Europe's Coming of Age, quis resumir estes esforços escrevendo que a UE tem colocado
consideráveis esforços “na tentativa de salvar a sua alma - e o planeta Terra com ela”
(Tsoukalis, 2023, p. 142).
Desde a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, realizada
no Rio de Janeiro em 1992, até ao Acordo de Paris, em 2015, a UE empenhou-se em
desenvolver um quadro jurídico-político de estratégia climática abrangente, e tem
atingindo resultados notáveis. De facto, em 2020 as emissões de gases com efeito de
estufa (GEE) da UE diminuíram 31% comparativamente aos níveis de 1990, excedendo
os objetivos do Protocolo de Quioto de reduzir as emissões em 20% até 2020. Vale
salientar que este êxito deve se em grande parte à criação em 2005 do primeiro grande
mercado de carbono do mundo ao adotar o seu regime de comércio europeu de licenças
de emissão (CELE), definindo um limite para as emissões de gases com efeito de estufa
(GEE) em atividades que representam cerca de 45% das emissões de GEE em toda a
União Europeia. Todavia, também se deve à desindustrialização gradual da Europa ao
longo das últimas décadas que tem sido um dos fator-chave para a redução das suas
emissões. As empresas europeias têm vindo a transferir a produção para o resto do
mundo, onde prevalecem normas ambientais menos exigentes. No entanto, isso significa
que enquanto as emissões de gases com efeito de estufa diminuem na Europa, as
emissões globais continuam a aumentar a um ritmo alarmante, agravando as condições
de vida das populações mais vulneráveis.
Por outro lado, as estratégias de luta contra as alterações climáticas, nomeadamente a
transição para uma economia verde, suscitam sérias preocupações quanto aos custos
excessivos que podem implicar, bem como quanto ao seu impacto nas sociedades e nas
pessoas mais vulneráveis. Tsoukalis (2023) nota que a revolta dos «gilets jaunes» em
França em 2018 foi resposta às decisões e políticas fiscais do governo francês, sobretudo
contra um novo imposto no preço da gasolina com base em preocupações ambientais.
Os manifestantes maioritariamente dos subúrbios e do campo, que dependiam da
gasolina barata para suas deslocações, foram afetados de forma desigual por esta
decisão e sentiram-se fortemente afetados pelas políticas fiscais do governo francês
(2023, pp. 140-142).
Neste quadro, vale também ressaltar os riscos das vozes negacionistas que desvalorizam
os impactos das alterações climáticas a nível global, disseminando um discurso populista-
nativista, sobretudo através das redes sociais. Discursos esses que têm estado na base
de estratégias e políticas unilateralistas que ferem esforços de acordos multilaterais.
Donald Trump, decidiu retirar os Estados Unidos da América do Acordo de Paris em 2017,
e Jair Bolsonaro foi acusado de encorajar a deflorestação e a exploração da Amazónia
durante a sua presidência, encarando as críticas internacionais como sendo ataques à
soberania Brasileira (Maisonnave, 2018). Tal regresso ao discurso da primazia do Estado-
nação, por vezes nativista, contradiz o caráter transnacional do clima e a importância do
multilateralismo para a sua salvaguarda