p.: 22). Α Comissão aponta também para um novo pacto agregador, que reúna vários
atores a todos os níveis: cidadãos, a sociedade civil, a indústria, autoridades, e os órgãos
da UE (ibid, p. 2).
Contudo, não obstante a importância das propostas e do envolvimento agregador de
vários atores neste pacto, o percurso da União Europeia para atingir os seus objetivos
não evidencia mudanças profundas institucionais e de valores. O documento demonstra
a passagem de uma racionalidade governamental clássica, baseada em noções como
«direito(s)» (com apenas três referências no texto da Comissão), «esferas» e
«jurisdição» (sem nenhuma referência no texto), para uma governamentalidade
neoliberal baseada em conceitos alternativos, de «mercados», «partes interessadas» e
«eficiência» (Lawrence, 2017).
Com efeito, no quadro do Pacto Ecológico Europeu os objetivos de uma estratégia
ambiental europeia de sucesso passam em grande parte por ações de gestão “eficientes”
e “eficazes”. A título de exemplo, o documento refere que “[p]ara enfrentar este duplo
desafio - eficiência energética e acessibilidade dos preços - a UE e os Estados-Membros
devem promover uma «onda de renovação» de edifícios públicos e privados” (2019, p.
11). As ambições da Comissão também passam por “estabelecer as condições para uma
transição eficaz e justa, proporcionar estabilidade para os investidores e assegurar a
irreversibilidade dessa transição” (ibid, p.p.: 5, 21). No discurso sobre a eficácia somam-
se os objetivos de “uma tarifação rodoviária eficaz na UE” (ibid, p. 12), “uma florestação
eficaz” (ibid,p. 21); e, em termos de política externa, ao “[…]estabelecer um exemplo
credível, acompanhado de diplomacia, da política comercial, do apoio ao
desenvolvimento e de outras políticas externas, a UE pode ser um defensor eficaz” (ibid,
p. 23). A Comissão também anota que as reduções das emissões têm efeitos secundários
positivos na economia da UE, através do aumento da competitividade das empresas
europeias que desenvolvem tecnologias respeitadoras do clima, através da poupança de
custos decorrentes de um menor consumo de energia e através da diversificação das
fontes de energia, que torna as economias europeias menos vulneráveis ao aumento dos
preços do petróleo. Efetivamente, trata-se de decisões e ações político-institucionais que,
numa lógica de aritmética verde, somam três objetivos principais: o reforço da economia;
a estabilidade dos preços, e a eficiência energética. Quanto às relações da UÉ com o
resto do mundo, a UE colocará a tónica nas ações “eficazes” realizadas pela vizinhança.
O que antes definia o sucesso das empresas torna-se agora um objetivo político e
determina o sucesso não só das políticas nacionais, mas também da governança
europeia. No PEE, destaca-se, de facto, um estilo distinto de raciocínio que molda a
estratégia em termos primordialmente económicos, numa lógica de gestão neoliberal,
ampliando o campo da atividade empresarial, através de meios eles próprios
informalizados e mercantilizados, e distribuindo tarefas governamentais para uma maior
variedade de atores (vide Lawrence, 2017, e também Brown, 2015, p: 17).
Igualmente, o PEE refere que a UE deve “melhorar a sua capacidade de monitorizar,
comunicar, prevenir e corrigir a poluição do ar, da água, do solo e dos produtos de
consumo” (ibid, p. 16). Estas propostas revelam sobretudo ações de gestão, onde a
própria natureza divide-se, e o ar, a água e o solo somam-se aos produtos de consumo,
como elementos que a UE deve gerir para enfrentar as catástrofes naturais, novamente
na mesma lógica de aritmética verde. Os problemas subjacentes à crise climática, tais