De facto, a abordagem crítica aproxima-se do pós-estruturalismo, que, como é sabido,
assume um compromisso que não pode ser conciliado com o construtivismo (Onuf,
2013), isto é, um compromisso com uma desconstrução constante. Quem observa as
relações sociais através desta lente, recusa, ao contrário do que se verifica na corrente
convencional, qualquer fundação (Onuf, 2013). Definido um terreno comum e feita uma
breve distinção entre correntes, abordarei de seguida dois conceitos que têm tanto de
caros ao construtivismo como de complexos, a saber, o de identidade e o de segurança
ontológica. Trata-se de dois conceitos fundamentais para esta teoria corresponder às
expectativas que estão na génese da sua afirmação, o mesmo é dizer a explicação da
mudança.
Entre a identidade e a segurança ontológica
Conforme já foi referido, o construtivismo atribui um papel central à identidade. Neste
artigo, subscrevo a definição de identidade avançada por Trine Flockhart (2016a: p. 87),
concebendo-a como “o entendimento dos agentes de si mesmos, do seu lugar no mundo
social e da sua relação com os outros”. Na ótica construtivista, os agentes consideram
a sua identidade na tomada de decisão, mesmo que as ações resultantes desse processo
possam ter consequências (Flockhart, 2016a), sendo que a identidade – tal como a
tomada de decisão nela baseada – pode ser alterada por via da “identificação evolutiva
de valores, recursos, interesses, objetivos, capacidades, fatores de poder e de influência”
(Santos, 2012: p. 141).
Num outro, mas igualmente ilustrativo, registo sobre a mutabilidade em torno da noção
de identidade, Alexander Wendt (1998: p. 388) sublinha que as identidades coletivas
variam em função “da temática, da época, do local e variam também em função de serem
bilaterais, regionais ou globais”. O conceito de identidade não tardou a constituir uma
tensa relação com o conceito de segurança ontológica, do qual Anthony Giddens (1991)
foi impulsionador na sua obra Modernity and Self-Identity: Self and Society in the Late
Modern Age. Para uns, a segurança ontológica resume-se à preservação de identidade.
Para outros, os dois conceitos, ainda que dialoguem, não se confundem.
A primeira abordagem concebe a segurança ontológica, isto é, a “experienciação de si
mesmo como um todo” (Mitzen, 2006: p. 342), como uma questão de preservação
identitária, sendo Jennifer Mitzen e Brent Steele dois dos principais proponentes desta
visão. Além disso, estes dois autores foram dois dos principais responsáveis pela
aplicação do conceito de segurança ontológica, que anteriormente estava quase
exclusivamente reservada à sociologia e à psicologia, às Relações Internacionais. Vista
por esta lente, a incerteza ameaça a segurança identitária, com as rotinas a serem
fundamentais para reduzir essa mesma incerteza. Assegurando a rotina, evita-se que o
agente não consiga perseguir os seus fins, algo que se verificará no caso de o agente
não ter um ambiente cognitivo estável (Mitzen, 2006).
A confluência da noção de preservação identitária com a de segurança ontológica fica
evidente na abordagem de Mitzen (2006: p. 342), pois, como sublinha a autora, “um
relacionamento prejudicial ou autodestrutivo pode fornecer segurança ontológica, o que
significa que os Estados podem ficar presos ao conflito. Ou seja, os Estados podem
realmente preferir um conflito contínuo e previsível à condição inquietante de profunda