia,
este era um balancing soft e positivo. As relações não foram melhoradas, como as
capacidades nacionais foram desenvolvidas com o estabelecimento desta aliança.
Contudo, os Acordos de Abraão o o um Tratado de Paz. A paz não foi estabelecida
pois nunca ocorrera guerra entre Israel e as Monarquias do Golfo. As relações foram
estabelecidas porque elas nunca existiram: a cooperação foi procurada. Contudo, apesar
das capacidades militares estarem a ser melhoradas com a aliança estabelecida entre os
estados signatários, não pressão a ser aplicada contra um estado revisionista. Desta
forma, o balancing que foi estabelecido não é negativo, mas positivo e hard. Todavia,
dado que a cooperação ocorre em campos além do militar, o balacing também é soft.
Como foi referido anteriormente, a cooperação entre Israel, os EAU e Bahrain também
ocorre ao nível económico, com o Fundo de Abraão, e a nível social, com o “Joint
Statement on Women, Peace and Diplomacy”. A cooperação ambiental também está a
existir, dado que pelo menos Israel e os EAU estão a criar acordos para desenvolver
energia renováveis (Bell, 2021).
Conclusão
No final deste artigo, retomasse a pergunta de partida. Como é que os Acordos de Abraão
de 2020 o considerados inovadores em comparação com os Tratados de Paz celebrados
entre Israel e o Egito em 1979 e a Jordânia em 1994?
Na realidade, os Acordos de Abraão de uma natureza distinta do Tratado de Paz de 1979
entre o Egito e Israel e o Tratado de Paz de 1994 entre Israel e a Jordânia dado que os
contextos sociohistóricos, geopolíticos e geoestratégicos são essencialmente distintos,
como é percetível ao se aplicar a Teoria da Balança da Ameaça e a Teoria da Aliança,
ambas de Stephen Walt. Consequentemente, o impacto nas relações regionais e
internacionais de cada tratado é muito distinto. Este argumento vai ser agora analisado
para melhor validação.
Uma das principais conclusões deste artigo é que tanto o Tratado de Paz de 1979 como
o de 1994 foram celebrados após terem perdido a guerra contra Israel, o que conduziu
a uma necessidade de paz com o Estado Judeu de forma a haver recuperação financeira.
Por conseguinte, estes Tratados de Paz foram vistos como alianças, especificamente
balancing positivos com Israel. Por outro lado, os Acordos de Abraão não ocorreram em
contexto de guerra, dado que os EAU e o Bahrain nunca lutaram com Israel, mas
percecionam uma ameaça comum, o Irão, que é um estado revisionista.
Consequentemente, aliaram de forma positiva com Israel, tanto soft como hard. Quanto
a repercussões, os Acordos de Abraão não são tratados de paz, mas o estabelecimento
de cooperação a níveis militar, económico, social e ambiental. Por conseguinte, uma nova
ordem no Médio Oriente pode estar a surgir.
Este artigo pode ser visto como inovador dado que usa tanto a Teoria da Balança da
Ameaça como a Teoria da Aliança de Stephen Walt de forma a compreender um evento,
conjuntamente com análises geopolíticas e geoestratégicas. De igual forma, o processo
de normalização entre Israel e estados árabes foi estudado sem considerar as ideologias,
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realizando uma análise pragmática e realista. Finalmente, a abordagem tomada para os
Acordos de Abraão e os Tratados de Paz de 1979 e 1994 foi holítica, estudando os
contextos históricos, geopolíticos e geoestratégicos e os seus efeitos.
Para futuras contribuições, seria interessante comparar os Acordos de Abraão com a
reaproximação iraniana-saudita, e este último com um Tratado de Paz Israelo-Árabe, de
forma a compreender se esta reaproximação era a Arábia Saudita e o Irão é inovadora e
plausível.
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